Arts, Movies, Poetry

Vermelho Monet

Autor de Cine Holliúdy assina um drama sobre o mercado das artes com intensa paleta de cores e versos furiosos de Florbela Espanca

Texto por Abonico Smith

Foto: Pandora Filmes/Divulgação

Vermelho é a cor mais quente. Pelo menos para o pintor português Johannes Van Almeida, fã confesso do tom incandescente dos entardeceres dos quadros assinados pelo impressionista francês Claude Monet. Vermelho é justamente a área do círculo cromático que ele procura preservar em sua memória desde que uma doença degenerativa passou a, progressivamente, tomar o que ainda lhe resta da visão. Sua esposa (e igualmente pintora) Adele é ruiva, tem sardas e usa e abusa da cor vermelha em seu figurino. Johannes é eternamente apaixonado por ela e é também o seu cuidador depois que a evolução do mal de Alzheimer abrevou sua carreira e lhe impôs grandes limitações de fala e movimento. Por isso, Almeida é mestre em pintar figuras femininas e abusar deliciosamente da matiz simbolizada pelo fogo.

É em torno desta relação intensa de paixão e sofrimento de Johannes (Chico Díaz) que gira a história de Vermelho Monet (Brasil/Portugal, 2024 – Pandora Filmes), criada por Halder Gomes. Agora o cearense (diretor e roteirista mais conhecido pelas comédias escrachadas como Cine Holliúdy 1 e 2, O Shaolin do Sertão e Os Parças) se lança em um drama que gira em torno do mundo criativo e comercial das artes plásticas. Aliás, é também uma declaração de amor do cineasta à pintura, misto de paixão “secreta” e hobby seu.

Enquanto cuida de Adele (Gracinda Nave), Johannes sofre em busca de uma grande inspiração para continuar pintando enquanto ainda lhe resta o puco de visão e a memória dela (repetindo exatamente o que enfrentara Monet no final de sua vida). Ele nunca fora reconhecido na área. Aliás, a fama ele conquistou, mas como falsificador de pinturas antigas com rosto feminino. Recém-saído da prisão, onde ficou cumprindo um tempo de reclusão por isso, ele volta às ruas, praças e parques de Lisboa nos passeios diários com a esposa até se deparar com a encantadora figura da atriz brasileira Florence Lizz (Samantha Heck, iniciante no cinema e mais conhecida do público nerd por ter feito a personagem Sheila na propaganda de TV com os personagens do mítico desenho animado Caverna do Dragão em live action). Fica obcecado pela jovem ruiva, a ponto de pintar com intensidade inspirado por um painel de colagem de fotos de jornais e revistas da nova musa e desejar a sua presença como modelo no ateliê. O pintor quer, enfim, provar que pode ter o seu talento autoral reconhecido.

Quem faz a ponte entre os dois acaba sendo a inescrupulosa marchand Antoinette Léfèvre (Maria Fernanda Cândido), figura poderosa do mundo europeu das artes, com altas conexões com milionários e colecionadores e leiloeiros de Paris e Londres. Dona de uma galeria respeitada na capital portuguesa, ela lida com a sedução sexual da ninfeta brasileira enquanto luta para manter o domínio psicológico diante de Johannes, deixando-o no underground à base das falsificações que lhe rendem milhões. É na manipulação de ambos que Antoinette injeta boas doses de suspense na trama.

Enquanto isso, Adele e Florence se reconhecem uma na outra. A primeira vê a jovem naquele lugar de desejo ao qual já pertencera. A segunda vê na esposa de Almeida uma alma boa e que teve a trajetória interrompida injustamente por algo maior, a doença – tudo o que a atriz deseja em Lisboa é superar suas limitações de novata na dramaturgia e convencer o arrogante diretor do filme que está rodando de que é capaz e foi a escolha certa dos produtores para interpretar a protagonista. O longa no qual a ruivinha trabalha gira em torno da vida e da obra de Florbela Espanca, um dos maiores nomes da poesia portuguesa de todos os tempos ao lado de Fernando Pessoa. É justamente no universo dos versos de Florbela, repletos de fúria, paixão, intensidade e desejos (tal qual o rubro dos quadros de Monet), que as duas se encontram. Os textos que decora para os ensaios das cenas que rodará é a área de Florence. Já a de Adele está nos pensamentos, sempre ouvidos em voice over por meio da estupenda interpretação de Gracinda.

Florbela também é citada em uma sensacional versão fadística de “Fanatismo”, poema musicado pelo também cearense Raimundo Fagner e gravado em seu álbum Traduzir-se, de 1981. Além da trilha sonora, que traz uma metalinguística “Hot Stuff” (hit de Donna Summer) em um baile à fantasia que cita quadros de outros pintores como Matisse e Van Gogh), Vermelho Monet também impacta pela exuberante fotografia com o uso delicado de luz e sombras e uma paleta que realça a exuberância do vermelho, muitas vezes em contraste com o azul. Aliás, este duelo entre as duas cores se explica em um dos momentos mais interessantes dos diálogos criados por Halder.

