Movies, Music, Series, TV

Xuxa + Turma do Balão Mágico + Wham! + Menudo

Canais de streaming oferecem pot-pourri de documentários biográficos sobre estrelas da música pop nacional e internacional dos anos 1980

Texto por Taís Zago

Fotos: Netflix/Divulgação (Wham!), HBO Max/Divulgação (Menudo), Star+/Divulgação (Turma do Balão Mágico) e Globoplay/Divulgação (Xuxa)

Nos últimos meses os canais de streaming não economizaram na nostalgia para nos inundar com filmes e séries biográficas de artistas proeminentes que tinham uma imensa fanbase infanto-juvenil nos anos 1980 e 1990: Xuxa, Turma do Balão Mágico, Wham! e Menudo. Eles fizeram parte de nossas infâncias e habitam (assombram?) o nosso inconsciente coletivo até hoje. Vou além: desafio os leitores a ouvir o nome de alguns deles sem cantarolar mentalmente algum de seus hits radiofônicos.

Infelizmente nem tudo foi rosa-choque e glitter nas trajetórias desses artistas. Em sua quase totalidade, essas novas obras documentais escancaram situações gritantes de abusos físicos, emocionais e financeiros da parte de managers, amigos e até mesmo familiares próximos.

Wham! (Netflix, 2023)

No dia 5 de julho a Netflix disponilizou o documentário sobre a trajetória desse duo que marcou a recente história pop inglesa, europeia e mundial com seus grandes, brilhantes, positivos e afirmativos hits durante a primeira metade dos anos 1980.

Os amigos de infância George Michael e Andrew Ridgeley começaram cedo a compor juntos e a ligação entre eles perdurou durante o estrelato. O Wham! durou apenas 4 anos (entre 1982 e 1986) e desfrutou de um sucesso meteórico até Michael partir para a sua bem-sucedida carreira solo. Mas deixou hits como “Wake Me Up Before You Go-Go” ou “Last Christmas”, que virou hino de Natal e ainda hoje é tocada pelas rádios quase que diariamente no mês de dezembro por toda a Europa. 

Nesse documentário dirigido por Chris Smith vemos todo o colorido da vida fun da juventude de polaina e shortinho fosforescente e que cultuava a beleza estética, bronzeados e cabelos dourados e a vida de luxo e brilho dos popstars George e Andrew. Os excessos não foram poucos em sua jornada, porém o documentário se abstém de grandes aprofundamentos – ficando apenas na superfície, como era no geral a vibe do Wham!.

Baseado em memórias de Andrew e do livro de colagens de sua mãe, a obra documental conta apenas com a voz dos artistas como narração. No caso de George, por causa de seu falecimento prematuro no Natal de 2016, há apenas material de arquivo. Mesmo assim, um tantinho morna, essa biopic é parada obrigatória para os fãs e um eyecandy para todo mundo.

Menudo: Forever Young (HBO Max, 2022)

Estreou no dia 23 de junho no Brasil o documentário Menudo: Forever Young (HBO Max, 2022) em quatro episódios sobre a precursora das boy bands latino-americanas. Menudo não era necessariamente um grupo. Era uma brand criada pelo perverso produtor Edgardo Diaz que, em viagem à Espanha, descobriu o formato que resolveu desenvolver em seu país natal, Porto Rico.

Os diretores Angel Manuel Soto e Kristofer Rios conseguiram proporcionar um mergulho nostálgico nos anos “dourados” (no caso, de lycra) do primeiro fenômeno internacional latino a arrastar (pré) adolescentes aos milhares para estádios lotados e vigílias em frente a hotéis.

Foram entrevistados ex-membros sobreviventes das várias fases do grupo entre os anos 1970 e 1990. Alguns reconhecemos da nossa infância, outros nunca vimos antes.  

Fato é que os dois cantores mais famosos não fazem parte do documentário. São eles Ricky Martin e Robi Rosa. Os motivos podemos especular: boa parte de Menudo: Forever Young é dedicada à denúncia de abusos (inclusive sexuais), violência e exploração infantil por parte de Edgardo, que nunca fora levado a julgamento.

Como uma obra que é mais do que parece (assim como os próprios menudos), o documentário mostra as questões pouco tratadas do abuso do trabalho infantil comum no showbiz e em bandas arranjadas por meio de casting e competições. Assim como a interessante contextualização histórica cultural das comunidades hispânicas na américa latina e EUA durante a década de 1980. 

