Music

Francisco El Hombre – ao vivo

Grupo abre minitemporada em Curitiba incendiando a plateia com energia intensa e a sua típica mistura de sonoridades e referências latinas

Texto por Lucca Balmant e Diego Scremin

Foto: Lucca Balmant

Diminuir a distância entre os países da América Latina é o que o Francisco El Hombre vem fazendo há dez anos, quando o grupo foi fundado por dois irmãos mexicanos. Mateo (voz e violão) e Sebastian Piracés-Ugarte (voz e bateria) rodaram o mundo até se estabelecerem por aqui, mais precisamente na região de Campinas. Desde então, com a ajuda de outros músicos locais criaram uma ponte para diminuir a carência de troca musical afetada pelo idioma. Afinal, o mercado nacional não costuma absorver muito os artistas hermanos que cantam em espanhol e exploram sonoridades características das fronteiras vizinhas (ou quase).

Sendo assim, a banda mistura, além das línguas, as influências da batucada e de outros ritmos da América Latina, criando uma mistura perfeita entre gêneros e olhares de outros países e a música popular brasileira. Esta proposta marcou a volta do Francisco El Hombre a Curitiba em uma série especial de seis apresentações no espaço da Caixa Cultural, divididas em dois finais de semana (23 a 25 de novembro e de 30 de novembro a 2 de dezembro). O grupo trouxe um repertório selecionado especialmente para sua comemorar a sua trajetória. A maioria era em espanhol e com discursos e vieses políticos, sempre como a intenção de demonstrar a luta antifascista e de apoio às comunidades feministas e LGBTQIA+, com muitos discursos individuais com tentativas muito bem sucedidas de se conectar e energizar o público mesmo em um teatro de pequeno porte.

O que mais chama atenção na primeira dessas seis noites foi realmente a performance do FEH e a intensidade com que a realizam. Desde a primeira música via-se Mateo puxando o público a se levantar dos assentos para os receberem com a devida energia. Desde então, não parava de encorajar danças, correrias e cantos aos gritos. Trazendo essa energia estava também Juliana Strassacapa (voz e percussão), sempre vindo até a frente do palco para conversar com as pessoas e puxar coreografias junto a Mateo em vários momentos do show. O quinteto transformou um pequeno teatro numa grande festa, concretizando a fala do próprio grupo durante o show (“Francisco El Hombre és pura fiesta!”)

Junto à energia de Mateo e Juliana, Sebastian quebrava a bateria acompanhado de ritmos da percussão, além de mostrar sua bela voz enquanto tocava ritmos complexos. Ainda havia no palco Helena Papini e Andrei Martinez Kozyreff, que não ficam nada atrás do resto do grupo. Mostrando toda a sua habilidade nas cordas, Helena trazia linhas calorosas de baixo, vindo até a frente do palco fazer festa enquanto solava e groovava. Andrei, um pouco mais acanhado, não passava despercebido com timbres e riffs marcantes na guitarra, com aquele toque psicodélico de Ave Sangria. Para completar as cordas, o próprio Mateo tocava o violão numa forma mais clássica e com muitos ritmos latinos, surpreendendo por mostrar uma performance tão boa no instrumento enquanto entretinha o público como frontman. De resto, efeitos modulares de synths chamavam a atenção de todos com sonoridades experimentais.

Em um teatro com capacidade para 125 pessoas e com cadeiras marcadas, a energia do FEH era surreal. Ela se espalhava pelo ambiente sem parar, fazendo todos levantarem dos assentos e, numa noite chuvosa e fria de quinta-feira, dançarem e suarem de um lado para o outro, mesmo no menor espaço possível. Este detalhe definitivamente não foi capaz de interromper nem conter a conexão e a pulsação da banda. Para marcar a noite de estreia dessa minitemporada na cidade, foi um show sensacional.

Set list: “Tá Com Dólar, Tá Com Deus”, “Como Una Flor”, “Arrasta”, “Loucura”, “Triste, Louca ou Má”, “Sincero”, “Calor da Rua”, “CHAMA ADRENALINA :: gasolina”, “CHÃO TETO PAREDE :: pegando fogo”, “Batida do Amor”, “Soltasbruxa” e “MATILHA :: cólera ou coleira”.

