Music

Bruce Dickinson

Oito motivos para não perder o show da turnê The Mandrake Project, referente ao novo álbum solo do vocalista do Iron Maiden

Texto por Daniela Farah

Foto: John McMurtrie/Divulgação

Existe um caso de amor declarado entre a cidade de Curitiba e Bruce Dickinson, o icônico frontman do Iron Maiden. Volta e meia ele está na capital paranaense para se apresentar ao vivo. Quando não vem pilotando o boieng que pertence à sua longeva banda, dá um pulo para reforçar outras atividades paralelas: lançar um disco solo, visitar a fábrica que produz a cerveja artesanal oficial do sexteto britânico ou, ainda, segundo algumas línguas mais ferinas, descansar um pouquinho do corre em uma suposta mansão comprada ali nas redondezas da Pedreira Paulo Leminski justamente para aproveitar o vai-vem frequente. Bruce está tanto por aqui que (isso sim, fato!) vereadores locais propuseram, semana passada, entregar-lhe a cidadania honorária da cidade. O veterano artista agora tem um “curitibano” para o seu gentílico.

Na próxima quarta-feira, 24 de abril, Dickinson sobe mais uma vez ao palco em Curitiba. Agora para dar o pontapé inicial da perna brasileira da nova turnê, referente ao álbum The Mandrake Project. Lançado agora em primeiro de março, o sétimo trabalho de estúdio de sua discografia solo ganhou um intenso cronograma que, após a capital paranaense, pousará em outros seis locais pelos dias posteriores. Porto Alegre (25), Brasília (27), Belo Horizonte (28), Rio de Janeiro (30), Ribeirão Preto (2) e São Paulo (4) completam a agenda em nosso país. Para ingressos e outras informações sobre todos estes sete concertos você pode ter clicando aqui.

O Mondo Bacana elaborou oito motivos pelos quais você não pode perder esta nova passagem por aqui do gogó mais idolatrado do heavy metal.

Ele mesmo

Claro que o primeiro motivo é o próprio Bruce Dickinson! Não haveria como ser diferente com esse artista que conquistou fãs no mundo todo. Com mais de 40 anos de estrada e 90 milhões de álbuns vendidos como vocalista do Iron Maiden, Bruce é muito mais que uma voz icônica. Não se engane, porém: o cara não é apenas um mestre do metal. Ele também domina os céus, voando como um pássaro de aço sua própria frota de aeronaves. Ele até mesmo se aventurou no mundo das cervejas, criando uma poção mágica que transforma os fãs em devotos fervorosos. Então, enquanto outros se contentam em apenas fazer música, Dickinson eleva o jogo, conquistando os palcos e os céus com um sorriso sarcástico e um grito de guerra. É o rei do metal, o capitão dos céus e o mestre da ironia. Duas máimas pairam sobre Bruce: ele não para quieto e ninguém nunca sabe o que virá na sequência. 

Sete álbuns solo

Largar uma banda como o Iro Maiden no auge do sucesso para se dedicar a uma carreira solo precisa de muita coragem. Qualidade essa que Bruce Dickinson já demonstrou ter de sobra, aliás. Inclusive, suas primeiras aventuras solo foram baseadas no puro experimentalismo, fugindo do heavy metal tradicional do Iron Maiden. Isso causou confusão nos fãs, que não abraçaram muito os primeiros projetos. O vocalista, então, entendeu e resolveu fazer sons mais assertivos, para as multidões sedentas de distorção e solos de guitarra. A turnê relativa ao novo álbum The Mandrake Project faz um apanhado das melhores fases do artista – Bruce já avisou que as mais experimentais como a dos discos Skunkworks (1996) e Tattooed Millionaire (1990) vão ficar de fora dessa vez.

The Mandrake Project

Apresentar o recém-lançado disco é a razão da vinda do Bruce Dickinson para o Brasil desta vez. Não que ele precise de uma, claro, mas agitado como é, sempre acaba encontrando um projeto novo para se divertir. O novo projeto solo do vocalista alcançou números interessantes pelo mundo, chegando ao top 10 na Alemanha, Suécia, Finlândia, Suíça, Reino Unido, Brasil, Bélgica, Itália, Holanda, França e México. Até agora figuraram no set list dos shows as faixas “Afterglow Of Ragnarok”, “Many Doors To Hell”, “Rain On The Graves”, “Resurrection Men”.

Bongôs

Isso mesmo! Durante a divulgação do novo projeto, Bruce contou uma história curiosa: ele queria ser baterista na época da escola e tinha o sonho de tocar bongôs. Durante a gravação de The Mandrake Project, ele jurou tê-los ouvido. Só que não: era apenas um barulho feito pela guitarra!). Então ele resolveu incluir os tais bongôs. Agora fica o questionamento: será que ele vai tocá-los ao vivo também?

