TV

O Livro de Boba Fett

Personagem “ressuscitado” em The Mandalorian volta ao Universo Star Wars em nova série feita para o streaming

Texto por Tais Zago

Foto: Disney+/Divulgação

Como sou uma fã (às vezes) controlada do Universo Star Wars, eu estava guardando a série O Livro de Boba Fett (The Book Of Boba Fett, 2021 – Disney+) para devorar inteira quando chegassem todos os capítulos. E foi somente quando o sétimo episodio foi ao ar, em 9 de fevereiro, eu imediatamente peguei minha bacia de pipoca e um litrão de guaraná e estacionei na frente da TV para uma longa maratona. 

O personagem Boba Fett, criado por George Lucas, recebeu seis minutos (e uns quebrados) de espaço na trilogia “original” de Star Wars. Apareceu primeiro em Episode V – The Empire Strikes Back (1980), prendeu Han Solo, teve umas quatro falas e foi devorado pelo verme gigante Sarlacc durante Episode VI – Return Of The Jedi (1983). Antes disso, apareceu brevemente no especial para a televisão feito em 1978. Mas o personagem não é apenas o que os filmes brevemente mostraram – um mero bounty hunter crime lord com uma armadura de Mandalorian e a serviço de Jabba The Hutt. A história do jovem Boba começa a ser mostrada em Episode II – Attack Of The Clones (2002), onde ele é um menino, um clone de Jango Fett, criado e treinado como seu filho. Após o filme, sua história continuou sendo contada na animação feita para TV Star Wars: The Clone Wars (2008).

Em 2010, Lucas já planejava uma série para detalhar alguns dos planetas apresentados na primeira trilogia e seus personagens. O projeto somente tomou forma em 2019 com a parceria com o ator, produtor e diretor Jon Favreau, que resultou no sucesso The Mandalorian, o primeiro live action do USW criado pela Lucasfilm para a plataforma de streaming Disney +. Temporalmente, os acontecimentos tanto em The Mandalorian como The Book Of Boba Fett ocorrem cinco anos após Episode VI – Return Of The Jedi. Portanto, entre os episódios 6 e 7 dos filmes da saga.

Favreau “ressuscitou” o mercenário Boba no final da segunda temporada de The Mandalorian (2020). Supostamente, ele sobreviveu à “digestão” do Sarlacc e se juntou à tribo dos Tusken, onde viveu por cinco anos no deserto. Interpretado por Temuera Morrison (que também fez Jango Fett), Boba ressurge das cinzas para colaborar com o mandaloriano Din Djarin, personagem de Pedro Pascal, junto a uma sidekick e também (ex-)bounty Hunter chamada Fennec Shand (Ming-Na Wen). O spin-off já estava planejado e quem assistiu até o encerramento dos créditos do último episódio da segunda temporada de The Mandalorian sabia disso – ali descobrimos que Boba e Fennec continuariam sua parceria.

Finalmente paz entre os mundos. Boba assume o posto de Jabba The Hutt em Tatooine e tem Fennec como sua fiel escudeira. No começo, ele é recebido com receio e desconfiança pela população, mas aos poucos se fortalece. Seria tudo perfeito se não fosse pela corrupção dos outros senhores do crime do planeta, em sua condescendência enquanto traficantes usam Tatooine como rota de Spice, uma substância ilícita, com aparência de um pó dourado e requisitada em toda a galáxia. 

Um enredo simples, mas também com espaço para absolutamente tudo acontecer (e os diretores, junto com Jon Favreau, não fazem segredo disso). Estamos diante de um space western da melhor qualidade com a digital clara de Robert Rodriguez. Uma mostra disso são os três (1/3/9) episódios dirigidos por ele nessa primeira temporada. Rodriguez adora o absurdo e o exagero do badass, do mocinho com atos espetaculares que beiram o caricato, gosta de cor, tem senso de humor. Robert não é um dead serious devoto da sagrada saga, apesar de ser fã confesso. Ele já tinha sucumbido à tentação de dirigir um episódio de The Mandalorian e depois de negar muitos convites se rendeu ao poder do canal de streaming

Para nossa grande satisfação, somos agraciados com antigos e novos personagens, novos monstros, VFX de qualidade e uma trilha sonora maravilhosa. Já as atuações são medianas, o que na balança final conta pouco diante do tanto de peso estético. Como nada é perfeito, temos a polêmica em torno do episódio onde Luke Skywalker aparece “rejuvenescido” digitalmente com o uso de deepfake, um dublê de corpo e uma voz produzida no Respeecher. O nome de Mark Hamill aparece nos créditos mas é discutível aqui o caminho que se traça ao atender à nostalgia dos fãs sacrificando o trabalho do ator nesse processo.