Music

Purpurata Festival

Oito motivos para você não perder o Purpurata Festival, que levará rap, brasilidades e cultura alternativa efervescente a Florianópolis

Otto

Texto por Frederico Di Lullo

Fotos: Rui Mendes/Divulgação (Otto) e Divulgação (Black Alien)

Se a agenda cultural da Ilha da Magia do ano que está acabando foi boa, a de 2023 promete ainda mais! Os primeiros festivais já estão com seu line up pronto, com ingressos à venda. Por enquanto, é hora de falar sobre o Purpurata Festival. O evento estava programado inicialmente para os dias 13 e 14 de janeiro, mas teve suas datas adiadas. Agora, tudo será realizado nos dias 18 de março e 8 de abril, em novo local: o Vereda Tropical, na Barra da Lagoa. Mais informações sobre o Purpurata você tem aqui no site oficial.

Bora conhecer oito motivos para ir a este forte candidato a ser um evento inesquecível?

Duas noites de muito som

Novato na área, o Purpurata aparece como mais uma iniciativa para agitar a crescente cena de festivais independentes em Santa Catarina, tendo a capital do estado como ponto de partida. Diferentemente outras iniciativas, o Purpurata surge com um line up focado, em dias diferentes, no rap e em brasilidades. Por isso, é uma oportunidade tanto para quem prefere ver apenas a sexta-feira ou o sábado – ou, então, aventurar-se nas duas noites, que sempre iniciarão às 21h. Vai dar de curtir um dia de praia e, depois, mergulhar no festival.

Rap de primeira

O festival terá um line up feito para fãs do hip hop nacional: Kamau (SP), MC Versa (SC), Tássia Reis (RJ) e o carismático e consagrado Black Alien (RJ) vão agitar os presentes em duas noites para os fãs do estilo.

A noite das brasilidades

Também terá vez que gosta das brasilidades. Teremos os shows de Otto (PE), Letrux (RJ), Francisco El Hombre (SP) e os nativos da ilha Brothers Reggae (SC). Ou seja, duas noites para todo aquele que é fã de música alternativa em português e pretende se divertir numa noite de verão.

Otto

Passado um pouco mais de três anos do último show, Otto Maximiliano Pereira de Cordeiro Ferreira retorna à Ilha da Magia para incendiar a noite das brasilidades. O cantor, compositor e percussionista pernambucano desembarca na capital catarinense para apresentar Canicule Sauvage. O álbum, lançado neste ano, traz ao seu repertório novos clássicos como “Menino Vadio” e “Peraí Seu Moço”. O set list também conta com clássicos como “Farol”, “Crua” e “Saudade”. Mas é sempre bom não se esquecer de que, quando se fala de Otto, também podem vir boas surpresas ao vivo.

Black Alien

Habitué de Floripa como poucos, o ex-Planet Hemp não poderia começar o ano longe da cidade: promete uma performance incrível, como todas as que já realizadas na capital catarinense. E não poderia ser diferente: Black Alien estará na primeira das duas noites com sucessos estrondosos como “Vai Baby”, “Final de Semana”, “Como Eu Te Quero”, “Carta Pra Amy” e “Que Nem o Meu Cachorro”. Somente estas cinco faixas somam mais de 100 milhões de plays no Spotify. Um fenômeno da música brasileira atual.

DJs de primeira

Embora ainda não tenham sido anunciados os DJs, a organização informou em suas redes sociais que os dois dias terão nomes locais e de expressão nacional, para que todo mundo coloque o corpo para dançar. Por isso, a festa também estará garantida antes e depois dos shows. E será completa!

Ingresso solidário 

Está apertado de grana e não se encaixa nos critérios da meia entrada? Não se preocupe! O Purpurata Festival contará com entrada solidária para todos, para que ninguém tenha motivos para não curtir um festival diferente, com bandas e rappers que são destaque na cena nacional.

Transporte gratuito?

A prefeitura de Florianópolis havia anunciado catraca livre nos ônibus durante o dia 14 de janeiro, para desafogar o trânsito da Ilha. Até agora não há nada garantido, mas esperamos que a decisão seja mantida para uma ou mesmo as duas novas datas do evento.

Music

Gilberto Gil

Oito motivos para não perder o novo show do artista, estrela de vários festivais no Brasil em 2022 e que acaba de voltar de turnê pela Europa

Texto por Abonico Smith

Foto: Fernando Young/Divulgação

Ele tem em Abelardo Barbosa, o Chacrinha, celebridade citada em uma das famosas músicas suas, a clássica “Aquele Abraço”. Contudo, quem está com tudo e não está prosa é o próprio Gilberto Gil, que está com a agenda cheia nesta temporada em que acabou completar 80 anos de idade.

