Movies

Obsessão

Oito motivos para ir ao cinema ver a obra que marca a volta do diretor Neil Jordan ao formato de longa-metragem

gretahupertmoretzMB

Texto por Abonico R. Smith

Foto: Galeria Distribuidora/Divulgação

O mês de junho, normalmente, é dominado pelos blockbuster snos cinemas. Pudera. Os grandes estúdios de Hollywood, de olho no início do período de férias escolares do Hemisfério Norte (quando a primavera passa o bastão para o verão no ciclo das quatro estações), bombardeiam o espectador com opções de histórias fáceis ou com apelo popular, que podem preencher o tempo vago de crianças, adolescentes, jovens e adultos e significar bom alcance nas bilheterias. Somente nas últimas semanas já estrearam o live action de Aladdin, Rocketman, X-Men: Fênix Negra e o novo Homens de Preto. Para o início de julho está sendo aguardado o retorno do Homem-Aranha às salas de projeção. Portanto, é justamente nesse período que ficam mais reduzidas as opções para quem gosta de um cinema mais alternativo, que ofereça algo além da possibilidade de entreter o espectador.

Meio sem chamar muita atenção, Obsessão (Greta, Irlanda/EUA, 2018 – Galeria Distribuidora) acaba de estrear no circuito comercial brasileiro. Não deve durar muito tempo em cartaz por questões de bilheteria. Então, a gente dá uma ajudinha e lista oito motivos para você ir correndo assistir ao filme se ele estiver programado em algum cinema de sua cidade.

Neil Jordan

Diretor, roteirista e produtor irlandês de prestígio nos anos 1980 e 1990, assinou clássicos como A Companhia dos Lobos, Traídos Pelo Desejo e Entrevista com o Vampiro. Sabe envolver o espectador num suspense como ninguém, criando reviravoltas que trabalham como uma montanha-russa nas emoções de quem assiste suas obras. Andava afastado dos longas-metragens nesta última década, reservando suas atividades quase somente a séries.

Nova York

A história de Obsessão se passa em Nova York. Para quem gosta da megalópole como cenário, é um prato cheio ver as cenas todas rodadas fora de estúdios, em ruas, locações e apartamentos da cidade. Aliás, isso faz relembrar a época áurea do cinema alternativo, quando uma turma de diretores criativos – como Scorsese e Coppola – souberam como ninguém se utilizar do cotidiano nova-iorquino para fazer grandes filmes nos anos 1970 e salvar a indústria cinematográfica americana.

St Vincent

Um dos turning points mais significativos do filme é regido ao som de uma grande faixa lançada pela cantora e compositora dez anos atrás. Incluída no álbum Actor, de 2009, a música “The Strangers” soa um tanto psicodélica se comparada com o repertório mais recente e, talvez, por isso mesmo, soa tão impactante junto com a cena escolhida para ilustrar no filme de Jordan. Enquanto Annie Clark entoa uma frase que fica martelando na cabeça do espectador (“pinte o buraco negro ainda mais preto”), a sequência de imagens surge distorcida na tela, fazendo todo mundo pensar se seria verdade o que está acontecendo ali ou então simples alucinação ou projeção de expectativa ou um mero sonho.

Stalker tecnológica

Filmes de stalker sempre rendem ótimos subterfúgios para que se faça a perseguição. Nos dias atuais, há um elemento bem poderoso que pode ser incluído no rol das possibilidades: o celular. E a solitária sexagenária Greta sabe usá-lo muito bem para levar terror e pânico à jovem Frances. Tira proveito da instantaneidade de mensagens e fotografias, sem falar no cruzamento de informações após ter acesso a rastros e particularidades do passado no telefone de sua vítima. Em tempos de big brotherhackers e espionagem militar internacional, isso cai como uma luva para apimentar a aflição da trama.

