Segunda temporada da série que explora a aventura no mundo do turismo luxuoso e sua fauna desconcertante encanta os olhos
Texto por Taís Zago
Foto: HBO Max/DIvulgação
Eu preciso confessar para vocês que a primeira temporada de The White Lotus, vencedora de onze Emmys em 2022, à primeira vista, não me empolgou muito. O elenco é inegavelmente espetacular, em especial as atuações de Murray Bartlett como Armond (o gerente da filial havaiana da franquia de hotéis de luxo) e Jennifer Coolidge, como a insensível, autocentrada e deprimida milionária Tanya. O enredo sob o sol escaldante do Havaí, apesar de multifacetado, causou-me incômodo, talvez pela simplicidade dos seus temas. Possivelmente, também, eu não tenha levado em consideração que durante sua concepção e realização estávamos vivendo tempos pandêmicos – o auge da produção data de meados de 2021, e, dadas as condições e as restrições internacionais e sanitárias, foi feito um esforço para criar um conteúdo de qualidade da forma mais segura e rápida possível. O ator, autor, produtor e diretor Mike White, mais conhecido por ter escrito especialmente para Jack Black o blockbusterEscola de Rock (2003), conseguiu criar uma trama em um ambiente relativamente hermético – a cadeia White Lotus é uma espécie de Club Med do nouveau riche norte-americano – e unir de forma interessante drama e humor macabro com bastante equilíbrio.
Na segunda temporada de The White Lotus (EUA, 2022 – HBO Max), com maior liberdade tanto criativa quanto espacial, Mike nos leva para a sede siciliana da cadeia da flor exótica. Temos diante de nós uma nova equipe de funcionários locais trabalhando no hotel e novos hóspedes a serem paparicados sem restrições. O formato da série nos lembra uma versão Upstairs, Downstairs (1971) contemporânea – sucesso britânico da década de 1970 cujo formato televisivo influenciou várias produções, entre elas a festejada série Downtown Abbey (iniciada em 2010), onde os dramas da crew do hotel têm o mesmo peso na narrativa dos dramas dos privilegiados visitantes.
Como personagens recorrentes da primeira temporada temos apenas a confusa Tanya (Jennifer Coolidge) e seu “novo” marido Greg (Jon Gries). Tanya chega ao encantador resort com uma nova assistente a tiracolo, Portia (Haley Lu Richardson). Junto a ela no barco estão dois casais de jovens amigos milionários – Cam (Theo James) e a esposa Daphne (Meghann Fahy), Harper (Aubrey Plaza) e o marido Ethan (Will Sharpe), completando a trupe dos bem-sucedidos temos os Di Grasso – o pai Domenic (Michael Imperioli), o avô Bert (F. Murray Abraham) e o filho/neto Albie (Adam DiMarco). Na frente do comando dos funcionários do hotel fica a gerente italiana Valentina (Sabrina Impacciatore), que nessa temporada assume o papel que Bartlett interpretou na primeira temporada. Completam o elenco ainda as duas garotas de programa locais Luccia (Simona Tabasco) e Mia (Beatrice Grannò).
Mike White não nos economiza no quesito encontros e desencontros. O roteiro possui várias reviravoltas e requisita a nossa atenção aos detalhes, às vezes, escondidos nas próprias imagens paradisíacas e objetos luxuosos. Repetindo o formato da primeira temporada, iniciamos essa jornada com mais corpos sendo encontrados. Do primeiro capítulo, então, voltamos no tempo até a chegada dos turistas ao hotel onde percorremos todo o caminho de volta à cena inicial. Um formato que vagamente lembra a antiga série Ilha da Fantasia, onde os visitantes usam suas férias para trabalhar seus problemas pessoais, dificuldades de comunicação, mistérios e conflitos familiares que a rotina do dia a dia teimava em enterrar.
As atuações são um deleite à parte. Todos os atores italianos merecem aplausos de pé, principalmente Sabrina, Simona e Mia. A leveza e a pungência do humor desse país dão à segunda temporada exatamente o tempero exótico que faltou à antecessora. Gargalhamos do absurdo, assim como gargalhamos do desespero. Ao mesmo tempo nos comovemos e somos encantados por um charme tão natural e genuíno que pensamos que em Taormina, o pitoresco vilarejo siciliano, tudo é permitido.
Visualmente, The White Lotus é uma série de tirar o fôlego. A fotografia, a música, a ambientação, tudo nos leva a viajar pelo mundo do luxo dos resorts e dos cenários de nossos sonhos. É o olhar do turista e, portanto, também há um amontoado de clichês bem selecionados, como um catálogo de uma agência de viagens. A Sicília nos é mostrada pelos olhos encantados dos norte-americanos – com vulcão, praias de água turquesa, palazzos decadentes cobertos de ouro e pinturas renascentistas, vinhedos e ilhas rochosas cheias de mistério. White também não poupou recursos para nos alimentar os olhos. Por outro lado, também não economiza recursos ao esfregar na nossa cara a amargura, a feiúra e a traição latentes no âmago de seus personagens. De novo, não existem aqui mocinhos e bandidos: existem pessoas que ora nos encantam ora nos causam repulsa com suas atitudes. E nós, de uma distância segura, rimos muito de tudo isso.
Em uma entrevista recente, o criador explicou que o tema da primeira temporada no Havaí foi o amor, o da segunda na Sicília foi o sexo e que o da terceira será a espiritualidade. Com isso, já nos deixa na expectativa de qual paraíso desse mundo será o novo destino e na certeza da confirmação da produção da próxima aventura no mundo do turismo luxuoso e sua fauna desconcertante.