Esta obra é um retrato bittersweet do sonho de fama e fortuna de dezenas de rapazes que eram substituídos assim que passavam pela alteração de suas vozes na puberdade.

A Superfantástica História do Balão (Star+ /2023)

Um banho de nostalgia nos 40 and something. É isso que rola em boa parte dos três episódios desse documentário sobre o quarteto infantil mais famoso da história da dobradinha entre televisão e música brasileira, disponível no Star+ desde meados de julho.

A turma do Balão Mágico foi uma presença constante na minha vida na primeira metade dos anos 1980. Eu tinha todos os discos, assistia a todos os maravilhosos especiais e não perdia um único dia do programa exibido  nas manhãs da Globo entre 1983 e 1986, até a Xuxa tomar seu lugar. Simony, uma criança circense. Tob, um garoto sensível e tímido. Mike, uma bomba de energia, filho do famoso assaltante do trem pagador Ronald Biggs. Jairzinho, talentoso filho de Jair Rodrigues. Os quatro fizeram parte da infância de toda criança da geração X brazuca. E isso pelo simples fato de não existir nenhuma concorrência à altura (em alcance de mídia) para o produto que ofereciam. 

Quase quarenta anos depois do fim do grupo os quatro integrantes da formação clássica se reuniram e deram seus depoimentos pessoais sobre fama, dinheiro, abusos e traumas. A sensação que fica é a de que a exploração infantil era absurda, escancarada e ocorria em pleno acordo e incentivo dos pais. Hoje em dia, com os avanços que tivemos na área de direitos humanos e das crianças, muita coisa que a turminha passou lá trás é encarada como uma verdadeira aberração. A minissérie dirigida por Tatiana Issa costura momentos do grupo por meio de muito material de arquivo com entrevistas atuais com atores, produtores, diretores e músicos que participaram da história do Balão. Alguns dos personagens trazem boas lembranças, outros nos deixam na boca o retrogosto amargo do abuso.

Programa obrigatório. Pelo menos para quem até hoje sabe cantar de cor “Ursinho Pimpão”.

Xuxa, o Documentário (Globoplay, 2023)

Série feita em cinco episódios semanais e dirigida por Pedro Bial para o canal de streaming da Globo. Na verdade, essa frase já bastaria para resumir o conteúdo, mas vou elaborar mais. 

Xuxa foi um fenômeno dos anos 1980 e 1990 no Brasil e na América Latina, uma mulher a frente de um formato diário de entretenimento televisivo infantil que foi acompanhado anos a fio pela grande maioria das crianças brasileiras. Ainda arrastou legiões de fãs para seus shows e filmes e vendeu milhões de discos. Isso tudo sem saber cantar, compor ou atuar. Ela se sustentava apenas na força do enorme carisma e contava com Marlene Mattos, seu braço-direito (e de ferro!) para garantir que nenhuma mídia ou merchandising ficasse imune ao seu charme. A presença dela era onipresente nas vidas de quase todas as crianças brasileiras que tinham ficado órfãs de uma babá eletrônica diária após a dissolução da Turma do Balão Mágico. 

As crianças brasileiras ganharam sua Barbie de carne, osso e voz aguda, na forma do ideal de beleza eurocêntrica vinda do sul do Brasil. Rodeada por paquitas e paquitos que seguiam o seu padrão estético, a Rainha dos Baixinhos construiu uma enorme fortuna e fama internacional. 

Material para uma obra documental envolvente e intrigante não faltou. Mas faltou vontade, uma melhor edição e uma direção que saísse dos padrões sensacionalistas e noveleiros que são marca registrada da produtora Globo. Com um vastíssimo arquivo audiovisual, os episódios são recheados de nostalgia celebrando a loira. Contudo, falha na hora de apresentar fatos que ainda não fossem amplamente conhecidos até por quem nem é seu fã. As entrevistas são rasas, apelativas. No caso do face-off  Xuxa versus Marlene, adquire tom apelativo e até constrangedor.

Claro que vale a pena ser visto para recuperar algumas memórias afetivas, imagens e letras de músicas que marcaram a infância de milhões. O documentário, entretanto, não preenche as lacunas e nem dá respostas satisfatórias para muitas das polêmicas envolvendo o nome de Maria da Graça Meneghel.

