Segundo curta-metragem assinado por Pedro Almodóvar enfoca um tórrido romance gay entre cowboys do velho oeste americano
Texto por Tais Zago
Foto: Mubi/O2 Play/Divulgação
Pedro Almodóvar aproveitou os anos pandêmicos e alguns contos que guardara para ampliar seu catálogo de pequenas gemas preciosas com dois curtas rodados durante a pandemia, desta vez somente com atores ingleses e norte-americanos. O festejado cineasta espanhol dirigiu, roteirizou e concebeu ambas as obras em seus mínimos detalhes.
Em A Voz Humana, lançado em 2021, o cenário é simples: uma mulher em sua casa. Sozinha. A casa, um cenário em um set de filmagem. Ela, Tilda Swinton, espera o telefonema do ex-amante junto ao seu cachorro. A trama simples é marcada por um show de interpretação de Swinton, um monólogo do pos-apocalipse amoroso de uma mulher sofrendo profundamente com a separação. Um acerto de contas com exposição de feridas, com violência, destruição e figurinos fantásticos. Uma personagem que somente uma atriz tarimbada como Tilda teria condições de incorporar.
Almodóvar adaptou no roteiro a peça de Jean Cocteau e não poupou em elementos, objetos e cores para transmitir a teatralidade do enredo. A música, orquestrada da forma mais dramática, sublinha as nuances do humor da mulher interpretada por Tilda nos empurrando em um passeio na montanha-russa de seus sentimentos mais íntimos.
Filmado no auge da pandemia, A Voz Humana tem o pano de fundo da tragédia humana, no caso a emocional, distanciada consequentemente da crise mundial do vírus pandêmico. Um deleite para os fãs de Almodóvar e Swinton, nesse primeiro passeio do espanhol pelo mundo dos textos em língua inglesa. O curta está disponivel no streaming do Telecine. Você pode ler a resenha publicada pelo Mondo Bacana na época do lançamento clicando aqui.
Estranha Forma de Vida (Extraña Forma de Vida, Espanha/França, 2023 – Mubi/O2 Play) é o segundo curta e acaba de chegar aos cinemas. Aqui Almodóvar vai além: homenageia o gênero do western americano de John Ford e também, indiretamente, o western spaghetti italiano de Sergio Leone.
Silva (Pedro Pascal) e Jake (Ethan Hawke) são dois cowboys maduros que se encontram pela primeira vez após 25 anos. O xerife Jake e o criador de gado Silva compartilharam um breve porém tórrido romance. Um amor proibido em uma então sociedade machista de exploradores no velho oeste americano do século 19.
Com um figurino excelente assinado pela Casa Saint Laurent e rodado em Almeria, na Andaluzia, em um set original utilizado por Leone em seus filmes, esse pequeno drama permeado pelo amor, desejo e ressentimento inova ao abordar o tema da atração entre dois homens em um cenário masculino, desértico e árido de emoções. Mas a mão do mestre está ali – nas cores, nos diálogos dramáticos, nas cenas sempre no limite. É um original Almodóvar que nos deixa querendo mais quando acaba. E para os que, assim como eu, ficaram praticamente órfãos do final da história, tem uma entrevista exclusiva com Pedro Almodóvar após os créditos finais onde discorre por suas inúmeras inspirações e sobre seu processo criativo e também nos dá uma versão resumida de como seria sua versão de um longa.
Para quem já viu ou vai ver ambos os curtas do mestre, Almodóvar guarda uma surpresa. O plano é que seja lançada para os cinemas uma trilogia de curtas: A Voz Humana, Estranha Forma de Vida e um terceiro ainda em planejamento, fechando mais um ciclo de seu trabalho criativo.
A mágica tarde que despertou o artilheiro adormecido italiano que transformou em pesadelo o sonho da seleção brasileira na Copa de 1982
Texto por Fábio Soares
Foto: Reprodução
Em matéria de ludicidade, o castelo da Copa do Mundo da Espanha, de 1982, já era mágico a partir de seu mascote. Naranjito (Laranjinha, em espanhol), era uma simpática figura onipresente nos boletins dos telejornais da época. Aliado a este fato, o futebol apresentado pela seleção comandada por Telê Santana, mesmo nos amistosos preparatórios, encantava dez entre dez torcedores da Amarelinha à época – sobretudo no amistoso contra a Alemanha Ocidental, em março do mesmo ano, em um Maracanã com mais de 150 mil espectadores.
