Movies

Fale Comigo

Irmãos youtubers Danny e Michael Philippou estreiam no cinema com história de premissa e ingredientes clássicos do terror

Texto por Carolina Genez

Foto: Diamond Films/Divulgação

Um grupo de amigos descobre uma mão embalsamada que permite que eles conversem com espíritos. Em busca de emoção, eles, um a um, passam a se divertir, permitindo que esses espíritos entrem em seus corpos. Até que algo dá errado…

Fale Comigo (Talk To Me, Austrália/Reino Unido, 2022 – Diamond Films), que estreia hoje em circuito nacional, tem uma premissa clássica de filmes de terror: adolescentes com ideias idiotas que você já sabe que vão dar errado desde o primeiro momento. O longa tem direção dos estreantes Danny e Michael Philippou, conhecidos por seu canal no YouTube chamado RackaRacka, que conta com mais de 6 milhões de inscritos. Os irmãos, inclusive, recusaram dirigir um filme do DCU para que Fale Comigo fosse a estreia no cinema.

Em relação à direção, este filme tem momentos bem interessantes, principalmente levando em consideração que essa é a primeira obra dos dois diretores para a telona. A história, inclusive, tem início com um plano sequência bem interessante, que mostra em uma festa e já deixa claro o tom que vai imperar mais para a frente, com cenas fortes, violentas e muito, muito sangue. Por se tratar de uma obra pequena, com orçamento barato e poucos atores, existe uma sensação bem pessoal, até por fazer uso de efeitos práticos, aumentando o realismo e fazendo com os espectadores sintam diversas agonias mostradas na projeção.

O roteiro – encabeçado por Danny – talvez seja o aspecto mais fraco, já que ele nada mais é do que mais um filme de terror genérico com adolescentes tomando as decisões mais sem noção de todas. Assim como todo bom exemplar do gênero, aqui encontram-se espíritos, um objeto misterioso e enigmático que garante essa conexão e, claro, regras para que a brincadeira não passe do controle.

Entretanto, sente-se a falta de explicações para todas essas coisas. A posse da mão, por exemplo, é algo explicado de qualquer jeito, assim como sua própria origem. Também não se explica como essas regras foram estipuladas e nem mesmo investiga-se como destruir a tal mão. Talvez todos esses fatos sejam melhor explicados na sequência, que já foi confirmada pela produtora A24.

Fale Comigo também demora bastante para engatar seu ritmo como uma obra de terror. A narrativa, genérica, apoia-se em sentimentos como luto, trauma e solidão. Os personagens até têm potencial de serem melhores desenvolvidos, porém a maioria recebe poucas características, basicamente sendo presentes e relevantes em alguns recortes, quase passando a sensação de que existem somente naquele determinado. Já Mia, a protagonista, é a exceção: ela é quem mais conhecemos dentro do filme, porque aparecem um vislumbre de seu passado e as angústias partilhadas pela garota. Embora toda a história já vivida antes por Mia seja superficial, ainda assim isto é suficiente para entendermos suas ações e emoções ao longo da projeção.

Apesar de poucas características, os atores conseguem fazer um trabalho maravilhoso com performances naturais e reais. Dentre os principais destaques entram Sophia Wilde e Joe Bird. Wilde interpreta Mia. A garota vive com o luto pela morte “acidental” da mãe pairando pela cabeça, além de se sentir sozinha e buscar essa emoção que o contato com os espíritos garante. Já Bird faz Riley, o mais jovem dos adolescentes, e consegue arrepiar o espectador durante uma das cenas mais violentas.

A estreia cinematográfica dos Philippou tem coisas boas, potencial e um final interessante. Para quem gosta de filmes de terror sobrenatural, Fale Comigo é uma boa pedida. É compreensível seu sucesso de bilheteria ao redor do mundo, principalmente em comparação com as outras obras do gênero lançadas no ultimo biênio. Mas a sensação que fica ao final é que o longa peca em não explorar diversas camadas da história. O que pode ser corrigido na sequência, aliás.

Movies

Nós

Oito motivos para você não deixar de assistir nos cinemas ao novo longa com a assinatura do celebrado diretor e roteirista Jordan Peele

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Universal Pictures/Divulgação

Nós (Us, EUA, 2019 – Universal Pictures) acaba de estrear nas salas de projeção de todo país. Este é o segundo filme escrito e dirigido por Jordan Peele, sensação do cinema norte-americano, e tão surpreendente e criativo quanto o anterior, Corra!. Eis oito motivos para você não deixar de sair de casa para assistir a esta novidade.

