Music

Charme Chulo

Quarteto encerra hiato de sete anos sem lançar disco e propõe uma guinada sonora rumo ao pop com as dez faixas de O Negócio é o Seguinte

Texto escrito e organizado por Antonio Carlos Florenzano

Foto: Isabella Mariana/Divulgação

O negócio é o seguinte: acabou hoje a longa espera de sete anos por um novo disco do Charme Chulo. Nesta terça-feira, dia 14 de setembro (na verdade, o dia habitual de lançamentos fonográficos é sempre uma sexta-feira, mas reza a lenda que a banda não quis ficar vinculada ao 17 e à sua maldição recente na História do Brasil!) chegam às plataformas as dez faixas que compõem o quarto álbum da banda curitibana curiosamente batizado… O Negócio é o Seguinte. O novo trabalho indica uma grande guinada rumo ao pop, ao contrário do anterior, o duplo Crucificados Pelo Sistema Bruto (2014), no qual o apontamento para uma sonoridade bem difusa e multifacetada como uma espécie de grito primal para exorcizar todos os perrengues e dificuldades que quase puseram um ponto final na trajetória do quarteto nos anos anteriores.

Em O Negócio é o Seguinte (independente), a linha condutora suaviza tudo – sem descaracterizar, porém, a precisa fusão entre o pós-punk e o rock caipira que norteia a banda desde a sua fundação, em 2003 – e injeta um esmero maior na hora de burilar os arranjos vocais, as bases instrumentais e as linhas melódicas. Também pode ser vista como um resultado da maior maturidade autoral da dupla de compositores – os fundadores, primos e vocalistas Igor Filus e Leandro Delmonico (também responsável pelas guitarras, violões e violas) – durante todo este hiato. Neste longo período, vale ressaltar, Igor, Leandro, o baixista Hudson Antunes e o baterista Douglas Vicente passaram a se dedicar também a outras atividades extramusicais (mesmo porque sobreviver apenas de rock no mercado musical brasileiro é uma tarefa hercúlea e quase impossível), viu os filhos nascerem e crescerem, aproveitaram o tempo para restartar a banda.

Afinal, em quase vinte anos de trajetória muita coisa mudou. Não apenas os integrantes, as suas vidas, mas também o mercado musical. Daqueles garotos que, como muitos outros, amavam o Morrissey e o Trio Parada Dura (mas não necessariamente ao mesmo tempo) e no fim da adolescência resolveram montar uma banda, muita coisa se transformou e hoje, na casa dos quarenta anos (ou próximo dela), eles fazem uma revisão do passado sem deixar de continuar olhando e seguindo em frente. Os mesmos, porém diferentes. E a principal diferença é que desta vez quem assumiu a frente nas composições assinadas pela dupla foi Delmonico, que compôs a maior parte das letras, melodias e bases harmônicas. Igor, agora, ficou mais restrito à condição de “intérprete”, embora todas as decisões sobre a finalização de versos, tons e arranjos sejam tomadas em dupla. Leandro, mais próximo do pop e estudioso autodidata da estrutura de canções populares, é o comandante desta transição e chega, pela primeira vez, a assumir os vocais principais em uma faixa.

É exatamente destas mudanças que trata O Negócio é o Seguinte. Dez músicas novas que mantém o pezinho ali no pós-punk e a alma encharcada na caipirice mas arem o leque da diversidade sonora apontando para novos caminhos que, ao contrário da louca e desvairada profusão do disco anterior, aqui há uma espinha dorsal mais pop, formada por uma abençoada conjunção de melodias grudentas e maior aproximação com a música popular brasileira, indo do tecnobrega paraense à carioquíssima bossa nova. Já nas letras, a ironia rock’n’roll permanece bastante equilibrada naquele blend bem charme chulo com a veia sacana a la Dalton Trevisan. Os alvos da vez agora são a alta sociedade curitibana, o gabinete bolsominion do ódio, a depressão espalhada pelo mundo, a vaidade das redes sociais, o começo da banda que nunca mais voltará.

A pedido do Mondo Bacana, Leandro e Igor dissecam todas as novas músicas abaixo e ainda comentam detalhes e curiosidades sobre as gravações e os conceitos por trás do título e da capa do novo álbum, que pode ser escutado logo abaixo.

