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Floripa Eco Festival 2022

Oito motivos para não perder o festival de música e sustentabilidade que trará 30 atrações e 14 horas de show à capital catarinense

Planet Hemp

Texto por Frederico Di Lullo

Foto: Ronaldo Land (Planet Hemp) e Divulgação (Donavon Frankenreiter)

Se isto for um sonho, não me acorde! No dia 17 de setembro, em Florianópolis, todos os caminhos levam para o Floripa Eco 2022, um festival com mais de 30 atrações, 14 horas de show e três palcos que irão apresentar, entre outras atrações, artistas como Donavon Frankenreiter, Jorge Ben Jor, Planet Hemp, Emicida, Baco Exu do Blues e Criolo. Mesmo que você não tenha motivos para recusar a ida ao Centro de Eventos Luiz Henrique da Silveira, vamos citando logo oito para não deixar de estar lá presente. 

Estreia catarinense

Com a experiência de muitos festivais em Minas Gerais, a Sleepwalkers Entretenimento desembarca em Floripa com um festival que tem tudo para ser inesquecível para as mais de dez mil pessoas que se farão presentes neste próximo sábado. Basta torcer agora para que o Floripa Eco entre de vez no calendário musical de Santa Catarina, trazendo mais opções musicais e de cultura a todos os que apreciam arte e cultura por estes lados do sul do Brasil.

A lendária Canasvieiras

Quem chega aos “quase 30” sabe que o bairro icônico de Florianópolis, localizado na ponta norte da Ilha de Santa Catarina, foi palco dos maiores festivais de rock no estado, os tradicionais e extintos Planeta Atlântida (e ainda um longínquo M2000 lá no começo dos anos 1990, com históricos shows de Helmet e Fito Paez). Com o line-up mais do que interessante do Floripa Eco, os mais antenados poderão fechar os olhos e voltar no tempo, aproveitando do mesmo ar e brisa dos maiores shows que já balançaram Desterro.

Três palcos

Uma estrutura diferenciada, com três palcos, vai agitar a galera presente no Floripa Eco Festival 2022: o Twins Stage, local das grandes apresentações; o Bosque 5S Stage, com diversas atrações catarinenses e o Dance Eco Stage, que promete colocar todos para dançar com a apresentação de mais de dez DJs do país e de fora. Um espaço com gastronomia e galerias de arte também fará parte das mais de 14 horas de festival. É para abraçar, dançar, viver e se apaixonar, sempre curtindo a melhor vibe da ilha.

Donavon Frankenreiter

Diversos gêneros musicais

É soft rock, é rap, é samba, é funk, é eletrônico… A diversidade que urge do atual cenário musical nacional estará presente em mais de trinta atrações. Garantia de que muitos gostos estejam representados.

Planet Hemp de volta

Finalmente Marcelo D2, BNegão, Nobru Pederneiras, Formigão e Pedro Garcia voltam a tocar em solo ilhéu, prometendo fazer um set list recheado de clássicos como “Legalize Já”,  “Queimando Tudo”, “Dig Dig Dig” e “Mantenha o Respeito”, entre muitas outras obras que fazem a cabeça dos fãs da banda. Em tempos sombrios e de esperança crescente, este será, sem sombra de dúvidas, um afago na alma e um convite irrecusável para repensar, refletir, recusar e resistir.

Parcerias de peso no rap

Dentro deste line-up matador, destaca-se também o show Emicida feat Criolo & Rael & Rashid. Será simplesmente um momento histórico de reunião de grandes nomes do rap nacional. Como se não bastasse, haverá mais um concerto múltiplo: Baco Exu do Blues feat Urias & Muse Maya.

Donavon Frankenreiter

O surfista e músico “das antigas” é o headliner desta edição do Eco Floripa. Com mais vinte anos de carreira na mala e apresentações em inúmeros palcos espalhados pelo planeta, chegou a vez da lenda da surf music ser recebida em Floripa. Todo mundo cantará junto sucessos como “Free”, “It Don’t Matter” e “Big Wave”.

Lixo zero

O festival adotará medidas de lixo zero, reduzindo o uso de embalagens de uso único e trabalhando pela neutralização de carbono do evento. Também haverá intervenções artísticas neste sentido e uma feira de produtos sustentáveis. Afinal de contas, cultura, diversão e sustentabilidade não podem mais andar separadamente.

Music

Against Me! – ao vivo

Extenso set list e um largo sorriso estampado no rosto de Laura Jane Grace marcam a estreia da banda em solo brasileiro

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Texto por Abonico R. Smith

Foto de iaskara

Ela não entendia muita coisa do que a plateia gritava em português ao final de quase todas as músicas que a banda tocava, mas captou a mensagem e também mandou o seu recado, ao microfone, contra a nova onda de fascismo que varre o mundo, em especial o Brasil nos dias atuais. Foi o que bastou para o salão de shows do Jokers, lotado, explodir em êxtase já quase no final do show. Era a coroação de uma noite de glórias, tão esperada havia anos por muitos fãs brasileiros.

