Movies

Tudo o que Você Podia Ser

Longa-metragem mineiro de estética que flerta com o documental aborda como o dia a dia trans pode ser repleto de afeto e carinho

Texto por Abonico Smith

Foto: Vitrine Filmes/Divulgação

Composta pelos irmãos Márcio e Lô Borges,  “Tudo o que Você Podia Ser” é a  faixa de abertura do clássico álbum Clube da Esquina, com interpretação de Milton Nascimento. A letra fala de sonhos almejados e algumas conquistas não obtidas mas, sobretudo, de muita luta e perseverança para ir atrás do que se quer. Meio século depois o título vai como uma luva no novo longa-metragem que ocupa, a partir deste mês de junho, dedicado à celebração da diversidade sexual e do orgulho LGBTQIA+, a faixa Vitrine Petrobrás de exibição em salas de mais de vinte cidades mineiras. E detalhe: um a produção mineira, rodado em Belo Horizonte, feita por e com artistas locais.

Tudo o que Você Podia Ser (Brasil, 2023 – Vitrine Filmes) aborda o cotidiano de quatro amigas belorizontinas que se encaixam no espectro que reúne trans, travestis e pessoas não-bináries. Com direção de Ricardo Alves Jr e roteiro de Germano Porto, o filme aborda, com muita simplicidade, o dia a dia das personagens interpretadas por Aisha Brunno, Bramma Bremmer, Igui Leal e Will Soares, cujas histórias contadas na tela (e também seus nomes) acabam se misturando tanto com a realidade que os créditos dos diálogos também são creditados ao quarteto vindo do teatro da capital mineira. Ali, em cena, abordando a simplicidade do dia a dia de todas elas – seus sonhos, objetivos dificuldades, experiências de vida – durante os últimos momentos da mais velha delas na cidade, já que ela embarcará para uma viagem e quer curtir ao máximo os últimos momentos de afeto com as pessoas do seu coração.

E é justamente na questão do afeto que reside o grande trunfo do filme. Primeiro porque demonstra que questões referentes à identidade queer também podem ser encaradas de boa no seio da família, sem derrapar para preconceito e não aceitação. E o filme também mostra que transexualidade e não binariedade podem muito bem rimar com situações cotidianas absolutamente comuns para o lado cisgênero, como estudos avançados (uma das personagens relata que acabou de ser aceita em um curso de doutorado na Alemanha), visita a um sobrinho recém-nascido, escolha de roupas para doação, um mero jogo tipo verdade ou consequência, preparação para a balada ou mesmo a larica da madrugada numa lanchonete de rua. A principal bandeira aqui é fazer cair por terra aquela imagem de que uma vida trans, por mais perrengues que possa vir a ter, precisa vir encharcada em tintas soturnas, escondida na marginalidade ou conflituosa na sordidez.

Aí que entra outro trunfo do longa, menos perceptível para o espectador que não decodifica muito a linguagem do cinema. Cheia de improvisações e naturalismo de imagens, a ficção de Tudo o que Você Podia Ser beira a aparência documental, também, de certa forma, flertando com o gênero. De vez em quando a câmera treme, vai buscar alguém que está completamente fora do início daquela cena e se permite colocar na situação de que nem tudo está no controle do diretor, roteirista e, sobretudo, do diretor de fotografia.

Os abraços, beijos, carinhos e afetos transmitidos por e entre Aisha, Bramma, Igui e Will representam o poder social desta produção, tão necessária para o levante LGBTQIA+ que invade nossas artes trazendo a representatividade e diversidade dos dias atuais. Que venham mais obras cinematográficas neste sentido.

Movies, News, TV

Oscar 2019

Oito motivos para você não se esquecer da cerimônia de entrega dos prêmios Academy Awards deste ano