Fora isso, The Book Of Boba Fett, assim como The Mandalorian é um entretenimento de primeira, muito bem pesquisado, com todos os elementos que gostamos do conhecido USW e com o plus da grana da Disney. Portanto, o céu não é mais o limite onde a aventura percorre o infinito do universo com outlaws como (anti-)heróis. Ah! E pra quem sentiu saudades tem Pedro Pascal nos dois últimos episódios, tem Grogu e até The Machete, Danny Trejo (em uma participação num episódio dirigido pelo Robert Rodriguez, claro!). The Book The Mandalorian se desenrolam paralelamente, o que abre aqui a possibilidade de troca-troca entre personagens de uma ou outra serie. É um truque já bem antigo, mas efetivo, pra fazer o fã-clube consumir tudo do multiverso SW. E as próximas series já apontam no horizonte: Obi-Wan Kenobi já entrou em pós-produção e Ahsoka também está encaminhada. E ainda teremos a terceira temporada de The Mandalorian em 2022. Mais uma caixa de pandora foi aberta.

Movies

Star Wars: Os Últimos Jedi

Recheado de humor e autorreferências, novo longa da saga responde a muitas perguntas abertas no episódio anterior e ainda traz algumas surpresas para os fãs

starwarsthelastjedihamill_gigante

Texto por Carlos Eduardo Lima

Foto: Disney/Buena Vista/Divulgação

Este ano completamos o 40º aniversário do primeiro longa da série Star Wars, o episódio IV, que hoje leva o subtítulo de Uma Nova Esperança. Ninguém poderia imaginar que os personagens deste primeiro filme se transformariam em ícones da cultura pop e que sobreviveriam tanto tempo. Não só sobreviveram como tornaram-se mais emblemáticos à medida que o tempo foi passando. Muito tempo e muito dinheiro depois, estamos no oitavo – descontando o mediano spin-off Rogue One, de 2016, e o obscuro Caravana da Coragem, de 1987 – que fazem menção ao universo criado por George Lucas e recentemente amplificado e turbinado pela Disney. Sendo assim, com a responsa de levar a saga adiante e reinventá-la para as plateias de 2017, temos o Episódio VIII agora nos cinemas, Star Wars: Os Últimos Jedi (Star Wars: The Last Jedi, EUA, 2017 – Disney/Buena Vista).

Como estou supondo que você, leitor, está aqui porque já tem familiaridade mínima com personagens e história, não me deterei em explicar nada que já não seja do conhecimento de todos. Este novo longa parte em busca de respostas para as perguntas deixadas no capítulo anterior: Quem é Rey? Luke vai treiná-la nas artes da Força? A Resistência vai, bem, resistir? E Kylo Ren? Tem algo de bom ainda em seu âmago? E os personagens apresentados recentemente (Finn, Poe e cia) como estão? E o tal Supremo Líder Snoke? A boa notícia é que a maioria esmagadora delas é respondida e a trama é colocada numa esteira de atualização/inovação que dá, de fato, cara nova a velhos mitos. Mesmo assim, não há como negar a presença de algo que já habitava o episódio anterior: a autorreferência. Parece que estes novos capítulos da saga foram concebidos tendo os filmes clássicos como parâmetro. Sendo assim, cabe a Os Últimos Jedi repetir e revisitar passagens de O Império Contra-Ataca e é exatamente o que acontece.

Está tudo aqui: a tentação pelo lado negro da Força, as reviravoltas, referências explícitas a combates do passado, como o combate entre os andadores da Primeira Ordem e os veículos da Resistência ou as batalhas espaciais entre cruzadores e destroyers, além, claro, das escaramuças entre Tie Fighters e X-Wings. Mesmo em meio a tanta autorreferência, há espaço para novidades. Tem mais humor neste longa, de um jeito como nunca se viu na saga. Também tem muitos bichinhos adoráveis, talvez até em excesso, que fornecem, junto com os robôs, o alívio cômico necessário e já esperado. Tem a presença de Carrie Fisher, vivendo sua imortal Princesa Leia, com a autoridade máxima dentro deste universo. Tem Mark Hamill, oferecendo um Luke envelhecido e desiludido com seu destino materializado. E tem as ótimas atuações de Daisy Ridley e, especialmente, de Adam Driver, que faz seu Kylo Ren evoluir do estado “emo” do filme anterior para um moleque maligno sem escrúpulos ou qualquer sombra de caráter – ainda que permaneça algo muito misterioso sobre sua verdadeira natureza, que, certamente ficará para o próximo filme.

A trama tem alguns arcos desnecessários, como o que introduz o hacker DJ (Benício Del Toro), algo que poderia ser evitado. Tem a chegada de uma nova e adorável personagem, Rose (Kelly Marie Tran), que tem fôlego suficiente para tornar-se integrante do primeiro time. E tem a volta de gente querida dos filmes clássicos, que aparecem mais ou menos tempo na telona, provocando reações do publico. O roteiro apresenta alguns problemas, especialmente no meio do filme, quando perde o fôlego, mas o recupera bravamente no terço final, chegando a promover algumas cenas que arrancaram aplausos no cinema. Há ainda surpresas genuínas e um final pra lá de coerente, que fez este velho fã ficar arrepiado nas bochechas e na nuca.

Os Últimos Jedi é bom divertimento, bem dirigido e roteirizado por Rian Johnson. É um filme bom, digno de levar o selo Star Wars. Ainda que, repito, a autorreferência ao passado seja excessiva em alguns momentos, a recomendação é a de vê-lo mais de uma vez na telona.