Music, Series, TV

Amor e Música

Série ficcional da Netflix conta a história da vida de Fito Paez, um dos maiores nomes do rock argentino

Texto por Frederico Di Lullo

Foto: Netflix/Divulgação

Se El Amor Después del Amor é o disco argentino mais vendido da história, a série homônima argentina, que recebeu por aqui a tosca tradução de Amor e Música, caminha a passos apressados para se tornar a ficção roqueira mais assistida da Argentina. E isso não seria nem um pouco estranho. Afinal de contas, há muito mainstream para uma história baseada em humildade.

Se você não está muito ligado no que eu acabei de falar, saiba que estamos falando da história de vida do gênio Fito Paez. A Netflix lançou recentemente sua cinebiografia, que envolve de sua infância até o lançamento do já citado El Amor Después del Amor (1992), ápice transcendental da carreira do músico. Em linhas gerais, a série é cativante, envolvente e por vezes viciante, o que a torna algo difícil e largar, como acontece geralmente com grandes canções.

Duas cores. Duas histórias. Duas linhas temporais que, como paradigma, formam apenas uma história que vai sendo contada sem ordem cronológica, mas que faz total sentido no final. Se por um lado temos o Fito jovem, aquele que pouco antes de ser maior de idade já despontava como um talento para a música, herdando o talento da mãe, por outro temos o Fito criança, que sofre como todo qualquer jovem uma educação baseada nos valores dos anos 1960.

Duas histórias. O certo e o errado. Ditadura e democracia. Desde o primeiro episódio temos essa dualidade, que se funde numa simbiose para apresentar boa parte do que fez o Fito, aquele rapaz magro do interior da Argentina, ser um dos maiores (senão o maior) artista de sua geração. As histórias, a da infância do artista e a de sua carreira como músico profissional, são moldadas também em vínculos. Sua família é um estranho alicerce sempre presente em sua vida, mesmo sem um sentimento cativo latente. Mas é emocionante. Principalmente a relação que Fito detém com o seu pai durante toda a vida. Não é à toa que os dois vão se chamar Rodolfo Paez. E a carreira musical, entre promoções e golpes, é uma verdadeira aventura.

Duas histórias. Duas cidades. Enquanto na pacata Rosário Fito era uma criança sem muita vontade, sem muita emoção, é na efervescente Buenos Aires dos anos 1980 que tudo acontece e nocauteia uma vez e outra o grande artista, com uma crescente cena musical baseada no rock. E, sim, ele começa a andar entre os seus heróis, como “El Flaco” Spinetta e Charly García, numa narrativa que preserva fielmente tudo o que aconteceu. Pode parecer mentira, mas aconteceu e foi real.

Luke Skywalker e Darth Vader. Harry Potter e Voldemort. O bem e o mal. No final, o bem vence o mal e tudo fica em paz na vida de Fito Paez, num desenlace atônito que envolve tudo de ruim e estranho que possa acontecer com alguém. Viagens, lugares, cenas perdidas e um ecossistema propício de recomeço, voltando na última cena da série diretamente para a primeira cena e que não gera dúvidas: o amor depois do amor talvez se pareça com um raio de sol.

Books, Comics, Series, TV

The Sandman

Cultuada graphic novel de Neil Gaiman é transformada em série para o streaming pelas mãos de seu próprio criador

Texto por Taís Zago

Foto: Netflix/Divulgação

Considerada “inadaptável’’, The Sandman (Reino Unido, 2022) , o carro-chefe das produções de Neil Gaiman para a DC Comics/Vertigo, ficou guardada na gaveta e nos desejos de fãs, roteiristas e diretores de cinema e TV por quase três décadas. Ninguém parecia querer assumir o risco de desfigurar uma das grandes obras-primas do universo sombrio das graphic novels. Então, eis que o próprio Gaiman resolveu arregaçar as mangas e tomar para si a tarefa árdua de transformar o mundo fantástico e mitológico de seu Morpheus em uma série para o canal de streaming Netflix. 

