Music

Aurora

Oito motivos para você não perder a passagem da cantora por Curitiba em sua nova vinda ao Brasil

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Divulgação

Revelação do pop feminino dos últimos anos, Aurora está percorrendo várias cidades do país com sua banda. Ela já se apresentou em três cidades (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte) e nesta quarta, 22 de maio, passa por Curitiba (saiba mais informações sobre o show na Ópera de Arame clicando aqui). Conhecida por ter regravado a música folk tradicional “Scaborough Fair” especialmente para a faixa de abertura da novela Deus Salve o Rei, exibida no ano passado pela Rede Globo, a cantora e compositora de pele muito branca, cabelos naturalmente platinados e aquela clássica beleza nórdica não costuma incluir esta canção no repertório de suas apresentações ao vivo. Para quem ainda não a conhece além desta releitura, o Mondo Bacana apresenta oito motivos pelos quais você não pode perder de maneira nenhuma a sua passagem pela capital paranaense.

Noruega

A culpa é do A-ha. Não fosse o trio ter tomado a MTV e, de quebra, o planeta todo de assalto lá em 1985 com o megahit “Take On Me”, talvez a produção de artistas noruegueses dos segmentos pop e rock não tivesse assim lá tanta importância posteriormente. Sondre Lerche, Ida Maria, Ane Brun, Jenny Hval, Royksopp, Kings Of Convenience/Erlend Oye, Datarock, Casiokids, Todd Terje, Turbonegro… Isso sem falar em toda uma peculiar cena de black, doom, gothic e outras subvertentes afins do metal (Burzum, Dimmu Borgir, Darkthrone, Gorgoroth, Mayhem, Ragnarok, Emperor, Tristania entre tantos outros nomes) ficando famosa não apenas pela sua música como também por atos como incendiar igrejas e assassinar a sangue frio companheiros de banda. Aurora Aksnes nasceu em 15 de junho de 1996 em Stavanger, a terceira maior cidade do país, e cresceu em Os, município do sul do país, próximo ao grande centro urbano de Bergen, localidade com número de habitantes inferior apenas à capital Oslo, onde ela reside atualmente.

Extensão vocal

Aurora é soprano, mas a elasticidade de sua extensão vocal certamente arrebata corações e expressões surpresa para quem ainda não conhece seu trabalho. Vai com muita naturalidade de oitavas mais graves a notas bastante altas.

Intimidade musical

Desde cedo Aurora sempre encontrou na música um refúgio para canalizar seus sentimentos. Sem a própria família saber, começou a ter aulas de piano aos 6 anos de idade, já experimentando compor as primeiras melodias. Aos 9 estendeu os estudos e treinamentos à voz. Na adolescência, fez sua primeira apresentação em público na escola, que a levou a fazer sucesso em programas locais de TV e sites de streaming musical. Isso a levou a assinar contrato com uma grande agência nacional de gerenciamento de carreira artística e ofertas de lançamento pelas gravadoras Glassnote e Decca. Não por acaso, o primeiro álbum da carreira saiu quando ela tinha apenas 19 anos, em março de 2016, reunindo registros feitos e compostos da infância a época de então.

“Runaway”

Se você quer ter o primeiro contato com a obra de Aurora e precisa escolher uma música para fazer isso, não tenha dúvidas: vá de “Runaway”, faixa incluída em All My Demons Greeting Me As Friend (o primeiro álbum) e também no EP de estreia, Running With The Wolves (de apenas quatro faixas, lançado em 2015). O conselho é dado pela própria artista, sempre que a perguntam sobre sua principal composição até aqui. “Como esta é uma das primeiras composições que eu fiz, torna-se uma maneira muito lógica de iniciar uma jornada pelo meu mundo”, declarou a artista em uma entrevista para a Billboard americana. Os versos falam sobre a fuga do mundo real para um local onde sentimentos e abstrações se encontram envoltos em um misto de paz, sossego e pertencimento. Assim, na verdade, podem ser descritas as letras escritas por Aurora: um universo particular e sensorialmente etéreo.

“Churchyard”

Estrategicamente escalada no início dos shows da atual turnê, esta faixa já empolga desde o início, com a cantora sendo acompanhada pelos músicos de sua banda em versos do refrão entoados a capella. Sexta faixa do segundo disco da cantora, Infections Of A Different Kind, “Churchyard” fala, segundo ela, sobre alguém que, em uma posição muito superior, utiliza seu poder na atual situação de uma forma completamente errada. Muita gente pode ter ligado isso, na época de lançamento do EP, ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas a própria Aurora tratou de afirmar que este é um simbolismo mais generalizado, embora isso aconteça o tempo todo na política mundial. Explicações à parte, o fato é que não tem como não se deixar levar pelo refrão poderoso e o arranjo percussivo que permeia toda a música.

