Music

Placebo

Oito motivos para não perder o único show que será feito em março no Brasil durante a nova turnê de Brian Molko e Stefan Olsdal

Texto por Abonico Smith

Foto: Divulgação

Demorou quase uma década mas, enfim, terminou o tempo de espera. Faltam poucos dias para o Placebo voltar a pisar e tocar no Brasil. Brian Molko e Stefan Olsdal – acompanhados por quatro músicos como apoio no palco, inclusive pelo baixista e tecladista Bill Lloyd, que acompanha a banda desde a os primeiros anos de carreira, também já tendo feito as vezes de tour manager e empresário – chegam por aqui em um momento muito especial. Afinal, em 2024 comemoram os trinta anos de uma carreira sólida e consistente, repleta de hits e marcada pela conquista de uma legião mundial de fãs bastante fiéis.

A nova passagem por aqui será um único show, marcado para São Paulo. Portanto, há apenas uma oportunidade para não perder o encontro com o grupo que, embora tenha sonoridade mais pesada e nem tão retrô quanto alguns de seus contemporâneos mais famosos, foi revelado no bojo da explosão do britpop nos meados dos anos 1990.

Por isso, o Mondo Bacana dispara aqui oito motivos pelos quais você precisa estar presente no Espaço Unimed na noite de 17 março vindouro (endereço, horários, ingressos e demais informações oficiais sobre o evento você pode ter clicando aqui).

Dupla dinâmica

Eles se conhecem desde a infância, quando estudavam simultaneamente (mas não interagiam, já que a diferença de idade de ambos é de dois anos) na Escola Internacional de Luxemburgo. O belga Brian Molko (guitarra, violão, teclados e vocais) e o sueco Stefan Olsdal (baixo, guitarra, violão, teclados e backings ao vivo) só passaram a trocar ideias mesmo quando, já bem crescidos e residindo em Londres, encontraram-se em uma estação de metrô. Conversa vai e conversa vem, não se separaram mais. Passaram a compartilhar o gosto em comum pela música, especialmente bandas alternativas norte-americanas como Nirvana, Sonic Youth e Pixies. Fundaram o Placebo em 1994 e já no ano seguinte apresentaram o primeiro single, com a canção “Bruise Pristine”. Ela foi incluída no álbum de estreia, que veio à luz meses depois. “Teenage Angst”, “Come Home”, “36 Degrees” e “Nancy Boy” também ganharam singles e se tornaram outros sucessos iniciais do então trio – revezavam-se nas baquetas o também sueco Robert Schultzberg e o inglês Steve Hewitt, que tornou-se membro fixo de Placebo (1996) até Meds (2006), quando foi “ejetado” por ter a relação com a dupla desgastada em demasia durante as gravações em estúdio.

Desajuste social

Se você não se sente inserido em padrões da sociedade, seja sexual, comportamental ou mesmo referente a questões da saúde mental, as letras escritas por Brian Molko certamente te representam. A cada disco, o vocalista parece ampliar ainda mais o leque de temáticas sobre distúrbios e a incapacidade de sentir uma pessoa “normal” e não sofrer, de alguma maneira, por isso. Talvez seja este, então, o grande segredo de sucesso e longevidade do Placebo. Afinal, a figura sempre andrógina do próprio Molko é a representação visual de seus versos, o que vem facilitando uma identificação muito rápida de novos fãs nestas três décadas de trajetória da banda.

Selected

Boa parte destas letras das canções foi compilada pelo próprio autor delas para o livro Selected, que recentemente teve disponibilizada a sua segunda edição (em capa dura) em comemoração pelos 30 anos de carreira da banda. São 156 páginas que incluem ainda uma foto, prefácio escrito pelo próprio Brian Molko e 18 novas faixas adicionadas à leva original, totalizando 92. Você tinha três opções de modelos para comprar: não  autografado, autografado (à mão) e personalizado para você (sim, com nominho e tudo escrito também à mão por Molko). Entretanto, as duas últimas opções já estão esgotadas. Custa 25 libras e a aquisição é diretamente pelo site oficial do Placebo (clique aqui).