Music, Series, TV

Pistol

Minissérie dirigida por Danny Boyle aborda o universo ao redor dos jovens músicos que fizeram história no punk rock sob o nome de Sex Pistols

Texto por Taís Zago

Foto: Hulu/FX/Star+/Divulgação 

Quem entre nós, da geração X, não leu Please Kill Me (de Legs McNeil e Gillian McCain, 1996) ou assistiu a Sid & Nancy (1986), filme britânico com Gary Oldman e Chloe Webb? Durante a década de 1990, ambas as obras faziam parte do pacote da educação fundamental sobre o punk rock para nossos olhos e ouvidos adolescentes tão sedentos por rebeldia. Nos tempos do punk de poucos acordes e muita atitude, os Sex Pistols e os Ramones faziam parte do currículo obrigatório de qualquer músico iniciante, groupie ou fã da anarquia como “ideologia”. Nenhum outro movimento cultural representou melhor o teenage angst e a necessidade de romper com a cultura capitalista de nossos pais através do puro caos. Uma furtiva declaração de amor ao live fast and die young nos anos em que nos sentíamos imortais. 

Também não foram poucos os documentários que prestaram homenagem à época e seus personagens como o excelente The Filth And The Fury (2000) ou End Of The Century (2003) – ficando aqui apenas nas duas bandas centrais do movimento, Ramones e Sex Pistols, e a eterna batalha entre EUA e Reino Unido pelo titulo de criadores do movimento que em pouco tempo virou a febre mundial mesmo sem a promoção da imprensa mainstream ou das grandes empresas da indústria fonográfica. O punk se criou sozinho, nas ruas, nas atitudes, na insatisfação, na perda de perspectiva de uma geração anti-hippie e contestadora. As flores nos cabelos foram deixadas de lado na metade dos anos 1970. No seu lugar entraram o látex, o pogo, a distorção e os alfinetes. Onde antes os hippies promoviam o amor livre, os punks passaram a defender a autonomia sobre o próprio corpo, mesmo que pela autodestruição. O direito de derrubar muros com socos em vez de mensagens de paz e amor.

Pistol (EUA/Reino Unido, 2022 – Hulu/FX/Star+) é uma minissérie de seis capítulos dirigida por Danny Boyle (Trainspotting, Cova Rosa) baseada na autobiografia Lonely Boy: Tales From a Sex Pistol (2016) de Steve Jones (Jonesy), guitarrista e membro fundador dos Sex Pistols. Cada um dos episódios possui um título peculiar inspirado no livro de Jones – como, por exemplo, o primeiro, Track 1: The Cloak of Invisibility,onde Jones conta um pouco de sua origem e sua criação no subúrbio londrino de Hammersmith. O “manto da invisibilidade” era o que supostamente protegia o tímido e traumatizado Jonesy em suas peripécias e delitos, assim como lhe dava a autoconfiança necessária para subir num palco onde os músicos eram alvejados por latas e garrafas de cerveja ou cuspes, entre outras demonstrações escatológicas da rebeldia juvenil, que, claro, eram estimuladas e incitadas pelos próprios músicos. 

Boyle, famoso pelo seu estilo que estimula uma suposta glamourização de drogas e de violência, sempre um excelente pano de fundo musical, encontra-se em seu elemento. Não acho que outro diretor pudesse ter feito um trabalho melhor para passar toda a energia, raiva, tristeza e ingenuidade de uma geração que queria mudar o mundo rompendo com os modelos empoeirados e inflexíveis dos britânicos, como a adoração pela monarquia e rituais sociais superficiais enquanto o povo sofria com a falta de emprego em meio a uma severa crise econômica. Craig Pearce (um dos prediletos de Baz Luhrmann) assumiu o roteiro e investiu bastante em um suposto romance entre Jones e Chrissie Hynde (vocalista dos Pretenders). Segundo conta Chrissie em seu livro Reckless, de 2015, ambos sempre tiveram uma boa amizade, que, eventualmente, era salpicada com doses de sexo. Jones também deixa isso bem claro em Lonely Boy. A atuação espetacular de Sydney Chandler como Chrissie e Toby Wallace como Steve salva o roteiro do tom novelesco que um romantismo exagerado poderia criar. Para muitos (eu, inclusive), Sydney roubou o holofote de todos os outros personagens e nos deixou com vontade de ver Reckless também transformado em série.