FAIXA A FAIXA

NOME DO DISCO

Leandro: “O batismo segue algo muito recorrente na banda: criamos os títulos antes das músicas e dos álbuns. Foi assim com Nova Onda Caipira (2009) e Crucificados Pelo Sistema Bruto (2014). “O negócio é o seguinte” era uma expressão muito utilizada pelo meu pai. Eu a achava engraçada e pretensiosa. Como o disco é bem pop, fizemos um trocadilho com a coisa do business, o negócio. Algo do tipo “está aí o disco pra você ouvir”. Mas pode ser também uma falsa expectativa , já que o ‘negócio’ nem pode ser grande coisa (risos)… São expressões brasileiras que adoramos, né?”

A CAPA

Leandro: “A ideia partiu do Carlos Bauer, designer do disco e de uma das camisetas da campanha de crowdfundingfeita para ele. É uma miniatura de um bar. Tem poucos centímetros. Essas miniaturas são utilizadas em ferrorama, são coisa de colecionador.”

BASTIDORES DA GRAVAÇÃO 

Leandro: “A pré-produção e as gravações ocorreram entre dezembro de 2020 e março de 2021 no estúdio Arnica, em Curitiba. A escolha partiu do produtor, Rodrigo Lemos (que já tocou em bandas curitibanas como Poléxia, Lemoskine e A Banda Mais Bonita da Cidade), que já trabalha há um certo tempo com o estúdio. Ele já havia contribuído com parte da produção de Crucificados Pelo Sistema Bruto (2014), mas em O Negócio é o Seguinte ele assina sozinho a produção do álbum inteiro, tendo uma participação fundamental na evolução da sonoridade. A maioria das músicas teve pouco tempo de amadurecimento, pois foram compostas poucos meses antes de entrarmos em estúdio. Portanto, tivemos que ajustar várias coisas com o Lemos.”

NEM A SAUDADE

Leandro: “Esta sempre esteve entre as mais cotadas para o posto de single de disco. Foi a música que mais chamou a atenção do Lemos no início do processo. Ele cortou a introdução (que virou o solo de saxofone) e deu mais urgência para a canção. Nos incomodava o fato dela ser muito curta e objetiva, mas com o tempo nos conformamos com isso. O refrão é realmente o grande recado dela.”

Igor: “Como evolução musical, considero a melhor composição feita pela banda. Sertanejo clássico com indie rock, nada mais Charme Chulo. Muitas histórias, muita saudade, dos amigos e amigas que fizemos na longa estrada da banda, já com quase 20 anos.”

Leandro: “Uma das nossas buscas foi equilibrar o clima saudoso daquele sertanejo clássico presente em canções singelas como ‘A Majestade, o Sabiá’ ou ‘Tocando em Frente’ com uma base roqueira. É quase, parafraseando o D2, a nossa ‘à procura do rock sertanejo perfeito’ (risos). A letra, enxuta e objetiva, versa sobre voltar ao passado e não se identificar mais com aquilo.”

TUDO QUÍMICA

Leandro: “Única composição majoritária do Igor no disco. Não passou por muitas mudanças durante o processo de pré-produção, mas ganhou em sofisticação com os arranjos do Lemos. Uma das canções que mais cresceram em estúdio. O final ficou bem grandioso com a repetição do verso “não, não me leve a mal…”

Igor: “Leandro, mentor do álbum, deu a pinta com a melodia e letra da introdução e eu uni ao um velho riff, da melodia do refrão. Bingo! A letra foi a única coisa que praticamente teve minha iniciativa no disco (fui muito mais um interprete do que letrista desta vez!) e novamente inspirada em uma conversa com o amigo Leonardo Scholz (vocalista do grupo Leis do Avesso) sobre como as pessoas hoje em dia só são tristes se querem, dada a quantidade de remédios, tratamentos, terapias e diagnósticos que existem. Então todas as músicas são felizes, coloridas, agradáveis. Essa coisa de dark, de romantismo, do desajuste, é absolutamente ultrapassado e ingênuo.”

Leandro: “A grande composição do Igor no disco, o que explica a pegada pós-punk, tão presente no começo da banda. Certamente estará entre as músicas de trabalho, principalmente por agradar aos fãs mais antigos.  Destaco o trabalho do Rodrigo Lemos na produção, que soube potencializar todo esse sentimento. Um belo dia cheguei pro Igor e mostrei à introdução que eu tinha bolado… ‘Não, não me leve a mal, só vem sem pressão’… Ele pegou aquilo e transformou nesse pequeno monstro!”