E claro que mesmo em um filme dramático não poderia faltar um pouco do humor peculiar do cineasta. Aqui ele se manifesta nas considerações ditas pela trinca principal de personagens a respeito de como realmente funciona o mercado das artes e do que muita gente pensa a respeito dele. Não gargalhe se conseguir.

Music

Sepultura – ao vivo

Grandiosidade da turnê de despedida e de comemoração dos 40 anos da mais famosa banda de metal do Brasil deixa Curitiba em êxtase

Texto e fotos por Rodrigo Juste Duarte

O Sepultura tem vários shows históricos em sua trajetória. Só em Curitiba podemos citar quatro ocasiões: o de 1994, na Pedreira Paulo Leminski, com Ramones, Raimundos e Viper; o de 1999, quando a banda lotou o Studio 1250 em uma das primeiras apresentações com Derrick Green nos vocais (muita gente aguardava com curiosidade para conferir a nova formação ao vivo!); e o de 2006, quando trouxe para a capital paranaense seu próprio evento, o Sepulfest (com abertura de Korzus, Massacration, Sad Theory e Children of Flames). Sem contar quando veio tocar na Ópera de Arame, durante a turnê do álbum Quadra em 2023.

A apresentação que rolou na Live Curitiba na noite de 22 de março deste ano também pode muito bem entrar nessa lista. Aliás, todos os shows que o Sepultura realizou e virá a realizar neste ano e no seguinte são históricos, em qualquer lugar do mundo. Eles fazem parte da tour Celebrating Life Through Death, que comemora os 40 anos de banda ao mesmo tempo que é a despedida do grupo dos palcos. Depois de sete datas iniciais pelo Brasil em março de 2024, a banda seguiu excursionando neste mês de abril por oito países das Américas Central e do Sul. Em setembro, será a vez de São Paulo, com três noites (duas delas já com ingressos esgotados!). Entre outubro e novembro serão 22 na Europa. E ainda vem muito mais por aí!

O horário marcado para começar na Live Curitiba era o das 21 horas, mas o show só teve início cerca de uma hora depois – provavelmente para dar tempo de todo o público entrar na casa, que recebeu mais de 3 mil pessoas naquela noite. A fila praticamente dava a volta na quadra. Enquanto se aguardava o momento de adentrar no recinto, era possível contabilizar mais de uma centena de estampas diferentes do Sepultura nas camisetas usadas pelos fãs: tinha de praticamente todos os álbuns, nas mais diversas fases do grupo (seja no thrash, death ou groove metal), incluindo as opções oficiais comemorativas de 20 e 40 anos de banda, inspiradas nos uniformes da seleção brasileira de futebol, atiçando boas lembranças de quem viveu estes mais diversos momentos. Claro que tinha quem vestisse camisetas de outros inúmeros artistas do rock e do metal, inclusive dos irmãos Cavalera e do Slipknot (seria uma provocação?). Havia até fã com camiseta do Sonic Youth. Mas isso é perfeitamente condizente (continue lendo e você saberá o porquê).

Já dentro da casa, o público aguardava ansiosamente pela subida ao palco de Andreas Kisser (guitarra), Derrick Green (vocais), Paulo Xisto (baixo) e do novo integrante Greyson Nekrutman (bateria), chamado para substituir Eloy Casagrande às pressas, poucos dias antes do início da turnê (leia mais sobre isso aqui). Estavam presentes de bangers de carteirinha a famílias inteiras. De roqueiros veteranos com cabelos ou barbas grisalhas (isso quanto aos que ainda têm cabelo), até jovens de vinte e poucos anos, entre homens e mulheres, de pele clara ou escura, que compunham uma diversidade bonita de se ver, mostrando uma plateia fiel há décadas mas que também passou por renovações. No som mecânico, clássicos do metal animavam o público até a hora de entrar “Polícia”, dos Titãs, em volume mais alto, anunciando que o show começaria. Essa música, que já foi regravada pelo Sepultura, antecede suas apresentações há pelo menos meia década. 

Em seguida veio uma intro com um mix de vários samples usados em músicas de toda a trajetória do Sepultura, até chegar no som da batida de coração de Zyon (filho de Max Cavalera) ainda no ventre materno, que anunciava “Refuse/Resist”, música de abertura que incendiou o público e deu o pontapé inicial em um espetáculo grandioso, Não só pela seleção sonora, mas pelo impacto visual: havia enormes paineis verticais de led (deviam ter 6 metros de altura) de cada lado do palco, além de cubos de led de cerca de 2 metros sobre o palco e outros telões acima e abaixo da bateria (que ficava elevada a uma altura considerável) exibindo imagens criadas para acompanhar cada música, intercaladas com cenas captadas ao vivo lá no show. Uma produção de grande magnitude, digna de uma banda com o cacife do Sepultura.