Documentário revive a trajetória do furacão “cigano” Sidney Magal, que varreu a música brasileira a partir do final dos anos 1970
Texto por Abonico Smith
Foto: Vitrine Filme/Divulgação
No final dos anos 1970 um furacão varreu a música verdadeiramente popular brasileira. Não houve como passar incólume. Muita gente gostava, adorava, não tirava os olhos da televisão quando ele aparecia nos programas de auditório. O mais importante: sabia cantar a letra todinha, assoviava a melodia. Todo dia, o tempo inteiro. E não eram só mulheres. Muitos homens também. E claro, muitas crianças. Afinal, não tinha como não se apaixonar por aquela figura esguia de fartos cabelos negros encaracolados dançando e rebolando sem paridade em nosso país e cantando letras imageticamente fortes, extrapolativamente sensuais.
Argentino que havia sido artista de rock nos anos 1960, Roberto Livi estava no Brasil na condição de empresário de artistas e produtor fonográfico. Sua missão mais importante era descobrir novos artistas para projetar suas carreiras e fazê-los vender muitos discos e shows. Foi assim com nomes como Alcione e Peninha, por exemplo . Com Sidney Magalhães também. Aliás, Magal, rebatizado sem a metade do sobrenome oficial desde que voltara de uma viagem pela Europa para tentar a carreira artística cantando e dançando nos seus vinte e poucos anos. O shape de Sidney Magal já existia antes mesmo de Livi descobri-lo. Fazia sucesso na noite, soltando o vozeirão no palco de uma churrascaria na Barra da Tijuca, já com o mesmo figurino exótico (couro, correntes grossas, cabelão, peito nu, preto como cor dominante) utilizado quando passou a gravar discos. Aliás, Magal desde sempre foi um artista não apenas para ser ouvido, mas principalmente para ser visto.
Recém-estreado em circuito nacional, Me Chama Que Eu Vou (Brasil, 2022 – Vitrine Filmes) disseca o personagem Sidney Magal através da ótica e dos comentários de seu criador Magalhães. É aquele documentário básico e clássico, cronologicamente linear, que vai da gestação da carreira em seus momentos prévios aos tempos de hoje, passando, claro, pelo apogeu, decadência, redescoberta e renascimento artístico. Bom para quem não conhece direito a sua história, mas também curioso para quem acompanhou tudo isso em tempo real no decorrer das décadas. Prato cheio aliás, é o tratamento dado pela mídia durante os três primeiros álbuns. Além de algumas imagens da época, o crème de la crème são as entrevistas para TV e sobretudo as revistas de fofoca e semanários jornalísticos. Mesmo que aparecendo de maneira fugaz na tela, as páginas diagramadas com textos, fotos e manchetes são uma delicia de serem lidas. Nestas cenas são reveladas todo o fascínio com o qual a imprensa tratava aquela persona rebolativa que pervertia a MPB. A elite o tachava de brega. Os mais preconceituosos não conseguiam compreender que aquela figura já havia sido criada antes mesmo do lançamento do primeiro disco. Muita gente o considerava uma estrela fabricada pela indústria fonográfica, um “cigano de araque, fabricado até o pescoço” (como cantava Rita Lee, de pura pirraça, na segunda versão da letra da não menos debochada canção “Arrombou a Festa”, no qual espinafrava os nomes mais importantes da música nacional da época). Uma das reportagens até dava a receita para se “fabricar” um ídolo.
O que poderia jogar contra o documentário dirigido por Joana Mariani acaba, entretanto, sendo o maior trunfo dele. O filho do cantor, um dos entrevistados, também assina a obra como coprodutor-executivo. Mas também não se pode dizer que Me Chama que Eu Vou seja um filme chapa-branca. Mesmo porque, fora a polêmica sociológica do início de carreira, Sidney Magalhães nunca foi uma figura de fato polêmica. Nunca precisou esconder na de sua vida, nem mesmo protagonizou escândalos pessoais de qualquer tipo. Por isso mesmo nunca foi necessário Mariani sequer pensar em qualquer outra narrativa para o doc. Magal ainda ajuda por ser uma pessoa extremamente organizada, sobretudo no que tange ao arquivo de itens sobre a sua trajetória artística. Ele, sempre que pode, guarda até hoje recortes, cartazes, fotos. Se todo este material enriqueceu muito o material apresentado na edição final (inclusive coisas pré-estouro nacional nas rádios e TVs) dá para ficar imaginando todo o resto que ficou de fora da montagem.
O trabalho de Mariani é bastante elucidativo ao jogar luz para os espectadores compreender algo que talvez muitos deles não saibam: a diferença tamanha entre o que são os dois Sidneys. Enquanto o Magal é espalhafatoso, sensual e ousado, o Magalhães é quieto, família e até certo ponto conservador nos costumes (inclusive os musicais). Aliás, o gosto pelas canções mais tradicionais (bossa nova, sobretudo) veio de casa. Tia tocando piano, mãe apaixonada por canto (a ponto de se lançar na carreira depois da fama do filho, aproveitando inclusive para usar o pseudônimo dele), primo dos mais festejados pelas artes brasileiras. Para quem não sabe: o tal primo era ninguém menos que o poetinha Vinicius de Moraes, letrista de algumas das principais canções em língua portuguesa.
Só que Vinícius nunca compôs uma letra para Sidney gravar, mesmo porque o garoto mais novo nunca ficou insistindo nisso. Nem precisaria mesmo. Com versos afiados (e quentes, muito quentes!) como os da polca “Sandra Rosa Madalena, a Cigana” e a meio rumba meio disco “Meu Sangue Ferve Por Você” , não há como não cantar junto com Magal e suas reboladas. Outras versões em nosso idioma também são poderosas. O rock “Tenho” veio importada do repertório do famoso cantor argentino Sandro Anderle (1968), também com estilo visual cigano e principal referência de Livi ao trabalhar com Magal. De outro portenho, o cantor de boleros Cacho Castaña, o produtor trouxe outra disco music, “Se Te Agarro Com Outro Te Mato”, seu primeiro compacto, lançado em 1977, com direito até a guitarra turbinada por um discreto porém não menos poderoso e psicodélico pedal fuzz.