FEIO FAVORITO

Leandro: “Quem ouve essa faixa não imagina o trabalho que tivemos para arredondá-la. Quase utilizamos três tempos diferentes no registro, mas conseguimos encontrar um equilibro no final. Passou por mudança de tom na voz e ganhou alguns reforços percussivos também. Gostamos muito da letra e da proposta da música e sempre a consideramos um dos carros chefes do disco. No entanto, achei-a um tanto quanto ousada para ser música de trabalho.”

Igor: “Imagem forte, humor ácido, musicalidade perigosa, referências ousadas, brincando sem medo na linha tênue do gosto duvidoso. E tudo isso é apenas Charme Chulo. Estamos em casa: entre e sinta-se à vontade!”

Leandro: “A música mais complexa do disco, que deu mais trabalho, certamente. Buscamos misturar nossa caipirice ao pop e ao ragga. O riff de guitarra busca imitar um acordeon e foi o primeiro instrumental que compus para o disco. No entanto, sua origem era mais country rock. Com a temática da letra – um pequeno manifesto sobre os dilemas de quem sofre com o massacre vaidoso das redes sociais – buscamos um ar mais dançante e divertido.”

VOCÊ NUNCA IRÁ DANÇAR COMIGO

Leandro: “Do jeito que veio ficou. Precisamos ajustar o tom para adequar o jogo de vozes mas ela sempre foi bastante objetiva, lembrando coisas do Sistema Bruto. O grande charme foi a adição da sanfona, que deu um balanço todo especial pro som.”

Igor: “Mais uma letra esplêndida do parceiro Delmonico, também entre as melhores já feitas, de tirar o fôlego. Cavalo chucro em grande estilo! Entra fritando o pinhão! Explosão de refrão! Cozinha de Douglas e Hudson estonteante. Bem brasileira, bem atual para o nosso som, saboreando até um forrozão, mas sertanejo até a medula. E sabe o que é engraçado? O sanfoneiro do rolê, Diego Kovalski, vem gravar com a gente e ainda diz: ‘como vocês conseguem fazer esse sertanejo durão, dá pra ver que vocês são do rock. Obaaaaa!!! Deu tudo certo!”

Leandro: “Foi a primeira música deste álbum. Hoje percebemos que ela tem um pouco do clima ácido do nosso último disco Crucificados Pelo Sistema Bruto. Trata, com bastante ironia, do exibicionismo das redes sociais. Por se tratar de um modão dançante, achei que uma história de amor não correspondido poderia cair bem.”

RABO DE FOGUETE

Leandro: “Sempre botei muita fé nela como música de trabalho. Nesse ponto, Lemos foi fundamental. Ele conseguiu adicionar elementos do tecnobrega à faixa, fazendo com que ela ganhasse aquela pegada típica do Pará. O take do Igor de voz foi muito emocionante, daquelas músicas que a gente grava quase que de primeira. As guitarras funcionaram e chegue a cogitar um feat com algum cantor do Pará, mas achamos melhor esperar…”

Igor: “Na verdade eu sou o ‘amigo’ da letra, mas a emoção na hora de cantar é toda minha: “É cada bucha, rapaz!” A vida dá umas viradas, às vezes no meio do processo. A arte é o dia a dia e é pura profecia. Certeira desde o dia em que a ouvi pela primeira vez, no dia em que faleceu Moraes Moreira.”

Leandro: “Esta faixa acabou se tornando um símbolo da nossa evolução musical. Ela flerta bastante com o novo pop produzido no Brasil. O Charme Chulo sempre se apropriou da brasilidade pela música caipira, no entanto, resolvemos flertar um pouco com o clima dançante do norte e nordeste do país, fomos beber na pegada de artistas como Jaloo e Duda Beat. A letra, bastante influenciada pelo mestre Dalton Trevisan, acabou combinado bastante com o instrumental.”

QUANDO NÃO DEPENDE DA GENTE

Leandro: “Se depender da audição dos fãs apoiadores, que tiveram acesso antecipado ao disco, esta é a maior surpresa do álbum. Uma faixa lenta e existencial para dividir o disco ao meio, que acabou ganhando em sofisticação nos arranjos. Várias pessoas a destacaram na primeira audição. Ficou bem tocante mesmo.”

Igor:  “Respiro do disco, sem ser menor. Ponto alto é a mixagem de vozes inusitada para o padrão do Charme Chulo, onde as duas vozes, estão no mesmo volume, cantadas em uníssono, vislumbrando novos caminhos. Ao melhor estilo do produtor do disco, parceiro de profunda sensibilidade, conhecimento e admiração pela banda e profissionalismo, Rodrigo Lemos.”