1972

Você já considerou a ideia de voltar ao tempo? Tanto a literatura quanto o cinema garantem frequentemente essa ida ao passado. Agora Bruce tem prometido aos quatro ventos que a apresentação dele vai ser exatamente como em 1972. “Será um show analógico e autêntico”, comentou o artista em uma coletiva. O resgate do passado é um movimento que acontece na História quando a humanidade sente que está avançando muito rápido – como, de fato, estamos. Dickinson não é o primeiro artista a querer trazer de volta essa sensação em um concerto, mas agora bate aquela curiosidade a respeito de como ele fará isso. Será que a viagem vai ser de DeLorean ou TARDIS?

The Chemical Wedding

Bruce prometeu em entrevista que incluiria muitas faixas de The Chemical Wedding no set list da turnê. O quinto álbum de sua carreira solo foi lançado em 1998 e foi nesse aí que ele deixou os experimentalismos de lado. O peso do trabalho, produzido pelo mesmo Roy-Z de The Mandrake Project, agradou demais aos fãs. E sobre trazer essas músicas para a turnê, bem, ele não mentiu. Nos sets lists de até então, a seleção de músicasdos dois discos está praticamente em pé de igualdade. “The Chemical Wedding” e “The Alchemist” integram a lista oficial, enquanto “Book Of Thel” e “The Tower” costumam chegar no bônus do bis. Para saber se vai acontecer, entretanto, só estando por lá!

“Tears Of The Dragon”

Bem, esta é uma daquelas músicas que até aqueles que vivem debaixo de uma pedra já ouviram falar. Lançada em 1994, no álbum Balls To Picasso, “Tears Of The Dragon” é tipo a marca registrada de Bruce Dickinson, Mesmo que você não tenha ideia de quem seja Bruce, aposto que já se deparou com essa música em algum lugar. Inclusive ele, como bem conhece seu público brasileiro, sabe que não pode chegar por aqui e não tocar essa.

Cidadão honorário de Curitiba

Sabe aquela brincadeira de que um artista que veio tanto ao Brasil deveria fazer um CPF? Nesse caso, a gozação virou verdade! Ou quase isso. A cidadania honorária de Paul Bruce Dickinson saiu no último dia 17 de abril, após votação da Câmara Municipal de Curitiba. Entre as justificativas está o fato de que Dickinson escolheu a curitibana Bodebrown como a primeira cervejaria oficial do Iron Maiden fora da Inglaterra, criando a Cerveja Trooper Brasil IPA – Iron Maiden. Bruce não só virou curitibano como agora vai começar por aqui o giro pelo Brasil com a The Mandrake Project Tour.

Movies

Indiana Jones e a Relíquia do Destino

Oito motivos para você correr ir ao cinema para assistir ao quinto e último filme da franquia clássica protagonizada por Harrison Ford

Texto por Abonico Smith

Fotos: Disney/Lucasfilm/Divulgação

Estreia hoje um dos títulos mais aguardados dos últimos anos pelos cinéfilos de plantão. Indiana Jones e a Relíquia do Destino (Indiana Jones and The Dial Of Destiny, EUA, 2023 – Disney/Lucasfilm) é a quinta aventura protagonizada pelo arqueólogo mais adorado da sétima arte. Fechando uma trajetória que já dura mais de quarenta anos (basta lembrar que o primeiro longa de Indy foi lançado no já longínquo ano de 1981), a história é encarada como uma despedida digna do personagem, já que a tentativa anterior, de quinze anos atrás, não foi lá muito bem sucedida e recebida por fãs e crítica. Por isso, aqui estão oito motivos para você ir correndo à sala de cinema mais próxima da sua ou, então, aquela melhor aparelhada tecnologicamente que você curte freqüentar.

Personagem icônico

Se ao longo dos anos 1980 o termo blockbuster ganhou popularidade, também se transformou em espécie de sinônimo de aventuras juvenis que encantavam com histórias empolgantes dignas de qualquer sessão da tarde (isto é, liberado para todas as idades de uma família). Com a direção de Steven Spielberg e a assinatura de George Lucas entre os roteiristas, Indy passou a figurar em um panteão hipercultado ao lado de nomes como E.T., Darth Vader e Marty McFly. Tudo isso, vale a pena ressaltar, muito antes do nicho dos super-heróis (leia-se DC e Marvel, praticamente) tomar conta da programação anual de lançamentos cinematográficos.

Harrison Ford

Só pelo fato de voltar a aceitar encarnar Indiana Jones prestes a completar 80 anos (idade à qual chegou em julho do ano passado), o ator já merece aplausos. Melhor ainda que sua filmografia de respeito está longe de se resumir somente ao arqueólogo e a uma só franquia. Em Star Wars, ficou marcado como o mercenário Han Solo (que carregava sempre a tiracolo um monstrengo chamado Chewbacca, também copiloto de sua nave). Em Blade Runner, foi o ex-policial e caçador de andróides Rick Deckard. Fora das sagas, teve papeis emblemáticos em filmes como A TestemunhaForça Aérea UmPerigo Real e ImediatoO Fugitivo, Jogos PatrióticosUma Secretária de Futuro e American Graffitti – Loucuras de Verão.