Jordan Peele

Já faz umas boas décadas que novos diretores – muitos deles acumulando também a função de roteiristas de suas obas – têm trazido a Hollywood um frescor não só de ideias como também de assinaturas bem peculiares. E Peele, antes apenas um comediante de sucesso na TV a cabo, tornou-se também um dos cineastas mais festejados pela imprensa desde que Corra! chegou às grandes telas dois anos atrás. Agora, em seu tão esperado segundo filme, Jordan mostra que não só soube manter o elevado nível da estreia como também mostra ter fôlego para muito mais. Com uma cara autoral que pouco se vê em produções com orçamento de indústria mainstream, Nós é atrevidamente delicioso, misturando cultura pop com filmes B sem subjugar o espectador em momento algum e, ainda pelo contrário, oferecer a ele saídas da obviedade de costume dos cinemas de shopping centers. Tudo isso mantendo uma linha autoral claramente destacada, tangenciando autorreferências a detalhes do longa anterior e ainda oferecendo um caminho de evolução. Não à tôa ele foi o nome escolhido para comandar a futura nova temporada da série Além da Imaginação, um dos maiores nomes do audiovisual de ficção científica do Século XX.

Críticas mordazes

Jordan Peele vem do território do humor, mais precisamente do stand up. No cinema, enveredou pela trilha prioritária do terror, mas até agora não abriu mão de soltar críticas contundentes no decorrer de suas histórias. Foi assim em Corra! e é assim novamente em Nós. Seus protagonistas são negros, com problemas referentes aos negros e tendo os brancos como coadjuvantes perversos ou abobalhados da trama. Neste segundo filme, chega ao requinte de colocar toda uma família negra (dois adultos, duas crianças) em uma casa de veraneio de uma abastada praia californiana. Também dá destaque de sobra ao gênero feminino, fazendo sempre a mãe e a primogênita parecerem mil vezes mais inteligentes, perspicazes e interessantes que o pai e o caçula. As alfinetadas não ficam por aí em Nós e, do começo ao fim (literalmente!), alguns detalhes que preenchem a narrativa promovem o deleite do espectador mais atento a este tipo de observação sociocultural, que, desta vez, não poupa nem a tradição hippie criada pela contracultura norte-americana lá nos já longínquos anos 1960. Tudo isso sem falar na sutileza do título original, já que Us quer dizer “nós” português mas serve também como uma ligeira metáfora para a sigla de uns Estados Unidos (isto é, United States) nem tão unidos assim em seus objetivos sobretudo humanitários. É o “nós” do “eu” em primeiro lugar.

Duplo

Um motes de Nós é a existência do famigerado duplo. E mais do que isso: como ser humano é bem despreparado para agir quando se depara com ele. O que acontece na região da praia de Santa Cruz ilustra bem a situação. Primeiro é com a família Wilson, surpreendida por quatro modelos idênticos fisicamente, mas com atitudes, comportamentos e necessidades completamente diferentes. É a aparição deles que dá início a uma espécie de segundo ato, quando o terror sai da zona psicológica e parte para o deleite slasher. Só que a coisa fica melhor ainda quando mais duplos aparecem para começar a amarrar todas as pontas aparentemente soltas no filme. Contar mais sobre isso estragará o prazer da descoberta de quem não assistiu a Nós.

Prólogo

Mal o filme começa e o espectador já é bombardeado com dados aleatórios escritos na tela preta. Depois entra a primeira cena, também cheia de outras informações sendo exibidas por um canal de televisão lá no ano de 1986. Depois, a menina que assiste a tudo sai de casa e aparece com o pai no parque de diversões à beira da praia em Santa Cruz. Lá ela vai viver uma experiência da qual nunca mais vai se esquecer. Este é o prólogo de Nós, que tem conexão com todo o resto do filme, claro. O interessante é que, assim como fizera em Corra! ele vai marcando uma assinatura em seus filmes: a de antecipar dados importantes para o que virá em seguida sem, contudo, deixar claro o que é.

Lupita Nyong’o

Se existe um nome no elenco que, sozinha, já faz valer o ingresso do cinema esta é Lupita. Na pele de Adelaide, a esposa do fanfarrão Gabe (Winston Duke, astro de Pantera Negra), sempre zelosa com os filhos e aterrorizada pelos fantasmas do passado, ela já dá um show de interpretação. Quando aparece em cena na pele do duplo Red, então, arrebenta de vez mostrando toda a sua força tanto em expressões faciais quanto nos limites do uso de sua voz em timbres e ruídos indecifráveis.