O repertório seguiu com mais duas de Chaos A.D., um dos álbuns de maior sucesso da banda: “Territory” e “Slave New World”, que mantiveram a adrenalina em alta na plateia. “Phanton Self”, do disco Machine Messiah veio em seguida, comprovando que as músicas mais novas não devem nada às lançadas em seus primeiros anos, quando Max Cavalera estava no grupo. O show foi se alternando entre clássicos e faixas mais recentes. Vieram na sequência: “Dusted”, “Attitude” e “Kairos”. A oitava, “Means To An End”, foi uma das provas de fogo para Greyson Nekrutman, pois se trata de uma música de Quadra, que possui linhas de bateria complexas, compostas por muitas partes. O garoto mandou bem, não somente nesta, mas em todas as demais do repertório.

“Cut-Throat” foi uma das cinco selecionadas do disco Roots, o voo mais alto que o Sepultura já teve em sua carreira. “Guardians Of Earth” veio logo depois, trazendo no telão imagens de povos indígenas brasileiros e de paisagens de seus habitats, tal como no belo videoclipe dirigido pelo curitibano Raul Machado, um dos maiores e mais produtivos “clipmakers” do Brasil. Em “Mind War” (do injustiçado trabalho Roorback) os telões traziam grafismos hipnóticos para acompanhar a música (assim como em “Kairos”, que também ganhou um acompanhamento visual chapante). 

Logo após ouviram-se as sirenes que pareciam ser da música “Born Stuborn”, de Roots, mas na verdade eram de “False”, de Dante XXI, álbum conceitual inspirado na obra literária A Divina Comédia, de Dante Alighieri. “Choke” trouxe lembranças do início da fase Derrick, sendo o primeiro hit de Against, de 1998. A nostalgia foi mais fundo com “Escape To The Void”, única de Schizophrenia, o segundo rebento da banda, que marcou a estreia de Andreas Kisser na formação mineira. 

De repente, os telões exibiam imagens de 1995, do Sepultura gravando com uma tribo xavante. Era o prenúncio de “Kaiowas”, primeira composição com temática indígena da banda. Nesta ocasião, dois sortudos subiram ao palco para tocar percussão e violão em uma verdadeira jam session tribal. Eles foram escolhidos entre o público pela equipe do canal Do Lado Direito do Palco, que acompanhou todos os shows desta primeira perna da turnê. Com certeza foi muito empolgante aos convidados que tiveram essa oportunidade, mas eu destacaria a fã que tocou no show de Porto Alegre (procure pelo vídeo dela no perfil do Instagram do canal, pois sua reação é digna de ilustrar a palavra “emoção” no dicionário).

Algumas pérolas que nem sempre são lembradas ganharam destaque no set, como o hino “Sepulnation”, a hardcore “Biotech Is Godzilla” e a contemplativa “Agony Of Defeat”, que deu um respiro antes dos cinco megaclássicos guardados para o final. “Troops Of Doom”, do álbum de estreia, proporcionou rodas de pogo na pista. O agito continuou intenso com “Inner Self” (introduzida no repertório, corrigindo uma ausência sentida nos primeiros shows da turnê), seguida da brutal “Arise”, um dos melhores exemplos do thrash metal de todos os tempos.

A banda saiu do palco, deu tchau para o público, mas todos sabiam que haveria um bis. Só que em Curitiba já sabemos do comportamento das pessoas em shows, que demoram pra pedir pra banda voltar, ficam moscando por dois ou três minutos… Até que alguém começou a puxar o grito com o nome da banda. Então, o Sepultura retornou para as duas músicas finais, ambas do consagrado Roots. A primeira foi “Ratamahatta”, que colocou todos para pular com palavras em português, como biboca, garagem, e favela, e exaltando nomes como Zé do Caixão, Zumbi e Lampião. 

Por fim, a apresentação encerrou-se magistralmente com “Roots Bloody Roots”, primeiro hit de uma obra revolucionária, que levou uma banda de metal vinda do Brasil a fazer enorme sucesso em todo o planeta, mostrando suas raízes e identidade nacional para o mundo e arriscando sonoridades até então nunca praticada no gênero. Um exemplo são os solos de guitarra justamente desta música “Roots Bloody Roots”, com apenas duas notas e com muita microfonia, deixando clara uma influência da clássica banda indie Sonic Youth, declarada em entrevistas – além de outras referências a artistas dos mais variados estilos, dos quais os músicos do grupo mineiro beberam e absorveram sonoridades diversas de forma rica e criativa. O Sepultura era uma banda que não se prendia às amarras e dogmas do metal, inovou o estilo e continuou muito influente. 

Após o fim da apresentação, a sensação era de êxtase e de satisfação do público presente. Alguns tentavam pegar baquetas, palhetas e set lists distribuídos pela banda e pela equipe de palco. Assim como havia uma música dos Titãs em som mecânico antecedendo os shows dessa turnê, também há uma canção oficial pós-show: “Easy Lover”, de Phill Collins, algo um tanto inesperado para uma banda de metal, mas adequado quando esta banda é o Sepultura, que tem integrantes com gostos bem ecléticos. Assim encerrou-se este que pode ter sido o último (e não menos histórico) concerto do Sepultura em Curitiba.