James Mangold

Não poderia ter havido uma escolha mais certeira para a direção do quinto longa de Indiana Jones. Nos últimos 25 anos, Mangold vem acertando a mão frequentemente em tramas de ação, aventura e drama. Em sua filmografia constam títulos como Walk The Line (a cinebio de do maior homem de preto do rock conhecido também como Johnny Cash); Garota, Interrompida e Ford vs Ferrari. Dez anos atrás, encheu Wolverine de adrenalina e emoção no cinema em um de seus filmes solo. Quatro anos depois assinou também a “despedida” de Logan como o selvagem X-man das garras de adamantium com um filme tocante e que fugia completamente da receita formulaica das adaptações às telas dos super-heróis dos quadrinhos. Aqui, com Indy, também carrega a parte dramática na dose certa, sendo capaz de até provocar choros discretos nas poltronas do cinema.

Cena inicial

Fazia tempos que um filme de ação e aventura não entregava uma cena inicial tão eletrizante. Assim, logo de início, em seguida da logomarca inicial da produtora, como um soco no estômago de quem está na sentado na poltrona, sem deixar voltar a respiração por muitos minutos. Assim começa A Relíquia do Destino, com um flashback do tempo da Segunda Guerra. Indiana Jones é capturado pelos nazistas e posto em um trem para ser levado à punição da prisão. No veículo ele reencontra seu fiel colega, também arqueólogo e professor universitário, Basil Shaw (interpretado por Toby Jones). Segue-se então muita correria, pancada e, claro, chicotada, para tentar ficar com a posse de um poderoso instrumento lá da Grécia Antiga. À frente do outro lado da disputa pela antícitera de Arquimedes, o germânico, está mais um docente, Dr. Voller (Mads Mikkelsen, tão contundente quanto em suas atuações em A Caça e Druk – Mais Uma Rodada). Vale destacar que a aparência rejuvenescida de Mikkelsen, Jones e sobretudo Ford mostrada nas telas é fruto de truques realizados por meio de um programa de inteligência artificial.

Arquimedes

Um dos principais nomes da ciência da Antiguidade Clássica, este italiano da região de Siracusa, na ilha da Sicília, é uma das peças-chave da trama. Físico, matemático, engenheiro, astrônomo e filósofo, ele inventou e descobriu muita coisa importante para civis e militares. No caso do filme, o foco está em uma aparelhagem chamada anticítera. Ok, o que se passa ali na tela do cinema é ficção e, segundo consta, isso é capaz de fazer o ser humano furar a bolha do continuum espaço-tempo e viajar para o passado e o futuro. No caso dos alemães, pode ser um grande trunfo para a perpetuação do nazismo como regime vigente pronto para ser expandido rumo a outras terras europeias. Só que, na realidade, a tal anticítera criada por Arquimedes no século 1 a.C. tinha a função de calendário e astrologia, além de poder prever eclipses e posições astronômicas. Por isso, tem a fama de “computador analógico” mais antigo do mundo. Todos os fragmentos conhecidos da traquitana estão no Museu Arqueológico de Atenas – e não em duas partes complementares, como no roteiro de A Relíquia do Destino. Outra coisa: não é só Indy que ganha uma homenagem neste filme. O faz-tudo também acaba tendo o seu reconhecimento em um roteiro fantástico (no sentido da fantasia) que, há de se convir, chega a forçar a barra na elasticidade da verossimilhança.

John Rhys-Davies

Não é só Harrison Ford que retoma um personagem classico da franquia neste novo filme. Quem também reaparece é o ator galês, fazendo novamente o grande amigo do protagonista Sallah, presente em Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e A Última Cruzada (1989) e um tanto quanto desprezado em uma participação ínfima no anterior O Reino da Caveira de Cristal (2008). Aqui, o escavador egípicio volta para dar uma grande mão em momentos de mais tranquilidade vividos por Jones, que chega a conhecer seu casal de filhos. Não tem como não se deixar conquistar (de novo) pelo jeitão bonachão do agora pai de família Sallah Mohammed Faisel El-Kahir.