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Reprodução

Queen

Muita gente pode ter se perguntado: o que diabos o Queen faria lá no palco do Dolby Theatre em Los Angeles na cerimônia do Oscar em 2019? Afinal, até então, o privilégio para a apresentação de números musicais ao vivo era dado somente às canções originais concorrentes na categoria. A dúvida se desfez logo após a primeira batida da noite deste 24 de fevereiro, dando abertura à festa. Sob o comando de Roger Taylor, o “tum-tum-tá” típico de “Will We Rock” colocou de pé as estrelas de Hollywood e todos os especialistas nos bastidores da sétima arte. Logo depois viriam Adam Lambert na voz e Brian May no matador solo de guitarra que conclui o arranjo. Era o Queen (ou o que sobrou dele; ou, para muitos, apenas um cover oficial da própria banda) abrindo alas para Bohemian Rhapsody brilhar na noite faturando o mais alto número de prêmios para um único filme (quatro, no total, incluindo o de ator para Rami Malek, no papel de Freedie Mercury). Logo em seguida, o trio Taylor-May-Lambert emendou a balada “We Are The Champions”, que, originalmente também vem na sequência de “We Will Rock You”, no álbum News Of The World). Jogo ganho. Não só in locomas também ao redor do mundo inteiro. Já que o Oscar quis fazer desta noite uma aposta mais popular e chamativa, conseguiu logo de cara. De quebra, o filme sobre Mercury e Queen ainda uniu novamente a dupla de Quanto Mais Idiota Melhor (Mike Myers e Dana Carvey, eternamente populares pela cena em que seus personagens batem cabeça no carro ao som da parte mais pesada de “Bohemian Rhapsody”) para fazer o anúncio do videoclipe que apresentava a obra como uma das indicadas ao prêmio máximo da noite.

Heróis e vilões

Muito de falou nas últimas semanas sobre quem poderia ser o apresentador oficial do Oscar. Contudo, nenhum ator ou comediante acabou fechando contrato para o papel de âncora. A Academia, então, anunciou que as aberturas dos envelopes seriam feitas por “heróis e vilões do cinema”. Contudo, quem esperava que alguém pudesse surgiu caracterizado com uniformes, roupas, cabelos e maquiagens típicas dos personagens encarnados nas telas, errou redondamente. Por conta de direitos autorais, isso não foi realizado. Entraram, sim, atrizes e atores vestidos formalmente (com exceção da dupla Melissa McCarthy e Bryan Tyree Henry, que partiram de vez pro escracho misturando exageros e símbolos referentes aos longas A Favorita e Pantera Negra). A “Rainha Anne” de Melissa estava com dezenas de coelhos adornando uma capa de cauda longuíssima, por exemplo. Um dos poucos momentos de humor debochado da noite. Valeu a pena.

Lady Gaga e Bradley Cooper

Já era prevista a vitória de “Shallow” como a canção original da temporada cinematográfica. Contudo, o número musical protagonizado pela dupla de atores de Nasce Uma Estrela foi comovente. A balada poderosa – que entre seus compositores, além da Gaga, tem o DJ e produtor Mark Ronson (responsável por muitos discos de primeira, entre eles Back To Black, de Amy Winehouse) e o guitarrista Anthony Rossomando (cujo currículo traz serviços prestados a excelentes bandas indie como Libertines e Dirty Pretty Things) – começou com um playback instrumental na medida para Gaga e Cooper soltarem o gogó de forma franca, sincera e emocional. De quebra, a cantora e atriz ainda tocou piano na parte final do arranjo. Como diz o Faustão, quem sabe faz ao vivo.

Spike Lee

Justiça foi feita a um dos diretores e roteiristas mais importantes do novo cinema autoral norte-americano das últimas décadas. Infiltrado na Klan, uma das obras mais interessantes desta temporada, concorria nas categorias filme, direção e roteiro adaptado. Pode ter perdido nas duas primeiras, mas pelo menos abocanhou uma “consolação de luxo” por contra a história do policial negro que consegue, do modo mais absurdo e inteligente possível, ser aceito nos quadros da organização fascista e racista que tocava o terror nos estados do Sul dos Estados Unidos até bem pouco tempo atrás. Vestido de chofer com a cor violeta dando o tom dos pés ao quepe, ele chegou no palco pulando no colo do apresentador Samuel L Jackson e ainda fez um belo discurso cheio de conteúdo sóciopolítico.

Olivia Colman

Quem também brilhou no discurso foi a atriz britânica Olivia Colman. Ou melhor, no não-discurso. Visivelmente transtornada de emoção e surpresa por ter superado “a favorita” (não dá para escapar do trocadilho infame!) Glenn Close na categoria, ela não sabia se falava, chorava, gaguejava ou mandava beijos para as concorrentes superadas. Com a estatueta na mão, protagonizou informalmente um dos mais espontâneos e engraçados momentos da cerimônia. De quebra quase se pôs de joelhos aos pés de Lady Gaga, que, sentada na fila da frente, retribuiu o carinho também de forma histriônica. E convenhamos: o trabalho de Colman como a Rainha Anne da A Favorita está espetacular. E nem é pela transformação física, de ter ganhado quinze quilos a mais para fazer o papel.

