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Moonfall: Ameaça Lunar

Diretor expert de filmes-catástrofe põe o planeta sendo ameaçado pela Lua em ritmo mais lento que o habitual do gênero

Texto por Flávio Jayme (Pausa Dramática)

Foto: Diamond/Divulgação

Filmes-catástrofe geralmente têm uma fórmula básica, uma cartilha que todos seguem: uma ameaça (natural ou alienígena) coloca o planeta em risco. Um astronauta ou cientista descobre antes de todo mundo mas é desacreditado. Então o caos começa, o governo americano admite o problema e uma equipe, geralmente de pessoas com sérios problemas familiares, é colocada para resolver a situação. No final, uma morte ou outra e o salvamento do planeta. Palmas para todos.

Com raríssimas exceções, este é o plot básico do gênero. E aí você pode colocar longas como 2012O Dia Depois de AmanhãArmageddonIndependence DayPresságio e por aí vai. Dos melhores aos piores. Claro que os filmes assim extrapolam as linhas do absurdo: cidades devastadas, cobertas pela água ou engolidas por terremotos, asteroides, explosões e muita ação.

Mas por que estou falando disso tudo? Porque Moonfall: Ameaça Lunar (Reino Unido/China/EUA, 2022 – Diamond), que acaba de chegar aos cinemas, tem tudo isso. Marca com louvor todos os itens da cartilha.

Na história do novo longa de Roland Emmerich (um mestre do gênero, diretor de 2012O Dia Depois de Amanhã e Independence Day), Jon Bradley (da série Game of Thrones) é KC, um aspirante a cientista e astronauta que não conseguiu chegar muito longe na vida. De seu quarto, ele descobre que a lua está mudando sua órbita e que, em breve, irá se chocar com a Terra (lembra que falei do absurdo, né?). Claro que ninguém acredita nele, até que a informação também é descoberta pelo governo americano e vaza para o público. O planeta fica, então, nas mãos de Jocinda (Halle Berry) e Brian (Patrick Wilson), dois astronautas que dez anos atrás viraram párias por um acontecimento em uma missão na lua. Claro que os dois têm famílias problemáticas, que vão defender com unhas e dentes.

O desenvolvimento aqui não é nenhum segredo: com a lua se aproximando da Terra, as marés sobem, a gravidade é afetada e, claro, o caos se instala. Cenas grandiosas de inundação e uma boa dose de drama familiar dão o recheio do filme até o final que, pasme, consegue ser ainda mais absurdo. Mas não estamos aqui pra ver um documentário. Queremos ver explosões, perseguições, prédios caindo, cidades devastadas. Na tela grande do cinema, tudo isso impressiona.

Moonfall: Ameaça Lunar – ainda que do mesmo diretor dos frenéticos 2012 e Armageddon – tem um ritmo mais lento, com cenas até mesmo mais “dramáticas” (se é que isso é possível diante do contexto). Outro grande diferencial é seu herói improvável. É uma espécie de “a vingança dos nerds” em escala de destruição global.

No fim das contas, Moonfall: Ameaça Lunar pode até não entrar pras listas dos melhores filmes do gênero e ser esquecido em breve, mas consegue divertir e empolgar (ainda que aquela explicação precise de uma boa dose de boa vontade para ser engolida).

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Maligno

Retorno do diretor James Wan ao body horror deleita os amantes do gênero mas se perde ao se alongar no relógio

Texto por Ana Clara Braga

Foto: Warner/Divulgação

James Wan é um nome estabelecido no gênero de terror. As franquias Sobrenatural e Invocação do Mal são as grandes responsáveis por construir a imagem do diretor na indústria. Filmes de casas mal assombradas e espíritos logo se tornaram sua marca registrada. Porém, antes de se aventurar no mundo de demônios e fantasmas, Wan jogou suas fichas no body horror. É dele o primeiro filme da franquia Jogos Mortais, o primeiro de diversos sangrentos filmes sangrentos que, ao contrário de seus trabalhos mais recentes, não se apoiam nos sustos. Em Maligno (Malignant, EUA/China, 2021 – Warner), que chega agora às telas, James Wan volta às suas raízes. 

Tudo começa com a misteriosa filmagem de um hospital psiquiátrico pediátrico. Algo está errado com um paciente chamado Gabriel, mas é difícil saber o que exatamente. Corta para Madison Mitchell (Annabelle Wallis), uma enfermeira grávida chegando em casa e encontrando seu marido violento que em um ataque de raiva bate a cabeça de sua esposa contra a parede. Agora com uma ferida que parece nunca sarar, Madison passa a ter visões aterrorizantes de assassinatos. 

Profundamente inspirado pelo horror corporal de David Cronenberg, James Wan se aventura nos horrores que o corpo humano é capaz de produzir. Mais violento que seus últimos filmes, Maligno não economiza no sangue falso. O longa é conduzido com uma boa dose de mistério e uma excelente reviravolta. O ritmo não se mantém por todos os 111 minutos, mas o suficiente para gerar uma atmosfera de tensão. 

A produtora A24 se popularizou nos últimos anos e seus filmes de terror e suspense caíram na graça da audiência. O FarolMidsommarEx Machina, além da qualidade narrativa, também trouxeram para a mesa grande qualidade técnica e atenção a detalhes como fotografia e trilha sonora, o que nem sempre é prioridade do cinema de horror. James Wan também bebe dessa fonte recente e apresenta um filme com um belo visual e cenas com iluminação vermelha que agradam esteticamente.  

Maligno parece ser mais longo do que realmente é e a montagem pode ser a culpada. Para preservar o grande mistério do filme, personagens são inseridos na trama sem explicações – ato que instiga a curiosidade mas alonga o relógio. Era realmente necessário colocar momentos de flerte entre a irmã da personagem principal e o detetive que investiga os assassinatos? 

Quando chega o clímax, a surpresa vale a pena. São minutos de deleite para amantes do body horror. Infelizmente, após seu melhor momento, Maligno se perde. O desfecho é sem sal e repete o pior dos últimos filmes de James Wan. A energia cai rapidamente e o que era de fato uma história interessante torna-se mais um clichê aguado.

Maligno é a volta de Wan para suas raízes. Inconstante e intenso, o filme duvida de seu próprio potencial ao entregar um final que pensa que o público que irá querer ver. Afinal, o que é um final feliz de verdade no cinema? É aquele que deixa o público momentaneamente feliz ou o que nunca mais é esquecido?