Music

Arctic Monkeys

Oito motivos (entre eles alguns que envolvem o aguardado álbum The Car, que acaba de ser lançado) para não perder os shows dos britânicos no Brasil

Texto por Abonico Smith

Fotos: Divulgação

Se existe um dos nomes mais aguardados pelos fãs brasileiros de indie rock neste fim de ano, ele é o do Arctic Monkeys. Afinal, o grupo liderado pelo guitarrista, vocalista principal e letrista Alex Turner está de volta aos discos e palcos.

Passado um intervalo de quatro anos, o quarteto volta a lançar um novo álbum, The Car, o sétimo trabalho de estúdio da carreira, que chegou oficialmente às lojas físicas e plataformas digitais neste último 21 de outubro. Trazendo como base a divulgação desta coleção de dez novas faixas, Turner, Jamie Cook (guitarra, teclados), Nick O’Mailey (baixo) e Matt Helders (bateria e backing vocals) já estão na estrada desde o verão europeu.

Depois de participarem de um punhado de festivais, o grupo levou a turnê homônima aos Estados Unidos e mais alguns países do Velho Continente antes de chegar à América Latina, onde passa o próximo mês com datas marcadas para Brasil, Paraguai, Chile, Argentina, Peru, Colômbia e México. Em território nacional, o grupo é um dos headliners da primeira noite (5 de novembro) da primeira edição da edição em verde e amarelo do Primavera Sound, em São Paulo, no Distrito Anhembi (outras informações sobre o festival você tem aqui). Na véspera (dia 4), fazem um dos sideshows do Primavera no Rio de Janeiro na Jeneusse Arena. O segundo compromisso (dia 8) será em Curitiba, na Pedreira Paulo Leminski. Em ambas as oportunidades, a atração de abertura ficará por conta dos nova-iorquinos do Interpol, também escalados para o Primavera BR. Mais sobre os ingressos desses dois concertos paralelos você pode encontrar clicando aqui.

Como esquenta dessa nova vinda ao país de uma das mais importantes formações do rock britânico do século 21, o Mondo Bacana preparou oito motivos para você nem sequer pensar em perder a nova passagem do quarteto por aqui.

The Car

O sétimo álbum de estúdio demorou mais do que o previsto para ser apresentado publicamente por conta de uma interrupção forçada pela pandemia da covid-19. Neste caso, porém, o mal veio para o bem Afinal, a banda pode ter um bom tempo de sossego e calma para trabalhar na pós-produção e refinando a sonoridade até chegar com requinte e perfeição ao objetivo inicialmente proposto: fazer dos Arctic Mokeys, em um total de dez faixas, uma grande banda de sonoridade pop orquestral sixtie. Scott Walker, John Barry, Serge Gainsbourg, Burt Bacharach, George Martin… Boas referencias saltam aos ouvidos já durante a primeira audição. Também percebe-se o esmero dos vocais impressos por Alex Turner. Ele canta com estilo, livre, leve e solto. Manda diversos trechos em falsete com aquela segurança que só o tempo é capaz de dar a um grande músico (vale lembrar que aquele garoto-prodígio dos dois primeiros álbuns avassaladores dos Arctic Monkeys já chegou aos 36 anos!). E tem ainda a bela capa clicada pelo baterista Helders, com um automóvel estacionado solitariamente no terraço de um edifício-garagem.