Pantera Negra

Antes de começar a cerimônia, o filme já havia quebrado uma escrita e entrado na História: foi a primeira produção baseada em um super-herói dos quadrinhos a concorrer à premiação máxima da noite. Se o drama com elenco negro e vivido quase que inteiramente na África (no fictício país de Wakanda) não foi agraciado como o melhor longa-metragem da noite, pelo menos saiu com três importantes prêmios técnicos: trilha sonora, figurinos e design de produção (categoria antigamente chamada direção de arte). Sinal de que uma produção caprichada nicho do grandioso público nerd pode, sim, rimar arte com altas bilheterias.

Alfonso Cuarón

Produtor, diretor, roteirista, fotógrafo. Alfonso Cuarón foi praticamente um faz-tudo nas funções mais importantes de Roma. Seu trabalho competentíssimo – e carregado de emoção e lembranças de sua vida na infância – garantiu a ele um excesso de bagagem para a volta para casa: faturou três estatuetas na noite, referentes às categorias filme em língua não inglesa, cinematografia e direção. Não levou a de melhor filme, é bem verdade, embora merecesse também. Entretanto, ninguém pode sair reclamando da falta de reconhecimento de seu múltiplo talento. Muito menos o México, o país onde nasceu. Afinal, a dinastia mexicana de direção no Oscar continua nas mãos de Cuarón, Iñarritú e Del Toro, vencedores dos prêmios nas últimas cinco edições.

Green Book

Como era de esperar, o filme mais mediano – e agradável à maioria das pessoas – foi agraciado com o prêmio principal da noite. Tocando de modo light na questão do racismo (a história se passa no início dos anos 1960, quando a luta pelos direitos civis nos EUA ainda não estava em momento explosivo e tenso) e também passando superficialmente por outros temos polêmicos, incluindo a homossexualidade, Green Book (esqueça o subtítulo pavoroso que o filme ganhou de sua distribuidora no Brasil) favoreceu-se do critério de votação dos membros da Academia. Vale lembrar que desde 2010, quando o número de concorrentes a melhor filme passou de cinco para até dez (são sempre oito ou nove, dependendo do coeficiente de corte na listagem apurada para o anúncio das indicações), todo votante precisa numerar esta lista de um a oito ou nove, segundo sua preferência pessoal. Portanto, aquela produção que fica ali no meio, entre segundo e quarto, justamente por ter o menor índice de rejeição, acaba sendo projetada no cômputo geral dos pesos e levando a estatueta. Foi o que aconteceu agora à história do branco bronco italiano de Nova Jersey que, por necessidade, durante algumas semanas do ano de 1962, trabalha como motorista de um renomado músico de jazz de Nova Yordurante uma turnê por cidades racistas ao sul dos Estados Unidos – e, ao fim da convivência cheia de diferenças culturais e ideológicas, um acaba sendo modificado pelo outro. Nada mais água com açúcar para agradar à maioria das pessoas. E, de quebra, Green Book faturou outros dois prêmios importantes da noite: roteiro original e ator coadjuvante (Mahershala Ali). Pode não ter sido o mais premiado na noite, mas saiu do Oscar 2019 como o principal filme da temporada pela importância das categorias.

VEJA OS GANHADORES DE CADA CATEGORIA

Filme: Green Book: O Guia

Direção: Alfonso Cuarón (Roma)

Atriz: Olivia Colman (A Favorita)

Ator: Rami Malek (Bohemian Rhapsody)

Canção original: “Shallow” (Nasce Uma Estrela)

Trilha Sonora: Pantera Negra

Roteiro adaptado: Infiltrado na Klan

Roteiro original: Green Book: O Guia

Curta-metragem de ficção: Skin

Efeitos visuais: O Primeiro Homem

Documentário em curta-metragem: Period. End Of Sentence

Animação em curta-metragem: Bao

Animação: Homem-Aranha no Aranhaverso

Ator coadjuvante: Mahershala Ali (Green Book: O Guia)