A obra de base em questão é extensa: são 13 volumes, sendo um para cada arco da história, onde foram agrupadas as 75 edições de Sandman. O mundo do senhor dos sonhos de Gaiman é multifacetado e multidimensional. Nele não faltam representações oníricas, filosóficas, religiosas, reflexivas e referências culturais da época em que foram publicados os quadrinhos originais – entre janeiro de 1989 e março de 1996. Posteriormente se juntaram a essa lista uma edição especial e alguns contos também publicados pelo Vertigo, o selo “adulto” da DC. O estrondoso sucesso de The Sandman, que elevou Gaiman ao olimpo dos autores do gênero, também fez com que até hoje ainda sejam (re)publicadas compilações, algumas bastante luxuosas, da coleção. A base de admiradores deo artista só aumentou com o passar dos anos. 

A primeira temporada teve a difícil tarefa de sintetizar em apenas dez episódios os dois primeiros volumes compilados da saga, os quais reúnem as 16 primeiras edições da HQ, chamados Prelúdios e Noturnos Casa de Bonecas. Talvez aqui já comece a dificuldade para os não iniciados na obra do autor, pois engloba uma grande diversidade de temas, personagens, épocas e tramas relacionadas. Porém, bem antes de se aventurar nessa sua nova empreitada televisiva, Gaiman viu algumas de suas publicações virarem filmes, uns menos e outros mais bem sucedidos, como foi o caso da animação Coraline, de 2009, baseada no livro de mesmo nome. Mas foi somente há cinco anos, com American Gods, que Neil se rendeu às possibilidades de produção, longa duração e liberdade de criação que os grandões do streaming podem oferecer. Satisfeito com o resultado e o sucesso de público, ele voltou a emplacar mais um hit com Good Omens, de 2019. Ambas as séries estão disponíveis no canal Amazon Prime.

Para o papel de Morpheus em The Sandman foi escalado o ator britânico Tom Sturridge, conhecido pela série Sweetbitter (2019) e filmes como Velvet Buzzsaw (2019). Tom recebeu críticas pelo seu trabalho, inclusive diretamente de Gaiman que pediu para que ele fosse “menos Batman” na sua entrega. Não é uma atuação perfeita, admito, mas é o mais próximo que já vi do personagem dos quadrinhos – lembrando que já houve outra tentativa em representar o papel, como no curta Sandman: 24 Hour Diner (2017), onde o mestre dos sonhos recebe um tratamento caricato e pouco convincente, em parte pela péssima qualidade do resultado na procura por mimetizar a imagem dos quadrinhos. Isso não ocorre com Tom. Naturalmente magro e pálido, sua figura esguia foi reforçada com a ajuda de filtros, seus cabelos são desalinhados sem parecerem uma peruca exagerada, seus olhos não são representados como duas bolinhas de gude de turmalina negra. O Sandman de Gaiman foi inspirado no músico Robert Smith, vocalista do Cure:  tem um estilo claramente gótico e um temperamento depressivo, desconectado e entediado, típico de rockstars. Tom representa isso e vai além. Ainda consegue incluir um pouco mais de dor nos gestos, de dúvida nas atitudes e de humildade diante do que não compreende. O Sandman dos quadrinhos é torturado por sua quase total incompreensão do significado de humanidade. Um ser superior que constrói e destrói universos, mas que começa a perceber qual a real dinâmica de poder em sua existência. 

Assim como seus irmãos, os “Perpétuos” (The Endless, no original em inglês), ele compartilha da letra D como inicial: ele é Dream, o Sonho. Os outros se chamam Death, Despair, Desire, Dellirium, Destiny e Destruction. Nessa primeira temporada, conhecemos apenas Death, muito bem incorporada pela atriz Kirby Howell-Baptiste (de Killing Eve), e os gêmeos Despair e Desire, esse último brilhantemente interpretado por Mason Alexander Park (de Cowboy Bebop). Outras muitas criaturas míticas e personagens surgem representadas pelo estrelato hollywoodiano, como Gwendoline Christie (de Game Of Thrones) no papel de Lucifer; Boyd Holbrook (In The Shadow Of The Moon) como Corinthian; o corvo Matthew, feito pelo comediante Patton Oswalt; Stephen Fry, sensacional como Gilbert; Mark Hamill (o eterno Luke Skywalker de Star Wars) como Mervyn Pumpkinhead; ou David Thewlis (Zack Snyder: Justice League) como John Dee. Menção honrosa aqui vai para o multitalentoso John Cameron Mitchell (Hedwig and the Angry Inch), no papel do dono de pensão/drag queen Hal Carter, que nos presenteia com um show de performance nos seus números musicais.

