Series, TV

A Queda da Casa de Usher

Mike Flanagan transforma em minissérie toda a corrosão moral dos descendentes de um magnata de clássico conto de Edgar Allan Poe

Texto por Tais Zago

Foto: Netflix/Divulgação

No conto The Fall Of The House Of Usher de Edgar Allan Poe, o detetive Auguste Dupin narra o encontro derradeiro que tem com o milionário Roderick Usher, quando descobre alguns segredos da família de magnatas. É um conto trágico sobre loucura, família e isolamento que usa a estrutura de uma casa como metáfora para a destruição e corrosão moral.

Para terminar seu contrato com o streaming Netflix e nos presentear mais uma vez com uma obra assustadora em outubro, Mike Flanagan nos arrasta para a sua bela homenagem a Edgar Allan Poe – o pai do terror, horror, e, sim, também do true crime literário ao nos apresentar  Auguste Dupin, que inspirou Arthur Conan Doyle a criar sua mais famosa figura, o detetive Sherlock Holmes.

Em sua adaptação de A Queda da Casa de Usher (2023) para uma minissérie, Flanagan nos apresenta o clã dos Usher, uma linha de descendentes de Roderick Usher, o patriarca que construiu toda sua fortuna em cima da dor humana com a indústria farmacêutica. O grupo de seus filhos é formado por personalidades distintas mas que possuem em comum a ganância, a luxúria, a arrogância, a falta de talentos reais e a frieza daqueles endinheirados que há tempos perderam o contato com o mundo real e desaprenderam o código de normas éticas e morais humanas. Os semideuses construídos na base de grandes fortunas a la Elon Musk. Os donos do mundo que destroem o mundo.

Confesso que fui assistir com um pé atrás. Poucos conseguiram, até hoje, trazer Poe para as telas sem destruir o conteúdo. Algo meio parecido ao que ocorre com Stephen King. Mas Flanagan já provou seu talento em misturar terror, drama e suspense em obras-primas como A Maldição da Residência Hill (2018), baseado no romance de Shirley Jackson; A Maldição da Mansão Bly (2020), que, por sua vez, se inspirou no livro The Turn Of The Screw de Henry James. Ou com o complexo e ao mesmo tempo intrigante Missa da Meia-Noite (2021). Todos especialmente criados para a Netflix.

Flanagan é um artista multifacetado: cria, roteiriza, dirige, produz e até mesmo edita algumas de suas obras. Ele nos apresentou a uma forma de sentir medo confusa – a que nos assusta e também traz lágrimas de melancolia. Por vezes somos aliados de seus monstros e fantasmas. Por outras, roemos as unhas e levamos sustos de voar do sofá. Esse coquetel de sentimentos torna o trabalho de Mike um tanto inesquecível. As obras ficam conosco por alguns dias, meses ou até mesmo, anos gravadas em nossa memória.

Já Edgar Allan Poe dispensa apresentações. Quem, em algum momento da vida, interessou-se por literatura de terror, conhece bem o nome, sabe sua trágica história e entende algumas referências às suas mais famosas obras como The Raven, The Tell Tale Heart ou The Black Cat. Poe é a referência número um do terror gótico e vitoriano. É quem nos plantou na cabeça o medo de sermos enterrados vivos ou assombrados e levados à loucura pela nossa consciência.

Com respeito e reverência ao mestre do horror, Flanagan nos apresenta em oito episódios a série que tem o nome de um dos contos mais famosos de Poe. Só que A Queda da Casa de Usher, no final, é uma imensa homenagem a todo o corpo de trabalho do escritor, com capítulos cravejados de pequenas surpresas para os fãs. Vemos na tela seus poemas, seus temas, os nomes de seus personagens e todo clima gótico e depressivo-melancólico que envolve seus contos. Mergulhamos nas suas palavras que volta e meia nos tomam de assalto no meio dos roteiros de Flanagan. Como não poderia deixar de ser, os episódios levam também os nomes de obras de Poe.