“Queendom”

Outra faixa de destaque de Infections…, “Queendom” é o libelo feminista da norueguesa. Empoderamento, alegria e igualdade são três dos sentimentos que a cantora que passar diante de um mundo que vem aprendendo, mesmo que ainda a duras penas, a ser menos machista e patriarcal. Mas não apenas as mulheres são festejadas nestes versos, segundo ela. Há também espaço para as crianças, os animais e aquela parcela masculina que se sente deslocada da representatividade usual do gênero, como as pessoas mais introvertidas e quietas. Décimo single da carreira e talvez o maior hit de Aurora, a música vem disposta no encerramento do show.

Novo disco

O repertório da atual turnê costuma se equilibrar as atenções de modo igual entre All My Demons…e Infections…Porém, contempla ainda novidades para os fãs, acrescentando três ou quatro faixas do próximo disco, o quarto em quatro anos de trajetória profissional. A Differet Kind Of Human está previsto para chegar às lojas físicas e virtuais no comecinho de junho (mais precisamente no dia 7) e traz um conjunto de onze faixas que servem como complemento para as oito anteriores de Infections Of A Different Kind. Três singles já foram lançados desde o início deste ano e dois deles são presença certa no set listdos atuais shows: “The Seed” e “The River”. O terceiro, “Animals”, costuma aparecer em alguns concertos, assim como a ainda inédita “In Bottles”.

Peso no palco

A sonoridade de Aurora contempla o ecletismo de suas influências e referências musicais. Enquanto ela diz carregar muito consigo de nomes díspares como Leonard Cohen e Enya, os arranjos dos discos unem orquestrações, programações eletrônicas e a herança da folk music escandinava. Quando se transporta para o palco, contudo, a artista norueguesa se revela muito mais pesada do que nas gravações de estúdio. Sua banda conta com um baterista, dois tecladistas (sendo uma sua vocalista de apoio para dobrar vozes e realizar contracantos) e um guitarrista (que às vezes faz a função do baixo nas cordas mais graves do instrumento). Já funcionou em local aberto anteriormente por aqui (o Autódromo de Interlagos, em São Paulo, quando fez parte da programação do Lollapalooza Brasil de 2018) e em espaços menores, onde ela fica mais próxima da plateia, tem tudo para colocar ainda mais fogo do começo ao fim do repertório.

Music

Wander Wildner – ao vivo

Menestrel lança novo álbum sem deixar de lado os velhos clássicos e mostra que está em forma e de bem com a vida

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Texto e foto por Fábio Soares

Segundo o dicionário, menestrel, na Idade Média, era “o poeta e bardo cujo desempenho lírico referia-se a histórias de lugares distantes ou sobre eventos históricos reais ou imaginários”. Seguindo essa premissa, Wanderley Luís Wildner incorpora este personagem como ninguém aos trinta anos de carreira solo e pôde exercê-lo no último 30 de março, sábado, no Sesc Belenzinho, em São Paulo, no show de lançamento de seu mais recente álbum O Mar Vai Muito Mais Além No Meu Olhar.

Com o acompanhamento de Rust Costa (piano), Clauber Cholles (baixo), Jimi Joe (guitarra) e Fred Vittola (bateria), a apresentação foi dividida em duas partes. Na primeira O Mar Vai Muito Além…foi executado quase na íntegra, com destaque para a faixa de abertura “Éter Na Mente” (balada etérea, refrão forte e triste atmosfera) e “Caminando y Cantando” (folk “para cima” com letra em espanhol que pôs toda a audiência para dançar). Aliás, a plateia de um show de Wander Wildner é algo que chama a atenção. Basicamente formada por membros na casa dos 40 anos (muitos, inclusive, acompanhados de seus filhos), que elevam o cantor à categoria de “herói” mesmo ele sendo hippie, punk, brega ou rajneesh – como o próprio já se definiu anteriormente.

A segunda parte ficou reservada à revisitação de seus grandes sucessos. E foi neste momento que a atmosfera de culto religioso se fez presente. Também, era impossível ficar parado com “Numa Ilha Qualquer”, “Mantra das Possibilidades”, “Dani” e “Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo”. Todas cantadas em uníssono pela plateia (eu, incluso) e beirando a comoção.