 Neil Gaiman acompanhou a produção com olhos de águia. Envolveu-se em todas as etapas, quer fosse como criador, roteirista ou produtor. E isso é bastante perceptível na fidelidade das representações e dos diálogos. Por vários momentos me vi gritando de contentamento, falando com a TV ou aplaudindo (de pé!). Episódios como 24/7, o quinto da temporada, foram adaptados quase que exatamente como eu tinha em mente. Aos poucos o medo de que uma paixão fosse destruída se dissipa conforme avançamos nos capítulos. Gaiman protegeu a sua visão até onde teve poder para tanto, e conseguiu isso sem abdicar de um aumento da representatividade no elenco como a contratação do artista não-binárie Mason Alexander Park para o papel de Desire e a inclusão de atores pretos e pardos como Sandra James-Young no papel de Unity Kinkaid e Vanesu Samunyai como Rose Walker. 

Gaiman também alterou para o feminino personagens que eram, até então, masculinos – Vivienne Acheampong (The Witches) assumiu como Lucienne e Jenna Coleman (The Serpent) como Johanna Constantine. Na obra original, o braço-direito de Morpheus era o bibliotecário Lucien, uma espécie de conselheiro e voz da consciência de seu chefe. Na série, Vivienne incorpora perfeitamente o papel e ainda dá a ele um pouco de sabedoria maternal (uma acertada decisão!). Infelizmente, o mesmo não ocorre com o papel dado a Jenna. Por questões legais, o personagem John Constantine não foi autorizado a fazer parte da série. Como peça fundamental da trama, não poderia ser omitido. A solução encontrada por Gaiman foi, portanto, criar um novo personagem, desta vez feminino. Mas o resultado da decisão ficou muito aquém das expectativas. John Constantine não é apenas um coadjuvante em The Sandman, ele tem seu próprio universo nos quadrinhos Hellblazer (DC Comics/Vertigo), criado por outro gigante da arte sequencial, Alan Moore. Jenna Coleman não conseguiu arranhar nem a superfície de Constantine com sua interpretação, que pouco se difere do trabalho que fez em Victoria, sobre a rainha inglesa. John é uma alma perdida, ora conman ora altruísta. Sua marca registrada é o constante sarcasmo por meio de um humor cáustico e tremendamente autodepreciativo. Constantine está além dos códigos morais ou aspectos pequeno-burgueses da vida em sociedade. Fuma vários maços de cigarro por dia, usa drogas e é alcoólatra. É um punk bruxo que usa sempre o mesmo trenchcoat encardido, dorme onde consegue um pouso e que viaja entre planos e entre lençóis. É um andarilho dos mundos sobrenaturais. Um niilista nato. A Johanna de Coleman mais parece uma colegial ao estilo Sabrina, é uma punk de butique. 

O tratamento visual dado é quase sempre bastante convincente, levando em conta a atualização dos fatos e tecnologias para o ano 2022 e o imenso budget do projeto. Aqui deixo registrada uma pequena crítica ao abuso de CGI onde outras soluções mais “analógicas” talvez surtissem melhor resultado. Não perdendo de vista, claro, a imensa dificuldade técnica de transpor o mundo fantástico dos sonhos, muitas vezes lisérgico e abstrato, que define os quadrinhos. Apesar disso, o resultado é satisfatório e não deve decepcionar os fãs. Outro ponto de crítica seria a eventual heterogeneidade da temporada, mas nesse ponto é importante lembrar que ela engloba dois arcos distintos da narrativa e em cada arco ainda existem jornadas diferentes, que, à primeira vista, parecem não estar conectadas. A ideia, a princípio, é que venham outras temporadas da série para que possamos ligar alguns pontos no grande quebra-cabeça que aqui foi criado.

