Music

Jethro Tull

Oito motivos para não perder a apresentação da icônica banda liderada por Ian Anderson em sua nova passagem pelo Brasil

Texto por Daniela Farah

Foto: Divulgação

Seven Decades é o nome oficial da nova turnê. Pode parecer muito. E, de fato, é. Pode parecer erro de cálculo, já que o vocalista e fundador, o escocês Ian Anderson, vai completar 77 anos de vida no próximo mês de agosto. Mas, de fato, não é. O Jethro Tull foi fundado em 1967, quando o músico ainda estava saindo da adolescência. Portanto, o período em atividade compreende justamente sete décadas, dos anos 1960 aos anos 2020. Mesmo com alguns pequenos períodos de pausa, provocada por afastamento entre os principais integrantes e remanescentes, certo é que a carreira permanece seguindo em frente.

A boa notícia para os fãs brasileiros é que esta turnê volta a trazer Anderson e seus músicos para o Brasil. Serão quatro apresentações nesta semana e a rota de escalas compreende Belo Horizonte (dia 9 – para compra de ingressos e ter mais informações, clique aqui), Porto Alegre (dia 10 – para compra de ingressos e ter mais informações, clique aqui), Curitiba (dia 12 – para compra de ingressos e ter mais informações, clique aqui) e São Paulo (dia 13 – para compra de ingressos e ter mais informações, clique aqui). O repertório trará grandes sucessos espalhados pela longeva trajetória com a adição de faixas do mais recente álbum de estúdio, RökFlöte, lançado há exatamente um ano.

Para celebrar a nova vinda de Anderson e seus asseclas para cá, o Mondo Bacana discorre sobre oito motivos para você não deixar de ver a banda em ação novamente aqui.

Raiz folk

Ainda que Ian Anderson tenha passado boa parte da sua vida na Inglaterra (mudou-se aos 12 anos), ele nunca deixou de lado suas raízes escocesas. Isso reverberou na sonoridade do Jethro Tull. Anderson achava que faltava algo que desse uma cara mais europeia para o seu som e foi buscar isso em suas raízes inglesas e escocesas. Vem daí, dessa vontade de ter seu ambiente representado na sua arte, que surgiu a pitada celta que faltava para completar o Jethro Tull. Diga-se de passagem, aliás, que essa proposta bucólica até combina muito bem com o nome, inspirado em um agricultor famoso. A banda ficou conhecida por levar essa representatividade da musicalidade celta para o mundo. Ou seja, é a possibilidade de assistir cara a cara o folk britânico em sua mais pura raiz criativa. E de uma maneira bem divertida!

Performance de palco

Ian Anderson é, por si só, uma figura controversa. Um escocês, apaixonado por blues, que resolveu fazer rock tocando flauta. E fez isso tão bem que em 1989, o Jethro Tull abocanhou o Grammy de Melhor Performance Hard Rock/Metal, tirando-o das mãos do Metallica e seu aclamado álbum … And Justice For All. Ian tem uma presença de palco cativante. Entrega tudo e um pouco mais, seja através de seus olhos que parecem interpretar cada nota da flauta, por suas danças peculiares, tocando em uma perna só ou dando pequenos pulos enquanto canta.

Idade avançada

Para os fãs é sempre uma benção ter a oportunidade de seguir acompanhando seus ídolos lançando novidades e realizando concertos e turnês. Entretanto, também chega a ser cruel pensar que a cada temporada que se vai, menos tempo resta para aproveitar as suas presenças neste plano. Para quem mora no Brasil, então, chega a ser pior quando o assunto são os grandes deuses do rock de todos os tempos. Já são bem menores as chances de todas as turnês chegarem à América do Sul por questões financeiras, de logística e de maior percurso territorial a ser enfrentando sobretudo para quem mora longe dos grandes centros urbanos para onde as datas dos concertos acabam sendo marcadas. Ian Anderson está com 76 anos e é um poucos pilares do rock dos anos 1960 e 1970 ainda em plena atividade, compondo, criando, gravando, tocando ao vivo, correndo o mundo.

