Movies

Verão de 84

Apesar de parecer somente mais uma obra revivalista dos anos 1980, trama de suspense se revela melhor do que o esperado

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Texto por Flávio St Jayme (Pausa Dramática)

Foto: Divulgação

Como alguém que cresceu na década de 1980, é  impossível não ver com certa desconfiança essa onda de revival que tomou conta do cinema e da TV. Stranger Things, It, Pose… são inúmeros os exemplos. Então, não foi com outra atitude senão com um pé atrás que comecei a assistir a Verão de 84 (ainda sem distribuidor e data de lançamento no Brasil). A aventura de suspense juvenil deixa claro sua proposta já no título. Mas será que este era somente mais um revival genérico? Tive minha dose de pochetes, ombreiras, New Kids on The Block, O Clube dos Cinco e Goonies. Então pra que revisitar tudo isso? Vale a pena?

Quatro amigos num subúrbio às voltas com um mistério e problemas da adolescência. Já vimos isso em todos os exemplos citados acima. E Verão de 84 (Summer Of 84, no título original) começa exatamente assim, sem muita originalidade. Mas o que parecia só mais um filme, de repente, vai crescendo e se mostrando melhor que o esperado.

Davey, Eats, Curtis e Woody estão entediados nas férias de verão. Sem muito o que fazer, vão de brincadeiras ainda infantis à revistas pornográficas escondidas pra matar o tempo. Até que a TV noticia o aparecimento de um serial killer na região e os garotos se põem a investigar, desconfiando de todos à sua volta. Pode parecer que a história não é das mais originais. No entanto, seu desenrolar vai ficando cada vez melhor e quando chega em seu ápice é impossível não ficar de boca aberta com o desfecho.

Enquanto fazem suas buscas, os meninos conversam sobre coisas que pra nós, hoje, são clássicas, como Star Wars, Gremlis e Comandos em Ação (hoje conhecidos como GI Joe). Nisos, vão criando em nós uma relação de cumplicidade. Acabamos por nos ver nos quatro amigos.

Verão de 84 tinha tudo para ser só mais um título a aproveitar uma moda, como de costume. Mas seus atores (quase todos desconhecidos), sua edição com cara de filme velho, sua trilha sonora característica e seu final fazem com que ele seja um dos melhores representantes deste revival. E claro, como cria da mesma década, fui tomado pela nostalgia dele também.

Music

Thirty Seconds To Mars

Oito motivos para você não deixar de ver Jared Leto cantando ao vivo com sua banda em nova passagem pelo país

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Divulgação

Primeira turnê pelo Brasil

O Thirty Seconds to Mars já tocou no país, duas vezes antes e para muito mais gente no Rock In Rio. Só que este é o primeiro giro que eles farão por outras cidades e, o melhor, tocando bem mais pertinho do espectador, deixando de ser um pontinho lá longe em cima do palco. Na última semana de setembro eles – cuja formação atual está reduzida a uma dupla, formada pelos irmãos Jared (guitarra baixo, teclados e voz) e Shannon Leto (bateria), mais músicos contratados para as viagens –  tocarão em três cidades brasileiras: São Pualo (26), Porto Alegre (29) e Curitiba (30). Veja aqui, aqui e aqui (respectivamente) mais informações sobre estes shows  em cada uma dessas cidades por onde passará a Monolith Tour.

Sonoridade interessante

Se está longe de reinventar a roda do rock e propor algo de inovador, o Thirty Seconds To Mars também passa longe dessas bandinhas genéricas que costumam xerocar fórmulas, empastichar suas músicas e encher a grade das programações anuais do Lollapalooza brasileiro. No caldeirão de referências sonoras do Thirty Seconds To Mars entram indie, pop, grunge e o pós-punk britânico mais sintonizado nos tons sombrios do gótico. Elementos que, de certa forma, são compatíveis e formam uma boa mistura no comando da voz de Leto.

Jared boa-praça

Diferente de muito rockstar que usa o palco somente como utensílio teatral para manter-se afastado fisicamente dos seus fãs, Jared procura fazer dos shows de sua banda uma grande comunhão. Conversa sem parar entre as canções, arrisca-se na língua nativa, chama gente para subir ao palco só para anunciar a próxima música, veste literalmente a banda do país onde está. No Rock In Rio, em 2013, chegou ao ponto de manter os outros companheiros de grupo tocando e se mandar para a tirolesa, cantar pendurado nela para descer por ela e ainda correr ao palco para terminar a música. Portanto, estando bem mais próximo da plateia, é bem provável que ele possa passar ao seu lado e esbarrar em você.