O que o documentário não fala (infelizmente, porque seria uma informação mais completa e não desmereceria de maneira nenhuma a carreira do carioca) é que o grosso dos hits dos anos dourados de Magal são compostos por versões. “Meu Sangue Ferve Por Você”, no caso, é versão de uma versão. A original é francesa e teve duas letras e gravações em 1973: uma em inglês, pelo artista Sunshine, sob o nome de “Melody Lady”; a outra, em francês, por Sheila (que anos depois viria a apostar na disco music como Sheila B Devotion), chamada “Mélancolie”. O argentino Sabú pegou a mesma base sonora e levou a canção para o espanhol, agora como “Oh Cuanto Te Amo”. Deste sucesso veio a ideia para a letra “quente” de Magal. Também de Buenos Aires veio mais um rock, “Amante Latino”, gravada com o andamento um pouco mais desacelerado por Rabito em 1974.
A segunda parte do trabalho de Joana foca na ruptura da parceira entre Magal e Livi e a espiral descendente na qual seu trabalho caiu logo no começo dos anos 1980. Curiosamente, tudo surgiu do esgotamento da fórmula da imagem forjada de cigano. A letra “Sandra Rosa Madalena”, idealizada por Livi, pode ter forjado a imagem de Magal, que tinha apenas um fiapo de ascendência cigana lá pelo lado de uma tataravó, e catapultado o artista ao estrelato, mas também fora a maldição da qual ele tentou se livrar. Por diferenças pessoais e profissionais rompeu os laços com seu produtor e lançou-se na música romântica, incentivado pela gravadora, com outro look, de gomalina e cabelos presos com rabo de cavalo. Lançou vários discos mas nenhuma música nova fez sucesso. Na época em que Magal mais tentou sair do personagem e passar a ser ele mesmo – inclusive se casando e tendo filhos, contra a vontade de seu até então mentor de bastidores, que considerava ser o suicídio de um ídolo abrir o jogo da vida pessoal para seus fãs. Aí que entra uma fase interessante do filme, com Magalhães refletindo sobre os efeitos colaterais da mudança e os atos para a sua reinvenção, mudando-se para a Bahia e atuando como ator de novelas e cantor de teatro musical, inclusive sendo convidado e dirigido por Bibi Ferreira. Até a reviravolta provocada pela chegada da febre da lambada, o sucesso de “Me Chama Que Eu Vou” com tema de abertura da novela da Globo (em um período em que isso ainda representava um bilhete premiado de loteria para um artista da música) e a consequente redescoberta do cantor pelas geração MTV Brasil. Todo este período de ostracismo e redenção, sob a análise do próprio Sidney (mais uma boa dose de sentimentalismo familiar) funciona contra a tentadora queda para uma possível glorificação do astro de um documentário.
Me Chama Que Eu Vou, o doc, não só informa aquele que não conhece direito a trajetória do ídolo. Gráfica e ritmicamente dinâmico, sobretudo na fase inicial da fama, diverte todo mundo. Como uma apresentação do “falso” cigano, seja em um show completo ou apenas em um número em antigos programas de auditório na TV. Aliás mais do que produto da mera mente comercial de Livi ou resultado do puro instinto daquele jovem que cresceu banhado em arte e só queria fazer da vida o ato de cantar e dançar, Sidney Magal é fruto daqueles tempos de recente formação de redes nacionais de televisão, proporcionadas pela possibilidade cada vez mais barata de transmissões via satélite (leia-se anos 1970 em diante). Sorte de quem faz audiovisual e de quem gosta de ver documentários.
Fotos por Rock On Board (Vinicius Pereira: Slipknot; Rom Jom: Judas Priest, Mt Bungle, Bring Me The Horizon e Sepultura)
No último dia 18 de dezembro foi realizada a primeira edição do Knotfest Brasil, em São Paulo. O festival, idealizado pelo Slipknot, reuniu naquele domingo doze bandas em dois palcos e teve todos os seus ingressos esgotados. Cerca de 45 mil pessoas estiveram no local para acompanhar bons shows, incluindo medalhões e bandas da nova geração.
Mesmo gerando algumas críticas por parte do público, os palcos localizados em cada extremo do Anhembi até que funcionaram bem na questão de mobilidade entre os shows. Com as atrações alternadas entre o KnotStage e o Carnival Stage, os fãs precisavam se deslocar de um lado ao outro do sambódromo assim que terminava uma apresentação, para poder assistir à seguinte. O deslocamento durante o evento até que aconteceu de forma bem tranquila, com exceção do período da tarde, onde uma enorme quantidade de pessoas aglomerou-se em frente a um telão instalado no meio do Anhembi, para assistir à final da Copa do Mundo, entre França e Argentina.
Outro fator que vale registro é que embora o Knotfest tenha suas ativações para experiências como qualquer outro grande festival, como por exemplo, o Slipknot Museum e estúdios de tatuagem, ele se diferencia por seguir um modelo mais old school, no qual os shows são o maior atrativo – algo que caracteriza bastante o público amante do metal, que vai aos festivais principalmente para assistir às bandas.
Não é sempre que temos um festival, onde podemos dizer que praticamente todos os shows foram realmente bons ou interessantes. O destaque, é claro, ficou para os donos da festa (Slipknot), que fecharam o festival de forma sublime, mostrando o porquê é hoje um dos melhores grupos de rock para se assistir ao vivo. A banda contou com um som de alto nível, além de toda a estrutura cênica, com labaredas, fogos de artifício e telão de qualidade. Levaram os fãs ao delírio por uma hora e meia de um repertório praticamente de grandes sucessos e um Corey Taylor – que já pode ser considerado um dos maiores frontmen da História – inspirado. Essa foi certamente uma das melhores passagens da banda pelo Brasil, perdendo apenas (na opinião deste jornalista) para a antológica apresentação do Rock in Rio em 2011.