Leandro: “Compor pensando no conceito do disco é algo imprescindível pra gente. Precisávamos de uma balada para dividir o lado A e o lado B do álbum. Esta música surpreendeu bastante, pois conseguimos levar a viola caipira para um lado bem sofisticado. Nos influenciamos por Kings of Convenience. Acho que é a primeira vez que o Charme Chulo chega perto de um clima mais bossa nova.”

BALANÇO QUALQUER

Leandro: “Surgiu de um riff teimoso que fiz há um bom tempo e se tornou um dos singles do disco.  Colocamos toda a influência do lado pop nela. Foster The People, Blur e um toque caipira na letra. No estúdio, o grande trabalho foi ajustar o groove da faixa. Lemos abusou dos efeitos eletrônicos.

Igor: “A vitória dos sabores e efeitos eletrônicos precisos do disco, com formato de canção rock sessentista, deixando o pop mais puro falar alto. Possivelmente a quarta música de trabalho.”

Leandro: “Uma das minhas letras favoritas. A canção fala sobre os dilemas da vida adulta, sobre aceitar que não dá mais pra exagerar nas coisas. O verso ‘Nego dinheiro e advogado para ser feliz’ diz muito sobre o clima da classe média alta curitibana, onde tudo se resolve com um bom advogado (risos). O riff é bastante influenciado por bandas como Phoenix e Two Door Cinema Club.  Acho que uma das minhas maiores influencias no Charme Chulo é o lado dançante. Meus instrumentais acabam puxando bastante pra isso.”

EU NÃO SEI AMAR

Leandro: “Quase morri para gravar esta viola! Foi a primeira canção que gravei no estúdio. Gosto muito do instrumental (riff e solo). É uma música que acaba surpreendendo a galera também, por ser grudenta e caipira. Minha grande intenção é usá-la para dar um dinamismo ao vivo: o famoso momento em que o vocalista sai do palco.”

Igor: “A viola volta com tudo, na primeira vez em que Delmonico aparece em vocal principal franco e desafetado, abrindo o peito na malemolência gauderio-caipiro-paraguaio da música, de letra quase pueril. Agrega de maneira emocionante, trazendo um outro colorido de vozes para o repertório e ordem do álbum.”

Leandro: “Outra música que surgiu a partir de um conceito. Eu andava com vontade de compor uma música que privilegiasse o instrumental, podendo utilizar ela nos shows para dar um ‘descanso’ pro Igor. No entanto, a canção acabou ganhando uma letra singela e um refrão que não sai da camisa. Tenho muito orgulho do instrumental de viola e continuo achando que será uma ótima música para tocar nos shows. A solução foi assumir os vocais. Outro marco, pois é a primeira faixa que canto inteira no Charme Chulo.”

PERDIDOS NA BAGACEIRA

Leandro: “O grande sentido desta música é a letra. Quanto ao instrumental, destaco a utilização de um banjo no solo e o fato da gente dividir o vocal novamente, como em outras faixas. Eu alterei a ordem dela no disco. Ela entraria um pouco antes, mas achei que ajuda no desfecho, com um recado político e tal.”

Igor: “Outra letra primorosa de Leandro, escancarando com categoria a situação esbagaçada do Estado que não é nação, maturidade no falso lado B do curto álbum, com uma musicalidade mais clássica, a agradar os fãs mais antigos.”

Leandro: “Precisávamos falar sobre o momento político do Brasil, mesmo que isso não combinasse tanto com o clima do disco. Nesse ponto acabei sendo mais passional. Aliás, cheguei a brigar com a família. Como nossa base musical veio do punk rock também, impossível não meter a boca nesse clima de ódio.  Obviamente fazemos isso de um jeito Charme Chulo. O que sinto hoje é que realmente estamos perdidos numa bagaceira e que iremos demorar pra recuperar um clima maduro no Brasil.”

MAIS ALÉM

Leandro: “Acho que conseguimos bolar uma versão razoável de disco pra ela. É complicado competir com a gravação original e os vocais do Tuyo. Precisávamos de um arranjo novo, que combinasse com a banda. Eu e Lemos ficamos algumas horas no estúdio criando uma pegada de baixo e bateria, que remete a Arcade Fire e Beach Boys. Ela acabou conversando bastante com outras faixas mais dançantes e eletrônicas do disco. Fecha bem.”