Set list:  “Refuse/Resist”, “Territory”, “Slave New World”, “Phantom Self”, “Dusted”, “Attitude”, “Kairos”, “Means To An End”, “Cut-Throat”, “Guardians Of Earth”, “Mind War”, “False”, “Choke”, “Escape To The Void”, “Kaiowas”, “Sepulnation”, “Biotech Is Godzilla”, “Agony Of Defeat”, “Troops of Doom”, “Inner Self” e “Arise”. Bis: “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots”.

Music

Milton Nascimento – ao vivo

Bituca se despede dos palcos aos 80 anos de idade em espetáculo que emocionou um Mineirão lotado e outros tantos pelo streaming

Texto por Carlos Eduardo Lima (Célula Pop)

Foto: Globoplay/Reprodução

A aparente fragilidade de Milton Nascimento ao fim de seu último show esconde um detalhe marcante: foi o cantor e compositor carioca/mineiro/universal que escolheu o seu momento de sair dos palcos. Não foi uma fatalidade. Não foi a morte. Claro, alguém mais pragmático dirá – com razão – que Milton já não tem a mesma voz e a mesma força de antes, mas, o fato de sair numa última excursão pelo país – e exterior – com uma ótima banda e um repertório que passa a maior parte de sua carreira a limpo, é, repito, um ato de força e fé. Este concerto no Mineirão lotado é um dos eventos que proporcionam ao espectador comum ver a História acontecendo diante de seus olhos. Não importa se a pessoa esteve lá ou viu a transmissão ao vivo do evento pelo Globoplay. Este 13 de novembro de 2022 foi o dia em que Milton, com 80 anos de idade recém-completados, pisou pela última vez num palco e nada mais pode ser feito ou dito.

Não cabe aqui qualquer crítica à forma vocal de um artista que teve na voz a sua principal marca. Se o registro outrora vigoroso e pungente emocionava a tantos, hoje é a prova de um esforço hercúleo que, se causa estranheza inicial, reveste de emoção inédita uma série de canções que nos acompanham há tempos. Ouvir, por exemplo, “Amor de Índio”, que Milton registrou ao vivo em 1986, em seu álbum A Barca dos Amantes, com a voz atual dá ao conto de amor e vivência uma dimensão além da vida humana, talvez a interpretação mais justa para tal obra. Assim acontece com várias outras canções. “Volver a los 17”, “Morro Velho”, “Tudo que Você Podia Ser”, “Cais”, “Ponta de Areia”, todas passam a ser entoadas por um homem-entidade que parece ter, enfim, testemunhado tudo o que ele mesmo podia ser. E foi.

Milton consegue algo muito sincero e sério na arte de cantar e se apresentar para um público: morrer estando vivo. Sua persona artística faz uma despedida justa, intensa e revestida de sentimento, mas que não tem um traço único de tristeza. É uma saída triunfal, magnânima, generosa, superior. Digna de sua obra.

E, por falar em obra, o show A Última Sessão de Música, em sua última apresentação, trouxe um set list praticamente perfeito. Foi um registro cronológico dos maiores e mais significativos hits da carreira de Milton Nascimento, com espaço para canções pouco lembradas (“Outono”, “Vera Cruz”) mas que fez desfilar colossos como “Maria, Maria”, “Para Lennon e McCartney”, “San Vicente”, “Nos Bailes da Vida”, “Canção da América”. Todos em versões únicas, proporcionadas pelo que Milton é hoje.

Teve espaço para convidados queridos. Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta e Wagner Tiso representaram o núcleo do Clube da Esquina. Samuel Rosa, com quem Milton cantou uma rara versão de “O Trem Azul”, veio como um representante contemporâneo da música de Minas Gerais. Nelson Angelo surgiu para cantar sua canção “Fazenda”. Teve espaço também para um bloco em homenagem à dupla Pena Branca & Xavantinho, marcada pela passagem de “O Cio da Terra” e “Calix Bento”, que formou um belo medley com “Peixinhos do Mar” e “Cuitelinho”.

Para o bis, Milton reservou “Coração de Estudante”, dele e de Wagner Tiso, que voltou ao palco para uma versão piano e voz. Teve ainda “Travessia” e o fecho emocionante com “Encontros e Despedidas”. É digna de nota a presença do vocalista Zé Ibarra ao longo do show, como uma espécie de alívio vocal para os limites de Milton, funcionando de contraponto para as notas altas, que o velho Bituca já não consegue alcançar.

No fim da última sessão de música com Milton Nascimento, o público teve a certeza de ter feito parte de uma celebração rara, delicada, mas forte simultaneamente. É um desses eventos que ainda irão ecoar por muito tempo e que, pleno 2022, nos dão a chance de reencontrar nosso caminho para um Brasil que nos acolhe e com o qual podemos sonhar de olhos abertos.

Obrigado, Bituca.