Elizabeth Moss

OK que Lupita Nyong’o rouba o filme pra ela, mas há no elenco coadjuvante outra grande força da natureza dramática chamada Elizabeth Moss. Revelada ao estrelato pela série The Handmaid’s Tale, aqui ela é a esposa completamente sem noção da família nouveau riche branquela e amiga dos Wilson. Faz com maestria papel da típica lôraburra, que só enche seu tempo com coisas fúteis e se preocupando em mostrar o resultado de suas operações plásticas ou mostrar como já cresceram e estão belas as filhas adolescentes (interpretadas pelas mesmas gêmeas que, quando pequenas, dividiam o tempo em cena como a filhinha pequena dos personagens Rachel e Ross na série Friends).

Trilha sonora incidental

Produzida em conjunto por Jordan Peele e o compositor Micahel Abels, a trilha incidental de Nósfoi criada tendo como base o trabalho sonoro feito para o icônico filme de terror A Hora do Pesadelo. Algumas faixas são muito percussivas, para acentuar a dramaticidade de certas cenas e deixa-las ainda mais assustadoras. Vale lembrar que esta não é a primeira experiência conjunta deles. Abels fez também a trilha de Corra!, contribuindo da mesma forma para deixar a história ainda mais tensa. Por ter background erudito, Abels é capaz de fazer obras-primas como “Anthem”, a “música de abertura” do longa, com direito a vocais operísticos femininos em stacatto e melodia que gruda na hora na cabeça e nunca mais sai dela, mesmo quando você já se libertou de todos os duplos vistos na tela do cinema.

Trilha sonora pop

Imagine você ver um belo massacre de uma família, feito por assassinos cruéis e com sangue espirrando para tudo quanto é lado, ao som de “Good Vibrations”, dos Beach Boys. Pois é, só Jordan Peele para ter criatividade e ousadia suficiente para bancar isso em um filme feito para a grande indústria do cinema. E agora imagine esta cena tendo o hit supremo dos Beach Boys emendado, com extremo bom humor e maestria, com a sempre contundente “Fuck The Police”, do grupo de rap NWA. Esta é apenas uma das cenas que nunca mais vão sair da sua memória depois de ver Nós. A parte pop apresenta ainda mais duas cantoras bastante representativas da black music do presente e do passado (Janelle Monáe e Minnie Riperton, respectivamente). E também refaz o rap “I Got 5 On It!”, música cuja discussão no carro a respeito de sua letra também é outro pico de bom humor no roteiro.

Music

L7

Oito motivos para você não perder a volta da banda ao Brasil depois de um intervalo de vinte e cinco anos

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Divulgação

Vinte e cinco anos separam a histórica passagem do L7 pelo Brasil, em pleno auge do rock alternativo, da segunda vinda da banda ao país. Foi preciso esperar um quarto de século para ver de novo por aqui Donita Sparks (guitarra e voz), Suzi Gardner (guitarra e voz), Jennifer Finch (baixo e voz) e Dee Plakas (bateria), ícones daquela época áurea em que vocais berrados, guitarras sujas e distorcidas e uma estética que cruzava informações vindas do punk rock e do heavy metal saíram do subterrâneo para tomar de assalto o mainstream, a imprensa corporativa, as grandes gravadoras, as filiais da MTV e o gosto das pessoas espalhadas ao redor do planeta.

Depois de um longo tempo em inatividade, a banda voltou à ativa em 2015 com sua formação clássica. Ainda é esperado um disco novo, com faixas inéditas. Mas enquanto isso não acontece, as quatro “gurias” (hoje na faixa entre os 50 e 60 anos) estão volta às turnês, tocando aqui, ali e em todo lugar. Na primeira semana de dezembro será a vez do Brasil recebê-las, com cinco datas em cinco capitais diferentes. O giro começa pelo Rio de Janeiro no dia 1 de dezembro (mais infos aqui). Depois segue para São Paulo no dia 2 (mais infos aqui). No dia 4, a escala será em Porto Alegre (mais infos aqui). No dia 5, em Curitiba (mais infos aqui). Por fim, no dia 6, em Belo Horizonte (mais infos aqui).

Para celebrar o retorno do L7 ao país, o Mondo Bacana preparou uma relação com oito motivos para você não perder a nova passagem da banda por aqui.

