Movies, TV

Bigbug

Jean-Pierre Jeunet aposta no humor de sitcom de um futuro distópico e se distancia do mundo fantástico de sua Amélie Poulain

Texto por Taís Zago

Foto: Netflix/Divulgação

Onze entre dez turistas vão a Paris procurando o mundo fantástico de Amélie Poulain. Ou pelo menos um amor francês. Todos se decepcionam. Paris é uma cidade real, grande, metropolitana e com muitas mazelas, como toda grande cidade europeia. Um dos culpados por essa idealização é o diretor e roteirista Jean-Pierre Jeunet e a sua incrível capacidade de enxergar beleza nas pequenas coisas e ao criar cenários fantásticos.

Não entre com essa expectativa para assistir a Bigbug (França, 2022 – Netflix). O filme é uma viagem completamente diferente. O ano é 2045 e, parafraseando uma das personagens, “pensaram que carros voariam no ano 2000 e erraram em 45 anos.” Nesse futuro não tão distante, temos mais um confronto homem versus máquina. Um modelo de distopia já bem gasto depois das inúmeras investidas, algumas bem sucedidas, nesse nicho. O novo filme de Jeunet mais parece um episódio de Black Mirror feito com os Jetsons e com a direção de Tim Burton em Marte Ataca!.

Bom, então seria algo horrível? Não, não é. Ainda continua sendo um filme gostoso assistir, com algumas piadas esporádicas que nos lembram de clichês do comportamento francês. Bigbug tem cenários e figurinos primorosos, até nos mínimos detalhes – o que por si só já vale as quase duas horas de duração. Mas o que temos aqui se movimenta em uma direção contrária a seguida em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. O humor é pastelão; os gestos, exagerados; as emoções, exacerbadas. Sem qualquer reflexão profunda e com zero melancolia.

Jeunet bolou um enredo bastante simples: Alice (Elsa Zylberstein) recebe em casa a visita de um possível pretendente, Max (Stéphane De Groodt), e de seu filho. No meio do date aparece sua filha, seu ex marido Victor (Youssef Hajdi) e a atrapalhada e bem mais nova namorada dele, Jennifer (Claire Chust). Para completar a trupe caótica, do nada aparece a curiosa vizinha Françoise (Isabelle Nanty).

É nesse momento que os robôs que servem os humanos resolvem virar a mesa e transformar seus donos em seus pets/servos. As portas se fecham e os vidros são inquebráveis. Os humanos ficam presos na casa e à mercê de um líder Yonyx, uma espécie de soldado ciborgue/replicante que aparentemente era responsável pela ordem na sociedade humana antes de se rebelar contra seus “mestres”. E agora? Como fugir? Bora lá tentar confundir os robôs! E assim vai até o final.

Bigbug é um filme pra toda a família. É daqueles que poderiam passar tranquilamente em um canal popular, sem corte algum. No meio da tarde. Isso não é necessariamente um demérito, mas produtos com esse padrão de qualidade e profundidade já inundam o mercado. As pessoas fugiram da TV aberta para as plataformas de streaming em busca de experiências novas. Entretanto, Bigbug, infelizmente, é mais do mesmo.

Movies

Godzilla vs Kong

Filme garante bons momentos de porrada no encontro dos mostrengos mas peca na história e na apresentação dos personagens

Texto por Ana Clara Braga

Foto: Warner/Divulgação

No mundo dos monstros gigantes, quem tem tecnologia é rei. O CGI é capaz de transformar tudo em realidade, inclusive a batalha entre dois dos maiores monstrengos do cinema. Godzilla vs Kong (Godzilla vs. Kong, EUA/Austrália/Canadá/Índia, 2021 – Warner) é grandioso, uma mescla de ação e ficção científica que surpreende pela capacidade técnica. Mas deixa a desejar na história. 

Kong está vivendo em um santuário seu calmo cotidiano de macaco gigante. A sequência inicial, com trilha sonora e tom jocoso, mostra por alguns instantes um lado diferente do famoso monstro. A humanização de Kong já aponta um certo favoritismo inicial na aguardada briga. Ele ganha feições mais expressivas e um arco emotivo com a introdução da personagem Jia (Kaylee Hottle). 

Godzilla vs Kong, entretanto, aposta em duas narrativas paralelas. A primeira acompanha a saga dos doutores Nathan Lind (Alexander Skarsgård) e Ilene Andrews (Rebecca Hall) para levar o gorila de volta para sua casa na Terra Oca. A segunda é uma confusa história de conspiração envolvendo o realizador de podcast  Bernie Hayes (Brian Tyree Henry) e a adolescente inconsequente Madison Russell (Millie Bobby Brown). 

