Music

Men At Work

Oito motivos para não perder o show do grupo que ajudou a colocar o rock australiano no mapa-múndi durante o início dos anos 1980


Texto por Janaina Monteiro

Foto: Divulgação

O que a Austrália tem? Canguru, bumerangue, didgeridoo, kiwi, coala, Crocodilo Dundee e… Men At Work. Sim! A banda que aterrissa novamente no Brasil neste mês de fevereiro é como se fosse uma entidade no país “continental”. Tal qual outras bandas que nasceram em terreno australiano como INXS, Midnight Oil, Bee Gees, Crowded House, Nick Cave & The Bad Seeds, Hoodoo Gurus… E o AC/DC, claro!

Com influências de reggae e sobretudo do pós-punk, o MAW atraiu a atenção do mundo e se tornou um verdadeiro fenômeno na primeira metade dos anos 1980, tendo alcançado mais de 30 milhões de discos vendidos e levado o Grammy de melhor artista novo de 1983. Entre os hits que marcam a história da banda estão “Down Under”, “Overkill”, “Who Can It Be Now?” e “Its a Mistake”. Seus clipes criativos, irreverentes e bem-humorados, fizeram muito sucesso nos anos iniciais da MTV americana.

Apesar de alcançar grande fama mundial, o MAW se separou em 1985. Colin Hay, que era o vocalista e também compositor, guitarrista e baixista, decidiu seguir carreira solo. Em 1996, a banda, como uma dupla, voltou à ativa (sem lançar material inédito), até se separar de novo seis anos depois. Greg Ham (teclados e sopros) morreu em 2012, após perder uma disputa judicial por conta de plágio. Ele fora acusado de ter se apropriado de uma canção folclórica australiana para criar o riff de “Down Under”. Portanto, da formação original sobrou apenas Hay, dono de um timbre inigualável e que agora chega em uma pequena turnê brasileira (Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo) com uma banda de apoio herdada de sua carreira solo – mais informações sobre datas, locais e ingressos você encontra clicando aqui.

Para quem pretende fazer essa viagem ao suprassumo do rock radiofônico daquele começo dos anos 1980, o Mondo Bacana lista oito motivos para não perder o show desses homens (e também duas mulheres) que estão a serviço da boa música pop.                               

Cria dos musicais da TV

Já parou para pensar em quantas bandas você costuma escutar e que vieram daAustrália? Pois é, esse país formado sobre uma gigantesca ilha na Oceania tem uma grande tradição pop, muito por conta de programas televisivos populares no estilo do Top Of The Pops, que faziam sucesso local entre os anos 1970 e 1980. Os adolescentes australianos que viveram essa época curtiam, sobretudo, as bandas britânicas – muitas delas, inclusive, chegavam a gravar vídeos exclusivos para se apresentar nesses programas. Colin Hay e Greg Ham, os cabeças do Men At Work, eram dois destes “discípulos” criados pela TV.

Pós-punk australiano 

O MAW faz parte de uma geração de bandas australianas que surgiram bebendo da fonte do punk e pós-punk norte-americano e britânico daquele finalzinho dos anos 1970. Contudo, deram uma pitada de criatividade aussie, experimentando novos sons à influência “estrangeira”. Muitas bandas da época, como Choirboys, Midnight Oil, Divinyls, Spy Vs Spy e Hoodoo Gurus foram influenciadas por grupos como Cure, Blondie, Television, Talking Heads e Joy Division. O que explica terem produzido discos de alta qualidade no decorrer dos 1980s.

Sucesso no Brasil

O MAW começou a fazer sucesso por aqui no início dos anos 1980, muito por conta dos programas esportivos da TV. E é por causa disso que o som desses grupos australianos foi classificado pelas bandas de cá como surf music. Nessa época, a TV aberta tinha uma tradição de exibir programas de esportes radicais. E, para cobrir as imagens dos surfistas e skatistas, os editores incluíam músicas de artistas australianos que estavam no topo das paradas. Só que o MAW fez tanto sucesso, mas tanto sucesso, que ainda segue aparecendo diariamente na programação de rádios de classic rock de várias capitais brasileiras

Empurrãozinho da Fluminense FM

Por falar em rádios nacionais, o Men at Work estourou no Brasil justamente por causa da Fluminense FM, que foi a grande responsável por impulsionar a carreira de nomes que desenharam o cenário rock dos anos 80 (Blitz, Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, Ultraje a Rigor). A emissora carioca gostava de arriscar e adotava aqueles artistas que eram uma espécie de prediletos da casa. Por isso, no dial, os ouvintes jovens podiam curtir “novidades” como Police, Dire Straits e MAW, por exemplo.  