Isabelle Huppert

Bastante famosa na Europa, a francesa só passou a ser badalada nos EUA após concorrer ao Oscar de melhor atriz pela atuação em Elle há dois anos. Obsessão é seu primeiro filme com coprodução norte-americana após o feito. Lógico que Huppert volta a dar show de interpretação. Na pele da imigrante europeia e enfermeira aposentada Greta, ela é uma das responsáveis pela constante alteração de adrenalina de quem está vendo o longa na poltrona do cinema. A princípio, mostra ser uma amável e solitária professora de piano, que parece encontrar na sempre disposta e moralmente correta Frances a substituta ideal para sua jovem filha. Aos poucos vai se transformando na tela, fazendo a doçura virar maldade mas ainda colocando dúvidas a respeito de tudo isso na cabeça do espectador.

Chloë Grace Moretz

Ela só tem 22 anos de idade mas vem se revelando uma das mais poderosas jovens atrizes reveladas por Hollywood, por conta da extrema versatilidade e da aposta em papeis não muito comuns para uma então adolescente. Chloë tem em seu currículo participações elogiadíssimas em filmes como Suspíria: A Dança do Medo (2018), O Mau Exemplo de Cameron Post (2018), Lugares Escuros (2015), Acima das Nuvens (2014), A Invenção de Hugo Cabret (2011) e Kick-Ass: Quebrando Tudo (2010). Obsessão entra nesta lista por causa de sua crédula Frances, que cai na armadilha de Greta e, quando se dá conta, percebe que é tarde demais para escapar. Contar mais do que isso sobre a garçonete vira spoiler.

Maika Monroe

Aos 26 anos, sua atividade principal não é a de atriz, mas sim de atleta – Maika é uma competidora profissional de kiteboard. Mas, nos últimos anos, vem conciliando seu tempo com papéis coadjuvantes em filmes, especialmente de horror. Por ser fã assumida do gênero e ter como filmes de cabeceira clássicos como Halloween: A Noite do Terror (1978), O Iluminado (1980) e A Hora do Pesadelo (1984), tem propriedade e feeling suficientes para entregar atuações convincentes a ponto de, depois de trabalhar em O Hóspede e Corrente do Mal (ambos de 2014), despertar a atenção como potencial nova scream queendo cinema adolescente. Em Obsessão, mostra química na tela com Moretz como a melhor amiga Erica, com quem divide um descolado apartamento. Ambas já trabalharam juntas antes, na distopia teen A 5ª Onda (2016).

Stephen Rea

Também irlandês, Stephen Rea é parceiro constante dos filmes de Neil Jordan. Volta e meia atua em seus filmes. Em Obsessão, ele só aparece em cena na parte final, mas nem por isso sua pequena participação deixa de ser notável. Aqui ele faz o investigador Brian Cody, contratado pelo pai de Frances quando este percebe que a filha pode estar em apuros. Só que o detetive, apesar de perspicaz, acaba se atrapalhando quando justamente vai checar a possibilidade de Greta ter a ver com o sumiço da garçonete.

Music

Arquivo MB: Madonna – As 25+

As 25 melhores músicas dos 60 anos de vida da maior estrela da música pop mundial

madonna60anos

Textos de Abonico R. Smith (abertura) e Humberto Slowik (músicas)

Foto: Reprodução

Em 16 de agosto de 2018, Madonna Louise Verônica Ciccone comemora 60 anos de vida na condição de maior popstar do planeta. Em 35 anos de trajetória como cantora e atriz, ela soube construir uma trajetória inquestionável no quesito popularidade e diversidade. Pense em uma estrela de maior grandeza na música pop mundial do Madonna. Simplesmente não há, ainda mais depois da partida de gente como David Bowie, Prince e Michael Jackson.

Sem necessariamente fazer rock’n’roll na forma mas certamente tendo muito dele no espírito, Madonna cresceu junto à geração 1980. No começo da década mais festejada dos últimos tempos, ela era apenas uma jovem dançarina e aspirante a cantora vinda do Norte americano tentando a sorte nos palcos e noites de megametrópole Nova York. Por conviver com muita gente ligada a varias correntes e expressões artísticas, acabou direcionando sua carreira para uma confluência de todas elas. No terreno musical, apesar de intimamente ligada à variedade de batidas e subgêneros que fazem decolar toda e qualquer pista de dança, Nos anos seguintes, dissociar seu nome de cinema, moda, dança e até mesmo literatura também tornou-se tarefa impossível. E mais: recorrendo a diversos recursos de simbolismos religiosos, sexuais e comportamentais cutucou feridas na sociedade mundial. Especialmente a norte-americana, que tornou-se ainda mais conservadora simultaneamente à trajetória vitoriosa da artista.