Montagem: Bohemian Rhapsody

Filme em Língua não inglesa: Roma

Mixagem de som: Bohemian Rhapsody

Edição de som: Bohemian Rhapsody

Fotografia: Roma

Design de produção: Pantera Negra

Music

Arquivo MB: Madonna – As 25+

As 25 melhores músicas dos 60 anos de vida da maior estrela da música pop mundial

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Textos de Abonico R. Smith (abertura) e Humberto Slowik (músicas)

Foto: Reprodução

Em 16 de agosto de 2018, Madonna Louise Verônica Ciccone comemora 60 anos de vida na condição de maior popstar do planeta. Em 35 anos de trajetória como cantora e atriz, ela soube construir uma trajetória inquestionável no quesito popularidade e diversidade. Pense em uma estrela de maior grandeza na música pop mundial do Madonna. Simplesmente não há, ainda mais depois da partida de gente como David Bowie, Prince e Michael Jackson.

Sem necessariamente fazer rock’n’roll na forma mas certamente tendo muito dele no espírito, Madonna cresceu junto à geração 1980. No começo da década mais festejada dos últimos tempos, ela era apenas uma jovem dançarina e aspirante a cantora vinda do Norte americano tentando a sorte nos palcos e noites de megametrópole Nova York. Por conviver com muita gente ligada a varias correntes e expressões artísticas, acabou direcionando sua carreira para uma confluência de todas elas. No terreno musical, apesar de intimamente ligada à variedade de batidas e subgêneros que fazem decolar toda e qualquer pista de dança, Nos anos seguintes, dissociar seu nome de cinema, moda, dança e até mesmo literatura também tornou-se tarefa impossível. E mais: recorrendo a diversos recursos de simbolismos religiosos, sexuais e comportamentais cutucou feridas na sociedade mundial. Especialmente a norte-americana, que tornou-se ainda mais conservadora simultaneamente à trajetória vitoriosa da artista.

Se Madonna é fruto direto dos anos 1980, também não há como desvincular a cantora da própria história dos videoclipes e de sua emissora mundial número um, a MTV. Ela pertenceu à geração de bandas e cantores que deslocou o centro das atenções da carreira do som à imagem. Toda e qualquer música sua, de maior ou menor sucesso radiofônico, não foi executada tão somente por méritos artísticos. Trabalhando sempre com diretores talentosos e cultuados no mundo publicitário e da moda (vários vindos da fotografia, aliás), associou as letras e arranjos às pequenas historinhas contadas para a tela da televisão. Interpretando personagens provocativos – que com certeza contiveram muito de suas várias facetas – conseguiu despertar polêmicas, provocar reações contrárias de setores sociais mais retrógrados, tornou-se celebridade em todo canto do planeta e alcançou em turnês, vendas de discos e execuções de rádio e teledifusão invejáveis. Uma década atrás, até se deu ao luxo de virar deixar para trás todo o passado profissional de quase um quarto de século como contratada da gravadora que lhe proporcionou ser o que é hoje. Por mais que a Live Nation tenha se tornado uma corporação do ramo do entretenimento nestes dez últimos anos, ela gerencia basicamente as turns mundiais de Madonna, tendo coparticipação nos lançamentos fonográficos dela. Coisa que qualquer outra grande empresa também poderia fazer, sem interferir no processo criativo ou obrigá-la a criar desta maneira ou agir de determinada forma na promoção das novas obras.

Outro grande mérito de Madonna foi ter formado durante estes 35 anos de carreira um grande séqüito de seguidores. São mais do que fãs. Gente que sabe tudo a seu respeito, acompanha cada novidade, coleciona itens diversos em casa, segue fielmente cada passo seu e chega até a promover festas de parabéns na noite de seu aniversário. Seu público maior está entre as mulheres (a ascensão da cantora e vários dos versos cantados por ela reforçam um lado vitorioso da reivindiação do poder feminino) e os gays(que sempre serviram, simultaneamente, de inspiração e alvo para muitas de suas estratégias no tocante a referências e atitude). Toda esta veneração e fidelidade com certeza se transformaram em um ativo muito grande nestes tempos digitais em que a velocidade de informação é tão voraz que as mudanças contínuas se tornaram necessárias e implacáveis. E, é sempre bom lembrar, foi Madonna quem abriu o caminho para discípulas como Britney Spears, Katy Perry, Lady Gaga, Rihanna e Beyoncé – apenas para citar cinco grandes exemplos.