Set list: “Os Tambores de Minas”, “Ponta de Areia”, “Catavento”, “Canção do Sal”, “Morro Velho”, “Outubro”, “Amor de Índio”, “Vera Cruz”, “Pai Grande”, “Que Bom Amigo”, “Para Lennon e McCartney”, “Um Girassol da Cor de seu Cabelo”, “Cais”, “Tudo que Você Podia Ser”, “San Vicente”, “Clube da Esquina 2”, “Lília”, “Nada Será Como Antes”, “A Última Sessão de Música”, “Fé Cega, Faca Amolada”, “Paula e Bebeto”, “Volver a los 17”, “O Trem Azul”, “Calix Bento”, “Peixinhos do Mar”, “Cuitelinho”, “Canção da América”, “Caçador de Mim”, “Nos Bailes da Vida”, “Tema de Tostão”, “Fazenda”, “Bola de Meia, Bola de Gude” e “Maria, Maria”. Bis: “Coração de Estudante”, “Travessia” e “Encontros e Despedidas”.

Movies

Jean-Luc Godard

Oito filmes do ou sobre o cineasta que se tornou sinônimo de excelência no cinema e um dos ícones da nouvelle vague francesa

Textos por Marden Machado (Cinemarden)

Fotos: Divulgação

Na manhã desta terça-feira, 13 de setembro, o mundo acordou com a notícia da morte de Jean-Luc Godard, um dos nomes que fizeram a nouvelle vague, movimento cinematográfico francês. Roteirista, diretor, editor, também foi critico de cinema antes de iniciar a carreira produzindo a sétima arte. Do lado de trás das câmeras produziu clássicos e se tornou sinônimo de excelência para os cinéfilos de todo o mundo.

Godard não estava doente, mas optou pelo suicídio assistido, prática legal na Suíça, país do qual era descendente, e realizada pela própria pessoa, com assistência de terceiros. Ele tinha 91 anos de idade e, segundo declaração de uma pessoa da família ao jornal francês Libération, encontrava-se muito exausto.

Para homenagear este ícone das telas, o Mondo Bacana seleciona oito filmes importantes. Não são todos assinados por Godard: dois são sobre ele, sua vida e carreira. Desta maneira, pode-se ter um bom panorama de quem foi este gênio do cinema, nem sempre perfeito em sua trajetória pessoal mas com certeza direto e certeiro em sua fase de maior e melhor produção, os anos 1960.

Acossado (1960)

Os franceses Claude Chabrol, Éric Rohmer, François Truffaut, Jacques Rivette e Jean-Luc Godard, antes de se tornarem cineastas, escreviam crítica cinematográfica na revista Cahiers du Cinéma. A transição do “falar sobre” para o “fazer” cinema surgiu de um desafio proposto pelo editor do periódico André Bazin. Já que sabiam tanto de cinema e não estavam satisfeitos com as produções francesas da época, eles deveriam então realizar seus próprios filmes. Todos aceitaram o desafio e nascia aí a nouvelle vague, a “nova onda”, movimento que revolucionou a maneira de contar histórias em imagens e marcou toda uma geração de novos cineastas pelo mundo. Truffaut havia realizado em 1959 seu título de estréia, Os Incompreendidos. No ano seguinte foi a vez de Godard, que dirigiu Acossado a partir de uma idéia sua que Truffaut roteirizou. A trama acompanha a personagem de Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo), um ladrão parisiense fã de Humphrey Bogart. Ele se envolve com uma jovem americana, Patricia (Jean Seberg), que vende jornais na rua. Michel é procurado pela polícia e Patricia o ajuda na fuga. Acossado é um filme difícil de ser classificado. Ele é tão diferente de tudo que era feito na época que pegou a todos de surpresa. Godard procurou “quebrar” as regras estabelecidas e realizou um filme que esbanja criatividade, inovação e originalidade. Um verdadeiro marco na história do cinema mundial.

O Desprezo (1963)

É difícil escrever sobre este filme feito em 1963 por Jean-Luc Godard. Há um pouco de tudo nessa obra marcante. Mas o principal é a declaração de amor ao cinema proposta pelo diretor. De forte teor metalinguístico porém sem se esgotar nessa característica, estamos diante de um filme que discute a criação cinematográfica e a construção da imagem e seus símbolos. Baseado no romance de Alberto Moravia, acompanhamos a crise de um casal em viagem pela Itália. Camille (Brigitte Bardot) é casada com Paul (Michel Piccoli) e acredita que ele não a ama mais. Para resolver a crise e tranquilizá-la, ele, que trabalha como roteirista, aceita uma encomenda para escrever uma nova adaptação de A Odisseia, de Homero. Ao longo da trama, muitas situações e sentimentos vão se misturando. Paralelamente a isso, existem questões relativas à produção do filme dentro do filme. Godard se permite homenagear um de seus diretores favoritos, o alemão Fritz Lang, que participa no papel dele mesmo (e, na tietagem das tietagens, o próprio Godard aparece em cena como assistente de Lang!). Mais fácil do que escrever sobre O Desprezo, é vê-lo e revê-lo diversas vezes. Afinal, trata-se de uma obra ímpar e de uma riqueza narrativa e simbólica que nunca acaba. Pelo contrário, torna-se melhor a cada nova visita.