Discos ao vivo

Depois de ficar um bom tempo sem fazer turnês, foi só cair na estrada de volta para trazer uma bela novidade aos fãs. O vinil branco transparente duplo Collapse Into Never: Placebo Live In Europe 2023 é, de fato, o primeiro disco gravado ao vivo por Brian e Stefan, capturando a atmosfera de palco da banda – a única experiência fonográfica anterior foi extraída de um especial Acústico MTV produzido especialmente para a filial europeia da emissora de televisão norte-americana. Traz, de cabo a rabo, a apresentação realizada em um festival espanhol no início do ano passado. Só que este álbum não é a única novidade vinda em dezembro agora. Placebo Live é um box formado por mais outros dois registros ao vivo, além de Collapse Into Never. Editado no formato blu-ray, This Is What You Wanted também veio da atual turnê – desta vez durante a passagem de Molko e Olsdal pela Cidade do México, também ocorrida em 2023. Já o terceiro, o CD Live From The White Room, saiu de faixas do último álbum executadas pela banda no Studio One do complexo de estúdios para audiovisual que fica em Twickenham, subúrbio do sudoeste de Londres (estes vídeos estão sendo utilizados pela banda como clipes oficiais, aliás). Então, quem não se importa com spoilers e gosta de saber com antecedência o que deverá encontrar no momento de assistir ao show aqui no Brasil, então, tem a chance de mergulhar fundo na antecipação e não se deparar com surpresas.

Never Let Me Go

O Placebo é uma banda metódica com relação a discos e turnês. Grava um novo álbum e sempre reserva um bom tempo para viajar divulgando as novidades – e por causa disso boa parte do repertório sempre vem da safra mais recente de canções. Molko e Olsdal não são muito de manter a banda na ativa com concertos sem pensar nos fãs e em dar novidades a eles. Lançado em 2022 e fruto do isolamento social antecedente, Never Let Me Go interrompeu o maior hiato entre uma obra e outra do grupo. Foram nove anos passados desde o título anterior. Reflexos de medos e inseguranças que vieram com a pandemia refletiram numa sonoridade bem mais pesada e pungente do que a apresentada em Loud Like Love (2013). E isso também se reflete na execução ao vivo. Por isso, a presença de oito ou nove faixas novas no set list deve ser celebrada e bem aproveitada. Quatro delas foram lançadas como singles: “Beautiful James”, “Sorrounded By Spies”, “Try Better Next Time” e “Happy Birthday In The Sky”.

Tears For Fears

Pragmatismo também faz parte da personalidade do Placebo. Quem acompanha a banda faz tempo sabe bem que em seus shows sempre aparecem covers bem interessantes – a ponto de dez deles terem sido compilados em um disco de mesmo nome lançado em 2023. A releitura preparada para a atual turnê homenageia outra dupla, o Tears For Fears. Sempre que voltam para o bis, Brian e Stefan entoam um dos hinos do pop britânico dos anos 1980. “Shout” começa com o disparo de uma percussão eletrônica similar à da gravação original de Roland Orzabal e Curt Smith. Em virtude da característica mântrica da canção, que repete várias vezes o curto e poderoso refrão, também faz com que o restante do arranjo também não seja tão diferente assim. A grande novidade fica no timbre peculiar da voz de Molko comandando a letra.

Kate Bush

“Running Up That Hill (A Deal With God)” foi gravada para ser a faixa de abertura do álbum Covers, que pinçava outras releituras extraídas de lados B de singles e DVDs, trilhas sonoras de filmes e alguns-tributos. A faixa, transformada em synthpop intimista, também foi lançada em compacto e também aparece no disco duplo A Place For Us To Dream (2016), com 36 das músicas mais conhecidas e celebradas do repertório do Placebo. Detalhe: tudo isso bem antes da série Stranger Things utilizar a clássica versão original de Kate Bush em sua trilha sonora e fazer a cantora virar febre, capas de revistas e número um das paradas nos EUA pela primeira vez na vida. O que já era cultuado na versão sussurrada por Molko, então, virou uma boa peça para a renovação de público e atrair como fãs uma horda de nerds mais novos espalhada pelos quatro cantos do planeta. Muitos deles que sequer tinham ouvido a banda anteriormente. E, claro, esta cover também está incluída no bis dessa turnê.