Para celebrar os 50 anos de vida de Madonna, o MONDO BACANA optou por algo diferente em 2018. Resolvemos não contar a sua vida e carreira ou ficar chovendo molhado falando disso ou daquilo que as pessoas estão cansadas de saber – e quem não sabe acaba achando através do Google. Em vez disso, listamos as 25 melhores e mais significativas músicas de seus 25 anos de carreira. O universo de sucessos dela é extenso e ultrapassa a marca das cinco dezenas. Com certeza, a falta desta ou daquela música poderá ser sentida por algum fã – especialmente hits iniciais bastante populares como “Material Girl”, “Into The Groove”, “Lucky Star” ou “Holiday” – todos cortados da seleção final. Contudo, não é qualquer artista que pode se dar ao luxo de, em uma proposta como esta, ter canções arrasadoras como “Like a Prayer” apenas na 12ª posição ou “Like a Virgin” logo em seguida do Top 5.

Com vocês, o melhor da cinqüentona Madonna. A repubicação deste texto abaixo também é uma homenagem do MONDO BACANA a seu autor, Humberto Slowik, um dos maiores fãs desde o inicio da carreira da cantora e jornalista que deixou este plano espiritual em 2011. (ARS)

25 – Give It 2 Me (2008)

Um dos melhores momentos do mais recente álbum Hard Candy (e da parceria com o produtor Pharrell Williams) foi mal das pernas nos chartsamericanos, não passando da 57ª posição na Billboard. Deve ser um dos pontos altos da nova turnê Sticky & Sweet, por conta da energia bem eightie e do beat acelerado. Criticado por fãs, o videoclipe foi dirigido pelo fotógrafo Tom Munro e gravado durante o ensaio fotográfico que a revista de moda Elle publicou em várias edições ao redor do planeta.

24 – Love Profusion (2003)

Música bonitinha, meiga. O momento doce de American Life, álbum de carreira que menos vendeu. Com letras simples e mistura de sons eletrônicos com violões, a canção fez sucesso em alguns países, apesar do péssimo desempenho nos EUA. O clipe também era bem meia-boca, dirigido pelo cineasta francês Luc Besson – também responsaével pelo comercial de TV da marca de cosméticos Estée Lauder, do qual a canção era tema.

23 – Rain (1994)


Último single de Erotica, esta balada encorpada sobreviveu ao tempo e deve figurar no set listda Sticky & Sweet Tour, possivelmente em um dos vídeos produzidos como intervalo entre um bloco do show e outro. A canção também é dona de um dos mais belos vídeos da carreira de Madonna. Dirigido por Mark Romanek, o clipe mostra a cantora linda em looks da estilista japonesa Rei Kawakubo, cabelos curtíssimos e pretos, descansando em mobiliário desenhado por Philippe Starck. Foi rodado totalmente em preto-e-branco e posteriormente colorizado em tons de azul. Participa dele o celebrado compositor japonês Riuychi Sakamoto.

22 – Beautiful Stranger (1999)

Das canções mais divertidas de Madonna. Foi tema do segundo filme da série cinematográfica Austin Powers, estrelada pelo comediante Mike Myers. O produtor William Orbit revelou que não levou mais do que uma tarde concebendo as bases musicais do hit, que ganhou o Grammy de Canção Escrita para um Filme e foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Canção (umas das cinco que Madonna já recebeu nesta categoria). Dizem as más línguas que a faixa só não foi indicada ao Oscar por conta do relacionamento espinhoso que a popstar sempre teve com Hollywood.

21 – Take a Bow (1994)

O single de Madonna que permaneceu no topo da parada Billboard por mais tempo (foram sete semanas ao todo) representou o início do processo de limpeza da imagem da popstarapós o período de alto teor sexual dos anos anteriores. Coescrita por Babyface (produtor quente na cena r&b americana da época), a canção era meio breguinha, mas ganhou pontos pela letra bela e sofrida que traz citações de William Shakespeare (mais especificamente da peça O Mercador de Veneza). E também pelo vídeo incrível rodado em Rondo, na Espanha, todo baseado em uma história de amor impossível entre Madonna e um toureiro.