Gil acaba de voltar de uma bem-sucedida turnê pela Europa, onde foi acompanhado por alguns de seus descendentes no palco. Também acaba de estrear em streaming o reality show Em Casa com os Gil, onde é o protagonista ao lado de toda a sua família. Participou de grandes festivais brasileiros (MITA, Coala, Rock in Rio), com shows concorridos de público e bastante incensados pela crítica. Também percorre o país apresentando-se aqui e ali, em grandes e importantes cidades, com sua banda de apoio, formada majoriamente por gente que carrega o talento e o sobrenome Gil em seu DNA.

Por estar bastante incensado que todos os ingressos para a sua passagem por Curitiba (Teatro Positivo, dias 27 e 28 de outubro), depois de cinco anos sem cantar na capital paranaense, estão esgotados. Quem sabe alguma mágica acontece e, se você não comprou a sua entrada, algum bilhete “premiado” aparece disponível voando por aí?

De qualquer maneira, aí vão oito motivos para não perder (pode não ser um destes mas que seja algum próximo) um concerto de Gilbert. Gil bem à sua frente

Tropicália

Ao lado do amigo e conterrâneo Caetano Veloso, Gil bolou todos os conceitos, preceitos e possibilidades sonoras do movimento que abalou as estruturas da música brasileira no biênio 1967-1968, provocou muita polêmica e desde então vem, década após década, vem rendendo frutos e discípulos maravilhosos para nossos ouvidos escutarem e os olhos verem em ação nos palcos da vida. Expandindo toda e qualquer fronteira, sempre observando e absorvendo tudo o que pudesse, adentrando as várias regiões do país ou mesmo pegando coisas boas lá de fora. Se não fosse a ação feita pela Tropicália lá atrás, que sacodiu a poeira da estagnação da bossa nova e projetou um belo futuro, onde vieram a se encaixar nomes como Sérgio Sampaio, Walter Franco, Chico Science & Nação Zumbi, Paralamas do Sucesso, Los Hermanos, Ana Cañas, Francisco El Hombre, Charme Chulo e Johnny Hooker, por exemplo.

Família no palco

Com 80 anos de idade completados em 26 de junho e dono uma carreira musical ímpar, Gil agora desfila nos palcos toda a sua generosidade em ceder espaço para seus descendentes (filha/os, neta/os, nora) como integrantes de sua banda de apoio. Aliás, quase todo mundo que o acompanha carrega no DNA traços da família Gil – o que faz pensar o quanto os tentáculos deste sobrenome poderoso de três letrinhas se alastraram pelo Rio de Janeiro e que, de uma ou outra maneira, cada profissional da música que esteja radicado na Cidade Maravilhosa está de uma ou outra maneira, até no máximo seis graus de separação (quando muito isso, olha lá!) de Gilberto Passos Gil Moreira. O mais recente membro do clube com o branding Gil é a neta Flor, de apenas 13 anos, com quem chegou a dividir recentemente os vocais principais, no Rock In Rio, em uma versão bilíngue de “Garota de Ipanema”. 

Reality show

Por falar em família, se você tem acesso ao streaming da Amazon Prime não deixe de assistir Em Casa com os Gilreality show criado pela Conspiração Filmes para documentar – da criação à realização de uma turnê de quinze datas feita meses atrás por alguns países europeus, passando por várias reuniões com a participação de todos os membros do clã, que, de uma ou outra maneira, aparecem em cena passando pelo sítio do artista em Araras, onde ele se isolou durante a pandemia da covid-19. Tem até a bisneta Sol de Maria. É interessante ver toda a dinâmica familiar regida por Gil e a esposa Flora, que coordena não só a carreira do artista como também organiza e rege tudo o que envolve os encontros familiares.

Repertório clássico

Não faz muito tempo que Gil deu uma declaração tão polêmica quanto provocativa: ela passara a gravar pouco ou quase nada porque, de uma forma ou de outra, todas as músicas já haviam sido compostas e registradas. Claro que isso é uma hipérbole, mas não deixa de ser algo que faz pensar. Afinal, quanto mais oferta há de obras e artistas neste oceano que é a internet com suas plataformas de comunicação e divulgação, menos chance de se ter tanto um lugar verdadeiramente ao sol como ainda alcançar uma popularidade que tenha a mesma eficácia ou impacto de outrora. Portanto, nada mais natural também que o repertório da atual turnê de Gil seja um belo passeio por clássicos de várias fases de sua extensa trajetória. Afinal, se Gil conseguiu enfileirar hit atrás de hit nos tempos em que as rádios ainda tocavam a boa música brasileira do presente ou pelo menos algumas belezas não muito conhecidas pela massa, tudo o que menos se precisa enfiar em um show seria um punhado de faixas recentes que quase ninguém conhece ou já ouviu, só pela obrigação de se divulgar um disco novo e a justificativa de fazer (mais) uma turnê.

