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Os Órfãos

Adaptação de conhecido livro de horror repete fórmulas, aposta em clichês batidos e desperdiça personagens que poderiam ser mais intereantes

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Texto por Ana Clara Braga

Foto: Universal Pictures/Divulgação

Existe uma nova leva de filmes de terror que estão repensando o gênero e trazendo novos elementos para o público. Entretanto, Os Órfãos (The Turning, Reino Unido/Irlanda/Canadá/EUA, 2020 – Universal Pictures) vai contra essa corrente de inovação e aposta nas muletas já desgastadas e que não causam mais medo.

O filme, dirigido por Flora Sigismondi, acompanha Kate (Mackenzie Davis) em seu novo emprego como professora particular da órfã Flora (Brooklynn Prince), que mora com seu irmão mais velho, Miles (Finn Wolfhard), em uma gigante mansão no Maine. Logo, coisas estranhas começam a acontecer. A premissa não é inovadora mas o desenrolar da história poderia ser. Mansões mal assombradas já são um clichê do cinema. Se mesmo assim diretor e roteiristas escolherem esse cenário, um ar fresco é necessário. E Os Órfãos tem todos os clássicos desse subgênero de terror, desde as aparições no espelho a pesadelos vívidos. Os jumpscares estão lá e em sua maioria são fáceis de ser previstos.

O roteiro é pobre e desperdiça uma boa atuação da protagonista. Em diversos momentos, a história parece que vai tomar um rumo interessante só que acabar por escolher o óbvio e o seguro. Como a trama é mais uma adaptação da história fantasmagórica Outra Volta do Parafuso (de Henry James e publicado pela primeira vez em 1898), talvez pelo texto já ter inspirado vários outros títulos a criatividade pareceu engessada aqui.

Os Órfãos ensaia uma modernidade com o personagem de Finn Wolfhard que, influenciado pelo antigo empregado da casa, torna-se um clássico exemplo de masculinidade tóxica. Mas fica por isso mesmo, não evolui. A história desse antigo empregado também é muito interessante para enredo e se fosse melhor aproveitada renderia um ótimo filme. Pena que no final é completamente desperdiçada por uma tentativa de plot twist a la M Night Shyamalan.

O que diretores e roteiristas de muitos títulos de terror ainda não entenderam é que os medos clássicos (como fantasmas e monstros) precisam entrar na realidade moderna, para que não fiquem datados. Este, infelizmente, é mais uma prova disso.

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Uma Segunda Chance Para Amar

História inspirada em canção de George Michael traz Emilia Clarke como uma jovem atrapalhada em busca da felicidade em tempos natalinos

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Texto por Ana Clara Braga

Foto: Universal Pictures/Divulgação

Filmes românticos que se passam nos feriados de final de ano já são rotineiros em Hollywood. Uma Segunda Chance Para Amar (Last Christmas, Reino Unido/EUA, 2019 – Universal Pictures) faz parte de mais uma leva de longas que tentam emplacar bilheteria com carisma e uma história açucarada. Com direção de Paul Feig e roteiro dos atores Emma Thompson e Greg Wise, o longa conta a história de Kate (Emilia Clarke) uma jovem sem rumo que acabou de se recuperar de um problema de saúde. A atriz de Game of Thrones dá vida a personagem de forma natural, gostosa de assistir. Com todos os erros, acertos, atrapalhos e reviravoltas, Kate torna-se uma mulher de fácil identificação.

Tudo muda para a protagonista quando ela conhece Tom (Henry Golding), um homem misterioso que parece enxergar a vida de uma maneira muito mais leve. A premissa clichê não compromete momentos genuinamente divertidos e emocionantes, somados a atuações espontâneas e nem um pouco tediosas. Emma Thompson também faz uma participação como Petra, a peculiar mãe de Kate. Sempre impecável, a atriz diverte e torna-se um dos destaques de Uma Segunda Chance Para Amar.

O filme apresenta uma visão interessante sobre a necessidade – ou não – de um relacionamento na vida de uma mulher. Ponto positivo. É um refresco para o gênero apresentar uma reflexão sobre um tema tão usado e desgastado. A trilha sonora embalada por George Michael é outro acerto e tanto. A delicada homenagem ajuda a contar a história e a criar a imagem da personagem principal, fã de carteirinha do cantor – cuja música “Last Christmas”, gravada em 1984 quando ele ainda participava da dupla Wham!, inspira a trama deste longa-metragem.

Mesmo com sua história bonitinha e divertida, Uma Segunda Chance Para Amar não foge do brega e do previsível. A reviravolta, não tão surpreendente, dá a sensação de que algo não foi explicado direito. A revelação poderia ter sido feita de uma maneira um pouco mais natural e menos nos moldes de novela das 6.

Com um elenco estrelado, um diretor acostumado a fazer comédia e a mesma roteirista responsável por Razão e Sensibilidade, as expectativas para esse filme eram altas. A sensação ao fim dos créditos é a de que faltou algo. Pois, afinal, tantos nomes grandes juntos deveriam produzir algo grandioso como um todo.