The Sandman é uma série feita com amor e sob medida para os fãs da obra de Neil Gaiman. Seria impossível omitir esse fato, o que não exclui de forma alguma o alcance para um público muito maior. O único pré-requisito exigido aqui é permitir-se sonhar.

Movies

Star Wars: A Ascensão Skywalker

Com direção de JJ Abrams, nono filme encerra a saga criada há mais de quatro décadas por George Lucas

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Textos por Carlos Eduardo Lima (Célula Pop) e Flávio St Jayme (Pausa Dramática)

Fotos: Disney/Divulgação

O último longa de Star Wars, o derradeiro capítulo, o fecho, o encerramento, aquele filme que chega com todas as respostas, soluções e explicações é … mais ou menos. Triste dizer isso, mas qualquer admirador da história criada por George Lucas precisa fazer uma ginástica cognitiva para poder embarcar na proposta de “Ascensão”. Do contrário, ficará buscando explicações e entendimentos ao longo das mais de duas horas de projeção e então será pior. Vai constatar o raso de alguns personagens, o ritmo frenético da narrativa. Enfim, vai sair do cinema com gosto de cabo de guarda-chuva na boca.

Com JJ Abrams de volta à direção, o filme tem a árdua missão de explicar as pontas soltas dos seus dois antecessores (O Despertar da Força e Os Últimos Jedi) tendo em vista que, assim como eles, precisa ter alguma semelhança com os longas da primeira trilogia (A Nova Esperança, O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi). Até aí, no quesito “livre interpretação da dinâmica e detalhes” destes primeiros longas, Star Wars: A Ascensão Skywalker (Star Wars: Episode IX – The Rise Of Skywalker, EUA, 2019 – Disney) até cumpre seu propósito. O problema maior e definitivo do roteiro é a proposição feita nos primeiros minutos, que se vale de um detalhe no uso da Força, para ser viável. Se você aceitar “de boas” essa proposta, verá o filme com relativo conforto. Do contrário, viverá um crescente desconforto até o fim.

Outro problema é a quase anulação do que aconteceu no ótimo Os Últimos Jedi, quando a Resistência foi reduzida a um punhado de gente e apenas a Millenium Falcon. Aqui tudo começa com os rebeldes organizados, operantes e capazes de receber informações sobre uma nova armada que estaria se incorporando à Primeira Ordem. A partir daí, tem início um verdadeiro rocambole de eventos em velocidade altíssima, quase sem tempo para que possamos perceber o que está acontecendo. O filme se vale da mesma esquizofrenia de efeitos especiais da segunda trilogia, quase sem tempo para o espectador respirar. São cidades, planetas, personagens, subpersonagens, tramas e subtramas que vão correndo em paralelo, dentro de uma caçada a um artefato que pode revelar a origem da tal armada de naves. É tudo mal explicado e rápido demais.

Fica difícil acreditar em algumas soluções que vão surgindo ao longo do caminho, como, por exemplo, a chegada de Lando Calrissian à trama, um personagem importante e clássico, reduzido aqui a quase nada. Também é irritante a ginástica que é feita nos escalões da Primeira Ordem para que possamos entender um dos fios condutores da narrativa. E o grupo de heróis se mostra duro de engolir. Afinal de contas, algo está errado quando as melhores falas até quase a metade do filme são de C-3PO, transformado numa criatura com humor peculiar e aproveitado como um bom alívio cômico diante da pouca capacidade de Poe Dameron (Oscar Isaac) e Finn (John Boyega) de renderem cenas mais dramáticas. Os dois heróis são rasos, uma pena.

Mas, e Rey? E Kylo Ren? Bem, eles estão lá. Ela, fortíssima; ele, atormentadíssimo. Vão se comunicar pela Força ao longo da narrativa, vão se enfrentar em bons duelos de sabre de luz em todos os cantos e farão o que muitos esperam que eles façam, lá pro fim das contas, com um triste e desnecessário bônus melodramático. Neste espaço de tempo, aparições banais de Han Solo e Luke Skywalker irão turbinar alguns momentos, sem falar no malabarismo de montagem e inserção das cenas com Leia, uma vez que Carrie Fisher não estava mais presente nas filmagens.