Big Special

Não é nada grande, não é nada especial. O antislogan utilizado por esta banda de abertura serve bem para ilustrar o bom humor desta dupla inglesa, escolhida a dedo pelo Placebo para fazer os concertos de abertura das escalas sul-americanas da atual turnê. E as performances são bastante cruas: contam só com o vocalista Joe Hicklin e o baterista Callum Moloney, também responsável pelos backings e pelo disparo das bases pré-gravadas com baixos distorcidos, guitarras e sintetizadores que completam o arranjo das músicas. A sonoridade percorre a crueza a visceralidade do punk com toques de spoken word. PostIndustrial Hometown Blues é o nome do álbum de estreia recém-lançado. No que depender de faixas como “This Here Ain’t Water”, “Shithouse” e “Desperate Breakfast” não tem como não sair impactado pela performance.

Music

Ritchie

Oito motivos para não perder a turnê criada para celebrar os 40 anos de lançamento do megahit nacional “Menina Veneno”

Texto por Abonico Smith

Foto: Divulgação

Quarenta atrás o país todo foi varrido por uma enxurrada vinda da Inglaterra. Richard David Court havia chegado ao Brasil exata uma década antes, justamente quando a música brasileira conhecia um meteoro avassalador chamado Secos & Molhados, que saiu em pouca semanas do anonimato ao status de megavendedor de discos no mercado nacional. Ritchie, em 1983, conseguiu o mesmo feito. Cantando em português com um ligeiro sotaque ainda persistente, já em janeiro ele começou a provocar frenesi nas emissoras de rádio de norte a sul com uma música que ainda sequer havia sido lançada (no caso, seu primeiro compacto, programado pela gravadora CBS para chegas às lojas em abril). Doze meses depois, terminou a temporada vendendo mais cópias de seu álbum de estreia que o megassucesso planetário da época, Thriller, de Michael Jackson. Heresia das heresias, também superou ainda o maior nome do mercado fonográfico nacional, Roberto Carlos. Detalhe: dois artistas da mesma gravadora, que perderam a corrida para um então joe nobody.

Ritchie possui uma biografia muito interessante para ser contada. Após o estrelato instantâneo, enfrentou vários problemas de bastidores que, financeiramente e em questão de popularidade, fizeram sua carreira desabar de uma maneira também muito rápida. Isto, porém , não é o caso de se esmiuçar neste texto. E sim celebrar seu retorno aos palcos em grandioso estilo. O cantor e compositor está desde agosto em uma turnê por todo o território nacional que celebra os 40 anos do estouro do hit “Menina Veneno” (cujo compacto 7” fora antecipado com urgência para fevereiro e ganhou o disco duplo de platina, com mais de 500 mil exemplares comprados, algo raríssimo para o formato por aqui) e o álbum Vôo de Coração (mais de 1,3 milhão de cópias). Depois de passar por várias cidades, o artista agora reserva às capitais do Sul o calendário desta semana de outubro. Na próxima quarta (dia 18), ele passa pelo Teatro Guaíra, em Curitiba (clique aqui para saber mais sobre horário e ingressos). Na sexta (20) a escala é no Teatro Bourbon Country, em Porto Alegre (mais informações aqui). No sábado, a trinca se fecha no Centro de Eventos da UFSC, em Forianópolis (mais informações aqui). E até o fim do ano, o show será realizado em cidades do Nordeste (Sergipe, Bahia, Ceará, Piauí e Pernambuco) e no Rio de Janeiro (mais informações aqui).

Mondo Bacana disseca abaixo oito motivos para você não deixar de assistir à turnê A Vida Tem Dessas Coisas

“Menina Veneno”