Laços com o reggae

Um dos destaques do repertório clássico de Gil é a sua forte conexão com o reggae. No disco Realce, de 1979, ele verteu português o clássico “No Woman No Cry”, de Bob Marley (Gil tinha acabado de assinar com a recém-inaugurada filial Warner, que era dirigida pelo seu ex-diretor na Phillips, o já falecido André Midani; Bob Marley era um dos grandes nomes do selo Island, representado em nosso país pela Warner, que inclusive chegou a trazer o artista jamaicano para cá). Vinte anos atrás ele chegou a gravar um álbum (Kaya N’Gan Daya) dedicado só ao gênero, com um monte de releitura de Marley inclusive. E em uma ou outra música tocada ao vivo sua o arranjo traz traços de reggae.

Fase pop

Depois de assinar com a  Warner, Gil também passou a desenvolver uma fase tão pop quanto polêmica. Sem deixar de lado a música brasileira, empunhou a guitarra e soube misturar o popular com o pop. Muitos críticos passaram a torcer o nariz para o Gil dos anos 1980, mas não há dúvida de que dali saiu muita coisa boa que ainda levou o artista a ganhar um público mais abrangente que o das rádios FM voltadas à elite cultural. São desta época pérolas dançantes (como “Palco”, “Toda Menina Baiana”, “Realce”, “A Gente Precisa Ver o Luar”, “Andar Com Fé”, “Vamos Fugir”, “Extra”, “Punk da Periferia”, “Extra II”, “Pessoa Nefasta”, “Nos Barracos da Cidade” e “Não Chores Mais”) e baladas de arrepiar (como “Drão”, “Tempo Rei”, “Super-Homem, a Canção” e “Se Eu Quiser Falar Com Deus”.) Ainda tem obras compostas por ele e gravadoras originalmente por outros artistas na época ( “A Paz”, “Um Trem Pras Estrelas”, “A Novidade”). Muitas destas citadas aí são presença constante no repertório dos concertos mais recentes.

Ex-ministro da cultura

Entre 2003 e 2008, nos dois mandatos presidenciais de Lula, Gil esteve à frente do Ministério da Cultura, rebaixado à condição de secretaria durante o (des)governo de Jair Bolsonaro. Esta não fora a primeira incursão do cantor e compositor na política. Em 1988, então filiado ao PMDB, elegeu-se vereador em sua cidade natal, Salvador. Em Brasília, porém, driblou desconfiança de colegas do meio artístico como os atores Marco Nanini e Paulo Autran, para realizar um bom trabalho na Esplanada dos Ministérios. Afastado dos palcos pero no mucho (como ministro, em seu primeiro ano de atuação, botou as Nações Unidas para dançar durante o Show da Paz na Assembleia Geral da ONU), implementou uma série de políticas públicas voltadas à difusão cultural, em um tempo onde o governo federal ainda se preocupava, de fato, com o desenvolvimento e o avanço da arte. Em tempos onde a cultura brasileira anda tão combalida e arrasada, nada melhor do que uma nova mudança de governo e um novo ministro como fora Gilberto Gil para reerguer toda essa riqueza de volta.

Imortal da ABL

Em novembro de 2021, Gil foi eleito para uma vaga na Academia Brasileira de Letras, por meio de 21 votos, para ocupar a cadeira de número 20. Sua inclusão no quadro de imortais da ABL se deu uma semana depois da de Fernanda Montenegro. Uma mostra não apenas de que a instituição (que em julho último celebrou 125 anos de existência) mostra estar se abrindo para textos não formais da literatura tupiniquim como também mais uma faceta pública de Gilberto Gil que vai além dos palcos, instrumentos e microfones. E ele merece, também. Primeiro porque nas últimas décadas revelou-se um dos mais hábeis autores musicais de nosso país. E também porque já demonstrava uma certa queda para o fardão já na capa de seu álbum de estreia, de 1968, quando posou, com olhar matreiro, para as lentes do fotógrafo David Drew Zingg como um dos personagens daquele projeto gráfico. Portanto, mais de meio século antes e ainda no auge da Tropicália, Gil – cuja posse na instituição ocorreu em 8 de abril de 2022 – já revelava sua paixão para as letras e antecipava aquilo que ocorreria às vésperas de chegar à oitava década na idade.