Judas Priest
Em um line up bem diversificado, tivemos também um grande show do Judas Priest, que comemora 50 anos de carreira. Surpreendeu pela ótima forma de Rob Halford, que veio com seus agudos preservados, mesmo aos 71 anos de idade. O set list também foi de respeito, já que a banda priorizou o preferido da casa, Screaming For Vengeance, que completou 40 anos em junho. Ao todo, foram cinco canções do álbum de 1982.
Outro show que deu o que falar e reuniu um grande público interessado foi o tributo ao Pantera, que contou apenas com apenas Phil Anselmo da formação original, já que o baixista Rex Brown cancelou sua participação por ter contraído covid-19. Com Zakk Wylde (Ozzy Osbourne/Black Label Society) e Charlie Benante (Anthrax), foram prestadas homenagens aos dois integrantes e irmãos fundadores, os falecidos Vinnie Paul e Dimebag Darrell. Num repertório baseado nos dois álbuns mais bem sucedidos do finado grupo (Vulgar Display Of Power e Far Beyond Driven), o tributo agradou a grande maioria dos presentes.
Mr Bungle
Contando com menos apelo e interessados, outros nomes também saíram do festival com novos fãs. O Mr Bungle, banda liderada por Mike Patton (mais conhecido pelo trabalho com o Faith No More) se apresentou com sua nova formação, que traz dois ícones do thrash metal: o baterista Dave Lombardo (ex-Slayer) e o guitarrista Scott Ian (Anthrax). Num repertório baseado em sua primeira demo, relançada em 2020, o Bungle fez uma ode ao thrash, com canções longas e riffs matadores. Abusando do português, Patton homenageou a campeã Argentina, xingou o já ex-presidente Bolsonaro e convidou no palco Andreas Kisser e Derrick Green do Sepultura para uma versão de “Territory”.
Outra banda que estreou no Brasil foi o Vended, que tem dois filhos de integrantes do Slipknot. O vocalista Griffin Taylor, filho de Corey Taylor, e o baterista Simon Crahan, filho de Shawn “Clown” Crahan. O som do grupo pode ser considerado um subproduto do Slipknot, com foco na fase mais embrionária, onde o nu metal ainda é referência – basta ouvir o último single deles, “Overall”. Com o rosto pintado, Griffin comandou o show com muita energia e boa performance. A banda, formada apenas em 2018, ainda não possui um full álbum e apresentou músicas de seus EPs lançados nos últimos anos.
Bring Me The Horizon
Dos nomes que já passaram por aqui, o Bring Me The Horizon vai mostrando um crescimento de sua legião de fãs no Brasil. O grupo carregou um bom público para o palco principal (Knotstage) e fez a galera cantar alguns de seus sucessos. Assim como aconteceu no Rio de Janeiro, o grupo também foi um dos primeiros a utilizar bem os telões, com imagens e efeitos visuais criados especificamente para as canções. Ainda rolou um pedido do público para “Sleepwalking”.
Primeira banda gringa a tocar neste Knotfest, o Trivium se apresentou debaixo de um sol escaldante. O destaque ficou para o carismático Matt Heafy, que além de usar uma blusa do Brasil falou o tempo inteiro com o público. A banda não priorizou nenhum álbum específico. Eles resolveram fazer um apanhado de toda carreira e funcionou bem no festival. A verdade é que o grupo agradou sem precisar fazer muito esforço.
Dos nacionais, o Sepultura fez um show já bastante conhecido por aqui. No entanto, eles aproveitaram as atrações do Knotfest para incluir convidados em sua performance. Scott Ian apareceu no palco em “Cut Throat”. Matt Heafy foi outro que colaborou tocando “Slave New World”. Phil Anselmo emprestou sua voz ao clássico “Arise”. No final, os hits “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots” encerram o set com nível elevado.
Sepultura
Aquecendo o público no início do festival, tivemos três boas apresentações nacionais. Não existiria melhor nome para iniciar o festival de uma forma tão intensa quanto o Black Pantera. A banda já parece veterana em cima do palco, mostrando cada vez mais à vontade em festivais dessa envergadura. Além de carregar um repertório de letras contundentes, o grupo não deixa de se posicionar contra todo tipo de preconceito. Tanto que não foram poucas vezes que o vocalista Charles Gama mandou seu recado (“White Power é o caralho!”), referindo-se ao tema polêmico envolvendo Phil Anselmo, que se apresentara mais tarde.
Já o Project 46 promoveu uma ode às rodas de pogo numa apresentação impecável para um festival de metal. Agitando sem parar, o vocalista Caio MacBeserra usou e abusou – no bom sentido – dos berros e dos agudos, mostrando o porquê de ser um dos melhores cantores do gênero no cenário nacional. O público, já bem numeroso, respondeu ao show do grupo de maneira catártica, com mosh, palmas e energia lá em cima. A banda saiu de palco consagrada pela galera.
Em show dividido em primeiro e segundo tempo, Jimmy & Rats e Oitão agitaram o público que chegava aos poucos no Anhembi. As bandas abriram o palco Carnival Stage e não deixaram a intensidade baixar. Destaque para o bom repertório de Jimmy & Rats que basearam o show em seu ótimo album, Só Há Um Caminho a Seguir, comprovando a efetividade da fórmula musical entre fãs de metal em geral.
Sessenta curiosidades para celebrar a trajetória de 60 anos do agente secreto britânico James Bond nas telas de cinema
Texto por Carolina Genez
Fotos: Divulgação
Seja pelo visual sempre memorável, pela trilhas sonoras marcantes ou pelas aventuras eletrizantes todo mundo conhece Bond, James Bond. Muito popular, o espião mais famoso da história do cinema já foi interpretado por um seleto grupo de seis atores.