Se Madonna é fruto direto dos anos 1980, também não há como desvincular a cantora da própria história dos videoclipes e de sua emissora mundial número um, a MTV. Ela pertenceu à geração de bandas e cantores que deslocou o centro das atenções da carreira do som à imagem. Toda e qualquer música sua, de maior ou menor sucesso radiofônico, não foi executada tão somente por méritos artísticos. Trabalhando sempre com diretores talentosos e cultuados no mundo publicitário e da moda (vários vindos da fotografia, aliás), associou as letras e arranjos às pequenas historinhas contadas para a tela da televisão. Interpretando personagens provocativos – que com certeza contiveram muito de suas várias facetas – conseguiu despertar polêmicas, provocar reações contrárias de setores sociais mais retrógrados, tornou-se celebridade em todo canto do planeta e alcançou em turnês, vendas de discos e execuções de rádio e teledifusão invejáveis. Uma década atrás, até se deu ao luxo de virar deixar para trás todo o passado profissional de quase um quarto de século como contratada da gravadora que lhe proporcionou ser o que é hoje. Por mais que a Live Nation tenha se tornado uma corporação do ramo do entretenimento nestes dez últimos anos, ela gerencia basicamente as turns mundiais de Madonna, tendo coparticipação nos lançamentos fonográficos dela. Coisa que qualquer outra grande empresa também poderia fazer, sem interferir no processo criativo ou obrigá-la a criar desta maneira ou agir de determinada forma na promoção das novas obras.

Outro grande mérito de Madonna foi ter formado durante estes 35 anos de carreira um grande séqüito de seguidores. São mais do que fãs. Gente que sabe tudo a seu respeito, acompanha cada novidade, coleciona itens diversos em casa, segue fielmente cada passo seu e chega até a promover festas de parabéns na noite de seu aniversário. Seu público maior está entre as mulheres (a ascensão da cantora e vários dos versos cantados por ela reforçam um lado vitorioso da reivindiação do poder feminino) e os gays(que sempre serviram, simultaneamente, de inspiração e alvo para muitas de suas estratégias no tocante a referências e atitude). Toda esta veneração e fidelidade com certeza se transformaram em um ativo muito grande nestes tempos digitais em que a velocidade de informação é tão voraz que as mudanças contínuas se tornaram necessárias e implacáveis. E, é sempre bom lembrar, foi Madonna quem abriu o caminho para discípulas como Britney Spears, Katy Perry, Lady Gaga, Rihanna e Beyoncé – apenas para citar cinco grandes exemplos.

Para celebrar os 50 anos de vida de Madonna, o MONDO BACANA optou por algo diferente em 2018. Resolvemos não contar a sua vida e carreira ou ficar chovendo molhado falando disso ou daquilo que as pessoas estão cansadas de saber – e quem não sabe acaba achando através do Google. Em vez disso, listamos as 25 melhores e mais significativas músicas de seus 25 anos de carreira. O universo de sucessos dela é extenso e ultrapassa a marca das cinco dezenas. Com certeza, a falta desta ou daquela música poderá ser sentida por algum fã – especialmente hits iniciais bastante populares como “Material Girl”, “Into The Groove”, “Lucky Star” ou “Holiday” – todos cortados da seleção final. Contudo, não é qualquer artista que pode se dar ao luxo de, em uma proposta como esta, ter canções arrasadoras como “Like a Prayer” apenas na 12ª posição ou “Like a Virgin” logo em seguida do Top 5.

Com vocês, o melhor da cinqüentona Madonna. A repubicação deste texto abaixo também é uma homenagem do MONDO BACANA a seu autor, Humberto Slowik, um dos maiores fãs desde o inicio da carreira da cantora e jornalista que deixou este plano espiritual em 2011. (ARS)

25 – Give It 2 Me (2008)

Um dos melhores momentos do mais recente álbum Hard Candy (e da parceria com o produtor Pharrell Williams) foi mal das pernas nos chartsamericanos, não passando da 57ª posição na Billboard. Deve ser um dos pontos altos da nova turnê Sticky & Sweet, por conta da energia bem eightie e do beat acelerado. Criticado por fãs, o videoclipe foi dirigido pelo fotógrafo Tom Munro e gravado durante o ensaio fotográfico que a revista de moda Elle publicou em várias edições ao redor do planeta.