Ao vivo no Kings Theatre

No dia 22 de setembro, os Monkeys estavam em Nova York. Mais precisamente no tradicional e recentemente renovado Kings Theatre, no Brooklyn, para fazer diante de 3 mil espectadores aquela que, até agora, foi a mais luxuosa (e intimista, se contar que era o palco de um teatro e quem viu tudo estava sentado em uma poltrona confortável) apresentação da turnê de The Car. No set list figuraram quatro das dez faixas do novo disco, sendo duas tocadas pela primeira vez ao vivo diante de seus fãs. “There’d Better Be a Mirrorball” fez o trabalho de abertura da noite. Lá pelo meio pintou ainda “Body Paint”, que já havia sido mostrada dias antes, mas desta vez na TV, durante o talk show comandado por Jimmy Fallon. O restante do repertório (18 outras canções) deram uma boa espanada na já extensa trajetória do grupo de Sheffield, com destaque para o mais popular trabalho, AM, de onde foram pinçadas seis faixas. Hits não faltaram, para mostrar que, sim, os Monkeys continuam uma grandiosa banda ao vivo, com muito peso e presença de palco. Entre eles estavam “Do I Wanna Know”, “Arabella”, “R U Mine”, “Why’d You Call Me Only When You’re High?”, “Crying Lightning”, “Brainstorm” e “I Bet You Look Good On The Dancefloor”. De quebra, pintou uma composição que não estava prevista inicialmente no set preparado para a noite (“The Ultracheese”, do álbum anterior Tranquility Base Hotel + Casino). Ficou com vontade de poder ter estado lá e assistido a este concerto de 45 minutos? Então acesse o YouTube da banda neste domingo, 23 de outubro, às 16h no horário de Brasília. O show será transmitido pela banda na íntegra por lá. Não poderá assistir a ele neste horário? Não tem problema também: tudo ficará disponível ali mais um pouco, até o dia 27.

I Ain’t Quite Where I Think I Am

A performance desta nova música do show no Kings Theatre também virou o videoclipe oficial dela. Executada na parte final do set list, a canção ganhou uma aura soul com a combinação entre o vocal estiloso de Turner, o efeito wah wah da sua guitarra, uma percussãozinha discreta e aquela mãozinha poderosa dos backings em falsete feitos por vários músicos no palco. Para completar, a reunião de versos bastante abstratos criados pelo frontman desenham um certo sentimento de entranheza e nao pertencimento durante um passeio pela Riviera francesa com sua namorada também francesa.

There’d Better Be a Mirrorball

Faixa de abertura de The Car e também de boa parte dos shows da nova turnê. Quando tocada ao vivo, com os músicos recém-chegados ao palco, pode até causar estranheza em fãs mais desavisados, esperando uma pancadaria sonora para injetar adrenalina na plateia logo de cara. Só que não. O desafio da trupe de Turner no novo disco é provocar um mergulho retrô pela sofisticação do pop sessentista, quando belas melodias e harmonias bem trabalhadas se encontravam com muitos arranjos de cordas que em muito ainda contribuíam para a riqueza auditiva. Não é diferente em “There’d Better Be a Mirroball”. Com versos que flertam com ares reflexivos provocados pela deparação do protagonista/narrador com uma ambientação de explícita decadência e aquela sonoridade de boate da boca do lixo, a faixa é o cartão de visitas da nova fase do grupo. Portanto, nada melhor do que também começar o concerto com ela, com as cordas disparadas em bases pré-gravadas ou mesmo recriadas em sintetizador. Curiosidade: Alex também assina a direção e a fotografia do videoclipe. As imagens foram todas captadas por ele durante as sessões de gravação do novo disco em Los Angeles, para onde carregou a tiracolo uma câmera de 16mm para também brincar de cineasta dentro do estúdio.

Body Paint

Mais uma faixa de The Car que ganhou videoclipe oficial antes mesmo do disco ter sido lançado oficialmente. Com direção de Brook Linder e imagens captadas entre Londres e Missouri, o clipe é, na verdade, um metaclipe. Mostra os bastidores da filmagem e da edição de um filme e brinca com diversas referências de formas circulares e retilíneas, além de fazer da projeção dentro da projeção um elemento vivo de cena, que comanda por meio de luzes uma determinada linha melódica de um riff ou ainda faz o vocalista se multiplicar em três para cada um deles cantar uma parte do mesmo verso. Os cinéfilos poderão notar a reverência ao cineasta norte-americano Alan J. Pakula (Todos os Homens do PresidenteA TramaA Escolha de SofiaKlute: O Passado Condena).

