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Lightyear

Spin-off de Toy Story não tem o mesmo ritmo da franquia original que revelou o herói astronauta Buzz mas tem seu charme e qualidade

Texto por Ana Clara Braga

Foto: Disney/Pixar/Divulgação

Toy Story é uma animação que definiu gerações de espectadores e produções. A história de amizade sobre brinquedos continua provando-se fresca mesmo com o tempo. Três sequências depois, os produtores optaram por seguir agora com um spin-off. Lightyear (EUA, 2022 – Disney/Pixar), ao contrário do que as primeiras peças demarketing deram a entender, é uma história fictícia no universo de Toy Story. Como os créditos iniciais explicam, é o filme preferido de Andy, que o introduziu ao personagem Buzz. A escolha pela abordagem metalinguística é o primeiro acerto de um longa que, apesar da qualidade, não consegue repetir os feitos de seus antecessores.

Lightyear leva a audiência para uma aventura espacial pautada pela comédia, pela ficção científica e, claro, o poder da amizade. Buzz é um patrulheiro espacial explorando um novo planeta onde precisa enfrentar um novo vilão: Zurg. Os trailers fazem um bom trabalho em esconder peças-chaves da trama, deixando bastante espaço para surpresas. 

Quem assistir ao filme dublado terá a experiência de ouvir de Marcos Mion no papel principal. Essa é sua quarta vez dando a voz para um personagem animado. Com um timbre e um sotaque tão marcantes, a nova voz de Buzz soa um problema. Como Guilherme Briggs é o responsável pela voz do personagem nos quatro Toy Story, a memória afetiva é um obstáculo. A dublagem brasileira é muito respeitada e faz um bom trabalho principalmente em animações. A escolha de Mion para o papel é estranha: não é como se o filme precisasse de um nome famoso para render bilheteria. 

Lightyear mostra um beijo lésbico. Antes do lançamento, os executivos da Disney tinham retirado a cena, mas após protestos de funcionários da Pixar o trecho voltou para o corte final. Isso vem de encontro com a revelação de que a megacorporação de entretenimento foi responsável por financiar parlamentares favoráveis ao projeto de lei conhecido popularmente como “don’t say gay”, que prevê barreiras na abordagem de temas LGBTQIA+ nas escolas. O resultado é bastante amargo. Ao mesmo tempo que é uma conquista e é algo necessário para a representatividade, parece algo vazio. Ao mesmo tempo que parece importante para os funcionários da Pixar, é um empecilho para os chefões da Disney. 

George Lucas se consagrou como um dos grandes nomes do cinema e também como uma das grandes mentes do marketingStar Wars vendeu milhões de bonecos, camisetas, mochilas e diversos outros produtos. Após esse fenômeno multimídia, nunca mais se fez cinema da mesma forma, principalmente para crianças. Lightyear é uma certeza de venda de produtos. Seja o próprio personagem principal, o vilão ou o novo mascote Sox, os bonecos serão objeto de desejo de crianças ao redor do mundo. Então, juntamente da certeza de bilheteria por favor parte do universo de uma das franquias mais amadas do cinema, também tem a certeza de lucro com produtos licenciados. Isso seria possível para resultar em um filme sem alma, só que não. Lightyear sabe emocionar quando toca em pontos como envelhecimento, passagem do tempo e lealdade.

Se Perdido em Marte e Interestelar de alguma forma tivessem um filho, esse filho seria Lightyear. A grande aventura no espaço é divertida e aquece o coração. Seu problema é o mesmo da maioria dos spin-offs, a alta expectativa combinada com a dificuldade em manter o ritmo do original. Quem for ao cinema querendo ver um novo Toy Story não irá encontrar o que procurá, mas irá assistir a um filme que permeia o mesmo mundo e que tem seu charme. 

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