Confusão de gêneros

É hard rock, heavy metal ou rock progressivo? Qualquer fórum de discussão sobre música na internet (os melhores!) possui um tópico sobre a sonoridade do Jethro Tull. A diversidade é tanta que fica difícil encaixar em uma só gavetinha. Mesmo que os mais xiitas (ou troo) concordem que o grupo não entra na categoria metal, é uníssono que o Jethro Tull é uma das bandas que exerceu uma influência muito forte nas principais bandas do gênero que vieram depois. A experimentação foi tanta (hard rock, blues, folk, clássico, etc) e deu tudo tão certo que estamos aqui falando deles em pleno ano de 2024. A questão é que vale a pena sair de casa por uma lenda como essa, que transformou, inspirou tantos músicos (dos quais você provavelmente é muito fã!) a seguir suas carreiras. Inclusive, Ian Anderson participa em quatro músicas do novo álbum do Opeth. Então, nada como beber diretamente da fonte, não é mesmo?

“Aqualung” (a música)

Se você acha que não conhece Jethro Tull, pare tudo o que está fazendo neste momento e coloque os primeiros minutos da música “Aqualung”. Ela soa familiar? A indústria do entretenimento usou e abusou bastante dessa introdução dos Simpsons aos Sopranos. E com razão: ela é genial. “Aqualung” fazia parte do álbum homônimo lançado pelo Jethro Tull em 1971. Nada convencional, como tudo que remete à banda. A letra, repleta de realismo, fala de um homem que é morador de rua e observa o mundo a partir de um banco de parque. “Aqualung”, tocada e cantada pelo próprio Ian Anderson, é o tipo de coisa que faz a gente querer sair de casa. Sempre.

“Locomotive Breath”

“Locomotive Breath” também faz parte do histórico álbum Aqualung e que também faz parte do repertório da atual turnê. A letra é pura loucura filosófica. Segundo Ian, lá em 1971, estávamos num trem de crescimento populacional e ninguém sabia onde ele iria parar. Mas a sonoridade, essa é para aplaudir de pé. As guitarras criadas de Martin Barre são um espetáculo à parte, provavelmente para descrever a velocidade do trem e a pressão contidas na narrativa. Não é à toa que bandas de metal como WASP e Helloween lançaram suas versões para essa música.

RökFlöte

Após ficar anos e anos  sem lançar material novo, Jethro Tull tem um novo álbum, seu 23º. Ian Anderson criou a sua versão sobre o Ragnarok, da mitologia nórdica, em RökFlöte. Desta vez ele contou com David Goodier (baixo), John O’Hara (teclados), Scott Hammond (bateria) and Joe Parrish James (guitarra). Mesma banda que vem com ele ao Brasil, exceto o guitarrista Joe, substituído por Jack Clark. E, sim, eles vão tocar músicas do novo trabalho ao vivo.

Sete décadas em um concerto

Sete é rico em simbolismos. Sete são as notas musicais e as figuras de tempo na música. O número também é o símbolo da vida eterna no Antigo Egito; e, se a numerologia considera um número divino, a aritmética o considera feliz. Mas sete décadas é um número absurdo. Chega a ser até impensável o quanto o mundo mudou nesse tempo. Só para citar os suportes do mercado fonográfico: vinil, fita cassete, compact disc, DVD, MP3 player, pendrive, streaming… E o Jethro Tull tem a árdua missão de trazer um pouco dessas décadas de criação e ação em um só show. A vantagem é que suas músicas continuam a fazer sentido mesmo com toda a passagem de tempo. Por isso é excepcional quando uma banda que atravessou todo este período se apresenta nos dias de hoje. Não é só música, é História.

