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Oruã + Fogo Caminha Comigo – ao vivo

Poder conhecer um novo local para shows íntimos em Curitiba coroou a alegria de uma noite comandada por ruídos, barulho e experimentações

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Texto e foto por Luciano Vitor

Essa pequena resenha demorou por motivos particulares, mas a alegria de ter presenciado dois shows pra lá de especiais foi motivo de uma alegria enorme no dia 16 de novembro na pequena e confortável Casa Vermelha. Próxima ao Largo da Ordem, um epicentro cultural do centro da capital paranaense, esta é uma casa transformada em local de shows, ao mesmo tempo um pequeno bazar vintage, bar com chope a preços módicos e comida vegana! Olha, já vi muitos lugares abrirem e em pouco tempo encerrarem suas atividades, mas a Casa Vermelha é tão legal e tão aconchegante que desejo vida longa ao mais novo endereço para shows intimistas em Curitiba!

Quem abriu os trabalhos da noite foi o grupo Fogo Caminha Comigo (que nome sensacional!!!). Cria da geração Y e adepto do noise, o quarteto formado por Ralph, Julio, Richardson e Romulo não começou bem. Uma microfonia na passagem de som incomodou o pequeno público, a ponto de alguns espectadores saírem de dentro da Casa Vermelha e só retornarem após o incômodo ser resolvido. Após uns dez minutos de intensa microfonia, começou propriamente o show. A primeira impressão que ficou foi de uma banda que sabe bem passear pelo post-punk, shoegazee um quê de emocore muitíssimo bem-casados. As linhas melódicas são interessantes, com o vocal um pouco abafado pelos instrumentos. No final das contas, revelou-se uma banda boa que requer mais rodagem e principalmente mais experiência na gravação. Seu único disco, chamado A Melancolia Vai Nos Separar Outra Vez, lançado em 2017 merece uma ouvida mesmo tendo seus altos e baixos. 

A expectativa era grande para o Oruã. Era o início da tour dos cariocas, que faziam de Curitiba apenas a segunda parada. O quarteto (em disco é um trio; nas apresentações, Joab Regis, o craque das baquetas de Lê Almeida e do John Candy, faz a percussão) chegou umas duas horas antes do show, vindo direto de São Paulo e trouxe não apenas um carro com cinco pessoas, malas, instrumentos e merchan, mas também a chance de finalmente adentrar o sul do país naquela que podemos afirmar ser a turnê mais ambiciosa do grupo formado há pouco mais de um ano.

A arrumação e passagem de som da banda foi tão rápida que nem dava para perceber que, apesar das muitas horas de estrada, o grupo estava com muita vontade de tocar. Com um set list calcado inteiramente em seu álbum de estreia, Sem Bênção, Sem Crença, lançado pelo selo independente Transfusão Noise Records, o grupo não aliviou nas experimentações ao calcar a pegada noite com os solos de guitarra de Lê, o baixo de João Luiz e a bateria de Phill Fernandes.

Na minha opinião, o grupo foi um pouco tímido no início. A verdadeira essência da banda apareceu em Curitiba do meio para o final do show. Como um atleta de alto rendimento que transforma o meio da corrida em diante na arrancada, o Oruã sentiu a plateia nos primeiros vinte minutos para, aí sim, exercitar a viagem sonora que costuma realizar ao tocar o seu debut de 2017. O show ficou acachapante e monstruoso, sem poupar as tradicionais levantadas de guitarra de Lê Almeida nem as viagens percussivas entre a bateria e percussão. A sensação era a de um embate entre a escola de bateria indie tradicional de frente com a família lo-fi Oruã, onde cabe todos os estilos possíveis.

E o DJ? Ainda há de ressaltar o DJ, cujo nome me esqueci de anotar. Um jovem que discoteca apenas com compactos em vinil com os melhores sons desconhecidos (ou não?) que eu já pude ouvir em toda a minha vida. Clássicos desconhecidos e lindos!

Aquela noite de 16 de novembro foi uma maravilha e, infelizmente, para poucos.