A euforia era justificável. Ainda na ressaca da Era Pelé encerrada oito anos antes, o futebol praticado por aquela seleção aproximava-se, a olhos vistos, ao patamar de arte. Outro fato marcante com tamanha identificação daquele time junto a seu povo: numa época em que transferências milionárias estavam longe de estar em voga, 99% dos jogadores atuavam no Brasil sendo Paulo Roberto Falcão (no Roma, da Itália) a exceção à regra.
Junho de 1982 chegou e o picadeiro dos sonhos começava já estava armado com o início do espetáculo já na duríssima estreia contra a União Soviética, em Sevilla. Na minha casa, um particular ritual foi iniciado comigo (com seis anos de idade) e minha irmã (com cinco, à época): picar quilos e quilos de jornais velhos a serem atirados pela janela a cada gol do Brasil. Na partida inicial, as primeiras remessas de papel foram defenestradas durante o 2 a 1, após um inacreditável frango de Waldir Peres. No entanto, a vitória com uma bomba de Éder Aleixo aos 42 minutos do segundo tempo tirou o peso da estreia e renovou a esperança pelo tetra.
A atmosfera de sonho iniciou-se de verdade a partir da segunda rodada nos 4 a 1 sobre a Escócia. Atuação monstruosa do meio-campo protagonizado por Toninho Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates. Em casa, mais papel picado arremessado pela janela e festa na Avenida Paulista após o jogo. Euforia justificável que cresceu como uma tsunami na terceira rodada, nos 4 a 0 sobre a Nova Zelândia. Novo show da dupla Zico-Falcão com o tal do “futebol arte” finalmente materializado aos olhos de quem o assistia. Sevilla estava entregue aos pés da seleção de Telê, enebriada com o que tinha visto nas três partidas da equipe na cidade. Na imprensa espanhola não se falava em outra coisa. Mesma euforia que inundava os telejornais e mesas-redondas após as partidas. Já para as crianças, aquele desenho animado ao vivo divertia, encantava e despertava paixão com a alegria nas ruas.
Na fase seguinte, a Seleção despediu-se ovacionada pela Andaluzia e rumou ao norte da Espanha para a segunda fase tendo Barcelona como sede. Em um formato que ainda não contemplava o hoje tradicional mata-mata, um triangular seria disputado entre Brasil (favoritíssimo), Argentina (com Maradona em seu primeiro Mundial) e uma desacreditadíssima Itália, que só se classificou na bacia das almas após ridículas atuações na primeira fase (só com empates contra Camarões, Polônia e Peru, apenas dois gols marcados e dois sofridos). A descrença era tanta que até a imprensa italiana virou as costas para seu escrete que chegou ao Mundial abalado pelo escândalo das loterias do calcio, deflagrado em 1980.
O triangular teve início na capital da Catalunha com um surpreendente 2 a 1 da Itália sobre os argentinos, últimos campeões. O caminho das pedras? Simples: colar o carrapato Gentile em Diego Maradona até quando ele fosse ao banheiro. Com sua principal estrela anulada, os portenhos foram pressionados à segunda rodada para o embate contra o Brasil. Confiança? Nenhuma. Os argentinos sabiam da tempestade que estava por vir. E ela veio em forma de um rolo compressor.
O Brasil x Argentina daquele 2 de julho eternamente permanecerá no panteão afetivo da memória de quem o assistiu. Impecável jogo coletivo do escrete de Telê, com atuação estratosférica de Falcão e com um gol de Júnior após passe milimétrico, genioso e genial de Zico. Muitos podem depreciar o feito ligando-o à expulsão de Maradona após criminosa entrada em Batista, mas o fato é que nem dois Diegos atrapalhariam a seleção naquela esplendorosa tarde barcelonense. Um alinhamento de planetas que alçou aquele time ao inevitável patamar de maior favorito a conquistar a Copa. Mais três espetáculos aconteceriam e o título era apenas uma questão de tempo. Na minha casa, eu e minha irmã sabíamos que toneladas de jornais velhos nos esperavam para serem picadas. Mas nenhum dos dois reclamou.