Visualmente, Pistol não deixa nada a desejar: a fotografia e as passagens com imagens vintage reforçam o clima de efervescência cultural da época. Há um grande desfile de celebridades e figuras peculiares que foram ícones do punk orbitando em torno dos clubes noturnos londrinos e da butique Sex, como a modelo Jordan (Maisie Williams), a estilista Vivienne Westwood (Talulah Riley) e o estilista e empresário wannabe da banda Malcolm McLaren (Thomas Brodie-Sangster), que até hoje alega ter “inventado” os Sex Pistols, o que deixou um gosto amargo de boy band na boca dos fãs e passou para a banda a pecha de posers. Para contrariar Malcolm, Steve mostra o engajamento dos músicos na criação e nas composições, a vontade de inovar e o prazer de estar no palco, o talento natural de Johnny Rotten (Anson Boon) para traduzir em palavras (e urros) os sentimentos viscerais e urgentes de toda uma geração. Falando nele, o hoje conhecido como John Lydon se declarou determinantemente contra a produção da serie, inclusive entrando na justiça para tentar impedir que a música original dos Sex Pistols fosse utilizada. Para nosso alivio, os outros três sobreviventes e o espólio de Sid Vicious se posicionaram a favor, o que nos presenteou com um incrível passeio pelo processo criativo e pela energia crua de superhits da banda (“Pretty Vacant”, “Anarchy In The UK”, “Submission”, “God Save The Queen”, “Problems, “Bodies”, entre outros).

Por outro lado, a curta duração (apenas seis episódios) deixou muita coisa em aberto num assunto tão rico apesar de não apresentar qualquer fato novo sobre a banda que nos fosse desconhecido. Como uma tentativa de evitar mais daquilo que já sabemos de cor e também como uma fórmula de fugir das platitudes, Danny e Craig, através do olhar de Steve, optaram por dar mais espaço para os personagens em torno da loja Sex e dos Pistols, inclusive cedendo praticamente todo um episódio para abordar a história de Pauline, que inspirou a letra de “Bodies”.

Pistol polariza opiniões, traz pouco material para quem não conhece a banda ou não leu Lonely Boy, não apela demais para o óbvio, não redime mas também não demoniza as drogas. Não é o trabalho mais recomendado para principiantes, mas é um deleite para os fãs. Boyle tem o dom precioso de nos puxar para dentro de uma história como se estivéssemos sentindo a energia da primeira fileira na beira do palco. É impossível assistir sem sentir aquele adolescente adormecido, escondido atrás de cabelos grisalhos e boletos para pagar, acordando dentro de nós.

Movies

It: Capítulo Dois

Clássica trama de Stephen King ganha sequência na qual amigos de adolescência voltam a enfrentar o palhaço Pennywise 27 anos depois

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Texto por Janaina Monteiro

Foto: Warner/Divulgação

Enfrentar medos, lutar contra fobias e espantar traumas que muitas vezes nos impedem de arriscar e mudar o rumo da vida são os maiores desafios do ser humano. As cicatrizes deixadas por casos de bullying, desamparo ou frustração, sobretudo na infância, moldam nosso caráter e personalidade e assombram a mente, como se fôssemos perseguidos eternamente por monstros.

Em It – A Coisa, todos esses medos e sequelas do passado, conscientes e inconscientes, personificam-se numa figura ambígua e que de engraçada não tem nada: o terrível palhaço Pennywise, do clássico de mais de mil páginas escrito pelo mestre do terror Stephen King. O livro foi publicado em 1986 e ganhou a primeira adaptação no formato de telefilme em 1990. Três décadas depois, a história reapareceu desmembrada em dois capítulos a fim de cativar desde a geração X até os millennials que já nasceram na era dos efeitos especiais computadorizados.

A primeira parte do remake estreou em 2017, trazendo para as telas a história de sete amigos (Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e Beverly, que formaram o Clube dos Losers) e enfrentaram na virada para os anos 1990 o palhaço devorador de criancinhas. A continuação desta trama assustadora chegou nesta quinta aos cinemas brasileiros. Em It: Capítulo Dois (It: Chapter Two, EUA/Canadá/Argentina, 2019 – Warner) os amigos da adolescência fazem jus ao pacto de sangue e revivem os traumas e medos do passado ao se reencontrarem, 27 anos depois, para lutar contra o mesmo fantasma – ou melhor, o mesmo palhaço dos balões vermelhos. A criatura é tão horripilante que talvez só outro palhaço seja capaz de desbancá-lo em bilheteria e terror: o Coringa encarnado por Joaquin Phoenix, que chega no mês que vem aos cinemas.