Music

Coolritiba 2018 – ao vivo

Emicida, Mano Brown, Pitty, Iza, Anavitória, Scalene, Francisco El Hombre, Nação Zumbi, BaianaSystem, Dream Team do Passinho, Rincon Sapiência

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Textos por Mayara Mello e Marcos Anúbis (CWB Live)

Fotos por Beatriz Fidalgo/Coolritiba

Obs: As legendas das fotos estão em negrito durante o texto

Em sua 2° edição o Coolritiba abriu o mês de maio de 2018 com um line upsensacional. Com três palcos, a Pedreira Paulo Leminski se dividiu naquele sábado, dia 5, entre o popular, o underground e a balada com Francisco El Hombre, Iza, Rincon Sapiência, Emicida, Scalene, Nação Zumbi, BaianaSystem e Dream Team do Passinho. Tudo isso como uma atitude #cool que mudam o mundo e juntam os amigos para passar uma tardezinha ensolarada na capital paranaense.

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Abrindo as atividades do dia, o Francisco El Hombre subiu ao palco principal trazendo o melhor do latino americano e da movimentação de pélvis que qualquer banda poderia trazer. O grupo foi seguido pela Nação Zumbi, que fez dobradinha com o rapper Black Alien e agitou a galera com seus sucessos. Enquanto isso no palco alternativo, chamado Arnica, o Pallets, formação de São José dos Pinhais, abriu a programação. Na sequência, a banda brasiliense Scalene chegou com toda a energia e mostrou o melhor deles as canções de seu novo álbum. Como ainda contaram com a participação do amigos da Francisco El Hombre reforçaram os boatos sobre o fato de que estão para lançar coisas em conjunto.

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E como já dito antes, neste ano a festa não coube só em dois palcos. O festival ainda contou com o novíssimo espaço da Pista Paradis. Só o Soul Salva, Clube do Passinho Baile Charme, Dance Like Yourself e Brasilidades, as melhores festas do clubinho paradisíaco, mostraram o porque do club Paradis ser tão amado e adorado na cidade. Com uma série de ritmos e cada festa com um ritmo específico, foi quase impossível ficar parado. Além das consagradas festinhas, a Pista ainda contou com a apresentação do grupo carioca Dream Team do Passinho. Arrebentaram cantando sucessos atuais e alguns hits, com muita dança e fôlego simultâneo, fazendo a público suar e berrar “oi sumido!”.

Enquanto tudo isso estava rolando na Pista Paradis, o palco principal e o Arnica também estavam bombando. No Arnica rolou o Dingo Bells. Os gaúchos apresentaram seu novo álbum Todo Mundo Vai Mudar pela primeira vez em Curitiba e também cantaram os hits do anterior, como “Dinossauros” e “Eu Vim Passar”. Depois veio o Trombone de Frutas, com seu novo baterista, tocando músicas de seus dois álbuns com uma nova pegada, mostrando um show diferente para o público. Na sequência, Rincon Sapiência mandou seu ritmo-e-poesia com força e energia. Um show maravilhoso com destaques como “Ponta de Lança” e o mais novo hit “Afro Rep” no melhor estilo Manicongo. Fechando o Palco Arnica, O Terno chegou acompanhado de sopros para apresentar um set com músicas do álbum Melhor Do Que Parece, lançado em 2016, e alguma coisa dos seus trabalhos anteriores que ainda faz a cabeça do público.

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Já no palco principal, Emicida – com participação de Pitty e Mano Brown – mostrou que veio para fazer a galera vibrar ao som de seus hits, que trazem não só a boa vibe, mas várias palavras de luta e guerrilha. Na sequência teve o show do Maneva, a dupla Anavitória com convidados como Sandy e o grupo Outroeu (juntos, fizeram uma homenagem aos Novos Baianos cantando uma versão de “Outro Eu”). Logo em seguida a curitibana Jenni Mosello subiu ao palco para mostrar seu mais novo single (“Vou Gritar!”) e deu um verdadeiro show de dança e energia. A cantora e compositora Iza a sucedeu. Chegou chegando, fazendo a galera ir até o chão e cantando seus sucessos como “Ginga” e “Pesadão”. Para finalizar o festival com chave de ouro, a galera do BaianaSystem colocou a Pedreira para fazer tremer o chão com seus graves absurdamente dançantes, causando uma explosão de interação do público.

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O Coolritiba 2018 foi uma levada de experiência e aprendizados. Mas sem esquecer as atitudes #cool que mudam o mundo. Quem aí já está ansioso pela próxima edição? (MM)

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Falar da Nação Zumbi é abordar boa parte do que de melhor foi produzido na música brasileira nos últimos 24 anos. Desde o clássico Da Lama ao Caos (1994), o disco de estreia do grupo, Jorge du Peixe (vocal), Lúcio Maia (guitarra), Dengue (baixo), Pupillo (bateria), Toca Ogan (percussão), Marcos Matias, Da Lua e Tom Rocha (alfaias) se mantêm como uma das forças da música brasileira.