O 5 de Julho nasceu carrancudo e nublado naquele inverno paulistano. Nada, no entanto, que atrapalhasse o clima de euforia na cidade. Ninguém dormiu direito naquela noite devido à adrenalina acumulada pelas quatro primeiras partidas. A contra a Itália, segunda e última daquele triangular trazia um ingrediente a mais de certeza pela classificação: um simples empate bastaria para a equipe avançar às semifinais. Mas quem queria saber de empate? O DNA ofensivo daquele time tornara impensável qualquer mudança tática a fim de preservar uma igualdade classificatória. Telê jogaria para a frente e pronto! Ninguém questionou isto na véspera. Contrastando com o dia nublado paulistano, um sol catalão apareceu com toda a sua força sobre o Estádio Sarriá. Cenário perfeito para mais um show brasileiro, certo? Errado. O clima já estava estranho na véspera, com Zico “baleado” após o jogo contra a Argentina, tornando-se dúvida para o embate e tendo sua escalação confirmada somente após teste físico nos vestiários. Pelo lado italiano, a guerra entre time e imprensa persistia. Ninguém botava fé naquele setor ofensivo que não marcava gols. A falta de fé, no entanto, despertou um gigante até então adormecido na Copa.
Estrela da Juventus, Paolo Rossi chegava desacreditado à Espanha após cumprir suspensão de dois anos por suposto envolvimento no escândalo das loterias, em 1980. E a falta de confiança do atacante refletiu-se em campo: zero gols marcados nas quatro primeiras partidas. Nem o papa João Paulo II apostaria suas fichas em Rossi contra o Brasil. E talvez, nem o próprio Rossi.
O jogo teve início ao meio-dia mas eu e minha irmã já estávamos de pé desde as oito para picar papéis, naquela doce rotina de Copa. Na escalação, o verdadeiro quadrado mágico (este sim, verdadeiro; não aquele embuste de 2006) estava confirmado: Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates abasteceriam Serginho Chulapa e Éder na frente. Nada poderia dar errado em campo. Mas deu! Justamente no setor defensivo. Setor este que viu em Paolo Rossi a caricata figura de uma “besta-fera”. Logo aos cinco minutos, uma marcação frouxa permitiu que Cabrini, com muito espaço, cruzasse na altura da marca do pênalti e encontrasse Rossi, livre de marcação para vencer Waldir Peres inapelavelmente num cabeceio na diagonal. O artilheiro dos gols perdidos finalmente acordara. E agora? Sete minutos depois, porém, Zico mostrou que sua escalação foi mais que acertada: drible de calcanhar desconcertante e passe açucarado para Sócrates executar o goleiro Dino Zoff! 1 a 1. Eu e minha irmã em festa na janela com a volta da atmosfera de sonho. Nada atrapalharia a classificação, certo?
A segunda etapa chegou como um doloroso teste cardíaco: um pênalti claro de Luisinho em Paolo Rossi não marcado. Apesar da partida pegada e sem a fluidez dos embates anteriores, veio um momento de redenção: Aos 23 minutos, Júnior foi da lateral à intermediária, passou por Conti e, de trivela, encontrou Falcão próximo à meia-lua. Às suas costas (e como um foguete), Cerezo tornou-se opção de passe mais do que óbvia. Mas o Rei de Roma mudou de ideia, puxou para a perna esquerda e acertou uma bomba no ângulo direito de Zoff. Um golaço digno de Copa! Em casa, eu e minha irmã jogamos quase todo o estoque de papel picado pela janela. Enquanto isso, meu irmão gritava o provável maior “PUTA QUE PARIU” de sua vida. Euforia evidenciada pelas veias saltadas no pescoço de Falcão durante a comemoração. Enfim, faltavam apenas 22 minutos para a classificação e desta vez, nada mais sairia errado, certo?