Assim como outros mestres do horror, Mike tem suas musas, seu atores que aparecem em diversas obras em papeis diferentes. Sempre presente estão Kate Siegel (Camille), a esposa de Flanagan, e a atriz Carla Gugino (Verna). Mas temos também surpresas no cast como Mark Hamill (Arthur Pym) e Henry Thomas (Frederick), além de um elenco mais etnicamente diverso com Rahul Kohli (Napoleon), Sauriyan Sapkota (Prospero) e a encantadora Kyliegh Curran (Lenore). Uma agradável surpresa em relação a um dos pontos críticos que era identificado em suas obras. Contudo, confesso que senti bastante a falta de Victoria Pedretti, que junto com Kate Siegal são a marca registrada do horror de Flanagan, assim como Sarah Paulson e Jessica Lange estão para a obra de Ryan Murphy (American Horror Story).

Como nada é perfeito, também há pontos de crítica aqui. Algumas interpretações são engessadas, principalmente as de Hamill e de Mary McDonnell (Madeline); alguns CGIs deixaram a desejar; e alguns diálogos se tornaram longos demais. Às vezes é mais efetivo apresentar em seis episódios uma serie mais coesa e interessante do que estender por oito longas horas e arriscar a monotonia.

Apesar disso, A Queda da Casa de Usher deve empolgar bastante os fãs de Edgar Allan Poe. Principalmente aqueles que devoraram toda a sua produção e que são capazes de captar referência sutis, como o nome do arquiinimigo da vida real de Poe, Rufus Griswold, que empresta o nome a uma das figuras antagônicas da trama.

Movies

Mank

História da concepção do roteiro do cultuado filme Cidadão Kane mostra o diretor David Fincher longe de seus moldes e aquém dos melhores dias

Texto por Leonardo Andreiko

Foto: Netflix/Divulgação

Todo mundo concorda que Cidadão Kane é uma das maiores obras da história do cinema. Lançado em 1941, o filme, que conta a ascensão e queda de um magnata da imprensa, encabeçou diversas vezes a lista dos 100 melhores filmes do American Film Institute, bem como do British Film Institute. Muitos acreditam que nele há uma forte inspiração na trajetória de William Randolph Hearst. Em Mank (EUA, 2020 – Netflix), essa questão é extensamente debatida.

Isso porque o filme, o mais novo título de David Fincher desde Garota Exemplar (2014) e uns episódios de Mindhunter, conta a história da concepção deste roteiro pelo infame roteirista e crítico de teatro Herman Mankiewicz, que assina Kane. Com estrutura similar e diversas homenagens à obra de Orson Welles, a trama – criada pelo pai de Fincher, Jack, em sua estreia como roteirista – fica entre o processo de escrita do roteiro e flashbacks que definem as relações de Mank (Gary Oldman) com seu entorno. 

Claro que, no universo que Mank orbitara em Hollywood, estavam a atriz e cantora Marion Davies (aqui interpretada por Amanda Seyfried) e seu esposo, o próprio Hearst (Charles Dance). Pouco a pouco, o longa deixa de importar-se com o roteiro de Cidadão Kane e redireciona sua atenção à relação de seu protagonista com Davies e seus ácidos, embora bem-humorados em sua maioria, embates com o milionário. Pincelando conflitos políticos e pessoais, a mão de Jack Fincher parece perder o rumo em algumas passagens destas, incerta de suas intenções e carregada de um quê de fanfiction cinéfila. 

Contudo, esse não é o único sintoma de um filme aparentemente deslocado. Desde seu ponto de partida, o longa parece muito distante do cinema de David Fincher, preferindo uma estética biográfica que bem muito dos grandes filmes dos anis 1930 e 1940 ao suspense e densidade contemporânea com que o diretor costuma trabalhar. É nítida a melhora na linguagem em momentos de crise, quando sentimos seu clássico controle da mise-en-scène, porém sua mudança de tom não chega a prejudicar a estrutura de Mank – a obra não permitiria uma abordagem diferente. 