Tranquility Base Hotel + Casino

The Car é um passo além daquele dado pelo grupo há quatro anos, quando relevou ao mundo o surpreendente sexto álbum da carreira. O peso, a urgência e a ansiedade explosiva dos primeiros trabalhos deram lugar, em 2018, a um trabalho muito maduro, que mesclava referências sonoras díspares (entre elas glam, progressivo, jazz e psicodelismo). Certamente The Car não teria sido feito se não tivesse existido Tranquility Base Hotel + Casino – que, inclusive, chegou a abocanhar o Grammy de melhor disco de rock alternativo. Suas duas principais faixas continuam mantidas no novo repertório ao vivo (a música-título e “Four Out Of Five”) e devem ser tocadas para os fãs brasileiros.

505

Favourite Worst Nightmare (lançado em2007), rendeu três grandes hits naquele ano: “Brainstorm”, “Fluorescent Adolescent” e “Teddy Picker”. Quinze anos depois, mais uma faixa daquele trabalho veio a se juntar à mesma galeria de sucessos. Trata-se do final daquele segundo álbum da carreira. “505”, a famosa “última do lado B”, descoberta meses atrás pela geração Z e que viralizou a tal ponto no TikTok que impulsionou a canção, outrora obscura e desconhecida, ao pódio das maiores execuções dos Monkeys no Spotify. O título se refere ao número do quarto do hotel onde está a namorada do narrador/protagonista da canção, que preenche os versos com muita imaginação e os sobrecarrega com pimenta sexual (“In my imagination you’re waiting lying on your side/ With your hands between your thighs”, diz o refrão). Turner, em entrevista ao website britânico NME, diz achar curioso e legítimo o revival intenso da canção por uma geração que ainda era bem criança quando ela foi gravada e fechava os shows da banda na mesma época, mas também confessa ter ficado um tanto quanto confuso sobre o porquê da escolha e da adoração desta faixa. De qualquer modo, ele que não é bobo, já encaixou “505” no repertório desta turnê e em um lugar especial: o encerramento do bis, logo antes de todos os músicos deixarem o palco em definitivo.

Menino-prodígio

Lá em meados dos anos 2000, quando o MySpace bombava entre os fãs de rock e pop como a plataforma de divulgação musical mais democrática e interessante na recente internet 2.0, nomes como Arctic Monkeys, Lily Allen e Cansei de Ser Sexy pegaram muita gente de surpresa ao voarem do quase anonimato para a fama mundial. No caso da banda de Sheffield, Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006) entrou para a História como o álbum de estreia de maior vendagem no mercado fonográfico britânico (contabilizou quase 400 mil exemplares somente na primeira semana nas lojas. E mais: lançado por um selo independente chamado Domino, faturou o Brit Awards de melhor álbum da temporada e ainda passou a ser incensado como um dos mais fantásticos primeiros discos de um artista em todos os tempos. Alex Turner era o cérebro por trás de toda essa força-motriz. As faixas empolgavam por conseguirem encaixar um canto falado em um arranjo básico (leia-se guitarra, baixo e bateria) poderoso, urgente e de alto teor de adrenalina. Algo que, guardadas as devidas proporções, não acontecia na ilha da Rainha Elizabeth desde os tempos do punk rock. As letras escritas pelo vocalista também eram fantasticamente criativas e elaboradas, cinematograficamente literárias, com vocabulário rico pouco comum para um jovem de apenas 20 anos. O bom é que tudo isso não se mostrou um fogo-de-palha. Favourite WIrst Nightmare veio no ano seguinte para dar prosseguimento ao grande estilo dos Monkeys. Depois, a banda elaborou o som, adotando mais peso e sujeira em discos como Humbug e AM, seu álbum mais popular até hoje. As letras escritas por Turner – ainda bem – continuaram com o sarrafo sendo posto lá em cima, ajudando o quarteto a se tornar uma das maiores bandas britânicas deste século 21. E tudo isso sem contar os projetos paralelos do rapaz, como a trilha sonora do filme Submarine e o Last Shadow Puppets, formação criada ao lado de Miles Kane ex-Rascals) e o produtor James Ford (nome seminal do indie disco dos anos 2000, membro do cultuado Simian Mobile Disco, produtor de todos os álbuns dos Monkeys e que já trabalho com gente do quilate de Depeche Mode, Gorillaz, Haim, Foals, Beth Ditto, Peaches, Florence & The Machine, Little Boots, Mumford and Sons, Kalxons, Kylie Minogue e Jessie Ware)