24 – Love Profusion (2003)

Música bonitinha, meiga. O momento doce de American Life, álbum de carreira que menos vendeu. Com letras simples e mistura de sons eletrônicos com violões, a canção fez sucesso em alguns países, apesar do péssimo desempenho nos EUA. O clipe também era bem meia-boca, dirigido pelo cineasta francês Luc Besson – também responsaével pelo comercial de TV da marca de cosméticos Estée Lauder, do qual a canção era tema.

23 – Rain (1994)


Último single de Erotica, esta balada encorpada sobreviveu ao tempo e deve figurar no set listda Sticky & Sweet Tour, possivelmente em um dos vídeos produzidos como intervalo entre um bloco do show e outro. A canção também é dona de um dos mais belos vídeos da carreira de Madonna. Dirigido por Mark Romanek, o clipe mostra a cantora linda em looks da estilista japonesa Rei Kawakubo, cabelos curtíssimos e pretos, descansando em mobiliário desenhado por Philippe Starck. Foi rodado totalmente em preto-e-branco e posteriormente colorizado em tons de azul. Participa dele o celebrado compositor japonês Riuychi Sakamoto.

22 – Beautiful Stranger (1999)

Das canções mais divertidas de Madonna. Foi tema do segundo filme da série cinematográfica Austin Powers, estrelada pelo comediante Mike Myers. O produtor William Orbit revelou que não levou mais do que uma tarde concebendo as bases musicais do hit, que ganhou o Grammy de Canção Escrita para um Filme e foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Canção (umas das cinco que Madonna já recebeu nesta categoria). Dizem as más línguas que a faixa só não foi indicada ao Oscar por conta do relacionamento espinhoso que a popstar sempre teve com Hollywood.

21 – Take a Bow (1994)

O single de Madonna que permaneceu no topo da parada Billboard por mais tempo (foram sete semanas ao todo) representou o início do processo de limpeza da imagem da popstarapós o período de alto teor sexual dos anos anteriores. Coescrita por Babyface (produtor quente na cena r&b americana da época), a canção era meio breguinha, mas ganhou pontos pela letra bela e sofrida que traz citações de William Shakespeare (mais especificamente da peça O Mercador de Veneza). E também pelo vídeo incrível rodado em Rondo, na Espanha, todo baseado em uma história de amor impossível entre Madonna e um toureiro.

20 – Cherish (1989)

Terceiro single de Like a Prayer, a canção chegou à segunda posição da Billboard e propôs um descanso temático após polêmica de “Like a Prayer” e a sensualidade de “Express Yourself”. Doce, a música ganhou clipe em preto-e-branco rodado na praia, entre criancinhas e homens-sereia. O trabalho marcou a estreia do fotógrafo de moda Herb Ritts (1952 – 2002) como diretor de vídeos musicais.

19 – Erotica (1992)

Os fãs mais ferrenhos (principalmente os da comunidade LGBT) podem até discordar mas tratou-se de um dos poucos momentos musicalmente decentes do álbum homônimo de Madonna, mais importante pela polêmica causada do que pela música datada que o compôs. Na canção, a artista encarnou pela primeira vez Dita, seu alterego no livro Sex. Falava de prazer e dor, entre outras coisinhas. O vídeo foi registrado durante as sessões de fotos de Sex e dirigido por Fabien Baron, responsável pelo projeto gráfico do livro, pela celebrada reformulação da revista Harper’s Bazaar na década de 1990, e então recentemente estabelecido como novo editor da lendária revista Interview, criada por Andy Warhol.