Bando à Parte (1964)

Este foi o sétimo longa-metragem dirigido pelo francês Jean-Luc Godard. Isso em um intervalo de apenas cinco anos. O que equivale a uma média de mais de um filme por ano, sem incluir aí os curtas e segmentos que ele dirigiu neste período. Muitos dizem ser este seu trabalho mais acessível. Mesmo que te sugiram ir a uma lanchonete, talvez você prefira ver um filme de Godard. O roteiro, escrito por Dolores Hitchens, tem base o romance Fool’s Gold, de sua própria autoria. A história nos apresenta dois amigos, Arthur (Claude Brasseur) e Franz (Sami Frey), que vivem de trapaças. Eles convencem uma estudante, Odile (Anna Karina, musa do diretor na época), a ajudá-los em um roubo. Godard, que ao lado de François Truffaut, escreveu na revista Cahiers du Cinéma e ajudou a criar o movimento da nouvelle vague, homenageia aqui a produção hollywoodiana de baixo orçamento. Bando à Parte foi rodado em apenas 25 dias e sem grandes pretensões. É visível a leveza e alegria do elenco, em especial a da bela Anna Karina, em estado de graça. Godard parecia querer apenas se divertir e nos diverte também. Em tempo: Tarantino é tão fã deste filme que batizou sua produtora com o nome de A Band Apart.

O Demônio das Onze Horas (1965)

Se considerarmos seus primeiros curtas, feitos a partir de 1955, passando por sua estreia em longas cinco anos depois com Acossado, Godard fecha sua primeira década de carreira com uma bem sólida filmografia composta por 13 curtas (incluindo aí os segmentos que dirigiu) e dez longas, sendo este o décimo deles. Diz a lenda que Godard iniciou as filmagens sem roteiro algum e convenceu o produtor Georges de Beauregard a bancar a produção por causa do par central à frente do elenco: Jean-Paul Belmondo e Anna Karina, ambos muito queridos e populares. A base é o romance Obsession, de Lionel White, roteirizado pelo próprio diretor junto com Rémo Forlani. Tudo começa com a apresentação de Ferdinand Griffon (Belmondo), casado com uma mulher rica e vivendo confortavelmente em Paris. Apesar disso, ele se sente bastante entediado e certa noite, durante uma festa, termina saindo mais cedo e ao chegar em casa reencontra Marianne Renoir (Karina), babá de seus filhos e antiga paixão sua. Ferdinand, que ela insiste em chamar pelo nome de Pierrot, foge com Marianne e ambos passam a ser perseguidos por mafiosos que traficam armas. Em sua essência, O Demônio das Onze Horas é um road movie, um filme de estrada, no melhor estilo Bonnie e Clyde. Mas, em se tratando de Godard, é também muito mais do que isso. O cineasta sempre buscou quebrar regras narrativas em suas obras e não é diferente aqui. Mas dessa vez ele o faz em CinemaScope homenageando seus ídolos, misturando gêneros cinematográficos, quebrando a quarta parede (quando alguém olha direto para a câmera) e brincando com metalinguagem (ao utilizar a arte para falar da feitura dela). A química entre Jean-Paul Belmondo e Anna Karina, então casada com o diretor, é perfeita e esbanja carisma. Em tempo: preste atenção na participação especial do cineasta americano Samuel Fuller, que responde à pergunta “o que é cinema?”, e no figurino de Marianne.

Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela (1967)

Existe o cinema como conhecemos e existe o cinema de Jean-Luc Godard. Um dos fundadores da “nova onda francesa”, Godard desenvolveu um estilo narrativo próprio já a partir de 1960, com Acossado, seu longa de estreia. Ao longo dos sete anos seguintes, ele dirigiu doze longas e alguns curtas. Uma grande e incomum produção, se levarmos em conta a quantidade e qualidade em tão pouco tempo. Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Dela é de um dos períodos mais criativos de sua carreira. O “dela” do título é a cidade de Paris, que tem participação ativa no desenvolvimento da história. O cineasta fala de mulheres que se prostituem para satisfazer suas necessidades consumistas. Uma sociedade perdida no culto ao supérfluo. O filme é narrado pelo próprio diretor, que aproveita para instigar o espectador, de maneira a fazê-lo pensar sobre aquilo que está sendo mostrado. Sem exagero algum, a extensa obra de Godard poderia resumida com esta frase: “duas ou três coisas que eu sei sobre cinema”.