Music

Philippe Zdar (1967 – 2019)

Integrante do duo Cassius e produtor de discos de bandas como Phoenix e Franz Ferdindand deixa belo legado à música do Século 21

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Texto por Hermes Pons

Foto: Reprodução

A história da música é cheia de heróis anônimos ou pouco conhecidos. Nascido Phillippe Cerboneschi, o produtor Philippe Zdar já era um jovem talentoso no fim dos anos 1980, quando produzia faixas para o rapper MC Solaar com seu parceiro Hubert Blanc-Francard. Sua paixão pelo techno de Detroit e a house de Chicago levou à criação com Étienne de Crécy do projeto Motorbass (que mais tarde daria nome ao seu estúdio de gravação), e do duo Cassius com Blanc-Francard, responsável pelos hinos de pista “Feeling For You” e “1999”, do álbum também chamado 1999. Esses projetos foram fundamentais para o surgimento do french touch, movimento da house francesa que se utilizava de elementos do funk e do hip hop e trouxe ao mundo artistas como Daft Punk e Air – para ficar em apenas dois exemplos megaconhecidos.

Mas a habilidade de Zdar como produtor ia além da música eletrônica. Ele foi o responsável por consolidar o trabalho do grupo Phoenix, oferecendo conselhos e seu estúdio ainda em construção para os ensaios do primeiro álbum da banda, United, em 2000. Dez anos mais tarde, Phillipe e Phoenix ganhariam o Grammy de melhor álbum de música alternativa por Wolfgang Amadeus Phoenix (que gerou ao mundo os hits “1901” e “Lisztomania”). A lista de trabalhos dele não para aí: entre produção, mixagem e remixes, Zdar trabalhou com Beastie Boys, Chromeo, Rapture, Justice, Fatboy Slim, Cut Copy, Sebastien Tellier, Two Door Cinema Club, Franz Ferdinand (no álbum Always Ascending, lançado no início de 2018 e que marca uma guinada dos escoceses em direção à incorporação oficial de sonoridades eletrônicas), Cat Power, Hot Chip, Jay-Z, Kanye West e Pharrell Williams.

O perfeccionismo técnico não era a única característica do seu trabalho. Phillippe fazia questão de tornar tudo um prazer e não abria mão da conexão humana com os artistas com quem fazia as coisas. Ele recusou a produção de um álbum para Madonna apenas porque a cantora mandou seu agente fazer a proposta ao invés de fazê-la pessoalmente, como contou em uma entrevista para a revista The Fader.

Zdar faleceu na última quarta-feira, 19 de junho, aos 52 anos, ao cair acidentalmente da sacada em um prédio no centro de Paris. Seu último álbum como Cassius, Dreems, foi lançado dois dias depois, como já estava previsto bem antes da tragédia. Outro trabalho com a mão do francês também chegou às plataformas de streaming e lojas físicas e virtuais no mesmo dia: A Bath Full Of Ecstasy, o primeiro disco em que os ingleses do Hot Chip convidaram produtores para criar e gravar em conjunto com o quinteto em estúdio. Duas tristes coincidências.

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Aurora

Oito motivos para você não perder a passagem da cantora por Curitiba em sua nova vinda ao Brasil

Aurora2019

Texto por Abonico R. Smith

Foto: Divulgação

Revelação do pop feminino dos últimos anos, Aurora está percorrendo várias cidades do país com sua banda. Ela já se apresentou em três cidades (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte) e nesta quarta, 22 de maio, passa por Curitiba (saiba mais informações sobre o show na Ópera de Arame clicando aqui). Conhecida por ter regravado a música folk tradicional “Scaborough Fair” especialmente para a faixa de abertura da novela Deus Salve o Rei, exibida no ano passado pela Rede Globo, a cantora e compositora de pele muito branca, cabelos naturalmente platinados e aquela clássica beleza nórdica não costuma incluir esta canção no repertório de suas apresentações ao vivo. Para quem ainda não a conhece além desta releitura, o Mondo Bacana apresenta oito motivos pelos quais você não pode perder de maneira nenhuma a sua passagem pela capital paranaense.