Tudo começou em janeiro de 1983, com uma fita de rolo enviada pela CBS para o divulgador da companhia em Fortaleza. O compacto, estava previsto para chegar às lojas somente em abril. De uma hora para outra, a gravadora foi surpreendida com o fenômeno: a canção, sem qualquer iniciativa extra, foi adotada instantaneamente por várias emissoras e caiu no gosto dos ouvintes, que a faziam ser executada mais de 14 vezes por dia em todas elas. Logo, “Menina Veneno” foi “descendo” por todo o território nacional e virou febre no país todo. Logo Ritchie era presença constante em todos os programas de auditório da TV e a canção passou a tocar direto nos bailes funk da Rocinha e nos radinhos sintonizados nas comunidades ribeirinhas da Amazônia. Todo este estouro meteórico ainda rendeu uma versão em espanhol gravada pelo próprio britânico (e incluída pela ex-CBS e hoje Sony na versão em CD de Vôo de Coração lançada em 2008, para marcar os 25 anos do disco). A ideia da letra veio do livro O Homem e Seus Símbolos, com Carl Gustav Jung como autor de um dos capítulos, abordando a relação íntima do homem com seu inconsciente obtida sobretudo por meio dos sonhos. Segundo Jung, são quatro os arquétipos femininos manifestados neles. Um deles é o da “donzela venenosa”, a mulher fatal, que detém o poder de seduzir e capturar a alma masculina.

Abajur cor de carne

Não, não é e nunca foi um virundum. Você nunca entendeu errado nestes 40 anos. A cor do abajur não é carmim. É cor de carne, mesmo. O verso que contém esta pérola lírica da música brasileira já na primeira estrofe de “Menina Veneno” é obra da prodigiosa cabeça do letrista Bernardo Vilhena, que quis remeter uma sensação visual da sedução feminina diretamente à atriz e cantora germânica Marlene Dietrich quando ela ficou hospedada no chiquérrimo hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, em 1944, e declarou ter amado os abajures do local. Os objetos tinham uma cor de pergaminho. Segundo Vilhena, a expressão em alemão, quando traduzida literalmente, vira “cor de carne”. Em entrevista publicada pelo site Scream & Yell, ele explicou alguns termos utilizados na letra do hit. “Na minha cabeça de letrista, o cor de carne com o lençol azul e as cortinas de seda montavam todo um cenário interessante. O refrão, por sua vez, tem uma ligação forte com as artes plásticas, uma área à qual eu sempre fui muito ligado. Eu tinha uma amiga, a Regina Vater, que tinha um trabalho de retratos das camas de hotel que ela dormia, e mandava isso como cartões postais. ‘Toda cama que eu durmo só dá você’ era um verso dela. Era uma gíria da época, o ‘só dá o fulano’. São as coisas fundamentais dessa letra, dessa canção.”

Bernardo Vilhena

O poeta e letrista não foi fundamental apenas no compacto inicial da carreira de Ritchie. Os dois compuseram juntos nove das dez faixas do álbum também. Vindo da cena da poesia carioca dos anos 1970 (que revelara também nomes como Chacal, Waly Salomão e Antonio Cícero), Bernardo pincelou jogos de trocadilho com as palavras (“Do princípio ao sim”, “Vamos botar fogo em Copacabana”, “Tanto tempo entre o não e o fim”) e permeou as letras de Ritchie com o imaginário cotidiano de jovens pulsantes e radiantes de um Rio de Janeiro zona sul do começo dos anos 1980. A abordagem traz festa na madrugada, encontro no elevador, comunicação pelo interfone, quase sempre em situações envolvendo duas pessoas exalando hormônios sexuais. Basta ver a letra de “Casanova”, cujo título remete ao escritor italiano que virou sinônimo de amante libertino e sedutor sexual. Verso após verso, a canção vai descrevendo o cenário de ardente lascívia fugaz entre um casal. Virou tema de abertura de novela (Champagne, 1983), tocando diariamente no horário nobre da Rede Globo para ouvidos castos e inocentes de uma boa parcela da população brasileiro. Isso ainda em tempos de censura federal e governo militar. Vilhena é autor de versos de outros clássicos do rock nacional como “Mais Uma de Amor (Geme Geme), “Vida Bandida” e “Vida Louca Vida” (Blitz, Lobão, Cazuza).