Críticas afiadas aos EUA

Em 2018, o Thirty Seconds To Mars completa vinte anos de banda. Entretanto, nega-se a olhar para o passado, revisitando o que já foi feito. Pelo contrário. Jared Leto segue em frente, procurando novos trabalhos, muito provavelmente influenciado pelo modus operandi de ator. Por isso, no final de 2015, quando a banda se desligou da gravadora à qual pertencia, preferiu seguir pelos próprios trilhos, montando selo próprio e compondo um repertório muito mais politizado do que o de outros discos já gravados. O álbum America, lançado no último mês de abril e base de metade do repertório da atual Monoltih Tour, é uma pedrada atrás da outra no telhado de vidro do governo Donald Trump. O primeiro single, “Walk On Water”, por exemplo trata da questão da vergonhosa política de imigração que o presidente norte-americano quer impor em seu país. A crítica não engoliu muito bem o disco, sobretudo o maior flerte com um pop de cara mais eletrônica. Entretanto, não deixou de dar destaque à verve irônica e politizada das letras escritas por Jared.

Documentários da banda

Regularmente, o Thirty Seconds To Mars produz um documentário mostrando os bastidores de um disco, turnê ou gravação de videoclipe. Sempre com o próprio Jared assumindo a direção dos projetos e assinando com o pseudônimo de Bartholomew Cubbins. O mais recente deles chama-se A Day In The Life Of America e mostra, segundo Leto, “a América na sua mais imperfeita glória”. Ele pediu para que as pessoas gravassem no celular e enviassem à banda as suas histórias pessoais, contando fatos que as inspiram, transformam e desafiam, de preferencia ocorridos naquele momento ou horas antes. Tudo gravado no Dia da Independência dos EUA, 4 de julho. Outras excelentes opções de documentários da banda são Artifact (2012) e Edge Of The Earth (2014). O primeiro escancarou algumas das facetas mais obscuras e chocantes do mercado fonográfico, contando inclusive com a participação de figurões doe altos escalões do meio. Já o segundo acompanha as dificuldades sofridas pela banda para ser a primeira de toda a História a gravar um videoclipe (no caso, para a faixa “A Beautiful Lie”) no continente Ártico. Eles foram até uma pequena e remota vila no norte da Groenlândia para fazer todas as cenas. O objetivo era chamar a atenção de todo o planeta para os efeitos promovidos pelo aquecimento global.

Ambivalência de qualidade

Afinal, Jared Leto é um ator que virou cantor ou um cantor que virou ator? Depende do ponto de vista que você olhar as duas carreiras paralelas dele. Seu primeiro trabalho relativamente conhecido foi como Jordan Catalano na série de TV My So-Called Life(exibida entre 1994 e 1995 e que aqui no Brasil recebeu o nome de Minha Vida de Cão), na qual contracenava com a então adolescente Claire Danes. Até o fim dos anos 1990 fez alguns trabalhos sem muita repercussão no cinema, até emplacar uma série de filmes cultuados como Clube da Lutae Garota, Interrompida em 1999 e, no ano seguinte, Psicopata Americanoe Réquiem Para Um Sonho. Quando o Thirty Seconds To Mars finalmente lançou seu primeiro álbum já era 2002 e o nome de Leto já havia sido relacionado com o mundo de Hollywood.

Clube de Compras Dallas

Desde que lançou o primeiro álbum, Jared manteve a carreira de ator em segundo plano, priorizando os compromissos de shows e gravações de áudio e vídeo com a banda. Mas em 2013 não teve jeito: ao fazer o papel da transgênero Rayon em Clube de Compras Dallas, dominou o destaque como ator coadjuvante da temporada e fez o rapa nas premiações da categoria nos dois primeiros meses. A série de troféus culminou com Leto batendo adversários como Bradley Cooper (em Trapaça), Jonah Hill (em O Lobo de Wall Street) e Michael Fassbender  (em 12 Anos de Escravidão, longa vencedor do principal prêmio da noite). Sua performance foi tão intensa que mesmo já tendo passado duas décadas fica difícil esquecer de sua atuação ao lado do cowboy soropositivo Ron Woodroof, interpretado por Matthew McConaughey (que também ganhou o Oscar de ator principal pelo mesmo filme).