Com o passar do tempo, nosso menestrel também apresenta mudança de postura ao vivo. Durante os 90 minutos desta apresentação, permaneceu sentado em 100% do tempo. A impressão que se tem é que, às vésperas de entrar para o time dos sexagenários (fato este que ocorrerá em setembro próximo), Wander Wildner quer se manter longe de polêmicas. Sorrindo, encerrou “Bebendo Vinho” adaptando seu verso final para “E agora estou com meus amigos” para delírio dos presentes.

Constantemente elogiava a plateia e realmente se mostrava feliz em desfilar seu repertório. É uma nova fase para alguém que já foi sinônimo de “metralhadora giratória” com verborragia ao extremo. Encerrou a apresentação com “Boas Notícias”, do álbum Wanclub, em que diz “Eu lhe prometo que trarei boas notícias quando eu voltar/ Se não voltar, as boas notícias estarão lá”. Ovacionado do início ao fim, encontrou tempo para, pacientemente, atender seus seguidores após o show. Sorridente, distribuiu autógrafos, selfies e gentilezas, bem diferente do astro muitas vezes inacessível e em estado deplorável após algumas apresentações.

Na saída, esperando por um táxi, Wander passou por mim cercado de amigos, foi gentil com os porteiros do Sesc e seguiu seu caminho. Que bom ver que ele está feliz, fazendo jus a um dos versos da canção que encerrou sua apresentação: “Eu lhe prometo que trarei boas notícias quando eu voltar/Se não voltar, as boas notícias estarão lá”.

Set list: “Éter Na Mente”, “Beachboys”, “A Dança de Tudo”, “Campeche”, “O Sinal”, “Imagination”, “Puertas y Puertos”, “Caminando y Cantando”, “No Ritmo da Vida”, “Machu Picchu”, “Rodando El Mundo”, “Numa Ilha Qualquer”, “Mantra das Possibilidades”, “Dani”, “Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo”, “O Sol Que Me Ilumina”, “Sandina”, “O Último Romântico da Rua Augusta”, “Bebendo Vinho”, “Com Liniker e Com Desapego”, “Eu Não Consigo Ser Alegre O Tempo Inteiro”, “Mares de Cerveja” e “Boas Notícias”.

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Silva – ao vivo

De volta à capital paranaense depois de quatro anos, o tímido capixaba mostrou uma fase menos pop e mais próxima à música brasileira

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Texto por Kevin Grenzel

Foto de Jocastha Conceição

Com um notável amadurecimento lírico, Silva voltou à capital paranaense após quatro anos. Era a turnê de seu novo álbum, Brasileiro, no qual abraça a musicalidade de nosso país e oferece conforto ao ouvinte que se perde nos sentimentos íntimos do compositor. E conforto pode ser muito bem a palavra que define o novo trabalho do cantor capixaba. Diferentemente de seu último trabalho autoral, Júpiter, Silva traz um refresco com faixas mais coesas e maior renovação, distanciando-se da essência pop e comercial do álbum de 2015.

A abertura foi realizada pelo Cidrais. O grupo curitibano é formado por três irmãos, possui letras sentimentais e aquela musicalidade minimalista nos recebia de braços abertos e fazia esquecer da imensidão da Ópera de Arame, trazendo uma tranquilidade singular e aquecendo os corações para a apresentação a seguir. Ao fim de cada uma das três musicas tocadas pelo trio, uma mensagem de amor e esperança, um recado necessário em um momento de polarização e insatisfação política. “Amar em tempos de ódio é um ato revolucionário”: foi com esse recado que o Cidrais abandona o palco, em um clima levemente melancólico mas de aconchego. Serviu para distrair de toda agitação que habita fora os portões do teatro.

Dando continuidade a essa mensagem de amor e empatia, Silva subiu ao palco com “Nada Será Mais Como era Antes”, primeira música de seu novo álbum. O ambiente se transformou. A melancolia se esvaiu e a euforia tomou conta do público, que cantava os versos com paixão. O primeiro ato foi conduzido com calma, sem grandes variações de ritmo, para que o publico degustasse cada nuance dos acordes e fosse criada uma atmosfera tranquila para a agitação que viria a seguir. A mudança veio com “Ela Voa”, que combinou o efeito oscilante da música a uma variação da iluminação que remetia ao efeito ondulatório do mar. No fim desta música ele se aproximou do publico com uma breve conversa, relembrando a ultima vinda a Curitiba, em 2014.