A estranha maneira de dividir enredos é uma frustrada tentativa de trabalhar os dois monstros que dão título ao longa separadamente. Enquanto o Time Kong é liderado por cientistas em uma história de aventura, o Time Godzilla encontra-se uma narrativa de alívio cômico e ficção científica. O último infiltra-se na Apex, empresa cujo dono contrata Nathan Lind para a expedição na Terra Oca. Tirando essa pequena coincidência, os dois grupos encontram-se apenas no final, quando tudo já está bem. É como se fossem dois filmes passando simultaneamente. No primeiro, de fato ocorre a luta entre Godzilla e King Kong; Já o segundo traz vibe Sessão da Tarde em que “uma turma muito atrapalhada” tenta descobrir os segredos de uma gigante da tecnologia. Essa escolha narrativa favorece o esquecimento: entre cortes de cena não lembrar o que estava acontecendo com o outro grupo não é algo difícil.  

Se tivesse sido feito vinte anos atrás Godzilla vs Kong não teria o mesmo valor. A tecnologia permitiu uma extravagância visual com direito a explosões, prédios sendo destruídos e belas paisagens de tela verde. Na hora em que a grande batalha chega, os ânimos já estão altos e ela não decepciona. Para quem gosta de ação, é um prato cheio. Para quem gosta de ação com monstros gigantes, é um banquete. Só que a introdução do mechagodzilla é um erro. O personagem poderia ser melhor apresentado como vilão em outro filme. Seus dez minutos de tela até tem justificativa, mas o robô imortalizado na mente das crianças dos anos 1970 é muito mal aproveitado. 

Godzilla vs Kong entrega o que promete: porrada. Como um bom cavalo de Tróia, dá de presente adolescentes viciados em podcasts. O resultado é mediano. Quem estava ansioso para a tão aguardada briga dos dois icônicos monstros, vai sair satisfeito. Quem queria algo a mais vai continuar querendo. 

Movies

Uma Segunda Chance Para Amar

História inspirada em canção de George Michael traz Emilia Clarke como uma jovem atrapalhada em busca da felicidade em tempos natalinos

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Texto por Ana Clara Braga

Foto: Universal Pictures/Divulgação

Filmes românticos que se passam nos feriados de final de ano já são rotineiros em Hollywood. Uma Segunda Chance Para Amar (Last Christmas, Reino Unido/EUA, 2019 – Universal Pictures) faz parte de mais uma leva de longas que tentam emplacar bilheteria com carisma e uma história açucarada. Com direção de Paul Feig e roteiro dos atores Emma Thompson e Greg Wise, o longa conta a história de Kate (Emilia Clarke) uma jovem sem rumo que acabou de se recuperar de um problema de saúde. A atriz de Game of Thrones dá vida a personagem de forma natural, gostosa de assistir. Com todos os erros, acertos, atrapalhos e reviravoltas, Kate torna-se uma mulher de fácil identificação.

Tudo muda para a protagonista quando ela conhece Tom (Henry Golding), um homem misterioso que parece enxergar a vida de uma maneira muito mais leve. A premissa clichê não compromete momentos genuinamente divertidos e emocionantes, somados a atuações espontâneas e nem um pouco tediosas. Emma Thompson também faz uma participação como Petra, a peculiar mãe de Kate. Sempre impecável, a atriz diverte e torna-se um dos destaques de Uma Segunda Chance Para Amar.

O filme apresenta uma visão interessante sobre a necessidade – ou não – de um relacionamento na vida de uma mulher. Ponto positivo. É um refresco para o gênero apresentar uma reflexão sobre um tema tão usado e desgastado. A trilha sonora embalada por George Michael é outro acerto e tanto. A delicada homenagem ajuda a contar a história e a criar a imagem da personagem principal, fã de carteirinha do cantor – cuja música “Last Christmas”, gravada em 1984 quando ele ainda participava da dupla Wham!, inspira a trama deste longa-metragem.

Mesmo com sua história bonitinha e divertida, Uma Segunda Chance Para Amar não foge do brega e do previsível. A reviravolta, não tão surpreendente, dá a sensação de que algo não foi explicado direito. A revelação poderia ter sido feita de uma maneira um pouco mais natural e menos nos moldes de novela das 6.

Com um elenco estrelado, um diretor acostumado a fazer comédia e a mesma roteirista responsável por Razão e Sensibilidade, as expectativas para esse filme eram altas. A sensação ao fim dos créditos é a de que faltou algo. Pois, afinal, tantos nomes grandes juntos deveriam produzir algo grandioso como um todo.