Errado! Pela terceira e última vez. Seis minutos depois, após o escanteio italiano, Sócrates atrapalhou Oscar ao tentar afastar a bola, que caiu nos pés de Tardelli num arremate de pé esquerdo. O que se tornaria uma defesa fácil para Waldir Peres encontrou um Paolo Rossi livre na pequena área, girando com a crueldade de grande carrasco para marcar o terceiro gol. O drama virara pesadelo e os minutos derradeiros machucaram corações em verde e amarelo ao redor do planeta, sobretudo após o milagre operado por Zoff após a cabeçada à queima-roupa de Oscar. O gigante goleiro, à época com 40 anos, pôs ponto final a toda e qualquer tentativa de reação da equipe de Telê.
Após o apito final, silêncio, lágrimas e incredulidade. Paolo Rossi vestiu-se da figura de morte para nos assombrar. O artilheiro que nunca fazia gols marcaria ainda por três vezes naquela Copa: duas contra a Bélgica, nas semifinais, e mais uma sobre a Alemanha, na final em Madrid. Assim como Maradona em 1986, ele fora determinante na glória italiana de 1982. Anos mais tarde, numa entrevista, confessou toda a sua admiração pelo nosso time. “O Brasil de 1982 era de outro planeta. Os melhores que vi jogar mas o que vocês queriam? Que eu não fizesse os gols?”, declarou da forma mais sincera possível.
Paolo Rossi nos deixou nesta última quarta-feira (9 de dezembro), aos 64 anos de idade, vítima de um câncer no pulmão. Para nós, foi um carrasco a ceifar nosso sonho. Mas era um carrasco longe de ser odiado. Fez pelo seu país, afinal, o que cada um de nós faria pelo nosso. E tornou-se um personagem a orbitar em nossas perturbadas cabeças e corações nos últimos 38 anos.
Voltando à minha casa, naquele 5 de julho de 1982, eu e minha irmã ainda quisemos arremessar pela janela a última remessa de papel picado. Meu irmão não permitiu, entretanto. Na hora não entendi, mas hoje o compreendo muito bem. Afinal, papéis picados foram feitos para ornamentar sonhos felizes.
Visto do balão da infância de sujeitos sub-50 como eu, o mundo maradoniano era mágico. Empezando no Mundial de 1986 no México, à atmosfera de sonho dos lances impossíveis nos certames italianos de 1987 a 1990, seu futebol tinha traços de Chaplin a mim. Real desenho animado bem ali, diante de meus olhos em finais inesperados. E que ótimo que era assim.
Quando sozinho e com uma só perna despachou o imundo time da CBF comandado por Lazaroni da Copa do Mundo de 1990, tive ali uma certeza: com o Palmeiras amargando a draga de uma fila sem fim (até então com 14 anos sem título!), seria eu Maradona FC “sea lo que sea”, por qualquer parte ou modalidade, em qualquer buraco em que ele fosse jogar.
Veio o ano de 1991 e com ele, sua longa suspensão por uso de cocaína. Em litígio com o Nápoli, transferiu-se para o Sevilla, da Espanha, em 1992. Na Andaluzia, reencontraria Carlos Bilardo, seu comandante no êxito mexicano seis anos antes. O início de temporada foi irregular, entretanto, com vários quilos a mais e turras contra a diretoria. Maradona estava em outro planeta, com a cabeça longe dali. Um planeta alucinógeno em que a euforia estava em voga. Euforia sintética que o perseguiria até sua morte. No início de 1993, ele teve uma ideia genial financeiramente falando: emprestaria sua imagem ao clube espanhol numa excursão à América do Sul. Em troca, todos os direitos televisivos dos embates seriam depositados em sua conta bancária. O Sevilla tinha escolha? Bem, religiosos (não o meu caso) dizem que não se pode dizer “não” para Deus, mesmo que este Deus seja o mais mundano de todos.
O início de 1993 trazia o São Paulo Futebol Clube como atual campeão mundial de clubes. Por ser amigo de longa data do capitão são-paulino Raí, coube a ambos a organização de um amistoso em março de 1993 no Morumbi, com o Sevilla entregando as faixas do título do mundo ao tricolor paulista. E foi aí que enlouqueceu um certo moleque, às vésperas de completar 17 anos e com a cútis castigada pela acne, soube da realização do jogo. Afinal, era a chance de ver seu super-herói in loco. Bem, o moleque era eu. E as espinhas em seu rosto também era comigo.