Phoebe Waller-Bridge

Esta, sim, a chave mágica do elenco principal de A Relíquia do Destino. Nome em ascensão em Hollywood depois de criar, escrever e atuar em séries britânicas (como Fleabag Crashing, ambas disponíveis em streaming no Brasil), Phoebe brilha em pé de igualdade com Ford neste filme depois de se destacar assinando o roteiro feito a oito mãos do ultimo James Bond, 007: Sem Tempo Para Morrer. A contribuição de Waller-bridge aqui é apenas atuando. Mas ela dá um show como o jovial alívio cômico introduzido para quebrar toda a sisudez do velho Indy. Sua ligação com Jones é um pai-e-filha disfarçado: sua Helena Shaw é doutoranda em arquelogia e filha de Basil. Só que não espera muita fidelidade ao padrinho: o negócio dela embarcar na procura pela outra metade da anticítera tem motivos mais escusos, porem não menos letais do que os dos nazistas.

John Williams

O quinto filme de Indiana Jones não poderia deixar de fora o nome do maestro e compositor John Williams, presente em todas as produções anteriores com o nome do arqueólogo no título. Premiado por várias obras para o cinema, indicado 53 vezes ao Oscar e cultuado por uma legião de fãs que adora prestar atenção nas trilhas sonoras, Williams também apostou na nostalgia em formato de harmonias, melodias e arranjos desenvolvidos para A Relíquia do Destino. Resgatou a alquimia em criar sons para as imagens estreladas por Harrison e sua habilidade de fazer cenas que misturam drama e comédia, ação e aventura. Também fez uma bela contribuição compondo o tema de Helena Shaw para o brilho da execução da virtuosísima violinista alemã Anne-Sophie Mutter.  O resultado imprime à personagem de Phoebe Waller-Bridge um ar de diva dos áureos tempos dos estúdios de Hollywood (leia-se anos 1940 e 1950) que contrasta com seu espírito impulsivo e aventureiro mostrado nas telas. Claro a trilha sonora também foi lançada oficialmente pela Walt Disney Records em todas as principais plataformas de streaming

Books, Comics, Series, TV

The Sandman

Cultuada graphic novel de Neil Gaiman é transformada em série para o streaming pelas mãos de seu próprio criador

Texto por Taís Zago

Foto: Netflix/Divulgação

Considerada “inadaptável’’, The Sandman (Reino Unido, 2022) , o carro-chefe das produções de Neil Gaiman para a DC Comics/Vertigo, ficou guardada na gaveta e nos desejos de fãs, roteiristas e diretores de cinema e TV por quase três décadas. Ninguém parecia querer assumir o risco de desfigurar uma das grandes obras-primas do universo sombrio das graphic novels. Então, eis que o próprio Gaiman resolveu arregaçar as mangas e tomar para si a tarefa árdua de transformar o mundo fantástico e mitológico de seu Morpheus em uma série para o canal de streaming Netflix. 

A obra de base em questão é extensa: são 13 volumes, sendo um para cada arco da história, onde foram agrupadas as 75 edições de Sandman. O mundo do senhor dos sonhos de Gaiman é multifacetado e multidimensional. Nele não faltam representações oníricas, filosóficas, religiosas, reflexivas e referências culturais da época em que foram publicados os quadrinhos originais – entre janeiro de 1989 e março de 1996. Posteriormente se juntaram a essa lista uma edição especial e alguns contos também publicados pelo Vertigo, o selo “adulto” da DC. O estrondoso sucesso de The Sandman, que elevou Gaiman ao olimpo dos autores do gênero, também fez com que até hoje ainda sejam (re)publicadas compilações, algumas bastante luxuosas, da coleção. A base de admiradores deo artista só aumentou com o passar dos anos. 

A primeira temporada teve a difícil tarefa de sintetizar em apenas dez episódios os dois primeiros volumes compilados da saga, os quais reúnem as 16 primeiras edições da HQ, chamados Prelúdios e Noturnos Casa de Bonecas. Talvez aqui já comece a dificuldade para os não iniciados na obra do autor, pois engloba uma grande diversidade de temas, personagens, épocas e tramas relacionadas. Porém, bem antes de se aventurar nessa sua nova empreitada televisiva, Gaiman viu algumas de suas publicações virarem filmes, uns menos e outros mais bem sucedidos, como foi o caso da animação Coraline, de 2009, baseada no livro de mesmo nome. Mas foi somente há cinco anos, com American Gods, que Neil se rendeu às possibilidades de produção, longa duração e liberdade de criação que os grandões do streaming podem oferecer. Satisfeito com o resultado e o sucesso de público, ele voltou a emplacar mais um hit com Good Omens, de 2019. Ambas as séries estão disponíveis no canal Amazon Prime.