Documentário

Dirigido pela cineasta Sarah Price, o documentário L7: Pretend We’re Dead foi lançado em 2016, depois de uma campanha de crowdfunding que arrecadou fundos para a sua realização. O filme conta a história da banda do underground ao estrelato e, então, de volta ao underground até o fim das atividades em 2001. São muitas imagens de arquivo e acervo pessoal com trechos de shows e festivais, curiosidades de bastidores e depoimentos de Donita, Suzi, Jennifer e Dee em off. Por enquanto, a obra pode ser vista em streaming nos Estados Unidos através da Amazon. Em breve deverá estar disponível aqui no Brasil também.

Nada de girl band

Se existe uma coisa que elas deixam claro logo nos primeiros minutos de L7: Pretend We’re Dead é para não chamá-las de “banda de garotas”. Afinal, essa questão da diferenciação pelo gênero – e sempre através de um modo tão comparativo quanto negativo, diga-se de passagem – já é uma coisa tão batida, sem noção e sem sentido que elas já disparam que estão enojadas e cansadas de que usem isso a respeito do grupo. Donita afirma que rejeita toda a imagem criada ao longo destes anos pelo fato do L7 nunca ter sido algo que a pessoas pudessem esperar delas, sobretudo pela questão de não se encaixar no que se chama de estereótipo da beleza feminina.

Punk porém também heavy

O L7 foi formado na esteira de um cenário punk e hardcore criado por jovens que não se encaixavam com a apatia de seus semelhantes durante o governo Ronald Reagan nos 1980. Paralelamente a isso, na cidade em que as musicistas viviam (Los Angeles), o rock era tomado pelo mainstream de bandas glam metal, mais preocupadas com o visual andrógino e a estética da cosmética, levada aos extremos comerciais através dos videoclipes em alta rotação na MTV norte-americana. Entretanto, o heavy clássico, mais sujo e poderoso, também faz parte da formação delas. Isso pode ser facilmente notado em diversas faixas de álbuns como Smell The Magic (lançado pela Sub Pop em 1990) ou Bricks Are Heavy (de 1992, quando a banda era contratada do selo Slash, então ligado às gravadoras major Warner nos Estados Unidos e PolyGram no resto do mundo). São muitos riffs, pedais de efeito e power chords – sem falar que Donita leva uma guitarra Flying V a tiracolo ao subir em um palco. A vocalista também se ressente do fato do grupo nunca ter sido convidado até hoje para participar de um festival dedicado a bandas heavy metal nos Estados Unidos. “Ne Europa nos aceitam muito bem e volta e meia participamos destes eventos. Mas em nosso país isso nunca aconteceu.”

Bricks Are Heavy

Responsável pela sonoridade assumidamente pop (porém sem negar as origens alternativas) de vários discos de sucesso da época – como Dirty (Sonic Youth), Nevermind (Nirvana) e Siamese Dream (Smashing Pumpkins) – o produtor Butch Vig também conseguiu fazer o mesmo com o L7 em Bricks Are Heavy. Deixou toda a sujeira sonora lá, mas conseguiu aparar as arestas e arredondar as músicas compostas e cantadas por Donita, Suzi e Jennifer, inclusive fazendo os mesmos com seus vocais. O resultado foram três grandes hits (“Pretend We’re Dead”, “Monster” e “Everglade”), indispensáveis em qualquer set list do L7 até o final dos tempos da banda. Mas o repertório dos atuais shows da banda não se sustenta apenas nessas faixas do disco. Outras menos conhecidas na época continuam bastante poderosas quando tocadas ao vivo. É o caso de “Scrap”, “Slide”, “One More Thing” e “Shitlist”. Os versos desta última, que sempre encerra todo bis, permanecem atualíssimos como um grito de guerra feminista.

Agent Orange

Na volta para o bis de cada show, a banda rende sua homenagem a uma histórica banda dos primórdios do punk rock oitentista americano. Primeiro single lançado em 1979 pelo trio Agent Orange, a música “Bloodstrains” é um petardo que não dura sequer dois minutos. Seus versos tratam da rejeição completa ao american way of life, onde a felicidade parece sempre rimar com estabilidade financeira, família e aquela vida bem baunilha. A gravação oficial do L7 para esta música está no álbum-compilação Teriyaki Asthma Vols 1-5, lançado em 1992 pelo microsselo independente C/Z, criado pelo casal Chris Hanzsek e Tina Casale em Seattle em 1985. Deste disco também fazem parte gravações raras de outras bandas de suma importância naquele momento do rock alternativo, como Nirvana, Babes In Toyland e Gas Huffer. Todas ainda em fase pré-fama, fazendo seus shows em pequenas casas e viajando pelos Estados Unidos em carros e vans.