Como neste ano de 2022 James Bond completa seis décadas de chegada às grandes telas, o Mondo Bacana elaborou 60 curiosidades que marcaram esta trajetória de sucesso de bilheterias e culto mundial que perpassa gerações e permanece cristalizado até hoje.
Ian Fleming
>> Apesar de sua estreia no cinema ter sido em 1962 em 007 Contra o Satânico Dr. No, o personagem foi criado em 1953 pelo militar, jornalista e escritor britânico Ian Fleming. Sua primeira aparição foi no livro Casino Royale.
>> Apesar de ser um personagem fictício, de fato existiu um James Bond na vida real. Fleming encontrou inspiração para o nome do agente em um livro de pássaros escrito por um ornitólogo chamado… James Bond.
>> Assim como 007, Ian Fleming também foi um espião naval durante a Segunda Guerra Mundial.
007 Contra o Satânico Dr. No (1962)
>> 007 Contra O Satânico Dr. No não era bem uma opção dos produtores para dar o pontapé inicial na história cinematográfica de James Bond. O filme foi escolhido para ser a primeira adaptação porque os sócios Albert Broccoli e Harry Saltzman, que fundaram em 1961 a companhia Eon Productions, não possuíam os direitos do livro Casino Royale. Como outras histórias ou faziam parte de uma disputa judicial ou eram muito caras para serem gravadas, Dr. No (o título original, em inglês) parecia ser a melhor decisão.
>> Desde 1962 já foram lançados nos cinemas 25 filmes do agente. Isto se for contabilizada somente a lista das produções da Eon. Existem ainda outras duas produções “não oficiais” (isto é, não bancadas pela empresa criada por Broccoli e Saltzman).
>> Casino Royale (1967) e 007 – Nunca Mais Outra Vez (1983) são os títulos fariam o número subir para 27. Na primeira, Bond (interpretado por David Niven) é tirado de sua aposentadoria para mergulhar no mundo dos cassinos de Mônaco. Sua missão é derrotar um de seus mais tradicionais inimigos, Le Chiffre (Orson Welles). No outro, com Sean Connery de volta ao papel principal, o protagonista rivaliza com membros e cabeças da Spectre. Detalhe: Um ainda iniciante e desconhecido Woody Allen está no elenco de Casino Royale.
Moscou Contra 007 (1963)
>> O papel de 007 já foi interpretado por seis diferentes atores nas produções oficiais: Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton, Pierce Brosnan e Daniel Craig.
>> Doze diretores já assinaram a direção dos filmes da Eon: Terence Young, Guy Hamilton, Lewis Gilbert, Peter R. Hunt, John Glen, Martin Campbell, Roger Spottiswoode, Michael Apted, Lee Tamahori, Marc Forster, Sam Mendes e Cari Joji Fukunaga.
>> John Glen é o cineasta que mais dirigiu filmes do espião britânico. São cinco no currículo.
>> Apesar de ainda não ter feito uma história de James Bond, Steven Spielberg é fã declarado do agente secreto. A série de filmes protagonizada pelo personagem Indiana Jones é uma homenagem ao espião. Já em Tubarão (1975), há cenas inspiradas em 007 Contra a Chantagem Atômica (1965).
>> Para agradecer e retribuir a homenagem de Spielberg, os roteiristas de Bond batizaram de Jaws (título original de Tubarão) o vilão de dentes de aço de 007 – O Espião que me Amava (1977). No filme, o personagem ainda mata um tubarão a dentadas.
007 Contra Goldfinger (1964)
>> O título de maior bilheteria da saga até hoje é 007 Operação Skyfall (2012). Com direção de Sam Mendes, o longa arrecadou mais de um bilhão de dólares e ainda se destacou no Oscar ao arrebatar duas estatuetas, nas categorias mixagem de som e canção original.
>> Por falar em Oscar, 007 – Sem Tempo Para Morrer (2021) é o terceiro título da franquia a levar o Oscar na categoria canção original, com “No Time to Die”, na voz de Billie Eilish, neste ano. Em 2013, Adele levou o troféu com “Skyfall”, tema de 007 Operação Skyfall (2012). Já 007 Contra Spectre (2015) foi embalado por “Writing’s On The Wall”, de Sam Smith, vencedor do ano seguinte. Detalhe é que as estatuetas foram ganhas pelas últimas três produções, lançadas nos últimos dez anos apenas.
>> Apesar de nem todas as músicas terem sido premiadas com o Oscar, os temas dos filmes da série são disputados entre os artistas do momento. Já gravaram canções de 007 nomes como Paul McCartney, A-ha, Shirley Bassey, Tom Jones, Lulu, Tina Turner, Madonna, Garbage, Nancy Sinatra, Duran Duran, Sheryl Crow e Carly Simon. No serviço de streaming Amazon Prime, por sinal, está disponível um documentário em torno da criação de várias destas famosas canções feitas e gravadas para cada filme. Chama-se As Músicas de 007.
007 Contra a Chantagem Atômica (1965)
>> Já a tão famosa música-tema de James Bond foi composta por Monty Norman. Entretanto, a cara definitiva dela foi dada pelo maestro John Barry, junto aos músicos de sua banda, que misturava rock e jazz. A música vendeu mais de 25 milhões de discos e está presente em todos os filmes da série. Em As Músicas de 007, toda a sua concepção é dissecada também.
>> Outra marca registrada dos filmes do agente são as bond girls. Em 25 produções, a franquia já apresentou quase 60 delas. A mais famosa delas é a suíça Ursula Andress.
>> Apesar da saga contar com muitas mulheres, foi apenas no mais recente longa que uma mulher ocupou o papel do agente. A personagem interpretada pela atriz Lashana Lynch assume o codinome 007 durante a aposentadoria do astro da espionagem, no início de 007 – Sem Tempo Para Morrer (2021).
>> Ainda sobre as bond girls, apenas duas atrizes reprisaram seus papéis: Eunice Gayson e Léa Seydoux.