Noruega

A culpa é do A-ha. Não fosse o trio ter tomado a MTV e, de quebra, o planeta todo de assalto lá em 1985 com o megahit “Take On Me”, talvez a produção de artistas noruegueses dos segmentos pop e rock não tivesse assim lá tanta importância posteriormente. Sondre Lerche, Ida Maria, Ane Brun, Jenny Hval, Royksopp, Kings Of Convenience/Erlend Oye, Datarock, Casiokids, Todd Terje, Turbonegro… Isso sem falar em toda uma peculiar cena de black, doom, gothic e outras subvertentes afins do metal (Burzum, Dimmu Borgir, Darkthrone, Gorgoroth, Mayhem, Ragnarok, Emperor, Tristania entre tantos outros nomes) ficando famosa não apenas pela sua música como também por atos como incendiar igrejas e assassinar a sangue frio companheiros de banda. Aurora Aksnes nasceu em 15 de junho de 1996 em Stavanger, a terceira maior cidade do país, e cresceu em Os, município do sul do país, próximo ao grande centro urbano de Bergen, localidade com número de habitantes inferior apenas à capital Oslo, onde ela reside atualmente.

Extensão vocal

Aurora é soprano, mas a elasticidade de sua extensão vocal certamente arrebata corações e expressões surpresa para quem ainda não conhece seu trabalho. Vai com muita naturalidade de oitavas mais graves a notas bastante altas.

Intimidade musical

Desde cedo Aurora sempre encontrou na música um refúgio para canalizar seus sentimentos. Sem a própria família saber, começou a ter aulas de piano aos 6 anos de idade, já experimentando compor as primeiras melodias. Aos 9 estendeu os estudos e treinamentos à voz. Na adolescência, fez sua primeira apresentação em público na escola, que a levou a fazer sucesso em programas locais de TV e sites de streaming musical. Isso a levou a assinar contrato com uma grande agência nacional de gerenciamento de carreira artística e ofertas de lançamento pelas gravadoras Glassnote e Decca. Não por acaso, o primeiro álbum da carreira saiu quando ela tinha apenas 19 anos, em março de 2016, reunindo registros feitos e compostos da infância a época de então.

“Runaway”

Se você quer ter o primeiro contato com a obra de Aurora e precisa escolher uma música para fazer isso, não tenha dúvidas: vá de “Runaway”, faixa incluída em All My Demons Greeting Me As Friend (o primeiro álbum) e também no EP de estreia, Running With The Wolves (de apenas quatro faixas, lançado em 2015). O conselho é dado pela própria artista, sempre que a perguntam sobre sua principal composição até aqui. “Como esta é uma das primeiras composições que eu fiz, torna-se uma maneira muito lógica de iniciar uma jornada pelo meu mundo”, declarou a artista em uma entrevista para a Billboard americana. Os versos falam sobre a fuga do mundo real para um local onde sentimentos e abstrações se encontram envoltos em um misto de paz, sossego e pertencimento. Assim, na verdade, podem ser descritas as letras escritas por Aurora: um universo particular e sensorialmente etéreo.

“Churchyard”

Estrategicamente escalada no início dos shows da atual turnê, esta faixa já empolga desde o início, com a cantora sendo acompanhada pelos músicos de sua banda em versos do refrão entoados a capella. Sexta faixa do segundo disco da cantora, Infections Of A Different Kind, “Churchyard” fala, segundo ela, sobre alguém que, em uma posição muito superior, utiliza seu poder na atual situação de uma forma completamente errada. Muita gente pode ter ligado isso, na época de lançamento do EP, ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas a própria Aurora tratou de afirmar que este é um simbolismo mais generalizado, embora isso aconteça o tempo todo na política mundial. Explicações à parte, o fato é que não tem como não se deixar levar pelo refrão poderoso e o arranjo percussivo que permeia toda a música.