Para o papel de Morpheus em The Sandman foi escalado o ator britânico Tom Sturridge, conhecido pela série Sweetbitter (2019) e filmes como Velvet Buzzsaw (2019). Tom recebeu críticas pelo seu trabalho, inclusive diretamente de Gaiman que pediu para que ele fosse “menos Batman” na sua entrega. Não é uma atuação perfeita, admito, mas é o mais próximo que já vi do personagem dos quadrinhos – lembrando que já houve outra tentativa em representar o papel, como no curta Sandman: 24 Hour Diner (2017), onde o mestre dos sonhos recebe um tratamento caricato e pouco convincente, em parte pela péssima qualidade do resultado na procura por mimetizar a imagem dos quadrinhos. Isso não ocorre com Tom. Naturalmente magro e pálido, sua figura esguia foi reforçada com a ajuda de filtros, seus cabelos são desalinhados sem parecerem uma peruca exagerada, seus olhos não são representados como duas bolinhas de gude de turmalina negra. O Sandman de Gaiman foi inspirado no músico Robert Smith, vocalista do Cure:  tem um estilo claramente gótico e um temperamento depressivo, desconectado e entediado, típico de rockstars. Tom representa isso e vai além. Ainda consegue incluir um pouco mais de dor nos gestos, de dúvida nas atitudes e de humildade diante do que não compreende. O Sandman dos quadrinhos é torturado por sua quase total incompreensão do significado de humanidade. Um ser superior que constrói e destrói universos, mas que começa a perceber qual a real dinâmica de poder em sua existência. 

Assim como seus irmãos, os “Perpétuos” (The Endless, no original em inglês), ele compartilha da letra D como inicial: ele é Dream, o Sonho. Os outros se chamam Death, Despair, Desire, Dellirium, Destiny e Destruction. Nessa primeira temporada, conhecemos apenas Death, muito bem incorporada pela atriz Kirby Howell-Baptiste (de Killing Eve), e os gêmeos Despair e Desire, esse último brilhantemente interpretado por Mason Alexander Park (de Cowboy Bebop). Outras muitas criaturas míticas e personagens surgem representadas pelo estrelato hollywoodiano, como Gwendoline Christie (de Game Of Thrones) no papel de Lucifer; Boyd Holbrook (In The Shadow Of The Moon) como Corinthian; o corvo Matthew, feito pelo comediante Patton Oswalt; Stephen Fry, sensacional como Gilbert; Mark Hamill (o eterno Luke Skywalker de Star Wars) como Mervyn Pumpkinhead; ou David Thewlis (Zack Snyder: Justice League) como John Dee. Menção honrosa aqui vai para o multitalentoso John Cameron Mitchell (Hedwig and the Angry Inch), no papel do dono de pensão/drag queen Hal Carter, que nos presenteia com um show de performance nos seus números musicais.

 Neil Gaiman acompanhou a produção com olhos de águia. Envolveu-se em todas as etapas, quer fosse como criador, roteirista ou produtor. E isso é bastante perceptível na fidelidade das representações e dos diálogos. Por vários momentos me vi gritando de contentamento, falando com a TV ou aplaudindo (de pé!). Episódios como 24/7, o quinto da temporada, foram adaptados quase que exatamente como eu tinha em mente. Aos poucos o medo de que uma paixão fosse destruída se dissipa conforme avançamos nos capítulos. Gaiman protegeu a sua visão até onde teve poder para tanto, e conseguiu isso sem abdicar de um aumento da representatividade no elenco como a contratação do artista não-binárie Mason Alexander Park para o papel de Desire e a inclusão de atores pretos e pardos como Sandra James-Young no papel de Unity Kinkaid e Vanesu Samunyai como Rose Walker. 

Gaiman também alterou para o feminino personagens que eram, até então, masculinos – Vivienne Acheampong (The Witches) assumiu como Lucienne e Jenna Coleman (The Serpent) como Johanna Constantine. Na obra original, o braço-direito de Morpheus era o bibliotecário Lucien, uma espécie de conselheiro e voz da consciência de seu chefe. Na série, Vivienne incorpora perfeitamente o papel e ainda dá a ele um pouco de sabedoria maternal (uma acertada decisão!). Infelizmente, o mesmo não ocorre com o papel dado a Jenna. Por questões legais, o personagem John Constantine não foi autorizado a fazer parte da série. Como peça fundamental da trama, não poderia ser omitido. A solução encontrada por Gaiman foi, portanto, criar um novo personagem, desta vez feminino. Mas o resultado da decisão ficou muito aquém das expectativas. John Constantine não é apenas um coadjuvante em The Sandman, ele tem seu próprio universo nos quadrinhos Hellblazer (DC Comics/Vertigo), criado por outro gigante da arte sequencial, Alan Moore. Jenna Coleman não conseguiu arranhar nem a superfície de Constantine com sua interpretação, que pouco se difere do trabalho que fez em Victoria, sobre a rainha inglesa. John é uma alma perdida, ora conman ora altruísta. Sua marca registrada é o constante sarcasmo por meio de um humor cáustico e tremendamente autodepreciativo. Constantine está além dos códigos morais ou aspectos pequeno-burgueses da vida em sociedade. Fuma vários maços de cigarro por dia, usa drogas e é alcoólatra. É um punk bruxo que usa sempre o mesmo trenchcoat encardido, dorme onde consegue um pouso e que viaja entre planos e entre lençóis. É um andarilho dos mundos sobrenaturais. Um niilista nato. A Johanna de Coleman mais parece uma colegial ao estilo Sabrina, é uma punk de butique. 