No Coolritiba, o grupo esteve diante dos velhos fãs, mas também de muitos jovens que nunca tinham visto a banda ao vivo. A Nação abriu o show com “Refazenda”, de Gilberto Gil, versão gravada no mais recente álbum dos pernambucanos, Radiola NZ Vol.1(2017). O traalho apresenta covers de artistas completamente distintos, entre eles David Bowie (“Ashes To Ashes”), Beatles (“Tomorrow Never Knows”) e Marvin Gaye (“Sexual Healing”).

O set list ainda contou com vários clássicos da carreira do grupo, como “Por Amor”, “Blunt Of Judah” e “Hoje, Amanhã e Depois”. Curiosamente, talvez com a intenção de não se prender exageradamente ao passado, a Nação não tocou “Da Lama Ao Caos”, um dos maiores sucessos do grupo.

Já na metade do show, o convidado especial, o rapper Black Alien, juntou-se ao grupo para executar uma música dele (“Na Segunda Vinda”) e outra da NZ (“Rios, Pontes e Overdrives”). Na sequência, antes de “Banditismo Por Uma Questão de Classe”, Peixe falou sobre a conturbada situação política do país e Lúcio puxou o coro de “Lula livre”.

Duas características são muito fortes na música da Nação Zumbi: as marcações das alfaias e os riffs e levadas da guitarra de Lúcio Maia, que é um dos nomes mais criativos do país em seu instrumento. Juntas, elas dão um peso e uma originalidade impressionantes ao som do grupo.

“Quando a Maré Encher” encerrou o show. Mesmo precisando superar a perda do seu vocalista, principal compositor e mentor do movimento mangue beatChico Science, em 1997, a banda não entregou os pontos. O grupo se reconstruiu, seguiu lançando bons discos e manteve a criatividade. Hoje, 24 anos após o seu álbum de estreia, é um privilégio ainda ter a Nação Zumbi se apresentando regularmente em um cenário musical completamente diferente daquela época. (MA)

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Rap é a sigla para a expressão rhythm and poetry (ritmo e poesia). No estilo, uma batida que se repete serve como pano de fundo para as letras e, dentro desta alquimia, o que faz a diferença é a mensagem. O conteúdo do que é cantado é o que separa um artista comum de alguém que tem o que dizer. Dentro dessa ideia, orapper paulista Emicida se destaca justamente pelo discurso que abrange a realidade social das camadas menos favorecidas do país.

No Coolritiba, Emicida pôde perceber o quanto é respeitado por seus fãs. Ele – cujo apelido vem, na verdade, das letras iniciais da frase “enquanto minha imaginação compuser insanidades domino a arte”, abriu o show com “Bang”, “Gueto” e “A chapa é Quente”. Logo de cara, ficou nítida a facilidade com que o rapperse conecta aos seus fãs. O set listdo show, que faz parte da turnê 10 Anos de Triunfo, ainda contou com as canções “Pantera Negra”, “I Love Quebrada” e “Passarinhos”. Em uma homenagem a Chorão, o vocalista do grupo Charlie Brown Jr, morto em 2013, Emicida cantou “Como Tudo Deve Ser”.

Nos shows de rap, levando em conta essas características que o estilo tem, o artista fica praticamente sozinho em frente ao público. Portanto, precisa ter uma oratória que “hipnotize” os fãs. Emicida possui essa qualidade, mas também está acompanhado por uma boa banda que, além da tradicional picape comandada pelo DJ Nyack, ainda conta com guitarras e percussão.

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Na continuidade deste show na Pedreira, a primeira participação especial foi a da cantora e compositora baiana Pitty. Ela entrou no palco para cantar “Hoje Cedo” e, em seguida, “Máscara”, um dos maiores sucessos da sua carreira. Na sequência, tocando uma levada de samba em um pandeiro, o também rapper Mano Brown entrou no palco. Brown é uma das figuras mais importantes nesse cenário, pois ajudou a sedimentar o rap brasileiro nos anos 1990 com o Racionais MCs. Juntos, Mano e Emicida cantaram “Triunfo/Quanto Vale o Show” e “Vida Loka Parte 1”. “Levanta e Anda” encerrou o set.