“Queendom”

Outra faixa de destaque de Infections…, “Queendom” é o libelo feminista da norueguesa. Empoderamento, alegria e igualdade são três dos sentimentos que a cantora que passar diante de um mundo que vem aprendendo, mesmo que ainda a duras penas, a ser menos machista e patriarcal. Mas não apenas as mulheres são festejadas nestes versos, segundo ela. Há também espaço para as crianças, os animais e aquela parcela masculina que se sente deslocada da representatividade usual do gênero, como as pessoas mais introvertidas e quietas. Décimo single da carreira e talvez o maior hit de Aurora, a música vem disposta no encerramento do show.

Novo disco

O repertório da atual turnê costuma se equilibrar as atenções de modo igual entre All My Demons…e Infections…Porém, contempla ainda novidades para os fãs, acrescentando três ou quatro faixas do próximo disco, o quarto em quatro anos de trajetória profissional. A Differet Kind Of Human está previsto para chegar às lojas físicas e virtuais no comecinho de junho (mais precisamente no dia 7) e traz um conjunto de onze faixas que servem como complemento para as oito anteriores de Infections Of A Different Kind. Três singles já foram lançados desde o início deste ano e dois deles são presença certa no set listdos atuais shows: “The Seed” e “The River”. O terceiro, “Animals”, costuma aparecer em alguns concertos, assim como a ainda inédita “In Bottles”.

Peso no palco

A sonoridade de Aurora contempla o ecletismo de suas influências e referências musicais. Enquanto ela diz carregar muito consigo de nomes díspares como Leonard Cohen e Enya, os arranjos dos discos unem orquestrações, programações eletrônicas e a herança da folk music escandinava. Quando se transporta para o palco, contudo, a artista norueguesa se revela muito mais pesada do que nas gravações de estúdio. Sua banda conta com um baterista, dois tecladistas (sendo uma sua vocalista de apoio para dobrar vozes e realizar contracantos) e um guitarrista (que às vezes faz a função do baixo nas cordas mais graves do instrumento). Já funcionou em local aberto anteriormente por aqui (o Autódromo de Interlagos, em São Paulo, quando fez parte da programação do Lollapalooza Brasil de 2018) e em espaços menores, onde ela fica mais próxima da plateia, tem tudo para colocar ainda mais fogo do começo ao fim do repertório.

Music, Videos

Clipe: Sharon Van Etten – Seventeen

Artista: Sharon Van Etten

Música: Seventeen

Álbum: Remind Me Tomorrow (2019)

Por que assistir: Duas décadas depois, Sharon Van Etten decidiu olhar para trás e fazer um pequeno balanço de sua vida naquele que a cantora e compositora considera o seu álbum mais maduro e, ao mesmo tempo, provocando reflexões sem deixar-se cair para os lados dos choros das dores-de-cotovelos e tentativas de reerguimento após a fossa. Remind Me Tomorrow – que chega às lojas físicas e virtuais no dia 18 de janeiro após um intervalo de cinco anos desde o trabalho anterior – trazendo um punhado de faixas sobre a vida e o seu passado. Uma delas é “Seventeen”, que acaba de ganhar clipe rodado nas ruas e estações de transporte público de Nova York e do bairro de Clifton, em Nova Jersey, onde passou boa parte da adolescência. A letra desta música é algo do tipo Sharon quase chegando aos 40 anos dando conselhos e relembrando aquela teenager de 17, saindo da high school e alcançando a maioridade. Talvez um resultado das novas experiências adquiridas nos últimos anos, como o trabalho de atriz (para o seriado The OA), a gestação e a maternidade. As mudanças também podem ser sentidas na sonoridade. Sempre apaixonada pelo rock conduzido pelas guitarras, Van Etten resolveu se permitir e experimentar arranjos construídos por sintetizadores e batidas mais retas e dançantes. Muitos podem até sentir, nos versos, melodias e até mesmo o jeito de cantar, uma certa aproximação com um velho ídolo do rock também de Nova Jersey, Bruce Springsteen. A música ainda gruda logo de cara e faz com que Sharon desbrave novos territórios, como o do AOR (sigla para a expressão “adult oriented rock”, que significa um rock mais radiofônico e popular, mas sem deixar de explorar temáticas mais sérias, reflexivas e muitas vezes extremamente pessoais).

Texto por Abonico R. Smith