O tratamento visual dado é quase sempre bastante convincente, levando em conta a atualização dos fatos e tecnologias para o ano 2022 e o imenso budget do projeto. Aqui deixo registrada uma pequena crítica ao abuso de CGI onde outras soluções mais “analógicas” talvez surtissem melhor resultado. Não perdendo de vista, claro, a imensa dificuldade técnica de transpor o mundo fantástico dos sonhos, muitas vezes lisérgico e abstrato, que define os quadrinhos. Apesar disso, o resultado é satisfatório e não deve decepcionar os fãs. Outro ponto de crítica seria a eventual heterogeneidade da temporada, mas nesse ponto é importante lembrar que ela engloba dois arcos distintos da narrativa e em cada arco ainda existem jornadas diferentes, que, à primeira vista, parecem não estar conectadas. A ideia, a princípio, é que venham outras temporadas da série para que possamos ligar alguns pontos no grande quebra-cabeça que aqui foi criado.

The Sandman é uma série feita com amor e sob medida para os fãs da obra de Neil Gaiman. Seria impossível omitir esse fato, o que não exclui de forma alguma o alcance para um público muito maior. O único pré-requisito exigido aqui é permitir-se sonhar.

Music

Lollapalooza Brasil 2019 – ao vivo

Oito motivos para se lembrar do festival, que teve como headliners Arctic Monkeys, Kings Of Leon e Kendrick Lamar

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Arctic Monkeys

Texto por Abonico R. Smith

Fotos: Alessandra Tolc/T4F (Arctic Monkeys), Equipe MRossi (Kings Of Leon/Lenny Kravitz/Interpol)

Shows anteriores causando maior impacto na plateia do que os headliners. Chuva torrencial e alerta de raios interrompendo a programação de sábado à tarde por mais de duas horas, chegando a provocar expectativa de cancelamento de todo o resto do segundo dia e impedindo artistas nacionais de fazerem seus shows em três dos quatro palcos. Uma cobertura capenga da Globo, ignorando por completo em seu resumo o principal nome do primeiro dia (o Arctic Monkeys “a gente não viu por aqui”) e chegando a tropeçar em hit mundial (na hora do Snow Patrol, por exemplo, deu crédito e falou sobre a baladaça “Chasing Cars” mas na verdade mostrando outra canção, o popzinho de verniz eletrônico “Just Say Yes”). Plateia composta majoritariamente por millenials, seja em idade cronológica ou estado de espírito. Programação bem chocha, chegando a competir pelo infeliz posto de pior escalação de todos os anos de existência do festival em nosso país.

Assim foi a oitava edição do Lollapalooza Brasil, realizado pela sexta vez no Autódromo de Interlagos, entre os dias 5 e 7 de abril. Musicalmente falando, estes foram os oito motivos pelos quais você deve se lembrar para sempre do evento.

Arctic Monkeys

Quem disse que o MP3 matou o rockstar? Alex Turner é a prova cabal de que, se os discos mudaram do suporte físico para o digital, isso em nada afetou a possibilidade de crescimento da carreira de um artista a ponto de haver discografia consistente, repertório matador e a capacidade de arrastar e encantar grande multidões. A maioria das quase oitenta mil pessoas divulgadas oficialmente como o público que passou pelo autódromo na sexta-feira estava lá para se esbaldar ao som do quarteto (que, ao vivo, ganha o apoio de mais quatro músicos, entre eles integrantes de cultuadas bandas independentes como Mini Mansions e Dead Suns) que tornou-se o principal nome da Geração MySpace. Hoje o MySpace não existe mais, tampouco aquela sonoridade do início de carreira dos Monkeys, então uma banda pós-adolescente, de batidas dançantes, guitarras frenéticas e por ora quebradiças e letras verborrágicas que não davam muito tempo para o ouvinte respirar e tomar fôlego. O álbum mais recente, o sexto em treze anos, mostra uma banda adulta, ousada, arriscando-se em novos terrenos (como o soul e os arranjos mais refinados, cheios de falsetes, teclados e influências chiques de David Bowie e Roxy Music). As músicas deste disco funcionam muito bem ao vivo, como foi demonstrado em São Paulo. Só que, como era um público de festival, também abriu-se espaço para o desfile de greatest hits. No fim, entre entre autoralidade e popularidade, ganharam todos. Turner, banda, fãs, plateia que estava in loco ou assistindo pela TV e internet.