Em se tratando de Stephen King é desnecessário informar que o filme é longo, com quase três horas de duração. Mas nada que um roteiro e direção sintonizados garantam uma experiência agradável e prazerosa, apesar de aterrorizante, como uma sessão de psicanálise. Para adaptar um “catatau” do rei Stephen só mesmo um roteirista expert em filmes de terror (Gary Dauberman, de A Freira, A Maldição da Chorona Annabelle) e a parceria impecável com o diretor portenho Andy Muschietti. A dupla consegue manter uma sincronia especial para segurar o público na poltrona até o fim, mesmo quando aborda clichês como a cena de início do filme, ambientada num parque de diversões. Lá é onde o medo e a diversão se encontram. Em vez de um casal heterossexual, a história já coloca de cara dois namorados sofrendo o ataque homofóbico de uma gangue de valentões.  O roteiro também se preocupa em situar aqueles que não assistiram ao primeiro capítulo de It, através de uma série de flashbacks muito bem coordenados na trama e que por diversas vezes retomam a narrativa de forma até poética.

Nesta segunda parte, a aventura revivida pelos amigos, agora adultos, traz um ar nostálgico, um misto de Goonies com Indiana Jones e Stranger Things (um dos membros do grupo teen é vivido por Finn Wolfhard, que também está no elenco da série da Netflix) ao som de New Kids On The Block. A escolha dos atores e a construção das personagens, por si só, garantem a empatia do público. Difícil não se identificar com o perfil deles, que acumulam defeitos como todo loser. Ben (Jay Ryan), que sofria bullying pelos quilinhos a mais, virou atleta mas ainda tem o pensamento estereotipado de “gordinho”. A doce Beverly (que na fase adulta é interpretada pela ruivíssima Jessica Chastain) casou-se com um marido possessivo, bem aos moldes de seu pai, e precisa ser durona para enfrentar as agressões. Outro exemplo, Bill (James McAvoy), tornou-se escritor e roteirista de cinema mas é mestre em fazer finais ruins, porque assim é a realidade, repleta de finais infelizes.

Dos sete, apenas um componente do Clube dos Losers permaneceu em Derry, a cidade fictícia que fica no estado de Maine e onde se passa a trama. E quem é fã do “iluminado” Stephen King sabe que o cenário de suas histórias só pode ser onde o escritor de 71 anos mora até hoje. Maine é marca registrada da obra do rei do terror, estado que abriga suas cidades fictícias, com atmosfera nebulosa, como Chamberlain de Carrie, a Estranha, ou Ludlow, de Cemitério Maldito.

O Capítulo 2 de It tem início quando Mike (Isaiah Mustafa) monitora uma série de mortes atribuídas a Pennywise (Bill Skarsgård). A partir disso e por 2h49 para ser precisa (por isso, um conselho: vá ao banheiro antes da sessão começar), assistimos a um thriller psicológico que mistura humor negro e pitadas de melancolia que só a mente fértil de King é capaz de proporcionar.

A trama é recheada de cenas sangrentas, obviamente explícitas, nuas e cruas. Quando Pennywise ataca as criancinhas, babando de fome, ele abocanha sem dó nem piedade. E a direção não poupa esse choque e escancara a violência, nos levando a tomar sustos mas não ao ponto de pular da poltrona – mesmo porque já estamos habituados a ver coisas semelhantes nos telejornais diários.

Outras cenas um tanto trash trazem diálogos tão bem-humorados e criativos que, em vez de medo, instigam o riso. Resta saber quem vai rir por último dessa vez: Pennywise ou os amigos da adolescência?

Music

Ozzy Osbourne – ao vivo

Sem trazer qualquer novidade, turnê de despedida resgata clássicos do Black Sabbath e passeia pela carreira solo do ídolo

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Texto e foto por Abonico R. Smith

Ozzy versão Geração X: o cara doido à frente do Black Sabbath (uma banda que gostava de fazer músicas densas, sombrias, desaceleradas e com riffs marcantes de guitarra e letras sobre historinhas de terror). Mas tão doido acabou justamente expulso do Black Sabbath pelo descontrole total na relação com as drogas

Ozzy versão Geração Y: o cara que, depois de sair do Sabbath, começou fazendo bons discos solo, embora já pegando carona em elementos incorporados pela New Wave Of British Heavy Metal, como andamentos mais acelerados e destreza em solos de guitarra (cortesia de Randy Rhoads incialmente e logo depois de Zakk Wylde) mas acabou se repetindo e, pior do que isso, tornando-se uma caricatura de seu próprio passado. Só que tudo começou arrancando a dentadas as cabeças de pombos e morcegos que passavam, desavisadamente, à sua frente.

