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Coolio

Oito motivos para lembrar sempre o rapper californiano que estourou no mundo todo em 1995 com o hit “Gangsta’s Paradise”

Texto por Abonico Smith

Foto: Reprodução

Já era tarde da noite do dia 28 de setembro no Brasil quando chegou a notícia da morte do rapper Coolio. Postada por seu empresário em redes sociais, a nota não dizia a causa mortis mas contava que o artista fora achado desacordado em Los Angeles, no banheiro da casa de um amigo, que chamou, sem muito sucesso, os paramédicos.

Coolio tinha 59 anos de idade e deixa seis filhos. Ele continuava na ativa, fazendo shows e gravando esporadicamente. Sua discografia tem três álbuns, sendo o período de maior sucesso os meados dos anos 1990, quando estourou nas rádios e MTVs do planeta todo com o hit “Gangsta’s Paradise”. Contemporâneo de grandes e populares nomes do hip hop – como Dr Dre, Ice Cube, 2pac Shakur, Notorious BIG, MC Hammer e vanilla Ice – foi justamente com este com quem fizera sua última apresentação ao vivo, uma semana antes. Seu pseudônimo, segundo reza a lenda, veio de uma tentativa mal sucedida de cantar em um evento uma música gravada pelo cantor romântico espanhol Julio Iglesias. Daí veio o apelido, dado por amigos, de Coolio Iglesias.

O Mondo Bacana homenageia este grande rapper – que também foi ator bissexto – com oito bons motivos para lembrar-se sempre dele.

Cria de Compton

Quem conhece a história do grupo de hip hop NWA sabe muito bem a barra pesada que é viver nesse bairro negro de Los Angeles. Algumas das letras de suas canções e a história contada na cinebiografia mostram toda a dor e sofrimento do dia a dia na pobreza aliada a uma grande violência interna, muito disso alimentado por intervenções da polícia. Coolio também veio de lá. Nascido Artis Leon Ivey Jr, ele é contemporâneo do pessoal do NWA. Mas antes de se estabilizar na carreira artística trabalhou como segurança do aeroporto de LA e ainda alistou-se como bombeiro voluntário para combater as queimadas que assolam a região regularmente quando chegam as altas temperaturas. Ralou bastante para ganhar grana até ver a fama chegar por meio da música.

Tommy Boy

Uma das marcas de excelência no hip hop norte-americano dos anos 1980 e 1990 é da gravadora Tommy Boy Records. Selo fundado em 1981 por um judeu nova-iorquino de nome Tom Silverman, a iniciativa formou anos depois uma parceria com a major Warner e fez decolar a carreira de um monte de gente bacana e importante de seu elenco. Só para citar alguns nomes: Stetsasonic, Force MDs, Afrika Bambaataa, Queen Latifah, De La Soul, Digital Underground, Naughty By Nature, House Of Pain e Coolio. Este assinou contrato em 1994, dando início à carreira solo após alguns anos participando do grupo WC & The Maad Circle. Por lá gravou e lançou três álbuns, justamente sua fase de maior popularidade e sucesso comercial.

Stevie Wonder

Songs in the Key of Life, de 1976, é uma das obras mais aclamadas do cantor e compositor revelado pelo icônico selo Tamla-Motown. Décimo oitavo álbum de estúdio da carreira, esse disco representou uma fase bastante prolífica de Stevie. Ele jorrava tanta criatividade na época que não parava de compor para o disco. Tanto que gravou (e chegou a tocar quase todos os instrumentos no estúdio) 21 faixas, que foram todas lançadas de um modo nada usual: 17 entraram num vinil duplo e as restantes ficaram para um compacto de 7 polegadas que vinha acompanhando o álbum. A terceira faixa do lado B do primeiro disco, Pastime Paradise, é a grande responsável pelo estouro da carreira de Coolio. Uma das primeiras músicas a usar um sintetizador Yamaxa GX-1 soando como toda uma orquestra de cordas, a canção faz reflexões sobre materialismo e egocentrismo, falando em um tal de “paraíso de passatempo”. Sampleada com a voz e a letra reescrita por Coolio, virou “Gangsta’s Paradise”. Incialmente Wonder não havia visto a ideia dos novas versos com bons olhos, mas depois de pedir para reescrever alguns trechos mais pesados e tirar os palavrões, deu a liberação para o lançamento da faixa. E até cantou com Coolio e LV (que faz os vocais dos trechos mais melódicos da letra) numa apresentação ao vivo durante a cerimônia do Billboard Awards.