The Rolling Stones: Sympathy For The Devil (1968)

No auge da contracultura, Jean-Luc Godard já era um nome importante do cinema mundial. Naquele ano de 1968, ele fora convidado a ir a Londres para dirigir um documentário sobre a luta pela liberação do aborto. Como houve um relaxamento na legislação britânica, o trabalho terminou sendo cancelado e Godard permaneceu na cidade por mais um tempo. Ele queria dirigir um filme sobre os Beatles ou os Rolling Stones. O quarteto de Liverpool não aceitou. Mick Jagger e Keith Richards, fãs declarados do franco-suíço, adoraram a proposta e o resultado é este The Rolling Stones: Sympathy For The Devil. Temos aqui a banda no processo de gravação do disco Beggar’s Banquet – em especial, da faixa de abertura do LP e que dá nome ao filme. Por se tratar de um filme de Godard, a já esperada desconstrução da narrativa, típico do cineasta, faz-se presente. Ao mesmo tempo, há um interessante debate sobre o papel da mídia, as bandas que influenciaram os Stones, além de uma série de temas que um artista inquieto e provocador como o diretor jamais deixaria de fora. No entanto, apesar do apoio dos líderes da banda, a produção não foi tranquila, uma vez que existiram muitos atritos com o produtor, Iain Quarrier, que alterou o final do documentário sem que Godard soubesse e este, quando descobriu a mudança na sessão de estreia, simplesmente deu-lhe um soco na boca. The Rolling Stones: Sympathy For The Devil também é um registro de inestimável valor histórico. Seja por seu diretor, pela banda em questão ou por sua abordagem. Em tempo: Godard faz uma ponta levando cigarros e bebidas para os músicos.

Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague (2009)

Dois dos maiores nomes do cinema francês nasceram quase no mesmo ano e se conheceram com vinte e poucos escrevendo críticas de filmes na redação da revista Cahiers du Cinéma. Jean-Luc Godard e François Truffaut revolucionaram, primeiro com seus textos, a maneira de se ver os filmes. Depois, ao se tornarem cineastas, a própria maneira de se fazer filmes. O documentário Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague, escrito por Antoine de Baecque, biógrafo de ambos, e dirigido por Emmanuel Laurent, traça um painel da importância dada nouvelle vaguea partir das obras de seus dois realizadores mais destacados. O filme celebra os 50 anos de lançamento de Os Incompreendidos, estreia de Truffaut na direção e apontado por muitos estudiosos como marco zero do movimento cinematográfico. Mostra também a repercussão de Acossado, primeiro longa de Godard, que teve o roteiro escrito por Truffaut. O cinema os tornou amigos e a visão de cada um sobre o cinema terminou por afastá-los. Laurent utiliza vasto material de arquivo para contar sua história e nos faz viajar por um mundo cheio de novas ideias e novos olhares. Godard e Truffaut foram os principais artífices de um novo jeito de fazer cinema e influenciaram todos os cineastas que surgiram a partir dos anos 1960. Isso não é pouco.

O Formidável (2017)

A atriz, diretora e escritora francesa Anne Wiazemsky teve uma carreira curta atuando e dirigindo. Sua produção artística é literária. Ela nasceu na Alemanha, mas se criou e se estabeleceu na França. Casada por 12 anos com Jean-Luc Godard, chegou a participar de dois filmes do cineasta e em 2015 publicou o livro autobiográfico Um Ano Depois, que tratava de seu encontro e envolvimento com Godard quando este iniciou as filmagens de A Chinesa, em 1967. E esse livro serviu de inspiração para o francês Michel Hazanavicius escrever o roteiro e dirigir O Formidável. À frente do elenco, Louis Garrel e Stacy Martin dão vida ao casal apaixonado Jean-Luc e Anne. O pano de fundo é a conturbada situação político-social que o mundo em geral (e a França em particular) enfrentava na segunda metade dos anos 1960. Acompanhamos aqui uma espécie de comédia romântica tendo como personagem principal um dos mais radicais cineastas da história do cinema. Quem conhece a filmografia, o gênio e a fama de Godard é capaz de pensar se tratar de algo, no mínimo, anacrônico. Mas funciona melhor, por exemplo, que O Artista, grande sucesso anterior de Hazanavicius. Em tempo: Godard disse que O Formidável era uma “estúpida, estúpida ideia”. O produtor, com senso de humor e de oportunidade, utilizou a frase nos cartazes do filme.

Music

Morrissey – ao vivo

Ídolo britânico presenteia os fãs com repertório multifacetado e performance inspirada em São Paulo

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Texto por Abonico R. Smith e Silvia Macedo

Foto: Fernando Pires/Ultimate Music/Divulgação

Qual Morrissey é o que você quer ver? A maioria de quem já passou dos 40 anos de idade certamente prefere manter na memória aquele jovem topetudo do tempo dos Smiths, que cantava palavras de dor e sofrimento emolduradas pela luxuosa combinação entre batida e dedilhado das cordas da guitarra de Johnny Marr? Tem também aquele horroroso monstro, desprovido de escrúpulos e forrado de preconceitos, que volta e meia veículos corporativos sobre música pop (incluindo aqueles que outrora era independentes e hoje pertencem a grandes grupos de comunicação) andam pintando por aí, como se frases de impacto negativo corressem soltas em sua boca. Tem ainda um impávido senhor quase sexagenário, sagaz, perspicaz e muito bem-humorado, que não perde a chance de brincar com quem está na sua frente e fazer declarações pelas quais escorrem ironia e sarcasmo. Tem também o ídolo decadente, para quem ele parou de fazer algum álbum de boa qualidade faz tempo – as mesmas pessoas, aliás, que procuram sempre ouvir os mesmos discos mais antigos e esperam que os recentes sejam um ctrl C + ctrl Vdas mesmas coisas de sempre. Tem os que se deliciam a cada boa novidade que chega, ao notar que a atual banda está cada vez mais afiada e o acréscimo de parceiros musicais (quatro dos cinco músicos que o acompanham) só resultou em um genial painel de diversidade na sua literatura sonora.