Era possível notar certa timidez no cantor, fosse pelas poucas palavras trocadas com o público ou o fato de recitar suas poesias de olhos fechados. Silva já confessou sua timidez e ansiedade antes dos shows –  ele mesmo disse “não ser muito bom com as palavras”. Mas nem precisava: sua música fala por ele e desvendar a particularidade de seus versos é um exercício gratificante ao espectador.

Após essa conversa, o show se tornou ainda mais minimalista, com arranjos formados apenas por violão e bateria. Destaque para a performance de “Milhões de Vozes”. A composição colaborativa entre Silva e Arnaldo Antunes é um grito de protesto discreto aos acontecimentos recentes. Conforme citado pelo artista, “essa música poderia se chamar “#EleNão” se fosse escrita atualmente”.

Essa parte da apresentação foi destinada principalmente a homenagens a influencias musicais e pessoas próximas ao artista, com elogios a Caetano Veloso, Arnaldo Antunes e Gal Costa. Silva apresentou aos curitibanos os dois músicos de sua banda (Lucas Arruda no baixo e Hugo Coutinho na percussão e programações). O cantor ainda interpretou a canção “Prova dos Nove” de autoria de seu sogro, Dé Santos, e sucintamente contou a relação estreante de Dé com a música, bem como rasgou alguns elogios a ele.

Próximo ao encerramento da performance, tivemos o momento de maior interação do publico durante a apresentação de “Duas da Tarde”, momento em que os fãs do capixaba ligaram as lanternas de seus celulares, transformando o teto do teatro em um céu estrelado.

Ao fim do show, Silva pediu para que todos ficassem em pé e tivessem a liberdade para dançar a última música da noite, “Guerra de Amor”, canção do novo álbum em que pode se notar as maiores influencias do samba e musica brasileira. Com um sorriso tímido, o musico se despediu e rapidamente fugiu dos holofotes.

Após os eufóricos gritos de “mais um”, Silva retornou ao palco, com ânimo e folego renovados. Apresentou aos fãs não apenas uma música, mas mais três canções, para então sim se retirar da Ópera de Arame, com uma despedida não com tanta pressa assim quanto a anterior.

Set list: “Nada Será Mais Como Era Antes”, “Let Me Say”, “Caju”, “Claridão/Janeiro”, “Guerra de Amor”, “Feliz e Ponto”, “Que Maravilha”, “Palavras no Corpo”,  “Ela Voa”, “Mais Cedo”, “Milhões de Vozes”, “(There Is) No Greater Love”, “Júpiter”, “Menino do Rio”, “Eu Sempre Quis”, “Beija Eu”, “Prova dos Nove”, “Duas da Tarde” e“A Cor é Rosa”. Bis: “O Show Tem Que Continuar”, “Fica Tudo Bem” e “Brasil, Brasil”.

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Sofar Sounds #33 – ao vivo

O piano-voz de Kübler, o intimismo de Rosie Mankato e o inclassificável Itaercio Rocha foram as atrações da mais recente edição em Curitiba

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Texto por André Mantra (Cena Low-Fi)

Fotos de Eve Ramos

Não dá para falar do Sofar Sound(s) sem explicar o que se trata. Mesmo que neste formato seja a edição #33 em Curitiba e no seu quarto ano nesta capital, mesmo sendo a nossa primeira resenha a respeito – por isso, a nossa mea culpa assumida junto à contextualização. O projeto foi criado em 2009, em Londres, através do trio Rafe Offer, Rocky Start e Dave Alexander e então, quase dez anos depois, está presente em 418 cidades pelo mundo, apesar do seu formato clássico ainda permanecer ativo: um local secreto, com público secreto (inscritos e selecionados) para apreciar artistas e principalmente a sua música. Uma experiência aparentemente surreal a cada dia que vivemos, levando-se em conta os tempos atuais de reclusão, intolerância, aplicativos e redes sociais.

Na capital paranaense, as edições locais tem apresentação, curadoria, assinatura de produção e realização das parcerias ficam por conta de Aline Valente Lobo (sendo a Cactus Raius Arte & Rock’n’Roll a produtora). As apresentações são curtas, em formato pocket show, em média de 30 minutos durando de 4 a 6 canções de duração. Por isso, é fundamental um set list bem elaborado para que o artista possa mostrar o seu melhor naquele momento. Outra característica é que normalmente são convidados nomes novos, sem um grande público formado, o que combina com a quantidade de expectadores – um número inferior a 200 pessoas. Há também a ambientação e uma referência do que é capaz de promover a tal da economia criativa. Acredite(m), há mais detalhes a serem observados, contudo, ficaremos por aqui.