Com 007 só se Vive Duas Vezes (1967)
>> Desde o primeiro filme da saga, James Bond também é lembrado pelo seu famoso drink: um martini batido (e não mexido) com vodka (e não gim). O pedido do agente foi tão marcante que fez a popularidade do gim cair.
>> Mais de 45 carros já passaram pelas mãos de James Bond. O mais famoso deles é um Aston Martin DB5, utilizado em 007 Contra Goldfinger (1964). O automóvel era equipado com traquitanas nada usuais sobre quatro rodas, como assento ejetor e metralhadoras.
>> A frase “Meu nome é Bond, James Bond” é uma das mais conhecidas da história do cinema. Ela foi dita pela primeira vez já no primeiro filme, aos 5 minutos e 38 segundos de 007 Contra o Satânico Dr. No (1962).
007 A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969)
>> É necessária muita vontade para viver o agente britânico nas telas. Por conta das locações em diversas partes do mundo e das muitas cenas de ação, as jornadas diárias de trabalho dos protagonistas duram em média 14 horas.
>> Tendo arrecadado mais de 12 bilhões de dólares, 007 é a série de filmes mais lucrativa da história do cinema.
>> James Bond foi eleito o maior herói de Hollywood pela Entertainment Weekly em 2009. O segundo lugar ficou com Indiana Jones e o terceiro com o Homem-Aranha.
>> James Bond não é o único agente da MI-6. O codinome 007 se refere a um seleto grupo de agentes 00, onde cada zero significava inicialmente o número de mortes necessárias para se tornar um espião.
>> A designação 00 também significa (a partir do terceiro livro, 007 Contra o Foguete da Morte, publicado em 1955) que o agente possui a “licença para matar” concedida pela rainha da Inglaterra.
>> Somando todos os filmes, James Bond já matou mais de 600 pessoas.
Com 007 Viva e Deixe Morrer(1973)
>> Inicialmente Ian Fleming, via como o filme perfeito do 007 uma produção dirigida por Alfred Hitchcock e estrelada por Cary Grant. Entretanto, o escritor mudou de ideia quando viu Sean Connery em 007 Contra o Satânico Dr. No (1962).
>> Entre os atores que protagonizaram os filmes de 007, apenas Daniel Craig e Roger Moore eram, de fato, ingleses. Pierce Brosnan é irlandês. Sean Connery, escocês. Timothy Dalton veio do País de Gales. Já George Lazenby era australiano.
>> Um dos filmes de James Bond tem uma cena realizada no Brasil. Em 007 Contra o Foguete da Morte (1979), Roger Moore veio ao Brasil rodar o filme. A cena de ação tem o bondinho do Pão de Açúcar como cenário.
007 Contra o Fogeuete da Morte (1979)
>> Sean Connery quase foi morto durante a gravação de uma cena de perseguição com um helicóptero em Moscou Contra 007 (1963). O piloto era inexperiente e voou baixo demais.
>> Assim como o agente secreto, Connery também fez parte da marinha britânica. O ator se alistou aos 16 anos mas precisou se afastar por conta de problemas de saúde
>> O ator que primeiro fez 007 nos cinemas passou 12 anos sem interpretar o papel. Ausente desde 1971, retornou em 1983, em 007 – Nunca Mais Outra Vez, o tal filme que não era da Eon. Foi convencido por sua esposa a retomar o papel que o fizera famoso no cinema.
007 Somente Para Seus Olhos(1981)
>> Sean Connery foi consagrado como sir em 2000, quando tornou-se um dos cavaleiros da Rainha Elizabeth II pelos serviços pelo cinema e pelas artes.
>> Sua performance como James Bond foi ranqueada em quinto lugar na lista dos 100 maiores personagens de todos os tempos elaborada pela revista francesa Première.
007 – Permissão Para Matar(1989)
>> George Lazenby participou de um único filme da franquia, 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade(1969). Isso ocorreu durante um breve período de ausência de Sean Connery.
>> Durante o filme, Lazenby acusou seu par romântico, Diana Rigg, de comer alho propositadamente antes de atuarem juntos em cenas de amor.
>> O australiano desejava fazer as próprias cenas de ação sem uso de dublês, porém o estúdio era contra. Um dia foi permitido que ele fizesse uma das cenas de acrobacia. O ator quebrou o braço, o que atrasou as filmagens.
>> Lazenby foi convidado para uma sequência, porém recusou. Acreditava que o agente secreto britânico se tornaria um anacronismo em plena era de Woodstock.
>> Além de um filme de 007, George fez outra aparição como um agente britânico secreto no telefilme A Volta do Agente da UNCLE (1983), que tinha como base uma popular série também de TV. Seu personagem é chamado de JB, que poderia significar James Bond. Neste longa, ele também diz o famoso bordão “batido, não mexido”.
007 Contra GoldenEye (1995)
>> Era para Roger Moore interpretar o agente britânico mais cedo. Ian Fleming queria o ator desde o primeiro filme, porém ele não pode aceitar por estar envolvido com a série O Santo (1962-1969).
>> Em um intervalo de 12 anos (1973-1985), Roger Moore atuou em sete filmes do agente britânico. É o ator que mais participou de filmes da Eon como James Bond, superando por um título Sean Connery.
>> Claro que com todo este tempo interpretando o agente secreto, Moore saiu com algumas marcas. Em Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973), quebrou um dente em uma cena de perseguição em uma lancha. Em 007 Contra Octopussy (1983), cortou a mão e deslocou um ombro.
>> Os contratos de Roger incluíam uma cláusula que garantia a ele um suprimento ilimitado de cigarros da marca Monte Cristo.
>> Moore também achava que corria de forma esquisita. Por isso, precisou de dublês para todas as cenas em que seu personagem aparece correndo.