Gangsta’s Paradise

Single lançado no primeiro dia de agosto de 1995 para ser o chamariz do filme Mentes Perigosas, que chegou às telas dez dias depois. Os versos escritos por Coolio, LV e o produtor Doug Rasheed fazem menção ao duro cotidiano de um jovem na periferia negra de Los Angeles, sem muita perspectiva de longevidade na vida e cercado de violência por todos os lados. O que, certamente, quase vinte anos depois, traz uma evolução de sentidos e significados para o que Stevie Wonder cantava em “Pastime Paradise”. Mantendo a dramaticidade das cordas e mantendo a dinâmica crescente do coro gospel também registrado na faixa original, a gravação caiu como uma luva para ser a música-tema do filme. Não à toa foi o single mais vendido daquele ano nos EUA, conquistando depois muitos prêmios, inclusive o Grammy. Na Europa, liderou a parada de diversos países. No videoclipe, dirigido por Antoine Fuqua (que começou assinando clipes e depois passou para longas-metragens e episódios de seriados), Pfeiffer faz participação especial.

Mentes Perigosas

Drama protagonizado por Michelle Pfeiffer e produzido pela mesma dupla responsável por blockbusters como FlashdanceUm Tira da Pesada e Top Gun: Ases Indomáveis,  que mostra a difícil relação entre uma professora branca e seus alunos adolescentes em uma escola situada no subúrbio latino e afro-americano da Califórnia. Os garotos, todos de classe média baixa, envolvidos com gangues e o tráfico e consumo de drogas, aos poucos vão sendo conquistados pela doçura e habilidade da mestra em usar poesia, música, Bob Dylan e muito afeto, muito carinho. Assim ela vai trazendo-os para seu lado pouco a pouco. O principal problema é um aluno chamado Emilio Ramirez, cuja vida corre sérios riscos. Entretanto, é justamente em torno do que vai acontecendo com ele que vai se desenrolando boa parte da trama e das reviravoltas.

Fantastic Voyage

Um ano antes do estrelato obtido com “Gangsta’s Paradise”, Coolio lançou seu primeiro álbum, batizado It Takes a Thief. O single de maior sucesso deste disco foi o terceiro, “Fantastic Voyage”. O clipe – que traz uma ponta de B-Real, do Cypress Hill – traz uma história surreal: gira em torno de uma viagem do vocalista e sua trupe a bordo de um Impala conversível de 1965 que era uma bicicleta azul e depois volta a sê-la.

C U When U Get There

Último grande hit de Coolio durante seu tempo na Tommy Boy. A faixa, de 1997, foi construída em cima de uma melodia-base do alemão Johann Pachelbel, compositor barroco que viveu no século 17. Seu “Canon em Ré Maior” foi criado originalmente para três violinos, baixo contínuo e uma giga (dança barroca popular na Inglaterra e na França). Coolio, através de seu canto falado de versos emocionantes colocado em uma batida eletrônica lenta e entremeados por um refrão intenso com direito a coro gospel.

Kurt Cobain

Como muitos rappers norte-americanos, Coolio era louco pelo líder do Nirvana. Ao ver o clipe de “Heart-Shaped Box”, ele botou na cabeça de querer fazer, um dia, uma colaboração com Kurt. Contudo, não houve muito tempo para alimentar o sonho, com a morte do ídolo em abril de 1994. Para o site da revista Spin, em uma entrevista realizada em 2014, Coolio comentou sobre o peso que as drogas fazem na pessoa deprimida e o péssimo hábito de família e sociedade não dares a mínima para isso no momento que estas pessoas mais precisam de ajuda. E ainda se colocou no lugar do Kurt justamente por ter, em um passado não muito distante, mergulhado no uso de cocaína.

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Gorillaz – ao vivo

Pela primeira vez no Brasil, os integrantes animados, Damon Albarn e convidados especiais fazem a festa dos fãs em noite de muita chuva

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Texto por Fabrizio Zorzella

Foto: Reprodução

Devo confessar: quando tinha meus sete ou oito anos, lá nos 19-2000, e passava os clipes de “Clint Eastwood” na TV eu não curtia tanto, não. Não sei explicar, mas acho que eu não gostava dos desenhos. Ou até poderia gostar, mas música, em geral, não descia para mim na época.