18 – Open Your Heart (1986)

Outro single de Madonna a chegar ao topo da parada Billboard, foi mais importante por seu vídeo do que propriamente pela canção em si. Entre outras coisas, a primeira parceria da cantora com o francês Jean Baptiste Mondino (que, posteriormente, dirigiria os clipes de “Justify My Love”, “Human Nature”, “Love Don’t Live Here Anymore”, “Don’t Tell Me” e “Hollywood”) trazia a popstar dançando em um peepshow frequentado por homens e mulheres e beijando um garotinho adolescente.

17 – Jump (2006)

Clássico instantâneo da diva, a canção trouxe mais uma letra com mensagem positiva e ainda prestava homenagem descarada aos Pet Shop Boys. Mais popular na Europa (como todo o trabalho desenvolvido pela cantora neste início de século), ganhou clipe dirigido pelo sueco Jonas Akerlund gravado no Japão e baseado na prática urbana do Le Parkour. A peruca platinada usada pela artista também apareceu nos shows que encerraram a Confessions Tour.

16 – Frozen (1998)

Primeiro single de Ray Of Light, esta balada foi, segundo Madonna, inspirada no profundo sentimento de solidão e desamparo provocado por cenas de filmes como O Céu Que Nos Protege (1991), de Bernardo Bertolucci, e O Paciente Inglês (1996), de Anthony Minghella. Número 4 na parada Billboard, a canção ganhou vídeo de tintas surreais gravado no deserto do Mojave (EUA), sob a direção genial Chris Cunningham. Um incidente desesperou a cantora durante as gravações: o carro que transportava sua filha Lourdes Maria (então com menos de dois anos de idade) até o setde filmagens ficou perdido e incomunicável durante horas no meio do deserto.

15 – Bedtime Story (1994)

Coescrita por Björk e coproduzida por Nellee Hooper, a faixa cravou o início de flerte de Madonna com o eletrônico, que conheceria seus desdobramentos mais bem-sucedidos a partir de 1998. Repleto de referências a artistas como Frida Kahlo, Remédios Varos, Salvador Dali e Michael Radford, o clipe dirigido por Mark Romanek conquistou seu lugar como um dos clássicos da carreira da cantora. O single chegou à modesta 42ª posição na parada Billboard.

14 – Dress You Up (1984)

Número de abertura da Virgin Tour, a primeira grande turnê de Madonna, era uma das canções mais sensuais da popstar, unindo batida contagiante e uma grande dose de inocência sacana. Escrita por Andrea Larusso e Peggy Stanziale, chegou ao número 5 da parada Billboard e não era interpretada ao vivo pela cantora desde a Who’s That Girl Tour (1987), apesar de ter sido ensaiada para o bloco militar da The Re-Invention Tour (2004) e posteriormente descartada.

13 – Secret (1994)

Após os escândalos sexuais detonados entre 1990 e 1992 (que culminaram no lançamento do livro Sex), Madonna resolveu clarear sua imagem. Isso resultou em um álbum de produção mais sofisticada (Bedtime Story), do qual “Secret” foi o primeiro single. A canção que falava de pequenas buscas espirituais e redenção no amor chegou ao número 3 na parada americana e teve o clipe rodado nas ruas do Harlem, bairro nova-iorquino majoritariamente negro. Os sapatos usados no vídeo são do designer brasileiro Fernando Pires, de quem conheceu o trabalho em sua passagem pelo Brasil durante a turnê The Girlie Show, no ano anterior.

12 – Like a Prayer (1989)

Recém-divorciada de Sean Penn, Madonna lançava seu primeiro álbum abertamente confessional e que marcava o início do reconhecimento como compositora após anos de descrédito por parte da imprensa musical. Seu primeiro singlecausou polêmica por conta do clipe dirigido por Mary Lambert, no qual a cantora beijava um santo negro e dançava em frente a cruzes em chamas (referência direta à Klu Klux Klan). Teve mais: a Pepsi, com a qual Madonna havia assinado um contrato milionário e para quem gravara um comercial de TV, suspendera ambos, por medo de boicote de comunidades religiosas americanas. Mesmo assim, a canção passou três semanas no primeiro posto da parada dos EUA.