Parte de sua funcionalidade tanto como entretenimento quanto discurso artístico (que são indissociáveis, claro) vem da atuação de estrelas consagradas e à beira da consagração. Oldman e Dance criam em cena sua própria dança (com o perdão do trocadilho!), enquanto Seyfried e Lily Collins demonstram extrema competência e se solidificam como capazes de transitar entre gêneros e tendências de Hollywood.

Portanto, embora pareça haver uma falta de sincronia entre direção e roteiro, é evidente que o filme funciona bem no que se propõe. Muito longe de desvendar a verdade sobre o processo de escrita de Cidadão Kane e o embate entre Mankiewicz e Welles por sua autoria, Mank parece preocupado em divagar sobre seu porquê, com as devidas romantizações e homenagens. E consegue, a contragosto de quem esperava um Fincher em seus moldes e melhores dias. Até porque só se frustra quem cria expectativas. 

>> Mank concorre no dia 25 de abril ao Oscar 2021 em dez categorias: filme, direção, ator, atriz coadjuvante, fotografia, figurino, cabelo e maquiagem, design de produção, trilha sonora e som

Music

Rita Ora

Oito motivos para não perder o show da cantora, que aproveitará a vinda ao Lollapalooza Brasil para se apresentar pela primeira vez em Curitiba

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Texto por Ana Clara Braga

Foto: Divulgação

Rita Ora irá se apresentar pela primeira vez em Curitiba no dia 2 de abril. Aproveitando sua visita ao país para o festival Lollapalooza, a cantora estenderá a estadia e fará uma visita a capital paranaense (mais informações sobre este evento você tem aqui). Por isso, o Mondo Bacana elaborou uma lista com oito motivos para não perder o concerto “solo” da popstar de etnia albanesa, nascida em Kosovo e radicada no Reino Unido desde o primeiro ano de idade.

Chancela de Jay-Z

Em 2008, quando Rita estava procurando por uma gravadora foi feita uma reunião com o rapper Jay-Z, dono da Roc Nation. O magnata do hip hop gostou tanto da cantora que assinou contrato com ela no mesmo dia e vendeu sua imagem como a de “nova Rihanna”.

Nova oportunidade no país

Sua primeira e última visita ao Brasil foi sete anos atrás, mas foi uma passagem bem apagada. Sua vinda foi por conta da ação de marketing de uma loja. O que deixou a cantora com vontade de fazer mais apresentações no país.

Muitas parcerias

Além de faixas solo, Ora também coleciona um grande número de parcerias. Requisitada e respeitada por seus companheiros de profissão, já participou de gravações de Iggy Azalea, Sofia Reyes, Tiësto, Avicii, Charli XCX e contou com a participação de Liam Payne, Cardi B, Bebe Rexha, Kygo e Chris Brown em músicas de sua autoria.

O novo álbum

Seis anos após o lançamento de Ora, Rita soltou em 2018 seu segundo disco, Phoenix. Já em uma nova gravadora, a cantora recebeu muitas críticas positivas da mídia especializada, incluindo a nota geral de 76 no Metacritic.

Set list equilibrado

Além da divulgação das músicas de seu mais novo trabalho de estúdio, também podemos esperar a execução dos maiores hits de Rita Ora. Faixas do início de carreira como “This Is How We Do (Party)”, “R.I.P.” e “I Will Never Let You Down” devem figurar no set list dos shows por aqui.

Vocais impecáveis

Não é incomum o público se decepcionar com as performances ao vivo dos cantores. Entretanto, este não é o caso de Ora. Ela já provou diversas vezes ter a mesmo gogó nos estúdios e nos palcos, proporcionando sempre um completo espetáculo.

Padrão estético

Não é possível saber qual será o formato do show que a cantora trará para Curitiba, mas é certo que seguirá o belo padrão estético dos outros que faz na Europa e Estados Unidos. Luzes, projeções, roupas combinando se juntam às músicas, tornando a experiência mais interessante e imersiva

Interações com o público

Rita Ora é muito conhecida por sua simpatia. Quando está cantando, também dedica muito tempo para conversar com seus fãs, contar histórias, dividir um pouco mais sobre sua vida. Tudo para deixar a plateia mais próxima dela.