“Down Under”

Do seu álbum de estreia (Business as Usual, lançado em 1981 na Austrália), o MAW emplacou nas paradas os singles “Who Can It Be Now?” e “Be Good Johnny”. Mas foi “Down Under” que colocou os aussies de vez na boca da galera. O disco é considerado um dos mais bem-sucedidos do rock de lá, tendo vendido mais de 6 milhões de cópias apenas nos Estados Unidos, onde ficou por 15 semanas no topo da Billboard. A expressão down under é um apelido carinhoso dado à Austrália e se tornou uma espécie de hino extraoficial do país, ao refletir o estilo de vida dos jovens locais. Só que, além do sucesso, A canção trouxe uma dor de cabeça enorme, especialmente para Greg Ham, que chegou a ser processado por ter supostamente plagiado o riff de saxofone. O caso afetou demais a banda e o próprio Ham. Ele acabou perdendo o caso na justiça, passou a ter crises severas de depressão e ansiedade e morreu logo em seguida, vítima de um infarto.  

Sensação no US Festival

Tendo como um dos produtores o próprio Stevie Wozniak, cofundador da Apple, o US Festival, organizado em setembro de 1982 em San Bernardino (Califórnia, EUA), trouxe o Men at Work como uma das atrações principais, que proporcionaram um desfile de sensações do “novo rock”da época (Clash, B-52s, Gang Of Four, Talking Heads, Police, Cars, Oingo Boingo, Ramones). A apresentação de Colin Hay (guitarra e vocais), Ron Strykert (baixo), Jerry Speiser (bateria), Greg Ham (flauta, saxofone e teclados) e John Rees (baixo e violão) foi um marco para a banda e é relembrada na série documental This is Pop, da Netflix. O US Festival trouxe o crème de la crème das bandas de new wave que estavam estouradas nas rádios americanas naquela época. O evento abriu caminho para outros festivais ao redor do mundo. Entre eles, o nosso Rock in Rio, cuja primeira edição seria realizada em janeiro de 1985. 

Estreia brasileira no Rock in Rio

Único sobrevivente da banda, Colin Hay tocou pela primeira vez no Brasil na segunda edição do Rock in Rio. Ele estava em carreira solo e, logo no primeiro dia do festival, enfrentou uma multidão de fãs no Maracanã, que também assistiram naquele 18 de janeiro de 1991 a artistas como Jimmy Cliff, Joe Cocker e o headliner Prince. Para muitos, esta foi a melhor escalação de todos os tempos do RiR. Além de Prince, vieram muitos artistas internacionais que faziam enorme sucesso na época, tanto nas rádios como na recém-inaugurada versão tupiniquim da MTV. Entre estes nomes estavam INXS, A-ha, Faith No More, George Michael, Deee-Lite, Run DMC, Billy Idol, New Kids On The Block, Happy Mondays, Information Society… e o Guns´n Roses, com Axl e Slash debutando em terras brasileiras.  Ê tempo bom de nomes chamados para esse festival

Retomada pós-pandemia

Desde que parou com o Men At Work, Hay seguiu solo e até chegou a integrar por um tempo a All Starr Band, de Ringo Starr. Até que, em 2019, às vésperas da pandemia, decidiu retomar o repertório clássico do MAW com um time de músicos de acompanhamento de palcos e estúdios de Los Angeles, bem ao esquema do que fazem muitas outras bandas famosas por aí. Agora, entre 17 e 21 de fevereiro, eles aterrissam em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba trazendo a nostalgia daquela veia pop dos anos 1980 de um aussie rock cheio de criatividade e irreverência.

Movies

It: Capítulo Dois

Clássica trama de Stephen King ganha sequência na qual amigos de adolescência voltam a enfrentar o palhaço Pennywise 27 anos depois

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Texto por Janaina Monteiro

Foto: Warner/Divulgação

Enfrentar medos, lutar contra fobias e espantar traumas que muitas vezes nos impedem de arriscar e mudar o rumo da vida são os maiores desafios do ser humano. As cicatrizes deixadas por casos de bullying, desamparo ou frustração, sobretudo na infância, moldam nosso caráter e personalidade e assombram a mente, como se fôssemos perseguidos eternamente por monstros.

Em It – A Coisa, todos esses medos e sequelas do passado, conscientes e inconscientes, personificam-se numa figura ambígua e que de engraçada não tem nada: o terrível palhaço Pennywise, do clássico de mais de mil páginas escrito pelo mestre do terror Stephen King. O livro foi publicado em 1986 e ganhou a primeira adaptação no formato de telefilme em 1990. Três décadas depois, a história reapareceu desmembrada em dois capítulos a fim de cativar desde a geração X até os millennials que já nasceram na era dos efeitos especiais computadorizados.