007 – Casino Royale (2006)
>> Timothy Dalton fez dois filmes como James Bond: 007 Marcado Para a Morte (1987) e 007 – Permissão Para Matar (1989). Ele deveria estrelar um terceiro título. Porém, por conta de problemas com o roteiro e a produção, ocorreu um intervalo gigante até o próximo filme. Quando finalmente começaram a produzir 007 Contra GoldenEye (lançado em 1985), o ator abriu mão do papel.
>> Dalton incorporou um James Bond mais humano, realista e condizente com os livros de Ian Fleming
>> Seu Bond foi o último a fumar nas telas.
>> Os filmes de Dalton foram gravados no auge da epidemia de aids. Por isso, o ator sugeriu que James Bond tivesse apenas um relacionamento. A ideia foi acatada e assim a relação teve ares mais românticos do que nos filmes anteriores.
>> Segundo o galês, seus filmes favoritos do agente secreto britânico são: 007 Contra o Satânico Dr. No (1962), Moscou Contra 007 (1963) e 007 Contra Goldfinger (1964). A justificativa é de serem mais parecidos com os livros de Fleming.
007 Operação Skyfall(2012)
>> Pierce Brosnan interpretou James Bond entre 1995 e 2002. Durante esse período, o ator foi liberado para participar de outras produções. A única restrição era quanto ao uso em cena de um smoking.
>>007 Contra GoldenEye (1985) termina com o saldo final de 47 mortos, fazendo deste o filme um dos mais letais da franquia. O James Bond de Brosnan também é o mais assassino de todos. O ator matou 135 pessoas durante sua trajetória como o agente britânico.
>> O primeiro convite para ele atuar como James Bond veio por causa de sua primeira mulher, a atriz Cassandra Harris, que atuou em 007 – Somente Para Seus Olhos (1981), ao lado de Roger Moore. Brosnan foi visitá-la no set deste filme e o produtor ficou encantado com o ator. “Se este cara souber atuar, ele é meu próximo Bond”, disse Broccoli.
>> Pierce Brosnan foi convidado, então, para substituir Moore. Ele, porém, não pode aceitar o papel na época por estar atuando na série Jogo Duplo.
>> Além de seu salário, Brosnan recebeu um carro por cada filme.
007 Contra Spectre (2015)
>> A escolha de Daniel Craig para interpretar Bond foi polêmica já que ele é loiro, enquanto James Bond é tradicionalmente moreno. Além disso, o ator nasceu seis anos depois da estreia do primeiro filme da série.
>> Na primeira cena de luta de Casino Royale (a versão de 2006, já com os direitos adquiridos pela Eon), Craig levou um soco e perdeu dois dentes.
>> A era Daniel Craig se diverge das outras, já que pela primeira vez há uma trajetória completa, formando uma sequência, uma história coesa. Os filmes anteriores, embora fossem com o mesmo ator fazendo o papel de James Bond, sempre se revelavam aventuras independentes umas das outras.
>> Daniel Craig foi o ator que deteve por mais tempo o posto de 007: foi uma década e meia entre os lançamentos de Casino Royale (2006) e de 007 Sem Tempo Para Morrer (2021). Inclusive, a marinha britânica chegou até a dar ao ator o título de comandante honorário, a mesma patente do agente nos filmes.
>> Daniel Craig é o James Bond que mais bebe em toda a trajetória do personagem nos cinemas.
Novo filme fala sobre o luto pelo protagonista mas peca ao se estender em personagens demais e tramas paralelas subdesenvolvidas
Texto por Andrizy Bento
Foto: Marvel/Disney/Divulgação
“Só as pessoas mais feridas podem ser grandes líderes”
Sequência do grande sucesso de público e crítica Pantera Negra, de 2018, este Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (Black Panther: Wakanda Forever, EUA, 2022 – Marvel/Disney) deveria ser um um filme sobre Shuri, uma produção que se dedicasse a mostrar o crescimento da personagem interpretada pela atriz Letitia Wright, que se obriga a amadurecer após inúmeras perdas. Toda a tragédia em seu entorno daria consistência à jornada da heroína e seria enredo suficiente para um longa, tendo como mola-mestra o luto pela morte do irmão, o rei T’challa (Chadwick Boseman). Uma base lúgubre, triste, mas funcional e eficiente para situar a heroína no panteão de super-heróis que é o MCU (Universo Cinematográfico da Marvel). Porém, é Hollywood e Wakanda Para Sempre faz parte de uma safra de produtos que ultrapassou o nicho ao qual era destinada no passado. Não apenas os fãs de quadrinhos de super-heróis consomem esses filmes hoje em dia. Já há um tempo eles abrangem o público em geral.
Portanto, é necessário fanservice para agradar aos marvetes, introduzindo tudo o que for possível da mitologia dos quadrinhos; contextualizar esse fanservice para atingir os espectadores que não conhecem a base original; e, considerando que a Marvel Studios optou por não escalar um substituto para Boseman (falecido em 2020, vítima de um câncer de cólon) seja por carinho ao saudoso ator ou por preferir não despertar a fúria dos ardorosos fãs, em uma demonstração solene de respeito, compor uma obra cuja essência é o luto pelo rei T’Challa e um tributo a Boseman. Toda a história de sucessão protagonizada por Shuri tem esse sabor agridoce de despedida ao intérprete de Pantera Negra, além de ser intercalada por diversas tramas paralelas. O resultado é um longa sem unidade, que aponta para vários lados. É difícil dar coesão a todos os núcleos narrativos. O diretor Ryan Coogler não parece se esforçar muito para alcançar tal objetivo, contentando-se com épicas cenas de ação e profusas sequências de pesar pela perda de T’Challa. É grandioso na embalagem, porém razoável no conteúdo.