St Vincent

Pela segunda vez no Brasil para se apresentar no festival, Annie Clark de novo justificou no palco o porquê de tanto que se fala sobre seu nome. Quem viu a sua apresentação pôde compreender o porquê dela ser considerada uma das mais inventivas e contundentes artistas da música pop de qualidade de hoje em dia. Só que desta vez, veio sem banda de apoio. Estava lá no palco, sozinha, domando e controlando uma multidão com suas mãos e olhares altamente expressivos. A base era toda pré-gravada: ela só acrescentava a voz e os riffs e licks executados em uma vasta coleção de coloridas guitarras Ernie Ball, de uma linha assinada e concebida por ela para uma melhor adaptação ao corpo feminino. Todo o desenho cênico (gestual, pose, uso do palco, figurino) compensa, inclusive por esta ser a atual proposta performática de ser alter-ego artístico. Inclusive com muita ironia por trás de tudo, já que a discussão a respeito de plasticidade e sedução das massas são temas predominantes do disco que serve como base para a atual turnê. St Vincent é perversa ao jogar isso na cara do público e ainda rir de tudo isso. St Vincent é eficaz ao dar à plateia melodias perfeitas a ponto delas não saírem mais da cabeça após a primeira audição. St Vincent é muita areia para o caminhãozinho de uma programação baseada em truques de estúdio e hype adolescentes de internet.

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Kings Of Leon

Tribalistas

A proposta deste show sempre foi muito clara desde o início: celebrar o fim de uma vitoriosa turnê nacional (com extensão para alguns outros países) que marcou o lançamento do segundo álbum deste supergrupo.  Então não se podia esperar nada além de uma grande festa promovida para milhares de pessoas por Marisa Monte, Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes e competentíssimos músicos de apoio (Dadi, Pedro Baby, Pretinho da Serrinha e Marcelo Costa). OK que todas as mudanças no mercado fonográfico mundial impedem o trio de ser tão grande quanto ele fora em sua estreia lá em 2002, mas em um show o que acaba contando é a somatória destes dois repertórios. Então dá-lhe hit de apelo fácil como “Velha Infância”, “Passe em Casa” e “Já Sei Namorar”. Some a isto canções trazidas do repertório solo de Marisa como “Amor I Love You”, “Depois” e “Não Vá Embora”. O show dos Tribalistas, ocupando horário nobre da grade do primeiro dia do Lolla, foi um bom reflexo da estado letárgico que se encontra a música pop brasileira durante as duas primeiras décadas deste século de música digital: sem a atitude ou pegada do rock mas jogando para a galera com muitos recursos de empatia imediata e ilusionista (truques de composição, melhor dizendo). A maioria gosta. Tem quem torça o nariz. Os artistas saem satisfeitos. O público presente, exigente de mais nada, também.

Kings Of Leon

O último disco dos caras é de 2016. A banda não está fazendo turnê. Não existe qualquer menção a um possível disco novo. Uma faixa inédita sequer marcou presença no set listapresentado na noite de sábado em Interlagos. Então por que chamar o Kings Of Leon para ser um dos headliners da edição 2019 do festival? A resposta foi dada na noite de sábado, que contabilizou 92 mil pessoas passeando por gramados e pista de Interlagos.  A família Followill precisou juntar apenas uma penca de hits – em maior ou menor proporção – e subir ao palco para tocá-los. Se o telão é a grande atração do show, ainda melhor: isso significa que o vocalista Caleb pode não se importar em se apresentar usando uma estapafúrdia camiseta regata cor de goiaba (e ainda assim será chamado de lindo de maneira incessante por várias fãs do gargarejo). Teve até gente chamando o quarteto de “o novo U2” dada a equivalência da proporção entre o desfile de sucessos radiofônicos e a ausência do verdadeiro tesão rock’n’roll para tocar diante de milhares de pessoas. No fim, o KOL deu tudo o que o pessoal queria ali naquelas últimas horas do segundo dia do Lolla: o entretenimento grandiloquente para sustentar uma banda que já foi bem mais interessante lá atrás. Não por acaso apaenas uma faixa de cada um dos dois primeiros álbuns foi tocada.

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Interpol

Snow Patrol

Quarenta e cinco minutos depois do horário previsto para o início, o quinteto escocês não pensou duas vezes antes de subir ao palco para tocar um set bem mais curto (apenas seis canções). E mandou logo um megahit de cara, “Open Your Eyes”, para esquentar de vez o público, parado havia quase três horas por causa da interrupção das atividades provocada pela natureza. Ponto positivo para uma banda subestimada pela imprensa brasileira, que insiste em tachá-la de “coxinha” justamente pelo fato de sua carreira ter decolado quando a aposta passou a ser em melodias grudentas e arranjos mais limpos, quadradinhos e descolado do universo indie dos dois primeiros álbuns. Mesmo com pouco tempo em ação, dava para ver Gary Lightbody com um sorriso escancarando no rosto e o resto dos músicos se divertindo no palco encharcado. Escolhido a dedo para presentear quem esperava pacientemente, o set list ainda brindou os fãs com mais sucessos em sequência, como “Called Out In The Dark”, “Just Say Yes” e, para terminar, “Chasing Cars”. Durou pouco mas foi bom demais.

