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Mirador

Filme paranaense mostra a rotina de um boxeador entre subempregos, cuidados com a filha e os treinos para voltar aos ringues

Texto por Leonardo Andreiko

Foto: Olhar/Divulgação

O cinema paranaense tem encontrado nos últimos anos, mesmo com o congelamento cultural em curso pelo (des)governo Bolsonaro, um enorme salto qualitativo-quantitativo. Neste ano, oito obras produzidas no estado foram selecionadas para a 24a Mostra de Cinema Tiradentes, um dos maiores eventos do cinema brasileiro, realizado até o dia 30 de janeiro de forma online e gratuita. Entre elas, Mirador (Brasil, 2021 – Olhar), de Bruno Costa.

O diretor assina o roteiro junto a William Biagioli, explorando a rotina de um pugilista amador, Maycon (Edilson Silva), preso entre subempregos enquanto deve cuidar de sua filha e se preparar para voltar aos ringues. Costa, no entanto, parece incerto do rumo pelo qual pretende levar seu longa-metragem, tornando-o, em sua execução, paradoxal a seu intento. Isso se dá pela mescla de elementos narrativos de um estudo de personagem com uma abordagem sociológica, isto é, de crítica social, supostamente amparadas pela metáfora do conflito central – a luta nos ringues que ecoa a luta diária do proletariado. 

Com tantos alvos, Mirador atira para todos os lados e não consegue estabelecer-se coeso com sua(s) proposta(s). Se era pra ser um estudo de seu protagonista, pouco de Maycon é apreendido pelo público, dada a distância de uma decupagem plana e a atuação contida de seu protagonista – decisões que, em si mesmas, não são problemáticas, mas não encontram contraste ao longo da trama para fazer-se valer. Se, por outro lado, era pra ser uma crítica social, ela é difusa em tantas subtramas que, caso o roteiro fosse simplificado e as fundisse, tornariam-se muito mais eloquentes. 

No entanto, a intenção de Costa transparece em alguns momentos. A aflição do protagonista permeia seu agir oprimido em algumas fortes sequências – um lampejo do potencial que discutia anteriormente. Fotografia e edição cumprem muito bem seus papéis, desenvolvendo uma atmosfera que suscita o interesse do espectador. Novamente é a falta de direcionamento que nos perde.

Assim, Mirador é uma história de potencial, cuja linguagem definida pula de uma abordagem para outra sem uma definição unitária, o que enfraquece o conjunto e torna os noventa e quatro minutos de projeção pouco engajados. Ao afastar-se de um “filme de luta”, um “bom pai com dificuldades” e outros lugares-comuns narrativos, o longa mostra-se corajoso. Contudo, é melhor um filme que contorce os clichês em sua perspectiva única a um que, como uma casa sem fundação, não se constrói sólido.

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