A última edição de Curitiba foi realizada em 23 de de setembro de 2018, no Rause Café & Vinho. Foram convidados para apresentarem-se nesta noite Kübler, Rosie Mankato e o classudo Itaercio Rocha.

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A primeira atração surpresa adentrou o palco com lábios (intensamente) e olhos (ligeiramente) vermelhos. Ao microfone, a capella, começou a cantar “Botox” antes de sentar ao piano e finalmente mostrar a que veio. Aliás, esta é uma canção premiada em concurso musical, pois Kübler é um cantautor participante de vários deles; um artista muito refinado que usa seu talento aliando o lírico e o popular através do canto técnico e uma musicalidade bem elaborada mas sem excessos, com letras irônicas, críticas e autocríticas – e também amores (conquistados e perdidos). Os ouvintes mais antigos e desavisados poderão compará-lo a Eduardo Dussek. Prestes a lançar seu primeiro trabalho e se dedicar mais ao ofício musical, realizou uma boa apresentação. O melhor momento ficou por conta da canção “Cante Comigo Esse Refrão Clichê de Pop Farofa”, quando toda a platéia cantou… o refrão. Por ter sido uma apresentação basicamente de voz e piano, era possível ouvir, pasmem!, o funcionamento do bar do local.

Ao lado da baterista Carolina Pisco (da banda Mulamba) e do baixista e produtor Fabrício Rossini, Rosanne Machado voltou a virar Rosie Mankato e realizou um pocket show consistente. Também a contou com a participação de Klüber que, ao piano e de improviso, participou da primeira e da última músicas. Foram momentos muito bons. Rosie soltou a voz enquanto cantava e sussurrava enquanto falava com a plateia – embora nada disso tenha tirado o seu brilho e da apresentação em si. Já é possível notar a boa aceitação das canções novas e que não há amnésia em relação ao legado de sua ex-banda Rosie & Me. No final, ainda houve tempo de inserir um cover da cantora Kesha (“Die Young”). Naquela altura, o evento estava efervescendo.

Rosie Mankato

Depois de duas apresentações com a cara do Paraná – bilíngue, com raízes da MPB e do mundo (indie, pop e coisas dissonantes), pessoas que falam mais pela música que no discurso – lá veio a inclassificável entidade que atende por Itaércio Rocha (teatro de bonecos; o maior bloco de carnaval do estado, Garibaldis e Sacis; a banda Mundaréu e muito mais) veio defender o seu segundo álbum solo, após um longo período da sua estreia. Cabloco, este mais recente trabalho, reforça a musicalidade brasileiríssima e rica além do carisma e domínio da ação no palco, o seu habitat mais que natural. As novas músicas encantam, mas não mais que a figuraça que ele representa. Como resultado, uma quebra, definitiva, de gelo no Rause Café. O público presente, cuja média de idade ficava em torno dos 30 anos, estava em total descontração. A canção “Ele Me Ama”, que tem uma pegada bem dançante e o refrão “ele me ama, ele me ama, eu sei, ele me ama, mas não quer ser gay”, ecoava nos quatro cantos. Tanto que acabou repetida no bis.

A experiência da 33ª edição do Sofar Sounds Curitiba foi concluída com sucesso. Um evento que começa e termina cedo, mesmo aos domingos, em locais descolados, atrações que dialogam com o seu público, mesmo que ambos não sejam avisados, um clima de (re)encontro com @ crush. As surpresas proporcionadas por essa proposta de audição e participação dos envolvidos combinam perfeitamente com a vida de artistas, profissionais do meio fonográfico, sonorização, produtores culturais e os demais envolvidos.

Set list Kübler: “Detox”, “Valsa da Persuasão”, “Ismó Latra”, “Cante Comigo Esse Refrão Clichê de Pop Farofa” e “Parede Simplório (Quartevisão)”.

Set list Rosie Mankato: “Chino”, “The Big Fight”, “Shotgun To The Heart”, “Holler”, “Come Back” e “Die Young”.

Set list Itaercio Rocha: “Alvoradinha de Amor”, “Calunga”, “Ele Me Ama”, “Atotô + Olubajé”, “Cabloco” e “Igapó”. Bis: “Ele Me Ama”.