Igor: “Perfeita como fechamento, a nova versão foi bolada dentro da esteira da produção do álbum, para tentar aproveitar essa importante canção da banda, a fim de que pudesse ser tocada ao vivo, na quase impossível tarefa de resguardar a versão single de 2018, com participação especial do Tuyo.”

Leandro: “A dúvida sobre regravar ou não esta música durou até o início das gravações. A versão com o Tuyo, gravada ao vivo em 2018, é muito marcante. Mas não tem como competir com o poderio vocal das meninas, ainda mais ao vivo. Nossa ideia foi trazer a música para um universo mais indie. Criei o arranjo novo com o Rodrigo Lemos no estúdio. As pessoas que já puderam ouvir gostaram bastante do resultado final. Acho que ela não poderia ficar de fora e fecha muito bem o disco.”

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Noel Gallagher

Oito motivos para não perder o novo show do ex-guitarrista do Oasis com sua atual banda High Flying Birds

noelgallagher2017

Texto: Abonico R. Smith

Foto: Divulgação

Nesta semana o ex-guitarrista e principal compositor das músicas gravada pelo Oasis Noel Gallagher está de volta ao país para três shows de sua carreira solo. Sempre acompanhado pela banda de apoio High Flying Birds, montada por ele depois da briga com o irmão Liam que culminou na dissolução do grupo formado na cidade inglesa de Manchester que se tornou um dos estandartes do britpop nos anos 1990, Noel vem com a turnê de seu mais recente disco, Who Built The Moon?, lançado em 2017 e considerado o melhor de sua carreira pós-Oasis. Serão três shows. Nos dias 7 (quarta) e 8 (quinta) de novembro, ele se junta aos americanos do Foster The People no line updo Summer Break Festival, em Curitiba e São Paulo (mais informações aqui e aqui, respectivamente). No dia 10 (sábado), ele se apresenta em Belo Horizonte (mais informações aqui).

O Mondo Bacana lista abaixo oito motivos para você não deixar de ver o seu show em uma destas datas.

Trabalhador incansável

Noel Gallagher fez fama com o Oasis e sempre se mostrou bem longe de deitar na cama e viver dos louros do passado. Pelo contrário. De 2012 para cá já são três álbuns em sua carreira solo (disfarçada pelo codinome de Noel Gallagher’s High Flying Birds) e com previsão de entrar em estúdio em janeiro de 2019 para gravar o seu quarto e próximo trabalho, cuja sonoridade o próprio descreve como algo próximo de encontro entre o Cure e o Police. Com isso, pode estabelecer uma proporção no set list dos seus shows: apenas um terço costumam ser músicas compostas para a antiga banda, na qual seu irmão e ainda desafeto Liam cantava.

Who Built The Moon?

Lançado em 2017, apenas dois anos após o antecessor Chasing Yesterday, Who Built The Moon? surpreendeu por apresentar um Noel quase completamente desconstruído. Aqui ele apresenta um repertório bombástico, com forte presença de elementos até então não muito presentes em sua obra como o psicodelismo, o soul, o folk, o country e o glam. “If Love Is The Law” (com Johnny Marr na guitarra), “She Taught Me How To Fly”, “Holy Mountain” (com Paul Weller tocando órgão) e “Keep On Reaching” são petardos que, quando tocados ao vivo, são capazes de crescer ainda mais e engolir um grande público. Entre seis e oito faixas deste disco costumam integrar o repertório de cada apresentação da atual turnê.

Noel Gallagher’s High Flying Birds

Dois anos após a briga com Liam que pôs fim à trajetória do Oasis, Noel veio com seu primeiro álbum solo oficial, gravado em estúdio e com o nome também creditado à sua banda de apoio. Ainda com um pezinho e meio no estilo de compor um tanto classic rock expertque sempre apresentou antes, ele entrega mais um punhado de belos hits daqueles de erguer uma rena inteira e fazer todo mundo cantar junto a plenos pulmões e com os punhos erguidos sobre a cabeça. Tanto que “AKA… What a Life!”, “Dream On” e “The Death Of You And Me” são presenças indispensáveis em qualquer set list de show do músico até hoje.