O Coringa do Esquadrão Suicida

Se existe um vilão megacultuado no universo de super-heróis da DC este é Coringa. Histriônica, enigmática, colorida, muitas vezes cruel, sua personalidade tem garantido ao personagem performances memoráveis de grandes atores no cinema. Jack Nicholson fez o trabalho no primeiro filme do Batman nos anos 1980/1990, sob a direção de Tim Burton. Depois, quando Christopher Nolan assinou a trilogia que adaptava a saga dos quadrinhos O Cavaleiro das trevas, foi a vez de Heath Ledger encarná-lo – o que, inclusive, teria contribuído para a overdose não acidental de remédios que matou o ator logo após as gravações. Quando a Warner anunciou que levaria aos cinemas o time de antagonistas chamado Esquadrão Suicida, Ledger assumiu a vez de Coringa, agora como o par romântico da espevitada Harley Quinn de Margot Robbie. A galeria de grandes atores ganhou recentemente um novo integrante, Joaquin Phoenix, já anunciado como o Coringa de seu filme solo, que chegará às telas em outubro de 2019. Enquanto isso, especula-se o retorno de Leto como o mesmo personagem no segundo longa do Esquadrão Suicida, ainda sem previsão de data de lançamento.

Music

Mark Lanegan – ao vivo

Devoção, felicidade completa dos fãs e um passeio completo por vários discos da carreira marcam show de Mark Lanegan em São Paulo

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Texto por Luciano Vitor

Foto de Edi Fortini

São Paulo é uma cidade tão cosmopolita que na minha opinião, exceto ela, outras duas capitais brasileiras apenas poderiam ter um Cine Joia: Curitiba e Recife. Isso dada a existência de diversas manifestações culturais dentro destes cenários. Com capacidade oficial para 992 pessoas (alguns sites informam que cabem 1300), o Cine Joia é, como o próprio nome diz, um cinema antigo que fora adaptado para ser uma casa de shows no estilo de anfiteatro norte-americano. Sem as cadeiras na parte debaixo, torna-se uma pista e tanto.

Com o começo do show do cantor, compositor e futuro escritor (em outro texto falaremos disso!) Mark Lanegan marcado para as 21h, o local estava quase lotado no último dia 8 de setembro. A exceção era na parte superior, onde ficamos – eu, Rogério Silva (critico do Under Floripa) e o baterista Marky Wildstone (Dead Rocks) – assistindo ao show com um incrível conforto e sem filas para as bebidas.

Perto das 21h10 a banda subiu ao palco para começar a tocar e sem qualquer estrelismo. Os músicos Shelley Brian (teclados e programações) e Jeff Fielder (guitarra) entraram praticamente juntos com Mark Lanegan e já começaram a tocar “When Your Number Isn’t Up”, do álbum Bublegum (2004).

O que veio a partir daí me deixou em um misto de devoção e felicidade. Devoção porque sou fã do cantor e pude notar o encantamento em todos os presentes. Em nenhum momento, pelo que me recordo, houve insistentes pedidos de canções para o cantor, como acontece em muitos shows de diversos artistas em qualquer outro local. Já vi alguns shows de Lanegan na Europa e nos EUA em que fãs pediam insistentemente por músicas que não faziam parte do set list daquela noite. Essa noite no Cine Joia pude presenciar não apenas respeito dos fãs presentes, mas uma devoção perante a música, poucas vezes vista antes em meus trinta anos de shows pelo Brasil.

A atmosfera intimista ajudou. E muito! Canções eram aplaudidas na medida que eram desfiladas após seu término. A sequência matadora: “Low”, “Hit The City” (em dueto com Shelley, fazendo a parte de PJ Harvey, que gravou a canção com Lanegan) e “Nocturne”, do penúltimo álbum solo, Gargoyle. A plateia, nas quatro primeiras canções, já estava devidamente conquistada, como se precisasse, aliás. A partir daí, a Mark Lanegan Band fez um show para fãs!

“Goodbye To Beauty”, “Sister”, “Graverdigger’s Song” (do aclamado álbum The Blues Funeral), “Deepest Shade” (gravada por ele com a Twilight Singers, superbanda que também tem em sua formação o prolifico Greg Dulli, do Afghan Whigs), “One Hundred Days”, “Come To Me” e mais onze canções até o encerramento.