Como filme de ação, A Ascensão Skywalker é ok, no mesmo sentido que um filme de ação em 2019 precisa ser esquizofrênico em sua montagem e roteiro. Como fecho de todas as trilogias, ele é feito para um público específico, criado e gestado nos últimos anos, que frequenta o parque de Star Wars na Disney e que não tem a ideia real da magia grandiosa da primeira trilogia. Aliás, se a série imaginada por George Lucas tem, de fato, algum feito para o cinema, ele está em algum ponto entre o meio de O Império Contra-Ataca e o fim de O Retorno de Jedi. Ali, sim, George Lucas, sem Disney por perto, marcou seu nome na história do Cinema. O resto está abaixo e precisamos conviver com isso. (CEL)

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Faz quatro anos que JJ Abrams trouxe o universo de Star Wars de volta ao mundo dos vivos. Trinta e oito anos depois da estreia do primeiro filme, o diretor provou que, sim, a saga ainda é uma força a ser reconhecida (com o perdão do trocadilho). Agora, em 2019, o mesmo diretor encerra a nova trilogia e uma saga que durou mais de quatro décadas e teve nove filmes e mais dois spin-offs. Abrams consegue, ao mesmo tempo, manter tudo que o público ama em Star Wars e modernizar as histórias e seus personagens. E A Ascensão Skywalker (Star Wars: Episode IX – The Rise Of Skywalker, EUA, 2019 – Disney) comprova isso de forma magistral.

Os novos personagens, apresentados em 2015 no Episódio VII (O Despertar da Força), são as peças principais da nova história. Rey, Poe, Finn, BB-8 e Kylo Ren são o centro das atenções e personagens-chave em longas sobre tradição, família e amizade. Aos poucos, vemos relações sendo construídas e destruídas, vamos nos despedindo de personagens conhecidos e amados e conhecendo este novo grupo de amigos.

E chegou a hora de nos despedirmos de todos eles. E QUE DESPEDIDA! JJ Abrams constrói um dos melhores filmes de todos os nove, entregando emoção, comédia e ação na medida certa. Vemos cada um dos personagens tomar o seu lugar naquela saga que amamos há tanto tempo. Vemos a importância dos novos e dos antigos protagonistas. Aprendemos com eles e nos emocionamos a cada adeus.

Abraçando a representatividade, o diretor coloca como maior protagonista desta história uma mulher: Rey, que entrará em conflito e terá seu passado enfim revelado. Mas vai além. Seus protagonistas são negros, latinos. Numa história que mistura diferentes espécies de seres vivos, por que não mostrar toda a diferença dos seres humanos em seus personagens?

A Ascensão Skywalker encerra a saga de Luke, Leia, Rey, Finn, Poe, Ben e Han Solo de forma épica e bem construída, com uma história relativamente simples e repleta de emoções. Um filme incrível para nenhum fã de Star Wars botar defeito. Uma despedida agridoce, que mostra como vamos sentir saudades destes personagens que fazem parte da nossa vida e da nossa cultura. J.J. Abrams se provou mais uma vez um dos melhores contadores de histórias da atualidade e conseguiu reavivar e manter um dos maiores fenômenos da cultura pop, mesmo mais de 40 anos depois de sua criação pela mente de George Lucas.