A ligação de Emicida com os fãs vai além da música. No seu site, por exemplo, ele mantém um blog no qual escreve textos sobre os mais variados assuntos. No palco e nos álbuns, ele mostra que realmente tem o que falar. Além de ser uma característica essencial no rap, isso também é um fato raro na música brasileira do século 21. (MA)

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Psicodália 2018 – ao vivo

Noites, madrugadas e dias de um carnaval alternativo, repleto de experiências mágicas, música de primeira e contato com a natureza

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Zé Ramalho (foto GM)

Texto e fotos por Gustavo Moura e Mayara Melo

Em sua vigésima primeira edição, o Festival Multicultural Independente Psicodália trouxe novamente grandes nomes da música brasileira ao lado de artistas emergentes para realizar um carnaval alternativo. Iniciado na sexta (9 de fevereiro) e acabando na quarta-feira de cinzas (14), o evento foi realizado na Fazenda Evaristo, em Rio Negrinho (SC), um local amplo com natureza exuberante e muito bem estruturado. Sob um clima de muito respeito, paz e união, rolaram mais de 200 atrações entre shows, teatro, cinema, oficinas e recreação.

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Carne Doce (foto MM)

Na sexta-feira, após o cortejo circense fazer uma performance de abertura, a banda goiana Carne Doce abriu a série de shows já mostrando a força do feminino que foi ênfase no festival. A performática vocalista Salma Jô arrancou suspiros da plateia na apresentação de músicas com letras ásperas e ao mesmo tempo delicadas. Em seguida, os paulistanos do Tutti Frutti apresentaram músicas do álbum que a banda gravou com Rita Lee em 1975, chamado Fruto Proibido. Clássicos como “Agora Só Falta Você” e “Ovelha Negra” embalaram a noite divertindo tanto a geração contemporânea da banda quanto os mais novos. Fechando as apresentações do Palco Lunar, os pernambucanos da mundo livre s/a agitaram o público com muita energia e empolgação. Mas a noite não acabou com o Palco Lunar: no Palco dos Guerreiros (que durante o dia transforma-se em Palco do Sol), o Bloco da Laje realizou uma apresentação carnavalesca pra agitar a galera, seguido pelas bandas Machete Bomb e Kiai, que divertiu quem conseguiu aproveitar a primeira noite de festival.

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mundo livre s/a (foto GM)

No sábado, a cantora e compositora Raíssa Fayet abriu as atividades musicais no Palco do Lago, onde colocou toda a sua energia ancestral e colocou o público para cantar com suas letras impactantes e de cunho moral. Entre elas a impactante “Free Boi”, que fala da exploração do boi e o impacto disso na sociedade (“Liberta o boi/ Free boi”). Mais tarde, no palco Lunar a banda goiana Boogarins instigou a todos com seu indie psicodélico. O set teve como base o mais novo álbum lançado (Lá Vem a Morte, 2017) e ainda contou com a breve participação de Salma Jô, que subiu ao palco. Encerrando a programação do Lunar, o Bixiga 70 colocou todo mundo para dançar ao som com uma das melhores referências de afrobeat, latin e jazz, que embalaram todo o repertório dos paulistas. A programação seguiu com o Palco dos Guerreiros, com Consuelo, Mustache e os Apaches e Apicultores Clandestinos. A trinca agitou a galera que não queria perder nenhum momento do festival.

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Boogarins (foto GM)

O domingo foi o período mais chuvoso do Psicodália, quando os campistas tiveram de esticar as lonas e ajeitar as barracas para que não entrasse água. O sempre presente artista curitibano Plá iniciou os trabalhos no Palco do Lago, seguido pela banda londrinense Aminoácido. Às 15 horas iniciou-se a apresentação de Estrela Leminski e Téo Ruiz no Palco do Sol, que estava lotado. A chuva começou a cair torrencialmente bem no início do show, mas a energia e presença dos artistas fizeram com que todos permanecessem e aproveitassem bastante. Com muita teatralidade, Joe Silhueta deu seguimento, seguido por Aninha Martins, que encerrou os espetáculos do dia neste palco. À noite, a aguardada presença de Zé Ramalho empolgou os psicodálicos com clássicos como “Chão de Giz”, “Frevo Mulher” e “Admirável Gado Novo”. O cantor e compositor paraibano também tocou músicas de Raul Seixas, como “Medo da Chuva” – o que fez o público que lotava o espaço do palco agradecer e aproveitar a chuva que caía durante a apresentação. A curitibana Confraria da Costa também embalou a todos com seu “rock pirata” no Palco Lunar. No Palco dos Guerreiros, a banda Pata de Elefante, que voltou à ativa depois de anunciar o encerramento em 2013, trouxe uma verdadeira patada de elefante carregada com rock’n’roll e psicodelia. Em seguida, os mineiros do Graveola alegraram os guerreiros da madrugada com a diversidade de ritmos característica da banda. Por fim, o grupo Technobrass apresentou seu som de pegada eletrônica, só que realizado com instrumentos tradicionais.