Ozzy versão Millennials: o mais engraçado dos coadjuvantes do reality show da tevê que flagrava o dia a dia de sua família. O pai bonachão e meio sem noção das coisas cotidianas, já com algumas sequelas motoras e cerebrais provocadas por anos e mais anos abusando das drogas.

Estas diferentes facetas estiveram presentes na Pedreira Paulo Leminski na noite de 16 de maio último, quando Ozzy Osbourne trouxe à capital paranaense o show de sua atual turnê – que ainda passou por outras três cidades brasileiras (São Paulo, Belo Horizonte e Rio de janeiro). Para um público de porte médio ao local – não passava de um terço dos que foram ver Ozzy com seus companheiros de Sabbath (Tony Iommi e Geezer Butler) menos de dois anos atrás – o que menos interessava era saber que ali, naquele palco, estavam juntos os três Ozzies em um só. O que importava era a dita última oportunidade de estar diante de uma lenda do rock – não importando o estado em que ela esteja hoje – que diz estar fazendo último giro mundial da carreira.

Com músicos de apoio que contava com os mesmos baterista e tecladista utilizados pelo Sabbath (respectivamente Tommy Clufetos e Adam Wakeman, filho de seu velho amigo e também ex-músico Rick Wakeman) e o retorno de Wylde, Ozzy deu um pequeno passeio pelos momentos altos de sua carreira solo, dando destaque maior ao trabalho de estreia (Blizzard Of Ozz, 1980) e aquele disco que vendeu mais (No More Tears, 1991) justamente por ser o ano em que o Nirvana ganhou megapopularidade, encabeçando a lista de diversas novas bandas alternativas americanas da época iniciaram toda uma nova geração de fãs de rock no culto à banda e a Ozzy (fato que o levaria ao reality show da MTV uma década depois). De resto, pegou uma ou outra faixa de cada disco – chegando até emendar quatro delas em um medley. De quebra, deu uma ligeira pincelada no repertório sabbathiano – inclusive cantando os mesmos clássicos “War Pigs” e “Paranoid” que já havia cantado em dezembro de 2016 naquele mesmo local.

O ídolo, apesar de estar com um gogó bom para tudo aquilo que ele fez, tem dificuldades de mandar os tons graves das músicas da antiga banda e por isso desafina nessas horas. Ainda faz uso de um teleprompter para ver as letras das músicas que não consegue mais decorar – o que explica seu olhar constante para baixo e mais a usual atitude meio parada atrás do pedestal do microfone ao centro do palco, para que possa ler os versos. Ozzy também não tem uma performance lá muito variada, repetindo sempre as mesmas poses, como o polichinelo e os braços levantados para cima. Então seu show acaba se sustentando na destreza dos músicos (incluindo um solo de bateria que durou por uns longos vinte minutos), pirotecnias visuais dos telões de led, um punhado de canções históricas acompanhada em uníssono pelos fãs e, claro, o inegável carisma.

Claro que uma apresentação de Ozzy Osbourne, hoje, esbarra no problema de ser uma mera repetição de fórmulas exaustivamente apresentadas em shows de rock realizados em grandes arenas mundo afora e há várias décadas. Mas quem disse que o seu público quer alguma novidade? Não importa a idade, o tudo o que o espectador deseja quando vai vê-lo é se encontrar com o seu Ozzy preferido e guardado na memória afetiva do coração. O resto não interessa mesmo. Essas pessoas desejam apenas que alguém mostre a elas coisas da vida que elas não conseguem observar. E Osbourne sempre foi esse cara.

Set List: “Bark At The Moon”, “Mr. Crowley”, “I Don’t Know”, “Fairies Wear Boots”, “Suicide Solution”, “No More Tears”, “Road To Nowhere”, “War Pigs”, “Miracle Man/Crazy Babies/Desire/Perry Mason”, “Flying High Again”, “Shot In The Dark”, “Crazy Train”. Bis: “Mama, I’m Coming Home” e “Paranoid”.