O que fez Pantera Negra se destacar dentre os longas da franquia MCU nos cinemas, levando-o até mesmo a concorrer ao Oscar de melhor filme, era o equilíbrio do conjunto. Coogler apostou em uma lenda fascinante, com cenas de ação certeiras e uma crítica ao imperialismo americano. Em sua essência, a produção de 2018 era feliz e bem-sucedida ao construir nas telas uma mitologia convincente, envolvendo cerimônias ritualísticas e fortes representações culturais que fundamentam Wakanda sem dispensar as boas e velhas lutas coreografadas, explosões e perseguições que fazem a festa dos fãs de blockbusters e ainda trazia uma base política sólida ao discutir racismo e colonialismo. Wakanda Para Sempre apresenta todos esses elementos, mas de maneira desorganizada e totalmente over.
A homenagem a Chadwick Boseman tem início nos créditos de abertura, continua na bela sequência inicial que representa a cerimônia fúnebre e se estende por toda a história. Após a morte de T’Challa, a rainha Ramonda (Angela Bassett) faz o possível para proteger sua nação de poderosos líderes estrangeiros que buscam se apossar do vibranium (metal fictício encontrado em abundância em Wakanda, que possui a capacidade de absorver todas as vibrações em sua proximidade, bem como a energia cinética direcionada a ela e faz com que a terra natal do Pantera Negra seja rica e poderosa), ao mesmo tempo em que tem de lidar com o luto pela perda do filho e tentar uma conexão com a filha, Shuri, que parece ter se fechado em um casulo após a morte do irmão.
Nesse ínterim, entidades do governo descobrem que Wakanda não é o único lugar a possuir vibranium, identificando-o também no fundo do oceano por meio de um detector construído especificamente para rastrear o elemento. A matéria é proveniente do reino submarino governado por Namor (Tenoch Huerta), um mutante com poderes extraordinários derivados de sua herança genética incomum, com fisiologia anfíbia, força sobre-humana, supervelocidade e pés alados que garantem a ele a capacidade de voar. Ao tomar conhecimento do detector de vibranium, Namor entra em contato com Wakanda a fim de solicitar apoio para que capturem a cientista responsável pela invenção. Riri Williams (Dominique Thorne) é uma jovem universitária que não faz ideia que é o principal alvo dessa caçada. Em meio a tudo isso, Shuri precisa encontrar seu lugar entre as lideranças de Wakanda, digladiando com o próprio rancor e sentimento de vingança que a consome.
O elenco numeroso e as diversas tramas paralelas centradas em diferentes personagens tornam os já eloquentes 161 minutos de Wakanda Para Sempre insuficientes para trabalhar tanto material. Por isso mesmo, várias discussões interessantes acabam exploradas de maneira superficial, alcançando um nível muito raso de debate. É o caso, por exemplo, da tão alardeada (ao menos nos materiais de divulgação!) liderança feminina, que ganha pouca substância. Outros temas trabalhados com pouca profundidade neste exemplar afrofuturista da Marvel são justamente a questão racial e o imperialismo americano. Há muita coisa acontecendo na tela e, ainda assim, o roteiro peca ao não se aprofundar em nenhuma delas: a tentativa de focar em Shuri, as introduções de Namor e Riri Williams e o plot envolvendo o agente Everett Ross (Martin Freeman). Todas essas tramas socadas em um único longa tornam o enredo desequilibrado.
Entendo que Wakanda Para Sempre ocupa uma posição difícil na franquia dos Vingadores. O longa tinha a ingrata função de “substituir” o herói de forma nobre, sem ferir seu legado. Mas toda essa construção aliada à introdução de duas personagens importantes transforma o longa em um bolo de noiva e é justamente o desenvolvimento de Shuri que acaba ofuscado. É até irônico, pois, mesmo sem querer, a personagem já acenava para essa possibilidade desde o ritual de desafio no primeiro longa. A pedra angular deste longa-metragem deveria ser a preparação do terreno para que, aos poucos, Shuri ganhasse protagonismo.
Há um momento em que a princesa pergunta a Namor o porquê de estar lhe contando tudo isso. E eu não resisti e respondi mentalmente: porque filmes hollywoodianos têm a mania de serem expositivos demais e contar origens por meio de flashbacks manjados. A insistência da indústria em subestimar a inteligência do público se baseia na crença de que o espectador não vai ser capaz de acompanhar uma história na tela se tudo não for devidamente explicado.
Se já não bastasse o excesso de tramas que incham o longa, a montagem vacila em diversos momentos, especialmente ao mostrar os desdobramentos de lutas tão definitivas, intercalando ambas e tirando o impacto do desfecho das duas. Como tradição dos filmes do estúdio, este não foge à regra de apresentar embates corporais repletos de cortes secos e abruptos. O design de produção continua primoroso e as cenas pirotécnicas que se desenrolam tanto em terra firme como no mar são empolgantes, embora o longa peque pela falta de contrastes, especialmente nas cenas que se passam no reino de Namor, Talokan. A trilha sonora é composta de vários temas interessantes, mas o conjunto da obra é deveras saturado. Há todo um cuidado em retratar a cultura dos wakandanos, explorando seus costumes e a mitologia dos povos que ocupam aquele território. O mesmo não acontece com os talokans. Mas nem vou reclamar nesse quesito, porque, além da certeza de que Namor regressará, isso só tornaria a produção ainda mais longa e modorrenta. Por falar nisso, a guerra entre as duas nações é maniqueísta e bidimensional, abusando de um artifício muito raso para deflagrar o conflito.
O filme que encerra a fase mais criticada do MCU também é um reflexo da mesma, composta de filmes muito apoteóticos em suas intenções, mas inchados ou apáticos em seus resultados. Wakanda Para Sempre é emocional em diversas passagens, especialmente ao rememorar T’Challa. É conceitual, ao abordar o luto cinematograficamente, mostrando como cada figura do elenco lida com a morte do personagem, do ator e do amigo. Mas não é funcional, não possui um fim, um objetivo. Um demérito irreparável quando nos referimos a obras cinematográficas. Eis um tributo a Chadwick Boseman que não faz a devida justiça a seu homenageado.