20 – Cherish (1989)

Terceiro single de Like a Prayer, a canção chegou à segunda posição da Billboard e propôs um descanso temático após polêmica de “Like a Prayer” e a sensualidade de “Express Yourself”. Doce, a música ganhou clipe em preto-e-branco rodado na praia, entre criancinhas e homens-sereia. O trabalho marcou a estreia do fotógrafo de moda Herb Ritts (1952 – 2002) como diretor de vídeos musicais.

19 – Erotica (1992)

Os fãs mais ferrenhos (principalmente os da comunidade LGBT) podem até discordar mas tratou-se de um dos poucos momentos musicalmente decentes do álbum homônimo de Madonna, mais importante pela polêmica causada do que pela música datada que o compôs. Na canção, a artista encarnou pela primeira vez Dita, seu alterego no livro Sex. Falava de prazer e dor, entre outras coisinhas. O vídeo foi registrado durante as sessões de fotos de Sex e dirigido por Fabien Baron, responsável pelo projeto gráfico do livro, pela celebrada reformulação da revista Harper’s Bazaar na década de 1990, e então recentemente estabelecido como novo editor da lendária revista Interview, criada por Andy Warhol.

18 – Open Your Heart (1986)

Outro single de Madonna a chegar ao topo da parada Billboard, foi mais importante por seu vídeo do que propriamente pela canção em si. Entre outras coisas, a primeira parceria da cantora com o francês Jean Baptiste Mondino (que, posteriormente, dirigiria os clipes de “Justify My Love”, “Human Nature”, “Love Don’t Live Here Anymore”, “Don’t Tell Me” e “Hollywood”) trazia a popstar dançando em um peepshow frequentado por homens e mulheres e beijando um garotinho adolescente.

17 – Jump (2006)

Clássico instantâneo da diva, a canção trouxe mais uma letra com mensagem positiva e ainda prestava homenagem descarada aos Pet Shop Boys. Mais popular na Europa (como todo o trabalho desenvolvido pela cantora neste início de século), ganhou clipe dirigido pelo sueco Jonas Akerlund gravado no Japão e baseado na prática urbana do Le Parkour. A peruca platinada usada pela artista também apareceu nos shows que encerraram a Confessions Tour.

16 – Frozen (1998)

Primeiro single de Ray Of Light, esta balada foi, segundo Madonna, inspirada no profundo sentimento de solidão e desamparo provocado por cenas de filmes como O Céu Que Nos Protege (1991), de Bernardo Bertolucci, e O Paciente Inglês (1996), de Anthony Minghella. Número 4 na parada Billboard, a canção ganhou vídeo de tintas surreais gravado no deserto do Mojave (EUA), sob a direção genial Chris Cunningham. Um incidente desesperou a cantora durante as gravações: o carro que transportava sua filha Lourdes Maria (então com menos de dois anos de idade) até o setde filmagens ficou perdido e incomunicável durante horas no meio do deserto.

15 – Bedtime Story (1994)

Coescrita por Björk e coproduzida por Nellee Hooper, a faixa cravou o início de flerte de Madonna com o eletrônico, que conheceria seus desdobramentos mais bem-sucedidos a partir de 1998. Repleto de referências a artistas como Frida Kahlo, Remédios Varos, Salvador Dali e Michael Radford, o clipe dirigido por Mark Romanek conquistou seu lugar como um dos clássicos da carreira da cantora. O single chegou à modesta 42ª posição na parada Billboard.

14 – Dress You Up (1984)

Número de abertura da Virgin Tour, a primeira grande turnê de Madonna, era uma das canções mais sensuais da popstar, unindo batida contagiante e uma grande dose de inocência sacana. Escrita por Andrea Larusso e Peggy Stanziale, chegou ao número 5 da parada Billboard e não era interpretada ao vivo pela cantora desde a Who’s That Girl Tour (1987), apesar de ter sido ensaiada para o bloco militar da The Re-Invention Tour (2004) e posteriormente descartada.

