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Francisco El Hombre – ao vivo

Grupo abre minitemporada em Curitiba incendiando a plateia com energia intensa e a sua típica mistura de sonoridades e referências latinas

Texto por Lucca Balmant e Diego Scremin

Foto: Lucca Balmant

Diminuir a distância entre os países da América Latina é o que o Francisco El Hombre vem fazendo há dez anos, quando o grupo foi fundado por dois irmãos mexicanos. Mateo (voz e violão) e Sebastian Piracés-Ugarte (voz e bateria) rodaram o mundo até se estabelecerem por aqui, mais precisamente na região de Campinas. Desde então, com a ajuda de outros músicos locais criaram uma ponte para diminuir a carência de troca musical afetada pelo idioma. Afinal, o mercado nacional não costuma absorver muito os artistas hermanos que cantam em espanhol e exploram sonoridades características das fronteiras vizinhas (ou quase).

Sendo assim, a banda mistura, além das línguas, as influências da batucada e de outros ritmos da América Latina, criando uma mistura perfeita entre gêneros e olhares de outros países e a música popular brasileira. Esta proposta marcou a volta do Francisco El Hombre a Curitiba em uma série especial de seis apresentações no espaço da Caixa Cultural, divididas em dois finais de semana (23 a 25 de novembro e de 30 de novembro a 2 de dezembro). O grupo trouxe um repertório selecionado especialmente para sua comemorar a sua trajetória. A maioria era em espanhol e com discursos e vieses políticos, sempre como a intenção de demonstrar a luta antifascista e de apoio às comunidades feministas e LGBTQIA+, com muitos discursos individuais com tentativas muito bem sucedidas de se conectar e energizar o público mesmo em um teatro de pequeno porte.

O que mais chama atenção na primeira dessas seis noites foi realmente a performance do FEH e a intensidade com que a realizam. Desde a primeira música via-se Mateo puxando o público a se levantar dos assentos para os receberem com a devida energia. Desde então, não parava de encorajar danças, correrias e cantos aos gritos. Trazendo essa energia estava também Juliana Strassacapa (voz e percussão), sempre vindo até a frente do palco para conversar com as pessoas e puxar coreografias junto a Mateo em vários momentos do show. O quinteto transformou um pequeno teatro numa grande festa, concretizando a fala do próprio grupo durante o show (“Francisco El Hombre és pura fiesta!”)

Junto à energia de Mateo e Juliana, Sebastian quebrava a bateria acompanhado de ritmos da percussão, além de mostrar sua bela voz enquanto tocava ritmos complexos. Ainda havia no palco Helena Papini e Andrei Martinez Kozyreff, que não ficam nada atrás do resto do grupo. Mostrando toda a sua habilidade nas cordas, Helena trazia linhas calorosas de baixo, vindo até a frente do palco fazer festa enquanto solava e groovava. Andrei, um pouco mais acanhado, não passava despercebido com timbres e riffs marcantes na guitarra, com aquele toque psicodélico de Ave Sangria. Para completar as cordas, o próprio Mateo tocava o violão numa forma mais clássica e com muitos ritmos latinos, surpreendendo por mostrar uma performance tão boa no instrumento enquanto entretinha o público como frontman. De resto, efeitos modulares de synths chamavam a atenção de todos com sonoridades experimentais.

Em um teatro com capacidade para 125 pessoas e com cadeiras marcadas, a energia do FEH era surreal. Ela se espalhava pelo ambiente sem parar, fazendo todos levantarem dos assentos e, numa noite chuvosa e fria de quinta-feira, dançarem e suarem de um lado para o outro, mesmo no menor espaço possível. Este detalhe definitivamente não foi capaz de interromper nem conter a conexão e a pulsação da banda. Para marcar a noite de estreia dessa minitemporada na cidade, foi um show sensacional.

Set list: “Tá Com Dólar, Tá Com Deus”, “Como Una Flor”, “Arrasta”, “Loucura”, “Triste, Louca ou Má”, “Sincero”, “Calor da Rua”, “CHAMA ADRENALINA :: gasolina”, “CHÃO TETO PAREDE :: pegando fogo”, “Batida do Amor”, “Soltasbruxa” e “MATILHA :: cólera ou coleira”.