A primeira parte do remake estreou em 2017, trazendo para as telas a história de sete amigos (Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e Beverly, que formaram o Clube dos Losers) e enfrentaram na virada para os anos 1990 o palhaço devorador de criancinhas. A continuação desta trama assustadora chegou nesta quinta aos cinemas brasileiros. Em It: Capítulo Dois (It: Chapter Two, EUA/Canadá/Argentina, 2019 – Warner) os amigos da adolescência fazem jus ao pacto de sangue e revivem os traumas e medos do passado ao se reencontrarem, 27 anos depois, para lutar contra o mesmo fantasma – ou melhor, o mesmo palhaço dos balões vermelhos. A criatura é tão horripilante que talvez só outro palhaço seja capaz de desbancá-lo em bilheteria e terror: o Coringa encarnado por Joaquin Phoenix, que chega no mês que vem aos cinemas.

Em se tratando de Stephen King é desnecessário informar que o filme é longo, com quase três horas de duração. Mas nada que um roteiro e direção sintonizados garantam uma experiência agradável e prazerosa, apesar de aterrorizante, como uma sessão de psicanálise. Para adaptar um “catatau” do rei Stephen só mesmo um roteirista expert em filmes de terror (Gary Dauberman, de A Freira, A Maldição da Chorona Annabelle) e a parceria impecável com o diretor portenho Andy Muschietti. A dupla consegue manter uma sincronia especial para segurar o público na poltrona até o fim, mesmo quando aborda clichês como a cena de início do filme, ambientada num parque de diversões. Lá é onde o medo e a diversão se encontram. Em vez de um casal heterossexual, a história já coloca de cara dois namorados sofrendo o ataque homofóbico de uma gangue de valentões.  O roteiro também se preocupa em situar aqueles que não assistiram ao primeiro capítulo de It, através de uma série de flashbacks muito bem coordenados na trama e que por diversas vezes retomam a narrativa de forma até poética.

Nesta segunda parte, a aventura revivida pelos amigos, agora adultos, traz um ar nostálgico, um misto de Goonies com Indiana Jones e Stranger Things (um dos membros do grupo teen é vivido por Finn Wolfhard, que também está no elenco da série da Netflix) ao som de New Kids On The Block. A escolha dos atores e a construção das personagens, por si só, garantem a empatia do público. Difícil não se identificar com o perfil deles, que acumulam defeitos como todo loser. Ben (Jay Ryan), que sofria bullying pelos quilinhos a mais, virou atleta mas ainda tem o pensamento estereotipado de “gordinho”. A doce Beverly (que na fase adulta é interpretada pela ruivíssima Jessica Chastain) casou-se com um marido possessivo, bem aos moldes de seu pai, e precisa ser durona para enfrentar as agressões. Outro exemplo, Bill (James McAvoy), tornou-se escritor e roteirista de cinema mas é mestre em fazer finais ruins, porque assim é a realidade, repleta de finais infelizes.

Dos sete, apenas um componente do Clube dos Losers permaneceu em Derry, a cidade fictícia que fica no estado de Maine e onde se passa a trama. E quem é fã do “iluminado” Stephen King sabe que o cenário de suas histórias só pode ser onde o escritor de 71 anos mora até hoje. Maine é marca registrada da obra do rei do terror, estado que abriga suas cidades fictícias, com atmosfera nebulosa, como Chamberlain de Carrie, a Estranha, ou Ludlow, de Cemitério Maldito.

O Capítulo 2 de It tem início quando Mike (Isaiah Mustafa) monitora uma série de mortes atribuídas a Pennywise (Bill Skarsgård). A partir disso e por 2h49 para ser precisa (por isso, um conselho: vá ao banheiro antes da sessão começar), assistimos a um thriller psicológico que mistura humor negro e pitadas de melancolia que só a mente fértil de King é capaz de proporcionar.

A trama é recheada de cenas sangrentas, obviamente explícitas, nuas e cruas. Quando Pennywise ataca as criancinhas, babando de fome, ele abocanha sem dó nem piedade. E a direção não poupa esse choque e escancara a violência, nos levando a tomar sustos mas não ao ponto de pular da poltrona – mesmo porque já estamos habituados a ver coisas semelhantes nos telejornais diários.

Outras cenas um tanto trash trazem diálogos tão bem-humorados e criativos que, em vez de medo, instigam o riso. Resta saber quem vai rir por último dessa vez: Pennywise ou os amigos da adolescência?