Movies

Espiral: O Legado de Jogos Mortais

Sequência com Chirs Rock encabeçando o elenco falha em reviver toda a tensão da atmosfera da cultuada saga de James Wan

Texto por Ana Clara Braga

Foto: Paris Filmes/Divulgação

Reza a lenda que um dia Chris Rock adentrou o escritório de executivos da Lionsgate para apresentar o pitching de uma ambiciosa e gráfica continuação para a saga Jogos Mortais que deixou os engravatados sem escolha ao não ser dizer sim. Menos interessante que o boato, a realidade é que o comediante comentou a respeito da ideia de um novo capítulo para a história para um executivo em um casamento no Rio de Janeiro. 

A franquia Jogos Mortais ficou conhecida pelo body horror, as armadilhas engenhosas e os plot twists de tirar o fôlego. O primeiro e melhor filme da saga de James Wan apresentou o conceito dos jogos perturbadores de Jigsaw para o mundo em 2004. Mais de uma década depois, Espiral: O Legado de Jogos Mortais (Spiral: From The Book Of Saw, EUA/Canadá, 2021 – Paris Filmes) falha em reviver a atmosfera tensa e sangrenta dos filmes originais. 

O novo capítulo dos jogos mortais muda de perspectiva e coloca o espectador o tempo todo acompanhando as investigações dos casos e das pistas deixadas pelo novo assassino Jigsaw. Enquanto nos longas anteriores, o foco maior eram os jogos, as engenhocas e a vida dos personagens que estão aprisionados. O filme inaugural do universo Jogos Mortais fez tanto sucesso pois soube balancear as cenas de investigação com o assustador banheiro em que as vítimas do Jigsaw estavam presas. 

O filme bebe da fonte neo-noir de produções como Seven, de David Fincher. Aliás, toda a atmosfera parece de um filme policial dos anos 1990 e é por isso que foge tanto ao tom da série original. O personagem de Chris Rock, Zeke Banks, é um policial perturbado pelo passado que passa a investigar os crimes que se assemelham aos assassinatos de John Kramer.  O detetive mal humorado deixa claro desde as primeiras cenas que trabalha sozinho, por isso o óbvio acontece e ele ganha um parceiro, o novato William Schenk (Max Minghella). 

Samuel L. Jackson também está no elenco, mas tem seu talento completamente desperdiçado. Ele interpreta um ex-policial e também pai de Zeke. Chris Rock é comediante e com Spiral queria mostrar uma nova faceta artística, mais séria. Não convenceu. As pequenas adições de humor nos diálogos também não funcionaram. Era uma piada? Ele estava apenas sendo um idiota? Fica a dúvida. Rock já se provou um ótimo roteirista de comédia, mas como ator em um papel sério deixou a desejar. O único tom da atuação é cansativo e escolher a rota do detetive cínico, sarcástico e sem espírito de equipe não é inovador. 

Spiral tem cortes de câmera rápidos, closes no rosto dos personagens e um jogo de iluminação irritante que faz todo mundo parecer suado. O primor técnico da franquia Jogos Mortais nunca esteve na filmagem ou na edição. Os efeitos práticos e especiais davam vida ao filme deixando os objetos usados nas armadilhas extremamente reais. 

Quando finalmente o momento da grande revelação chega, as expectativas não são correspondidas. O grande plot twist já consagrado nos filmes anteriores é fraco e muito previsível. Os flashbacks de explicação tentam melhorar a situação, mas a anestesia da decepção é forte. 

Trazer uma saga de seis filmes de volta à vida obviamente não é fácil, mas retirar ou enfraquecer todos os principais elementos que a caracterizam é algo absurdo. Espiral é pensado para ser uma sequência direta do filme 6, mas não parece se passar nem no mesmo século. A repaginação completa do universo seria perdoada se fosse uma refilmagem ou um reboot. Mas não, é filha direta das produções de James Wan. Fãs dos filmes originais ficarão frustrados. Curiosos não verão graça nenhuma. Esta aqui é uma sequência de decisões erradas e não faz jus ao seu boato de origem.