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Plebe Rude + Relespública – ao vivo

Uma noite entre mods e punks com carreiras longevas, repertórios matadores e muita fúria em forma de rock’n’roll

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Plebe Rude

Texto por Getulio Guerra
Fotos: Murilo Ribeiro

Jokers Pub, noite de sábado, 8 de junho de 2019. Casa cheia pra ver dois dinossauros da cena roqueira nacional no bar mais tradicional do rock curitibano. DJ Ronypek era um dos fanzineiros responsáveis pelo Ordem & Protesto – o fanzine mais foda da cidade, distribuído mundo afora nos anos 1980. Entre um IPA e um APA, a discotecagem já antevia a vibe da noite com “Festa Punk”, dos Replicantes (“Quero uma festa com os Kennedys / Eles é que sabem o que é hardcore / Depois pra resfriar, pra afastar os junkies/ Poguear um monte ouvindo Circle Jerks”)

Sobe ao palco a primeira banda da noite. A Relespública com o trio clássico é matadora! Não consigo pensar em outra formação que não seja Moon-Fábio-Ricardo fazendo aquele som… A banda curitibana tem hits, mesmo que no underground e o anexo todo do Jokers socado, inclusive os camarotes, e cantando junto com Fábio Elias – em sua melhor forma possível, mental-física-espiritualmente. Ele conta que abrir para a Plebe no Jokers já era um sonho antigo, da banda e do Sandro – o dono da porra toda da conceituada casa. Fabio brinca que sua guita não está afinando talvez por causa do frio. Diz que quando foi comprar na loja ela afinava mas ali no palco, não. Oferece a cover “I Cant Explain”, do Who, a Serguei e Andre Matos, ambos falecidos horas antes desse show.

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Relespública

A Plebe Rude é uma banda que tem uma egrégora que é muito foda! Era “só” a predileta do Renato Russo em Brasília. E isso é uma baita responsa, pra vida inteira. O André e o Phillipe se conhecem e tocam juntos há muito tempo, desde a fundação da banda em 1981. E lá se vão quase 40 anos de estrada… A leveza da relação, o respeito que um tem pelo outro (que deu pra ver no recente DVD Primórdios) é bonito. E somados ao Clemente, que tem também uma presença de espírito maravilhosa, e o Capucci, que é de outra geração mas veio com discrição e precisão juntar-se aos dinossauros… Vira um quarteto e tanto.

Eu ouço os caras desde o lançamento do primeiro disco, O Concreto Já Rachou, de 1986! Aquele discurso pertinente daqueles primeiros tiros (“Proteção” e “Até Quando Esperar”) bateu forte no então jovem de 15 anos que já ouvia Inocentes (cujo bandleader é o Clemente, desde a formação da banda, também em 1981), Cólera, Garotos Podres, Replicantes, Camisa de Vênus… Tinha aquela estética e pegada pós-punk, sem tosquices nem exageros, que até hoje se mantém com integridade.

Abonico Smith – editor deste site – entrevistou os punks velhos horas antes do show, descobrindo que logo entram em estúdio pra gravar um novo disco. Será uma ópera punk com quase trinta músicas e que servirá de base para um musical. Neste disco será contada a História da humanidade. De três mil anos pra cá, desde quando o homem se tornou bípede. A ideia iniciou de uma canção inédita já há três décadas, que se chama “Evolução” e foi tirada pela Plebe da gaveta. Em breve este bate-papo estará disponível aqui no canal do Mondo Bacana no YouTube.

Mas voltemos ao show do Jokers. Phillipe fala, depois de “Um Outro Lugar”, que esta canção tem 30 anos e ele não pensava que teria de ficar cantando ela hoje. Não imaginava que teríamos um presidente que ficaria fazendo gracinhas em relação à cor das pessoas, à cultura quilombola e a outras coisas. A base do set list fica nos dois históricos primeiros discos, mas ainda dá espaço a novidades e faixas posteriormente incorporadas ao repertório da banda, como “Medo”, clássico do Cólera (“Redson não está morto!”, avisa alguém da banda).

Cortinões fechados, sem bis de nenhuma das bandas. Esse é o último concerto desta tour referente a Primórdios! Compro um botton da Plebe, carrego um pouco meu celular numa tomada do hall, pago minha ficha e pego o rumo do Xaxim. É… Alguns artistas ainda me tiram de casa.

Set list Relespública: “Boogie”, “Nós Estamos Aqui”, “Mudando os Sentidos”, “Dê Uma Chance Pro Amor”, “Nunca Mais”, “Eu Soul”, “I Can’t Explain”, “Sol em Estocolmo”, “Capaz de Tudo”, “Mod de Viola”, “In The City”, “Garoa e Solidão”, “Boatos de Bar/A Fumaça é Maior Que o Ar”,  “Camburão” e “Minha Menina”.

Set list Plebe Rude: “Voz do Brasil”, “Brasília”, “Johnny Vai à Guerra (Outra Vez)”, “Dança do Semáforo”, “Luzes”, “Censura”, “Um Outro Lugar”, “Anos de Luta”, “O Que Se Faz”, “Sua História”, “A Ida”, “Esse Ano”, “Bravo Mundo Novo”, “Pressão Social”, “Tá Com Nada”, “Códigos”, “Sexo & Karatê”, “Medo”, “Minha Renda”, “Proteção”, “Plebiscito”, “Disco em Moscou” e “Até Quando Esperar.