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Francisco El Hombre e Mulamba (foto MM)

Após La Banda Bandalo, Mulamba causou um grande estopim com sua apresentação no Palco do Sol na segunda. Sem ainda ter um álbum lançado, a banda, que é formada só por mulheres, fez o público chorar, gritar, berrar, dar tudo de si com suas letras políticas e encorajadoras, que além de serem impactantes possuem um valor muito significativo para o momento político e social atual. Com várias participações, como Raíssa Fayet e Juliana Strassacapa (Francisco El Hombre), a apresentação ainda contou com performances e participação de mulheres da plateia que subiram ao palco, mostrando toda a força do feminino ao cantar “Mulamba”.

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Cuatro Pesos de Propina (foto MM)

Fechando a programação do Palco do Sol, o Som Nosso de Cada Dia, ícone do rock progressivo setentista, recebeu o público eufórico do show anterior e finalizou lindamente as atividades. Já no Palco Lunar, o Francisco El Hombre abriu o palco com todo o calor do psicodália e fez todos dançarem ao som do folclórico e latino álbum Solta as Bruxas. Agitando o público ao som de “Como Una Flor” o show deles ainda contou com participação de Mulamba e Cuatro Pesos de Propina. Foram seguidos por Jorge Ben Jor, que fez algo absurdamente grandioso. A plateia foi ao delírio cantando vários de seus sucessos, como “Taj Mahal”, “País Tropical” e “Filho Maravilha”. Depois a Bandinha Di Dá Dó, com um show performático e dançante, aqueceu o pessoal e contou com bastante energia. Para terminar as atividades musicais noturnas, o Palco dos Guerreiros recebeu Abacate Contemporâneo, seguido de Bananeira Brass Band, com groove brasileiro, orgânico, e metais cheios de potássio. Todo mundo continuou dançando e rolou até banana para a plateia. O som instrumental Mabombe encerrou as atividades deste dia.

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Jorge Ben Jor (foto GM)

A terça-feira era último dia que contava com uma grade oficial de atrações (na quarta-feira de cinzas, a programação é “espontânea”) teve início com a envolvente apresentação do coletivo Yanay no Palco do Lago. Em seguida, o trio instrumental feminino paulistano Ema Stoned fez jus ao nome com uma surpreendente lisergia. No Palco do Sol, o cearense Daniel Groove começou os trabalhos, seguido pelos carioca do Ventre em uma intensa performance. Fechando as apresentações neste palco, o grupo paulista Pedra Branca dialogou com dança e artes visuais, encerrando com chave de ouro. Já no Lunar, Arrigo Barnabé, outra atração londrinense do festival, fez um show performático, caótico e poético.

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Tulipa Ruiz (foto MM)

Na sequência veio Tulipa Ruiz, comentando que estava muito feliz de se apresentar no festival em que muitos de seus amigos já haviam tocado. Ela fez uma empolgante apresentação com base no álbum Dancê e depois foi vista curtindo a noite no festival junto com os participantes. Outros londrinenses, a banda Terra Celta, tradicional atração do festival, encerrou as apresentações deste palco com sua conhecida empolgação que fez o público pular e dançar muito. Encerrando o festival no Palco dos Guerreiros, os uruguaios Cuatro Pesos de Propina embarcou em uma enérgica apresentação, seguida pelo Casa de Velho, de Fortaleza. A Bandinha Alemã Max Jakush, de Rio Negrinho, concluiu o festival com os participantes se lambuzando ao dançar e pular na lama formada à frente, agradecendo muito ao evento e os benefícios que ele traz à cidade catarinesne.

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Terra Celta (foto MM)

O contado até agora acima, mesmo com todas essas referências, não foi nem a metade do que rolou no festival em 2018. O Psicodália é um lugar de troca, aprendizado e muito crescimento interno e social. Já imaginou na vida estar de boas em um lugar e o seu artista sair do show e curtir com a galera como a Tulipa? Ou você tomar um sol de tarde com vista para o lago e escutando Yanai? A única coisa que podemos concluir é que se você ainda não foi ao psicodália, não perca mais tempo e vá nas próximas edições! Quaisquer dessas palavras não são suficientes para descrever toda essa experiência.

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Graveola (foto MM)

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Ventre (foto MM)

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Psicodália 2018 (foto GM)