O dia do jogo teve como cenário um sábado carrancudo e nublado. Com ingresso de arquibancada na mão, infiltrei-me no meio da torcida inimiga com um só pensamento: não poderia me denunciar. Que ficasse quieto no meu canto e que vivo dali saísse. Arquibancada lotada, taça do mundial são-paulino desfilando pela pista de atletismo mas eu estava me lixando pra tudo isso. Só tinha olhos pra um elemento em meio àquela alegria alheia. E dane-se aquela alegria toda. Não era pra mim. Não era para isso que eu estava ali.
O jogo começou e Pintado, volante tricolor da época, não entrou no clima do amistoso. Inexato afirmar se foi ordem do técnico Telê Santana mas o cão de guarda não descolou de Maradona em momento algum. Aos 32 anos, visivelmente acima do peso e com clara dificuldade de se livrar da marcação, Diego até que tentou jogadas de efeito e lançamentos “jardeanos”. A falta de ritmo de jogo pesou. E as duas feijoadas que ele deve ter devorado no almoço daquele sábado nublado também.
Não demorou muito para o São Paulo abrir o placar com Raí após lançamento de Palhinha. Festa nas arquibancadas e a já esperada provocação ao astro pelo seu vício em drogas sintéticas. “Nasceu na Argentina, morou em Barcelona. Cheira cocaína, seu nome é Maradona”, entoava a massa tricolor num irritante falso moralismo.
Veio o segundo tempo e minha maior preocupação, a de me autodenunciar em território inimigo, certamente não aconteceria com a pífia atuação de Diego Armando. A cada vez que pegava na bola, vaias ensurdecedoras insistiam em ecoar por todo o Morumbi. “Otários! Cês tão diante de Deus!’ praguejava em pensamento aquele espinhudo moleque solitário. Até que, aos 22 minutos, o improvável aconteceu: numa das parcas vezes em que pisou na área adversária, Maradona recebeu a pelota de um ainda fedelho Simeone, usou a marcação como apoio e inapelavelmente girou de perna esquerda um pouco antes da marca penal. Seria o tão sonhado gol maradoniano assistido por mim “ao vivo”, o insano momento que eu aguardava desde junho de 1986. Armei o punho direito para gritar gol no mesmo átomo de segundo que a bola caprichosamente beijava a trave esquerda do goleiro Zetti, corria por trás de seu corpo e parava nos pés de Cafu. Se fosse cardíaco, teria um infarto ali mesmo. Se tivesse gritado “gol”, seria massacrado por uma onda de cascudos e catiripapos da hinchada ao meu redor. Com o coração disparado, pus-me a mirar Diego pelo restante da partida. Algo me dizia que não poderia arredar pé dali. Algo me dizia que seria a última vez.
Fim de jogo. Uma cortina de repórteres cercaria o astro maior daquela tarde. Do ponto de onde estava na arquibancada, pude ver o último ato de Maradona: driblar a imprensa para dar um abraço em Telê. Logo depois, rapidamente desceu as escadas rumo aos vestiários.
A primeira e última vez que vi Deus em ação chegava ao fim. Na volta pra casa, tentei processar o que havia visto. O maior de minha geração diante dos meus olhos por 90 minutos. Meu amigo imaginário. Aquele que para sempre seria um de nós.
A noite finalmente dava lugar àquele dia nublado e tinha que ser assim, num carrancudo cenário. Porque a verdadeira dramaticidade dos mais sinceros tangos jamais ornaria com dias de sol.
>> Diego Armando Maradona faleceu por volta do meio-dia de 25 de novembro de 2020, aos 60 anos de idade, em sua casa, em Buenos Aires. A autópsia revelou que o ex-jogador e ex-técnico da seleção argentina de futebol, que havia sido operado no cérebro, três semanas antes, sofreu uma parada cardíaca provocada por insuficiência respiratória e um edema agudo no pulmão.
>> Eis abaixo o mais ESPETACULAR documentário sobre Maradona que já vi! As legendas estão em inglês, mas o áudio está em espanhol. Dá pra entender bem e as imagens de arquivo são de chorar! O cara postou no YouTube há alguns dias e, como as regras da plataforma são rígidas, é bem capaz de derrubarem. Assista enquanto é tempo…