Foi só lá pelos meus 17 anos, em rolê em casa de amigos, que o Ed Case/Sweetie Irie Re-Fix de “Clint Eastwood” era tocado praticamente todas as horas, que eu me peguei gostando da música. Isso me abriu as portas para o som da segunda/primeira banda do mito Damon Albarn! Peguei-me ouvindo “Feel Good Inc”, “Dare”, “On Melancholy Hill” e “Stylo” por muitos momentos nesse fim de adolescência e começo de vida adulta.

Torcia de leve pelo lançamento de um novo álbum mas o Damon preferiu lançar um solo, depois um novo com o Blur (e não vir fazer show aqui, é importante deixar claro… haha!). Ele sempre falava que os Gorillaz não tinham acabado, mas as esperanças já estavam indo para o saco. Até que em algum momento do ano passado surgiram quatro singles de uma vez no YouTube, o que acabou culminando com o álbum Humanz (indicado ao Grammy), o prêmio de melhor Grupo Britânico no Brit Awards) e uma nova turnê mundial.

Estava na expectativa deles serem anunciados no Lollapalooza Brasil 2018, mas o povo da T4F preferiu tomar rumos mais de Rock In Rio para o festival e trazê-los solo pela primeira vez! No Jockey ainda por cima. Nostalgia do Lolla 2013 no ar!

Os ingressos, infelizmente, não esgotaram (talvez a meia da pista normal?), mas acredito que em torno de sete mil pessoas foram ao Jockey Club na chuvosa Sexta-feira da Paixão, com os portões abrindo só uma hora e meia antes da apresentação em função das fortes chuvas que caíram na cidade de São Paulo. Na pista premium, o chão parecia uma piscininha no momento que eu me posicionei para ver o show.

Começando com a rockzuda “M1 A1” até o término com “Demon Days”, foi uma chuva de hitspassando por todos os quatro álbuns da carreira (o mais celebrado, Demon Days, foi o mais lembrado também, com oito músicas), fazendo jus à primeira apresentação em território nacional. Tivemos ainda o single lançado há pouco, “Garage Palace”, a nem lançada ainda “Hollywood” (vem novo álbum por aí?!) e a d-side classuda “Hong Kong” para completar o set.

Detalhe especial para as excelentes participações ao vivo de Peven Everett (principalmente na hiperdançante “Strobelite”) e do sempre foda De La Soul (no hit máximo “Feel Good Inc”), logo após xingar Donald Trump e provocar um “Fora, Temer” generelizado da galera. Vlw, De La Soul! Agora, incrível mesmo foi o Vince Staples, que, mesmo sem dar as caras e ser só uma imagem gravada em “Ascension”, conseguiu incendiar a galera a pular de um jeito que acho que ninguém ao vivo conseguiu. Vem logo para o BR, Vince!

Mas o que certamente esfaqueou todos no coração foram as apresentações dos clipes clássicos das músicas no telão com a banda “original”  (Murdoc, 2D, Noodle e Russel ),  enquanto a banda “da terra” (excelente, mesmo! Parabéns, Brit Awards!) perfomava suas canções para o público em São Paulo. Eu gostaria que “Tomorrow Comes Today” ficasse sendo tocada para sempre para mim… Hahaha!

Enfim, acho que no fim das contas não foi tão flop quando achava que seria em função de ser uma semana pós-Lolla! Os fãs foram, os curiosos foram e tenho a certeza de que valeu mais a pena do que se fosse em um lugar fechado (excluindo o fator chuva!). 2-D, fale para o Damon não fazer que nem fez com o Blur: manda ele voltar sempre para cá, fazendo o favor. Sempre!

Set List: “M1 A1”, “Last Living Souls”, “Rhinestone Eyes”, 2D BB Video, “Tomorrow Comes Today”, “Every Planet We Reach Is Dead”, Murdoc BB Video, “Saturnz Barz”, “19-2000”, “Superfast Jellyfish”, “Ident (”madam”)”, “On Melancholy Hill”, Noodle BB Video, “El Mañana”, “Charger”, “Intro: I Switched My Robot Off”, “Ascension”, “Strobelite”, “Interlude: Elevator Going Up”, “Andromeda”, “Hollywood”, “Garage Palace”, “Punk”, “Stylo”, “Dirty Harry”, “Feel Good Inc”. Bis: “Hong Kong”, “Kids With Guns”, Russel BB Video, “Clint Eastwood”, “Don’t Get Lost In Heaven” e “Demon Days”.