11 – Borderline (1983)

Primeiro single de Madonna a adentrar o Top 10 da parada Billboard e a primeira canção da estrela a ganhar um videoclipe decente. A história narrava o envolvimento de uma garota com um bad boy latino (por quem ela é apaixonada) e um fotógrafo que promete transformá-la em estrela – jogo temático explorado em outros vídeos da cantora. É um dos hitsantigos que são dados como certos no setda turnê Sticky & Sweet, que estréia no próximo dia 23 de agosto, em Cardiff (País de Gales), e deve passar pelo Brasil em dezembro.

10 – Human Nature (1994)

O último single retirado do álbum Bedtime Stories era um protesto de Madonna contra todas as especulações que sofrera da mídia desde que virou uma estrela de primeira grandeza. O clipe, dirigido por Jean Baptiste Mondino, trazia Madonna vestida como uma dominatrix, só que em situações irônicas. Apesar de não ter conseguido grande sucesso nos EUA (só chegou ao número 46 da Billboard), a canção acabou eleita um dos dez melhores singles de 1995 pela edição norte-americana da revista Rolling Stone.

9 – Hung Up (2006)

Com samplede “Gimme Gimme”, hit do Abba (esta foi a primeira vez em que o quarteto sueco autorizou o uso de um trecho de sua obra por outro artista), o primeiro singledo álbum Confessions on a Dance Floor marcou o retorno de Madonna ao Top 10 da parada Billboard (a música chegou ao número 7) após três anos de ausência. Gravado com locações em Los Angeles e Londres, mostra a cantora em forma exemplar e impensável após sua queda de um cavalo sofrida no dia 16 de agosto daquele ano.

8 – Justify My Love (1990)

Escrita e produzida por Lenny Kravitz, a faixa passou duas semanas no topo da parada Billboard e alimentou uma da série de polêmicas sexuais nas quais Madonna esteve envolvida na metade inicial dos anos 1990. O clipe, dirigido pelo francês Jean Baptiste Mondino e filmado em Paris, foi banido da MTV norte-americana por conta de seu conteúdo extremamente erótico, e transformou-se, então, no vídeo-singre mais vendido nos Estados Unidos. Naquela época, muito se falou das cenas de orgia pansexual nos quartos e corredores de um hotel.

7 – Live To Tell (1986)

O primeiro singledo álbum True Blue foi concebido como música-tema do filme Caminhos Violentos, estrelado pelo então marido Sean Penn. Eleita uma das 50 melhores canções do século 20 pela revista Details, a balada marca o início da busca por um caminho de produção mais sofisticada (iniciada após vários hits de pista) e marca a primeira das várias grandes mudanças de imagem executadas pela artista. Chegou ao topo da parada norte-americana.

6 – Like a Virgin (1984)

Escrita por Billy Steinberg e Tom Kelly, a faixa foi o primeiro single do álbum homônimo (o segundo da carreira) e a primeira música de Madonna a atingir o número 1 da parada Billboard – posto no qual permaneceu durante seis semanas. Concebida como uma baladinha lenta, teve o ritmo drasticamente alterado por Nile Rodgers (guitarrista do grupo disco Chic e produtor bastante requisitado nos anos 1980) quando trabalhada em estúdio. Este foi o primeiro momento de definição na carreira da cantora: a histórica apresentação ao vivo durante a primeira edição dos prêmios anuais da MTV norte-americana e depois da qual todas as adolescentes da época passaram a usar provocantes roupas pretas de renda e ostentar enormes crucifixos. O provocante e histórico videoclipe, também dirigido por Mary Lambert, foi gravado nos canais de Veneza e trazia Madonna vestida de branco (símbolo da pureza até hoje ostentado pelas noivas durante a cerimônia de casamento) e fazendo poses sensuais em uma gôndola.

5 – Everybody (1983)

Primeiro singledo álbum de estréia da cantora, esta foi uma das duas músicas da artista com crédito de autoria oficialmente apenas para ela (a outra era “I Know It”, também do mesmo disco). Clássico entre fãs, esta era uma das canções que Madonna dublava e dançava junto a bailarinos durante suas apresentações em clubes nova-iorquinos como Danceteria e Paradise Garage. “Everybody” ainda é uma das únicas obras das quais a artista autorizou simples oficiais até hoje. Foi para a canção “Greatest Hit”, da norueguesa Annie.