Brasil, janeiro de 1993

O festival Hollywood Rock de 1993, realizado no segundo e no terceiro final de semana de janeiro, respectivamente em São Paulo e no Rio de Janeiro, trouxe uma escalação memorável. Duas das três noites eram reservadas a bandas internacionais que estavam, naquele momento, no auge de suas carreiras mundiais, fato até hoje não superado por qualquer outro evento do tipo em solo brasileiro. Uma das noites trazia o Alice In Chains e, como headliner, o Red Hot Chili Peppers. A outra, no mesmo esquema, era composta por L7 e Nirvana. E o show do L7 acabou sendo tão memorável quanto o de Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl. O estádio do Morumbi (onde este que aqui escreve estava presente) chacoalhava na noite do sábado 15 com a multidão pulando sem parar no gramado, cadeiras e arquibancada. Não foi bem um aquecimento para o trio principal, já disparado no topo das paradas mundiais, mas sim um show de primeira e que deixou todo mundo tão suado quanto. No Rio de Janeiro, sete dias depois, foi tudo igualzinho (conforme você pode checar aqui, assistindo à gravação da apresentação de mais de uma hora na íntegra).

Tampax em direção à plateia

A edição de 1992 do Reading Festival, na Inglaterra, entrou para a História pela trolagem do Nirvana. Havia uma expectativa negativa em relação ao show do trio porque Kurt Cobain estava entrando e saindo de períodos na rehab e muito se falava sobre a possibilidade da gig no evento ser cancelada. Sem qualquer aviso, Dave Grohl entrou no palco empurrando Kurt sentado em uma cadeira de rodas e com roupa hospitalar. O vocalista simulou uns espasmos e jogou-se ao chão, assustando e arregalando os olhos de todos. Posteriormente levantou-se e fez um puta show à frente de sua banda. Mas o L7 também deu sua bela contribuição para fazer aquele verão ser inesquecível para quem estava lá no festival. A apresentação do quarteto foi um grande caos. A tensão já era grande no início, quando começou a haver problemas técnicos no som. A plateia ensandecida e à espera do Nirvana, reagia contra o grupo. A banda chegou a trolar todo mundo que queria mainstream começando a tocar o riff de “Enter The Sandman”, do Metallica, para depois parar tudo e xingar ao microfone. Depois, muita gente passou a arremessar lama em direção às integrantes. Irritadíssima, Donita não pensou duas vezes. Pôs a mão dentro da calcinha, arrancou o tampax, mostrou-o a todo mundo e arremessou-o em direção às pessoas, provocando reações de espanto e nojo em muitos. Apesar da gravação tosca e cheia de problemas, este fatídico show do L7 também está registrado no YouTube (veja aqui). O “incidente” do tampax – que chegou a ser incluído entre os cem melhores momentos de toda a história do heavy metal pelo canal de TV VH1 (veja aqui) – ocorre quase no final, aos 40 minutos e 24 segundos, assim que acaba a penúltima música do set list.

#Resist

Em entrevistas já publicadas por veículos brasileiros, Donita já deixou clara a sua total antipatia pelo próximo presidente que está por assumir nosso país. Só que, ao contrário do que muita gente estúpida poderá (e deverá) afirmar, a vinda do L7 não tem nada a ver com financiamento da Lei Rouanet, nem a banda não precisa de promover de qualquer forma ou deve manifestar interesse em ir à Polícia Federal em Curitiba para visitar o ex-presidente Lula. As quatro integrantes do grupo começaram a tocar durante o governo neoliberal de Ronald Reagan, que ocupou a Casa Branca entre 1981 e 1989. Depois, quando anunciaram o hiato das atividades em 2001, aguentaram mais oito anos de George W. Bush até 2009. Atualmente ela não perde a chance de dizer que adoraria jogar em Donald Trump seu tampax. “Parece que quando esses imbecis estão no poder, o punk se reaviva. A resistência dos artistas também. A música ajudou a derrubar o apartheid nos anos 1980. Ajudou os movimentos sindicais nos EUA dos anos 1930. O folk e a música de protesto ajudaram nas manifestações contra a Guerra do Vietnam. Eu acho muito importante os artistas e as pessoas em geral resistirem a toda essa merda, fazendo qualquer coisa que elas façam de melhor”, declarou Sparks ao site WikiMetal (leia toda a entrevista aqui).