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Ozzy Osbourne – ao vivo

Sem trazer qualquer novidade, turnê de despedida resgata clássicos do Black Sabbath e passeia pela carreira solo do ídolo

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Texto e foto por Abonico R. Smith

Ozzy versão Geração X: o cara doido à frente do Black Sabbath (uma banda que gostava de fazer músicas densas, sombrias, desaceleradas e com riffs marcantes de guitarra e letras sobre historinhas de terror). Mas tão doido acabou justamente expulso do Black Sabbath pelo descontrole total na relação com as drogas

Ozzy versão Geração Y: o cara que, depois de sair do Sabbath, começou fazendo bons discos solo, embora já pegando carona em elementos incorporados pela New Wave Of British Heavy Metal, como andamentos mais acelerados e destreza em solos de guitarra (cortesia de Randy Rhoads incialmente e logo depois de Zakk Wylde) mas acabou se repetindo e, pior do que isso, tornando-se uma caricatura de seu próprio passado. Só que tudo começou arrancando a dentadas as cabeças de pombos e morcegos que passavam, desavisadamente, à sua frente.

Ozzy versão Millennials: o mais engraçado dos coadjuvantes do reality show da tevê que flagrava o dia a dia de sua família. O pai bonachão e meio sem noção das coisas cotidianas, já com algumas sequelas motoras e cerebrais provocadas por anos e mais anos abusando das drogas.

Estas diferentes facetas estiveram presentes na Pedreira Paulo Leminski na noite de 16 de maio último, quando Ozzy Osbourne trouxe à capital paranaense o show de sua atual turnê – que ainda passou por outras três cidades brasileiras (São Paulo, Belo Horizonte e Rio de janeiro). Para um público de porte médio ao local – não passava de um terço dos que foram ver Ozzy com seus companheiros de Sabbath (Tony Iommi e Geezer Butler) menos de dois anos atrás – o que menos interessava era saber que ali, naquele palco, estavam juntos os três Ozzies em um só. O que importava era a dita última oportunidade de estar diante de uma lenda do rock – não importando o estado em que ela esteja hoje – que diz estar fazendo último giro mundial da carreira.

Com músicos de apoio que contava com os mesmos baterista e tecladista utilizados pelo Sabbath (respectivamente Tommy Clufetos e Adam Wakeman, filho de seu velho amigo e também ex-músico Rick Wakeman) e o retorno de Wylde, Ozzy deu um pequeno passeio pelos momentos altos de sua carreira solo, dando destaque maior ao trabalho de estreia (Blizzard Of Ozz, 1980) e aquele disco que vendeu mais (No More Tears, 1991) justamente por ser o ano em que o Nirvana ganhou megapopularidade, encabeçando a lista de diversas novas bandas alternativas americanas da época iniciaram toda uma nova geração de fãs de rock no culto à banda e a Ozzy (fato que o levaria ao reality show da MTV uma década depois). De resto, pegou uma ou outra faixa de cada disco – chegando até emendar quatro delas em um medley. De quebra, deu uma ligeira pincelada no repertório sabbathiano – inclusive cantando os mesmos clássicos “War Pigs” e “Paranoid” que já havia cantado em dezembro de 2016 naquele mesmo local.

O ídolo, apesar de estar com um gogó bom para tudo aquilo que ele fez, tem dificuldades de mandar os tons graves das músicas da antiga banda e por isso desafina nessas horas. Ainda faz uso de um teleprompter para ver as letras das músicas que não consegue mais decorar – o que explica seu olhar constante para baixo e mais a usual atitude meio parada atrás do pedestal do microfone ao centro do palco, para que possa ler os versos. Ozzy também não tem uma performance lá muito variada, repetindo sempre as mesmas poses, como o polichinelo e os braços levantados para cima. Então seu show acaba se sustentando na destreza dos músicos (incluindo um solo de bateria que durou por uns longos vinte minutos), pirotecnias visuais dos telões de led, um punhado de canções históricas acompanhada em uníssono pelos fãs e, claro, o inegável carisma.

Claro que uma apresentação de Ozzy Osbourne, hoje, esbarra no problema de ser uma mera repetição de fórmulas exaustivamente apresentadas em shows de rock realizados em grandes arenas mundo afora e há várias décadas. Mas quem disse que o seu público quer alguma novidade? Não importa a idade, o tudo o que o espectador deseja quando vai vê-lo é se encontrar com o seu Ozzy preferido e guardado na memória afetiva do coração. O resto não interessa mesmo. Essas pessoas desejam apenas que alguém mostre a elas coisas da vida que elas não conseguem observar. E Osbourne sempre foi esse cara.

Set List: “Bark At The Moon”, “Mr. Crowley”, “I Don’t Know”, “Fairies Wear Boots”, “Suicide Solution”, “No More Tears”, “Road To Nowhere”, “War Pigs”, “Miracle Man/Crazy Babies/Desire/Perry Mason”, “Flying High Again”, “Shot In The Dark”, “Crazy Train”. Bis: “Mama, I’m Coming Home” e “Paranoid”.