Banda de apoio

Sabe quem está tocando atualmente na formação dos High Flying Birds? Gem Archer e Chris Sharrock. O primeiro, guitarrista, fez parte do Oasis entre 1999 e 2009. O segundo, baterista, foi recrutado para a ultima turnê da banda. Gem e Chris, por sinal, integraram o Beady Eye junto com Liam logo após o fim das atividades do Oasis. Tem também o baixista Russell Pritchard, que era do Zutons, banda de Liverpool que fez sucesso em meados da década passada juntando indie, pós-punk, blues, funk e soul. “Valerie” foi composta e gravada por eles antes de se tornar hit mundial na gravação de Amy Winehouse com o produtor Mark Ronson. Mike Rowe, experiente tecladista e produtor de estúdio, também se soma ao grupo ao vivo.  Jessica Greenfield e Charlotte Marionneau (cantora e compositora francesa mais conhecida pela alcunha de Le Volume Courbe) completam o time nos backings, teclados adicionais e pequenas percussões.

Hora da nostalgia

Claro que em todo show de Noel Gallagher até o fim da sua vida ele vai ter de cantar “Wonderwall”, o maior de todos hits perpetrados pelo Oasis quando a banda alcançou o topo das paradas norte-americanas. Para alguns, é até melhor ouvi-lo cantar do que Liam, em relação ao vocal monocórdico e arrastado do irmão mais novo, que muitas vezes fica ainda pior ao vivo. Mas um terço do set list da atual turnê de Noel é dedicado à sua antiga banda, para a alegria dos fãs mais antigos e daqueles mais movidos pela nostalgia.  “Whatever”, “Little By Little”, “Supersonic”, “Half The World Away”, “Go Let It Out” e, claro, “Don’t Look Back In Anger” (gravada pelo Oasis com o vocal principal de Noel) costumam pintar no repertório.

All You Need Is Love

Composta por John Lennon mas creditada também a Paul McCartney e lançada como single em julho de 1967, esta música permanece atual mesmo já tendo passado meio século de sua primeira execução. Na época, Lennon captava o espírito da época e os utópicos sentimentos daquele que ficou conhecido como o verão do amor. Por isso, a canção tornou-se uma grande hino da contracultura e de toda a sua filosofia flower power. Noel vem tocando o clássico dos Beatles em sua turnê. O mundo precisa relembrar que o amor deve estar acima de tudo e de todos e que vence qualquer dificuldade e batalha. Ainda mais nos dias atuais de nosso país.

Bigmouth strikes again

Morrissey é um grande amigo seu e parece que o título de uma das músicas mais conhecidas dele nos tempos de Smiths cai como uma luva para o comportamento de Noel durante as entrevistas que dá desde os primórdios do Oasis. O mais velho dos irmãos Gallagher sempre foi um grande bocudo. Não pensa duas vezes antes de fazer alguma tirada ou xingamento que reflita um pouco de petulância, cinismo, niilismo e, claro, aquele excelente humor que vem do mau humor. No auge do britpop, em 1995, quando Blur e Oasis “duelaram” via imprensa para ver qual disco que seria lançado na mesma data chegaria em primeiro lugar nas paradas britânicas, ele chegou a soltar “que morram todos de aids” – coice pior e mais politicamente incorreto impossível, aliás. Quando perguntado sobre novas bandas e artistas que admira, Noel sempre diz que prefere ficar em casa com seus discos e livros e que eles são muito melhores do que qualquer novidade musical. Para a imprensa argentina, esses dias, fez um balanço dos dez primeiros anos sem o Oasis e garantiu estar “muito melhor, inclusive no visual”. E por aí vai…

Manchester

O que será que tem na água desta cidade industrial situada no noroeste da Inglaterra que de lá, desde os primórdios do pós-punk, sai tanta banda boa? Só para citar 30 exemplos no terreno do indie: Magazine, Fall, A Certan Ratio, Joy Division, New Order, Durutti Column, Smiths, 808 State, Bodines, Stone Roses, Happy Mondays, Electronic, Oasis, Chemical Brothers, Future Sound Of London (aka Amorphous Androgynous), Mint Royale, Badly Drown Boy, Courteneers, Doves, Delphic, WU LYF, Longcut, Lamb, Slow Readers Club, Hurts, Nine Black Alps, I Am Kloot, Everything Everything, 1975, Pale Waves. Quer mais? No pop dos anos 1960 tivemos Herman’s Hermits, Mindbenders e Hollies. No progressivo do final da mesma década, o Van Der Graaf Generator. Entre os anos 1980 e 1990, tivemos M People, Simply Red, Take That e Swing Out Sister.