O desequilíbrio entre as músicas antigas e as novidades foi o ponto crucial desse sábado. De Gargoyle (2017) foram incluídas duas faixas: as outras 23 músicas eram de diversos discos do cantor, sendo alguns covers que o próprio Lanegan gravou em algum momento de sua longeva carreira. E isso acabou sendo ruim? Não e muito pelo contrário! Afinal, Mark sabe equilibrar e pontuar um set list para agradar não apenas a si mesmo mas também aos seus fãs que lá estão sempre presentes.

E o show acabou quando os músicos saíram do palco? Não, meus amigos. Lanegan voltou cerca de dez minutos depois e sentou-se junto a uma mesinha para autografar, pelas minhas contas, umas mil peças (entre discos comprados na banquinha instalada no próprio Cine Joia, CDs e LPs levados por fãs, cartazes e fotos). Tudo com uma paciência ímpar e sem o já famoso meet and greet, que muitos artistas fazem há alguns anos no showbiz.

O que se viu por lá foi um artista comprometido com sua arte, com seu público e sem querer fazer média com ninguém. Um artista sobrevivente à cena grunge da qual fez parte e da qual soube extrair o melhor e o pior. Aos 53 anos, Lanegan continua sendo um gigante entre as bandas e artistas que não souberam envelhecer com dignidade.

Set List: “When Your Number Isn’t Up”, “Low”, “Hit The City”, “Nocture”, “Goodbye To Beauty”, “Sister”, “The Gravedigger’s Song”, “Deepest Shade”, “One Hundred Days”, “Come To Me”. “Strange Religion”, “Beehive”, “You Only Live Twice”, “Morning Glory Wine”, “One Way Street”, “Mirrored”, “Sad Lover”, “Halcyon Daze”, “Phantasmagoria Blues”, “I Am The Wolf”, “On Jesus’ Program”. Bis: “Torn Red Heart”, “Bombed”, “Where The Twains Shall Meet” e “Halo Of Ashes”.

Music

O Teatro Mágico – ao vivo

Espetáculo que comemora os quinze anos de trupe músico-circense emociona e lava a alma dos fãs em noite chuvosa na Ópera de Arame

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Texto por Larissa Ferreira

Foto: Jocastha Conceição

Neste primeiro dia de setembro, Teatro Mágico retornou a Curitiba para comemorar seu aniversário de 15 anos no palco da Ópera de Arame porque a cidade tem um de seus públicos mais fiéis. Afinal, como relembrou o vocalista e fundador do grupo Fernando Anitelli, a capital paranaense faz parte da trajetória da trupe desde o inicio da carreira, quando eles vinham se apresentar em locais como o Parque Barigui.

Ao olhar o palco deste show era possível revisitar a historia d’O Teatro Mágico através dos figurinos pendurados, simbolizando cada fase, cada projeto e cada álbum. A iluminação complementou com excelência o espetáculo, que iniciou de maneira explosiva e surpreendente com a música “O Sol e a Peneira” e Fernando Anitelli surgindo da plateia.

Com a atual banda formada por nomes que participam ou participaram da trupe em algum momento – Zeca Loureiro (guitarra), Rafael dos Santos (bateria), Emerson Marciano (contrabaixo) e Maria Fernanda Leal (violino) –, OTM relembrou sucessos como “Pena”, “Perdoando o Adeus” e “O Anjo Mais Velho” e “Zaluzejo”. Em um momento mais intimista, de voz e violão, surgiram as canções “Ana e o Mar “ e “Quando a Fé Ruge”. Outra participação muito especial nos palcos foi a de Odácio Anitelli (carinhosamente chamado de “seu Odácio” pelos fãs) contracenando com o querido Toicinho (Matheus Bonassa) numa releitura bem-humorada de cenas icônicas dos filmes/sagas Star Wars e De Volta Para o Futuro.

Quem acompanha O Teatro Mágico sabe que as performances aéreas das Gêmeas Dias mais Andrea Barbour são um show à parte, capaz de despertar as emoções de quem é mais insensível. O que o público não esperava, porém, foi a aclamada manifestação de Andrea acerca dos recentes casos de violência contra a mulher e uma homenagem à vereadora Marielle Franco – assassinada no Rio de Janeiro no dia 14 de março deste ano e até agora, seis meses, um caso inexplicavelmente ainda não solucionado.