Ao final do filme, a grande pergunta que fica é se estamos preparados para dar adeus. (FSJ)

Movies

Star Wars: Os Últimos Jedi

Recheado de humor e autorreferências, novo longa da saga responde a muitas perguntas abertas no episódio anterior e ainda traz algumas surpresas para os fãs

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Texto por Carlos Eduardo Lima

Foto: Disney/Buena Vista/Divulgação

Este ano completamos o 40º aniversário do primeiro longa da série Star Wars, o episódio IV, que hoje leva o subtítulo de Uma Nova Esperança. Ninguém poderia imaginar que os personagens deste primeiro filme se transformariam em ícones da cultura pop e que sobreviveriam tanto tempo. Não só sobreviveram como tornaram-se mais emblemáticos à medida que o tempo foi passando. Muito tempo e muito dinheiro depois, estamos no oitavo – descontando o mediano spin-off Rogue One, de 2016, e o obscuro Caravana da Coragem, de 1987 – que fazem menção ao universo criado por George Lucas e recentemente amplificado e turbinado pela Disney. Sendo assim, com a responsa de levar a saga adiante e reinventá-la para as plateias de 2017, temos o Episódio VIII agora nos cinemas, Star Wars: Os Últimos Jedi (Star Wars: The Last Jedi, EUA, 2017 – Disney/Buena Vista).

Como estou supondo que você, leitor, está aqui porque já tem familiaridade mínima com personagens e história, não me deterei em explicar nada que já não seja do conhecimento de todos. Este novo longa parte em busca de respostas para as perguntas deixadas no capítulo anterior: Quem é Rey? Luke vai treiná-la nas artes da Força? A Resistência vai, bem, resistir? E Kylo Ren? Tem algo de bom ainda em seu âmago? E os personagens apresentados recentemente (Finn, Poe e cia) como estão? E o tal Supremo Líder Snoke? A boa notícia é que a maioria esmagadora delas é respondida e a trama é colocada numa esteira de atualização/inovação que dá, de fato, cara nova a velhos mitos. Mesmo assim, não há como negar a presença de algo que já habitava o episódio anterior: a autorreferência. Parece que estes novos capítulos da saga foram concebidos tendo os filmes clássicos como parâmetro. Sendo assim, cabe a Os Últimos Jedi repetir e revisitar passagens de O Império Contra-Ataca e é exatamente o que acontece.

Está tudo aqui: a tentação pelo lado negro da Força, as reviravoltas, referências explícitas a combates do passado, como o combate entre os andadores da Primeira Ordem e os veículos da Resistência ou as batalhas espaciais entre cruzadores e destroyers, além, claro, das escaramuças entre Tie Fighters e X-Wings. Mesmo em meio a tanta autorreferência, há espaço para novidades. Tem mais humor neste longa, de um jeito como nunca se viu na saga. Também tem muitos bichinhos adoráveis, talvez até em excesso, que fornecem, junto com os robôs, o alívio cômico necessário e já esperado. Tem a presença de Carrie Fisher, vivendo sua imortal Princesa Leia, com a autoridade máxima dentro deste universo. Tem Mark Hamill, oferecendo um Luke envelhecido e desiludido com seu destino materializado. E tem as ótimas atuações de Daisy Ridley e, especialmente, de Adam Driver, que faz seu Kylo Ren evoluir do estado “emo” do filme anterior para um moleque maligno sem escrúpulos ou qualquer sombra de caráter – ainda que permaneça algo muito misterioso sobre sua verdadeira natureza, que, certamente ficará para o próximo filme.

A trama tem alguns arcos desnecessários, como o que introduz o hacker DJ (Benício Del Toro), algo que poderia ser evitado. Tem a chegada de uma nova e adorável personagem, Rose (Kelly Marie Tran), que tem fôlego suficiente para tornar-se integrante do primeiro time. E tem a volta de gente querida dos filmes clássicos, que aparecem mais ou menos tempo na telona, provocando reações do publico. O roteiro apresenta alguns problemas, especialmente no meio do filme, quando perde o fôlego, mas o recupera bravamente no terço final, chegando a promover algumas cenas que arrancaram aplausos no cinema. Há ainda surpresas genuínas e um final pra lá de coerente, que fez este velho fã ficar arrepiado nas bochechas e na nuca.

Os Últimos Jedi é bom divertimento, bem dirigido e roteirizado por Rian Johnson. É um filme bom, digno de levar o selo Star Wars. Ainda que, repito, a autorreferência ao passado seja excessiva em alguns momentos, a recomendação é a de vê-lo mais de uma vez na telona.