Naquela noite de 19 de outubro de 2018 estreavam, tardiamente, Laura Jane Grace e seu Against Me! em solo brasileiro. Depois de mais de vinte anos da formação da banda e do lançamento de sete álbuns, o quarteto, enfim, realizava em Curitiba seu primeiro show no país, abrindo uma turnê brasileira que incluiria passagens em outras duas capitais (São Paulo e Natal) e marcava também o lançamento da edição nacional de sua autobiografia Tranny – Confissões da Anarquista Mais Infame e Vendida do Punk Rock. E claro que tudo isso seria uma noite bastante politizada.

O Against Me! transformou-se em sinônimo de banda política com o passar dessas duas últimas décadas. Não a política partidária ou econômica. Mas a política das coisas pequenas e cotidianas, do comportamento, da sexualidade, do rock’n’roll, do contestamento ao que já está estabelecido. Por isso, Laura Jane Grace é tão reverenciada. Seja pelas letras repletas de sarcasmo e ironia, incluindo um certo tom jocoso de autodepreciação – que sempre funciona para captar a identificação do público. Seja pelas melodias pegajosas, que ajudam a grudar as suas letras no cérebro e fazem todo mundo cantar junto com ela a hora que for. Seja pela questão de gênero, que envolve uma recente transição sexual. Seja pelas atitudes fora dos palcos, que colocam-na como uma das grandes expoentes da música LGBT mundial. Por isso, a turma do #EleNão entoava gritos contra um certo capitão. Aquela noite também era de protesto.

A celebração ficou por contato do extenso repertório, elaborada especialmente pela banda para sanar a sua ausência até então dos palcos brasileiros. Talvez por isso tenha havido a opção de resgatar, de modo equilibrado, as três distintas fases do Against Me!. Das 26 músicas pinçadas para o set list da noite no Jokers, quase metade representavam os três primeiros álbuns, lançados entre 2002 e 2005, quando a banda iniciava seus passos no circuito do punk rock americano com canções mais juvenis, urgentes, diretas e barulhentas. Da fase que representou o período de contrato por uma grande gravadora (com dois álbuns produzidos por Butch Vig entre 2007 e 2010, singles nas paradas de sucesso, números musicais em cultuados programas de entrevistas e humor na TV, presença no topo das listas dos melhores discos do ano), um belo recheio de sete músicas. Da fase em que Tom Gabel deixou de existir para dar lugar a Laura Jane Grace (mais dois discos entre 2014 e 2016, sendo o primeiro o essencial Transgender Dysphoria Blues, no qual o conceito é justamente a disforia de identidade de gênero da vocalista), outras sete. Então fã nenhum pode sair reclamando. Teve para todos os gostos, teve para todas as fases.

Um show do quarteto também significa que as músicas falam por elas mesmas. Daí a opção de Laura por falar bem pouco entre as canções. Era uma pancadaria atrás da outra. Quase sem interrupção, com uma banda afiadíssima, contando com o esperado retorno do baixista Andrew Seward, que passou os últimos cinco anos tocando outros negócios, e o novo baterista Atom Willard, nome experiente do rock alternativo, que encaixou-se como uma luva na engrenagem motora do ritmo do Against Me!.

Então, por quase duas horas, a plateia curitibana foi levada à loucura. Do início arrasador (com a dobradinha “FuckMyLife666” e “Transgender Dysphoria Blues”) ao final do set, com uma série de clássicos enfileirados (“I Was A Teenage Antichrist”, “The Ocean”, “Dead Friend”, “333”, “True Trans Soul Rebel” e “Black Me Out”) foi um festival de punhos erguidos no ar, coro em uníssono durante todas as letras e stage divings celebradíssimos – em especial o de uma garota de apenas dez anos de idade, fanática pela banda e levada pelos pais também fãs assumidos. Ainda deu tempo para um bis longo fuçar o repertório da primeira fase do grupo e entregar canções não tão óbvias como um presente especial para quem esperou por tanto tempo.

Na letra de “True Trans Soul Rebel”, Laura pergunta se Deus abençoaria seu coração transexual. Deus é amor, alegria e energia. E ele, com certeza, estava presente junto aquelas pessoas que se espremiam cantando tudo em alto e bom som no Jokers. Um belo e largo sorriso, estampado em seu rosto frequentemente coberto pelos longos cabelos, entregava o estado de espírito da vocalista. Uma verdadeira alma trans rebelde. Rebelde e muito feliz no Brasil.

Set list: “FuckMyLife666”, “Transgender Dysphoria Blues”, “Pints Of Guinness Make You Strong”, “Cliché Guevara”, “Rice And Bread”, “Pretty Girls (The Mover)”, “Miami”, “From Her Lips To God’s Ears (The Energizer)”, “New Wave”, “Piss And Vinegar”, “Ache With Me”, “Haunting, Haunted, Haunts”, “Walking Is Still Honest”, “Those Anarcho Punks Are Mysterious…”, “Animal”, “Americans Abroad”, “I Was A Teenage Antichrist”, “The Ocean”, “Dead Friend”, “333”, “True Trans Soul Rebel” e “Black Me Out”. Bis: “Joy”, “Baby, I’m An Antichrist!”, “We Laugh At Danger (And Break All The Rules)” e “Sink, Florida, Sink”.