4 – Express Yourself (1989)

Segundo singledo álbum Like a Prayer, a música foi responsável pelo momento de abertura da Blond Ambition Tour, série de concertos que elevou Madonna do status de simples popstardos anos 80 à rainha dos performers pop no século 20. O clipe inaugurou a parceria da artista como o fotógrafo e diretor David Fischer (dos filmes Seven – Os Sete Pecados Capitais, O Quarto do Pânico, Clube da Lutae Zodíaco). Abusando da sensualidade da cantora, ele foi inspirado no clássico Metrópolis(do austríaco Fritz Lang) e foi, então, o vídeo mais caro já realizado na indústria fonográfica (custou US$ 5 milhões).

3 – Ray Of Light (1998)

Momento emblemático da parceria com o produtor britânico William Orbit, a faixa foi elaborada a partir de “Sepheryn”, chatíssima música escrita por Olive Muldoon e Dave Curtis na década de 1970 e da qual Orbit tinha os direitos. Com arranjo vocal que mostra todo o progresso alcançado por Madonna a partir das aulas de canto tomadas na preparação para o filme Evita, chegou ao número 5 nas paradas norte-americanas e foi indicada ao Grammy de Gravação do Ano. Seu videoclipe marcou o início do trabalho com Jonas Akerlund e saiu como o grande vencedor do MTV Vídeo Music Awards do ano de seu lançamento.

2 – Music (2000)

Parece piada, mas tudo aqui foi construído a partir de um único acorde. O hit escrito e produzido em parceria com produtor suíço-afegão Mirwais Ahnmadäi começou a tomar forma logo após Madonna observar a energia da plateia durante um concerto de seu amigo Sting. Outro de seus hinos, a música que celebra basicamente a sensação de liberdade e unidade de se estar em uma pista de dança chegou ao topo do Hot 100 da revista Billboard, foi também indicada ao Grammy de Gravação do Ano e é um daqueles clássicos que não podem mais faltar em qualquer apresentação ao vivo dela. O clipe foi a primeira aparição mundial do comediante Sacha Baron Cohen, que se tornaria conhecido pelo personagem Borat nos cinemas. Cohen, na pele do rapper Ali G, outra criação sua para um show televisivo, é o motorista da limousine de Madonna.

1 – Vogue (1990)

O mero detalhe do quase poderia ter mudado o posto de maior e melhor música de toda a carreira da popstar. Single de Madonna com o maior número de cópias vendidas mundo afora, a música foi concebida como um mero lado B de “Express Yourself” e quase deixou de ganhar o destaque que sempre mereceu. Com incrível vídeo em preto e branco dirigido por David Fincher, a canção abusava de referências a Hollywood como forma de ilustrar musicalmente o vogueing – dança que tomou de assalto os clubes nova-iorquinos no início dos anos 1990 e teve como expoentes principais trupes de dança como a House of Ninja. Até hoje não há como não resistir ao rap que afirma divas e divos como Greta Garbo, Marlene Dietrich, Rita Hayworth, Marlon Brando e James Dean tinham mesmo era muito estilo. Strike a pose!

Music

Baseado em Fatos Reais

Trama dirigida por Roman Polanski provoca tensão ao casar a discussão sobre a falta de inspiração criativa e a procura por uma identidade pessoal

baseadoemfatosreais2018

Texto por Abonico R. Smith

Foto: Paris Filmes/Divulgação

Misturar realidade e ficção costuma ser um artifício bastante utilizado por escritores e roteiristas. Afinal, nada mais inspirador do que extrair do cotidiano – passado ou presente – informações importantes para se construir histórias. Basta usar o artifício de trocar nomes, locais e outras referências que podem soar um tanto quanto óbvias. Muitos autores, porém, vão além e adoram misturar-se com suas criaturas, mantendo inclusive o mesmo prenome e colocando em falas e diálogos opiniões pessoais a respeito de um determinado assunto.