Lenny Kravitz e Greta Van Fleet

No domingo, a discussão do Lollapalooza girou em torno do Greta Van Fleet. O quarteto formado por três irmãos e um amigo ganhou altos detratores por emular bastante o Led Zeppelin. Os integrantes são moleques, millenials com seus vinte e poucos anos, que estão no palco se divertindo, tocando suas próprias composições calcadas nos seus grandes heróis do rock. Pela pouca idade (e consequentemente pouca experiência de vida e da música) é natural que ainda não tenham conseguido se descolar criativamente de quem mais admiram. Não há nenhum mal nisso, aliás. O ponto positivo é justamente o fato dos moleques se sentirem atraídos por um rock mais analógico e retrógrado, do tempo em que a música ainda importava para o período da adolescência e discos de vinil eram vendidos aos borbotões e a dobradinha formada por videoclipes e redes sociais não regia a divulgação planetária de um popstar. Um dia antes apresentou-se no Lolla outro igualmente retrógrado em sua sonoridades. Desta vez com a diferença de ter mais de 50 anos de idade e uma penca de hits trazidos nas costas por uma discografia de excelência entre 1989 e 1998. Não menos orgânico que o GVF, Lenny Kravitz aposta no tradicional do rock’n’roll: riffs, peso e solo. Seu diferencial é que ele mistura tudo com aquele groove que chama todo mundo para dançar. Ninguém consegue ficar parado e resistir a petardos como “Fly Away”, “American Woman”, “Always On The Run, “It AIn’t Over ‘Til It’s Over” e “Are You Gonna Go My Way”. E é nas baladas (“Again” e uma marrentamente estendida “Let Love Rule”) que o cara fica com o público na mão, hipnotizado e apaixonado. Não bastasse tudo isso, Lenny ainda carregou consigo para o Brasil Gail Ann Dorsey, a baixista de anos e anos de David Bowie que é tida como uma das grandes referêcias nas quatro cordas das últimas décadas.

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Lenny Kravitz

Kendrick Lamar

A produção de um dos nomes mais esperados deste Lollapalooza vetou a presença de fotógrafos da imprensa e a transmissão ao vivo pelo canal de TV por assinatura Multishow. Logo, a presença do cara que nos últimos anos torou-se um furacão no nicho hip hop do mercado fonográfico norte-americano tornou-se uma exclusividade para quem comprou o ingresso e se dispôs a ir a Interlagos e ficar até o final das atividades do terceiro e último dia. Quem estava lá assistiu a uma apresentação mais focada no recente álbum Damn (2017) e que por muito pouco não ignorou por completo seu antecessor, o cultuadíssimo To Pimp a Butterfly (2015). Dono de rimas velozes e movimentos cênicos ágeis, o californiano não precisou de muito tempo (fez um show de apenas de 75 minutos, tempo relativamente curto para um headliner) para mostrar o porquê de ter recebido um prêmio Pulitzer da música (o primeiro dado a um rapper) por Damn. É uma porrada atrás da outra, com letras afiadas, típicas de quem veio do bairro de Compton, o mesmo bairro negro e pobre da periferia de Los Angeles que viu nascer o histórico NWA. As bases vão do jazz ao soul e as letras, óbvio, discorrem sobre temáticas raciais e políticas, tendo a provocação como espírito principal.

Interpol

O Interpol é um zero à esquerda de presença de palco. Paul Banks é um zero à esquerda com comunicação direta com a plateia. O Interpol é uma banda que funciona bem melhor em locais menores e fechados do que tocando a céu aberto para milhares e milhares em um autódromo. Três verdades que só se confirmaram em mais uma vinda do trio nova-iorquino para um Lollapalooza. Como tudo na vida tem um porém, essas três afirmações acabam tendo um peso bem menor diante da magnitude da sonoridade pós-punk que a colocou entre os grandes nomes do indie rock do começo deste século. Não por acaso a maioria de faixas escolhidas para o set list foi ancorada nos dois primeiros álbuns, aqueles disparadamente favoritos para quem acompanha mais de perto a trajetória do grupo. Incrível como canções como “Slow Hands”, “PDA”, “Evil”, “Rest My Chemistry” e “Say Hello To Angels” não envelheceram e ainda soam tão pungentes quanto na época do lançamento. Resta agora aguardar um show “solo” de Banks e companhia em terras brasileiras. Com duração maior, em lugar menor e com mais fãs assistindo.