13 – Secret (1994)

Após os escândalos sexuais detonados entre 1990 e 1992 (que culminaram no lançamento do livro Sex), Madonna resolveu clarear sua imagem. Isso resultou em um álbum de produção mais sofisticada (Bedtime Story), do qual “Secret” foi o primeiro single. A canção que falava de pequenas buscas espirituais e redenção no amor chegou ao número 3 na parada americana e teve o clipe rodado nas ruas do Harlem, bairro nova-iorquino majoritariamente negro. Os sapatos usados no vídeo são do designer brasileiro Fernando Pires, de quem conheceu o trabalho em sua passagem pelo Brasil durante a turnê The Girlie Show, no ano anterior.

12 – Like a Prayer (1989)

Recém-divorciada de Sean Penn, Madonna lançava seu primeiro álbum abertamente confessional e que marcava o início do reconhecimento como compositora após anos de descrédito por parte da imprensa musical. Seu primeiro singlecausou polêmica por conta do clipe dirigido por Mary Lambert, no qual a cantora beijava um santo negro e dançava em frente a cruzes em chamas (referência direta à Klu Klux Klan). Teve mais: a Pepsi, com a qual Madonna havia assinado um contrato milionário e para quem gravara um comercial de TV, suspendera ambos, por medo de boicote de comunidades religiosas americanas. Mesmo assim, a canção passou três semanas no primeiro posto da parada dos EUA.

11 – Borderline (1983)

Primeiro single de Madonna a adentrar o Top 10 da parada Billboard e a primeira canção da estrela a ganhar um videoclipe decente. A história narrava o envolvimento de uma garota com um bad boy latino (por quem ela é apaixonada) e um fotógrafo que promete transformá-la em estrela – jogo temático explorado em outros vídeos da cantora. É um dos hitsantigos que são dados como certos no setda turnê Sticky & Sweet, que estréia no próximo dia 23 de agosto, em Cardiff (País de Gales), e deve passar pelo Brasil em dezembro.

10 – Human Nature (1994)

O último single retirado do álbum Bedtime Stories era um protesto de Madonna contra todas as especulações que sofrera da mídia desde que virou uma estrela de primeira grandeza. O clipe, dirigido por Jean Baptiste Mondino, trazia Madonna vestida como uma dominatrix, só que em situações irônicas. Apesar de não ter conseguido grande sucesso nos EUA (só chegou ao número 46 da Billboard), a canção acabou eleita um dos dez melhores singles de 1995 pela edição norte-americana da revista Rolling Stone.

9 – Hung Up (2006)

Com samplede “Gimme Gimme”, hit do Abba (esta foi a primeira vez em que o quarteto sueco autorizou o uso de um trecho de sua obra por outro artista), o primeiro singledo álbum Confessions on a Dance Floor marcou o retorno de Madonna ao Top 10 da parada Billboard (a música chegou ao número 7) após três anos de ausência. Gravado com locações em Los Angeles e Londres, mostra a cantora em forma exemplar e impensável após sua queda de um cavalo sofrida no dia 16 de agosto daquele ano.

8 – Justify My Love (1990)

Escrita e produzida por Lenny Kravitz, a faixa passou duas semanas no topo da parada Billboard e alimentou uma da série de polêmicas sexuais nas quais Madonna esteve envolvida na metade inicial dos anos 1990. O clipe, dirigido pelo francês Jean Baptiste Mondino e filmado em Paris, foi banido da MTV norte-americana por conta de seu conteúdo extremamente erótico, e transformou-se, então, no vídeo-singre mais vendido nos Estados Unidos. Naquela época, muito se falou das cenas de orgia pansexual nos quartos e corredores de um hotel.

7 – Live To Tell (1986)

O primeiro singledo álbum True Blue foi concebido como música-tema do filme Caminhos Violentos, estrelado pelo então marido Sean Penn. Eleita uma das 50 melhores canções do século 20 pela revista Details, a balada marca o início da busca por um caminho de produção mais sofisticada (iniciada após vários hits de pista) e marca a primeira das várias grandes mudanças de imagem executadas pela artista. Chegou ao topo da parada norte-americana.