Todos estes Morrisseys eram esperados, de uma forma ou de outra, por quem esteve em 2 de dezembro no Espaço das Américas, em São Paulo. Tinha até aquele fã mais desesperado e obcecado, formando fila na casa desde a manhã daquele domingo com o objetivo de pegar aquele lugar privilegiado à beira do palco, junto à grade da frente da Pista Premium. Tinha também quem não era nem nascido quando o poeta de Manchester irrompeu no cenário musical britânico à frente de sua primeira banda, entre os anos de 1982 e 1987. Mas o Morrissey que subiu ao palco era apenas um: a pessoa inspirada e de bem com a vida, desfrutando de novo período de intensa fertilidade criativa, gravando um disco após o outro, fazendo longas turnês no intervalo entre as sessões de estúdio e sem nenhum grande protesto por ora, interessado apenas em fazer aquilo que faz de melhor, que é cantar.

E como canta! Às vésperas de completar 60 anos, Morrissey canta hoje muito mais e melhor do que já cantava, sem abrir mão de estilo, técnica, doçura e interpretação das palavras. Sua performance também está mais tranquila, sem os arroubos de antes, mas ainda intimamente ligada a seus fãs mais histéricos, como aqueles que levam vinis para o ídolo assinar em plena ação no palco (e ele, bem simpático, fez isso!) ou disputam a tapas pedaços das camisas que ele tira do corpo, rasga e arremessa à plateia.

Antes da subida do sexteto ao palco a já tradicional seleção de repertório em audiovisuais feita a dedo pelo próprio vocalista. Desta vez, começou o punk dos Ramones e culminou com o glam de David Bowie em “Rebel Rebel”. Depois foram cem minutos de intenso bom humor e  boa forma de Morrissey. Quem queria um reencontro com faixas dos Smiths ganhou três delas de presente (“William It Was Really Nothing”, “Is It Really So Strange?” e “How Soon Is Now”). Quem queria novidades ficou com outras três do mais recente trabalho, o álbum Low In High School, lançado no final do ano passado (“Spent The Day In Bed”, “Jacky Is Only Happy When She’s Up On a Stage”, “I Wish You Lonely”). Quem queria o resgate de faixas que havia tempos não apareciam no repertório dos shows também pode saborear preciosidades como “Sunny”, “Jack The Ripper”, “Hold On To Your Freinds”, “Break Up The Family e “Hairdresser On Fire”. Teve o novíssimo single ainda inédito em álbum, a cover de “Back On The Chain Gang”, dos Pretenders (aliás, ele pediu aos fãs que comprasse o trabalho de regravações que lançará no início do ano que vem). Quem procurava por raridades também ganhou “Dial-a-Cliché” (do primeiro pós-Smiths, Viva Hate, de 1988, e até a atual turnê latino-americana nunca cantada em shows) e b sidesde compactos como “If You Don’t Like, Don’t Look At Me” e “Munich Air Disaster 1958”. Também teve hitsda primeira fase solo (“Alma Matters”, “November Spawned a Monster”, “Everyday Is Like Sunday). Por fim, uma breve espanada pelos bons trabalhos mais recentes (“Life Is a Pigsty”, “The Bullfighter Dies” e uma inesperado “First Of The Gang To Die” para encerrar o bis e jogar mais uma camisa na direção dos fãs).

Steven Patrick Morrissey incorpora tantos Morrisseys – tanto em seu dia a dia quanto no imaginário de seus fãs e detratores ou ambos ao mesmo tempo – que ele ainda se dá ao luxo de usar no show uma camiseta estampada com seu próprio nome e rosto (daquelas oficiais à venda foi a que se esgotou mais rapidamente, deixando muita gente a ver navios após o show) e por isso mesmo se torna a cada dia ainda mais fascinante. Desta vez ao menos, todos devem ter saído contentes do show. Sem reclamações.

Set list: “William, It Was Really Nothing”, “Alma Matters”, “I Wish You Lonely”, “Is It Really So Strange?”, “Hairdresser On Fire”, “November Spawned a Monster”, “Break Up The Family”, “Back On The Chain Gang”, “Spent The Day In Bed”, “Sunny”, “If You Don’t Like Me, Don’t Look At Me”, “Munich Air Disaster 1958”, “Dial-a-Cliché”, “The Bullfighter Dies”, “How Soon Is Now?”, “Hold On To Your Friends”, “Life Is a Pigsty”. “Jack The Ripper” e “Jacky’s Only Happy When She’s Up On The Stage”. Bis: “Everyday Is Like Sunday” e “First Of The Gang To Die”.