Delphine de Vigan fez tudo isso. Em 2015, depois de enfrentar um bom tempo de vazio criativo provocado pelo transtorno de bipolaridade, ela lançou o livro Baseado em Fatos Reaisapropriando-se de sua própria experiência. Deu o próprio nome à protagonista e adicionou ao sofrimento pelo bloqueio pitadas extras que transformaram a história em um emocionante thrillerliterário. Agora, pouco tempo depois, o que está impresso nas páginas ganha uma versão cinematográfica, também devidamente alteradas pelos veteranos roteiristas Roman Polanski (também diretor do longa) e Olivier Assayas (que nos últimos anos ganhou projeção mundial com os filmes Depois de Maioe Acima das Nuvens. Adaptação esta que também é de tirar o fôlego.

Claro que muitos cinéfilos mais rígidos e insistentes vão reclamar que o Planski de Baseado em Fatos Reais(D’Après Une Histoire Vraie, França/Polônia/Bélgica, 2017 – Paris Filmes) nem de longe lembra o gênio de outrora (Repulsa ao Sexo, A A Dança dos Vampiros, O Bebê de Rosemary, Chinatown) ou mesmo o dos bons lampejos mais recentes (O Pianista, O Escritor Fantasma, Deus da Carnificina), embora seja sempre bom lembrar que um Polanski bem pouco inspirado (tal como outros grandes cineastas que insistem em continuar produzindo regularmente mesmo com a idade bem avançada), ainda assim, vale muito mais do que um Michael Bay em qualquer tempo ou situação. Claro que outros tantos, mais atentos à obra do mestre do suspense Stephen King, vão gritar que há semelhanças aqui, ali e acolá com uma de suas obras mais cultuadas,Louca Obsessão. Mas a história que envolve a doentia relação entre uma escritora perdida em seu próprio vazio (Delphine, interpretada por Emmanuelle Seigner, atual esposa de Polanski) e uma fã controladora, autoritária e possessiva (a ghostwriterElle, vivida por Eva Green cheia de caras e bocas e uma bela camiseta com o logo do álbum derradeiro de David Bowie) mostra ser muito capaz de ir além destas comparações superficiais e ainda suscitar boas doses de reflexão a respeito dos limites de até onde uma pessoa deve ir no trato com a outra mais próxima.

Limites na intimidade que incluem duas outras palavrinha que até provoca rima: privacidade e permissividade. Na ansiedade por sair do letárgico estado emocional em que se encontra, Delphine se encanta por Elle e, aos poucos, sem notar, dá espaço demais à outra para que ela a aprisione em sua própria vida. Já os limites a serem discutidos de acordo com as atitudes de Elle giram em torno da honestidade. Com que reais intenções ela se aproxima da escritora? O que a motiva? O que sua rotina de biógrafa ghostwriterpode indicar sobre a questão de se fazer passar por outra pessoa? Elle raramente se abre à sua interlocutora e, por isso mesmo, torna-se o grande mistério da parte inicial do filme.

A segunda parte começa quando, também, aos poucos, Delphine vai recobrando a consciência e a lucidez, mesmo com todas investidas escusas de Elle, e planeja o contrataque com segundas intenções não menos discutíveis. E começa o cabo de guerra com altas doses de suspense e o espectador perdido no meio do “tiroteio” entre as duas, sem saber qual lado escolher para torcer e ficar para se “proteger”.

Entre remédios ansiolíticos, venenos para ratos, respostas nada educadas de e-mails e anotações secretas em post-itse páginas de cadernetas e pernas quebradas, as duas se engalfinham psicologicamente e passam todo o desespero para quem nunca teve nada ver com isso e só está lá na frente, quietinho, sentado na poltrona do cinema. Tudo isso vem com minimalismo espacial (uma grande livraria, uma boate, um simpático bistrozinho parisiense, os apartamentos das duas, uma cainha de retiro no interior francês) e certa overdose cenográfica (na qual livros sempre brotam aos borbotões nos cenários e nunca param de transbordar pela tela).

Não dê bola para o mimimi de cinéfilos que sempre esperam a genialidade na próxima grande obra de um artista. Prefira a realidade do cotidiano de Delphine, que mostra o realmente pode acontecer no dia a dia de quem está sempre envolvido com a criação intelectual. Ali você se identifica com quem também é gente como a gente. Como os ávidos fãs-leitores que comram os livros de Delphine, aliás.