O debut do show dos 15 anos d’O Teatro Mágico foi o melhor presente que os fãs poderiam ganhar para comemorar com grandeza essa trajetória. Relembrou e emocionou com uma obra consolidada e também trouxe novidades. Foram apresentadas “Quantas Mais?” e “Cinza”, ambas canções inéditas e que farão parte do próximo álbum. Aliás, disco já ansiosamente aguardado pelas pessoas que saíram da Ópera de Arame inspiradas e de alma lavada naquela noite chuvosa.

Set List: “O Sol e a Peneira”, “Da Luta”, “Cidadão de Papelão”, “Abaçaiado”, “Zazulejo”, “Da Entrega”, “Quantas Mais?”, “Cinza”, “Transição”, “Perdoando o Adeus”, “Você Me Bagunça”, “Ana e o Mar”, “Quando a Fé Ruge”, “A Fé Solúvel”, “Deixa Ser”, “Nosso Castelo”, “Amanhã Será”, “Pena”, “Eu Não Sei na Verdade Quem Sou”, “Camarada D’água” e “O Anjo Mais Velho”.

Movies

A Freira

História de entidade maligna que aparece em Invocação do Mal 2 é contada em novo filme da franquia de James Wan

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Texto por Abonico Smith

Foto: Warner/Divulgação

Não é de hoje que o exorcismo é um prato cheio para os filmes de terror. O ritual executado por uma pessoa devidamente autorizada para expulsar espíritos malignos que tomaram posse do corpo de outra pessoa é algo recorrente no gênero cinematográfico. O filme mais lembrado até hoje, de 1973, chamado O Exorcista, abriu as portas da popularidade para um filão até então considerado menor. Nada mais natural, então, que a temática voltasse a ser abordada neste que está sendo considerado um novo levante de criatividade e bilheterias das tramas que fazem o espectador sentir medo, se agarrar nas poltronas do cinema (ou mesmo no braço de quem está ao lado) e dar gritos de susto de forma indiscriminada.

O produtor, roteirista e diretor australiano James Wan é quem faz a aposta da vez. Famoso pelos dois filmes A Invocação do Mal, responsáveis pelo início de uma nova época áurea do terror nesta década, ele agora apresenta A Freira (The Nun, EUA/Austrália, 2018), filme que estreia neste fim de semana nos cinemas de praticamente todo o planeta. Para que já viu o segundo A Invocação do Mal, ficou a deixa: era justamente uma misteriosa freira uma das formas manifestadas pelo demônio Valak. Foi justamente o pouco que precisava para aguçar a curiosidade do público para este spin-off.

Deixando agora a direção a cargo do inglês Corin Hardy, mais famoso por dirigir videoclipes de artistas do primeiro escalão do rock britânico (Prodigy, Horrors, Paolo Nutini, Biffy Clyro), Wan volta ao ano de 1952 para contar a história do que seria a tal freira misteriosa. Ele aponta como o local onde tudo teria começado uma remota abadia localizada em uma zona rural na Romênia. Ali o demônio teria se manifestado pela primeira vez, fazendo como vítimas religiosas que habitavam o local. Para desvendar o mistério que culmina com a trágica morte de algumas delas, o Vaticano convoca um padre experiente na arte de exorcizar os outros. Para acompanhar Father Burke (Demián Bichir), ninguém melhordo que uma casta noviça, prestes a fazer seus votos religiosos. Sister Irene (Taissa Farmiga – irmã mais nova de Vera Farmiga, a protagonista Lorraine de Invocação do Mal 2) pouco entende ainda do mundo religioso, quanto mais de uma missão tão importante como esta. Mas parece ser a pessoa mais indicada para ajudar Burke nesta missão.

Explorando belas imagens – realizadas tanto na natureza quanto na secular construção gótica um tanto quanto abandonada por causa de sua maldição), as imagens de Hardy e a história de Wan vão decifrando as ligações da entidade maligna com o lugar e como ela teria se infiltrado ali para, posteriormente, ganhar o mundo exterior. Como (quase) todo filme de terror de hoje em dia, os efeitos dão o tom nos momentos de maior tensão. Entretanto, as histórias paralelas de Burke, Irene e Frenchie (o morador do vilarejo local que os conduz até a abadia) são o melhor do filme. As transformações e as atitudes de coragem e ousadia que vão poissibiltando a eles (e aos espectadores) novas descobertas.

A Freira não reinventa a roda e muito menos se propõe a trazer novas revoluções para o gênero cinematográfico. Entretanto, rende bons momentos e cumpre bem o papel de entreter sem deixar de entregar alguma qualidade durante a hora e meia de filme.