6 – Like a Virgin (1984)

Escrita por Billy Steinberg e Tom Kelly, a faixa foi o primeiro single do álbum homônimo (o segundo da carreira) e a primeira música de Madonna a atingir o número 1 da parada Billboard – posto no qual permaneceu durante seis semanas. Concebida como uma baladinha lenta, teve o ritmo drasticamente alterado por Nile Rodgers (guitarrista do grupo disco Chic e produtor bastante requisitado nos anos 1980) quando trabalhada em estúdio. Este foi o primeiro momento de definição na carreira da cantora: a histórica apresentação ao vivo durante a primeira edição dos prêmios anuais da MTV norte-americana e depois da qual todas as adolescentes da época passaram a usar provocantes roupas pretas de renda e ostentar enormes crucifixos. O provocante e histórico videoclipe, também dirigido por Mary Lambert, foi gravado nos canais de Veneza e trazia Madonna vestida de branco (símbolo da pureza até hoje ostentado pelas noivas durante a cerimônia de casamento) e fazendo poses sensuais em uma gôndola.

5 – Everybody (1983)

Primeiro singledo álbum de estréia da cantora, esta foi uma das duas músicas da artista com crédito de autoria oficialmente apenas para ela (a outra era “I Know It”, também do mesmo disco). Clássico entre fãs, esta era uma das canções que Madonna dublava e dançava junto a bailarinos durante suas apresentações em clubes nova-iorquinos como Danceteria e Paradise Garage. “Everybody” ainda é uma das únicas obras das quais a artista autorizou simples oficiais até hoje. Foi para a canção “Greatest Hit”, da norueguesa Annie.

4 – Express Yourself (1989)

Segundo singledo álbum Like a Prayer, a música foi responsável pelo momento de abertura da Blond Ambition Tour, série de concertos que elevou Madonna do status de simples popstardos anos 80 à rainha dos performers pop no século 20. O clipe inaugurou a parceria da artista como o fotógrafo e diretor David Fischer (dos filmes Seven – Os Sete Pecados Capitais, O Quarto do Pânico, Clube da Lutae Zodíaco). Abusando da sensualidade da cantora, ele foi inspirado no clássico Metrópolis(do austríaco Fritz Lang) e foi, então, o vídeo mais caro já realizado na indústria fonográfica (custou US$ 5 milhões).

3 – Ray Of Light (1998)

Momento emblemático da parceria com o produtor britânico William Orbit, a faixa foi elaborada a partir de “Sepheryn”, chatíssima música escrita por Olive Muldoon e Dave Curtis na década de 1970 e da qual Orbit tinha os direitos. Com arranjo vocal que mostra todo o progresso alcançado por Madonna a partir das aulas de canto tomadas na preparação para o filme Evita, chegou ao número 5 nas paradas norte-americanas e foi indicada ao Grammy de Gravação do Ano. Seu videoclipe marcou o início do trabalho com Jonas Akerlund e saiu como o grande vencedor do MTV Vídeo Music Awards do ano de seu lançamento.

2 – Music (2000)

Parece piada, mas tudo aqui foi construído a partir de um único acorde. O hit escrito e produzido em parceria com produtor suíço-afegão Mirwais Ahnmadäi começou a tomar forma logo após Madonna observar a energia da plateia durante um concerto de seu amigo Sting. Outro de seus hinos, a música que celebra basicamente a sensação de liberdade e unidade de se estar em uma pista de dança chegou ao topo do Hot 100 da revista Billboard, foi também indicada ao Grammy de Gravação do Ano e é um daqueles clássicos que não podem mais faltar em qualquer apresentação ao vivo dela. O clipe foi a primeira aparição mundial do comediante Sacha Baron Cohen, que se tornaria conhecido pelo personagem Borat nos cinemas. Cohen, na pele do rapper Ali G, outra criação sua para um show televisivo, é o motorista da limousine de Madonna.

1 – Vogue (1990)

O mero detalhe do quase poderia ter mudado o posto de maior e melhor música de toda a carreira da popstar. Single de Madonna com o maior número de cópias vendidas mundo afora, a música foi concebida como um mero lado B de “Express Yourself” e quase deixou de ganhar o destaque que sempre mereceu. Com incrível vídeo em preto e branco dirigido por David Fincher, a canção abusava de referências a Hollywood como forma de ilustrar musicalmente o vogueing – dança que tomou de assalto os clubes nova-iorquinos no início dos anos 1990 e teve como expoentes principais trupes de dança como a House of Ninja. Até hoje não há como não resistir ao rap que afirma divas e divos como Greta Garbo, Marlene Dietrich, Rita Hayworth, Marlon Brando e James Dean tinham mesmo era muito estilo. Strike a pose!