Synthpop em português

Lauro Salazar, tecladista então radicado em Munique e ligado a trabalhos de pesquisa de timbres para fabricantes de sintetizadores, foi o pulo do gato de Voo de Coração. O álbum de estreia de Ritchie tinha uma ficha técnica de respeito. Liminha no baixo, Lobão na bateria, Zé Luis no saxofone e participações especiais de Lulu Santos e Steve Hackett (Genesis) nas guitarras. Só que o trabalho desenvolvido por Salazar nos arranjos foi fundamental para aproximar a sonoridade de uma novidade que bombava no exterior (sobretudo no Reino Unido e na Europa ocidental) e ainda era pouco conhecida no Brasil: o synthpop. Tinha a vertente mais dançante, voltada para as pistas, com nomes como Depeche Mode, Soft Cell, OMD, Pet Shop Boys e Eurythmics. Também havia quem conjugasse a sedução rítmica com uma linguagem mais pop, com destaque pata os teclados mas também para os instrumentos mais tradicionais do rock e um apuro mais fashionista nos figurinos e cabelos. Esta turma ganhou o nome de new romantic, vertente que abrigava Duran Duran, Culture Club, Visage e Spandau Ballet. Ritchie, por sua vez, unia lá em 1983 as partes em suas performances e gravações.

Outros hits

Vôo de Coração tinha dez faixas e rendeu cinco grandes hits. Portanto, tenha certeza de que a batida de samba jazzyde “A Vida Tem Dessas Coisas”, o tecnopop “Casanova”, a balada que dá nome do álbum e o tom caribenho de “Pelo Interfone” estarão presentes no set list. Assim como sucessos posteriores “A Mulher Invisível”, “Só Pra o Vento”, “Transas”, “Loucura e Mágica” e “Telenotícias”. 

B-sides

Uma carreira tão vasta e extensa, mesmo com um abandono no cenário musical no meio do caminho e intervalos maiores de gravações e lançamentos dos anos 1990 em diante, traz muitas pérolas escondidas do grande público. Ritchie, que não é bobo nem nada, traz de volta algumas faixas que pouca gente conhece (ou pela menos se lembra de já ter ouvido lá atrás). É o caso, por exemplo, de “Preço do Prazer” e “No Olhar”, que abriam os dois lados do vinil de Voo de Coração e sequer foram exploradas pelas rádios. Ou então “Shy Moon”, belíssimo dueto para o qual fora chamada por Caetano Veloso em seu álbum Velô (de 1984) e que habitou a trilha sonora da novela Um Sonho a Mais(1985). Por falar em dramaturgia da Rede Globo, outros dois fonogramas são resgatados. “Um Homem em Volta do Mundo” estava em Cara & Coroa (1995). Já “Mercy Street”, melancólica e reflexiva canção de Peter Gabriel, foi regravada por Ritchie para a abertura da minissérie O Sorriso do Lagarto (1991). Quer mais lado B? O cantor também pinça do álbum do Tigres de Bengala as faixas “Agora ou Jamais” e “Elefante Branco”. Vale lembrar que este fora um supergrupo de um disco só criado em 1993 por Court mais os músicos Vinicius Cantuária, Claudio Zoli, Dadi, Mu Carvalho e Billy Forghieri, todos de grandes serviços prestados à música pop brasileira. Ah, tem ainda “Lágrimas Demais”, do álbum Auto-Fidelidade (2002), o último de repertório composto por faixas autorais inéditas.

De volta ao futuro

A turnê de Ritchie não será baseada só no melhor de sua carreira musical. Traz ao palco um grande apuro visual também, com tecnologia de ponta e gente de primeira na ficha técnica. Jorge Espírito Santo (ex-MTV, ex-Fantástico) assina a direção geral. Césio Lima (Rock In Rio) está na iluminação. Alexandre Arrabal e Kiko Dias bolaram uma direçãoo de arte que traduz à atualidade o futurismo de computadores e hologramas que, 40 anos atrás, já habitavam as letras de Vôo de Coração e a capa do compacto de “Menina Veneno”. Portanto, não será uma experiência só para ser ouvida no conforto das poltronas.

Inimigo do Rei

Reza a lenda que a promissora carreira de Ritchie fora sabotada por ninguém menos que o maior da música popular brasileira. Tudo porque o britânico, já em seu primeiro disco, ousou “ultrapassar” a fronteira e ameaçar as próximas vendagens de Roberto Carlos. Muita já se comentou, escreveu e discutiu sobre isso. Court passa longe de defender esta hipótese sobre o Rei, embora confirme uma história ouvida da própria boca de um programador radiofônico: a de que este cara recebera “jabá” da gravadora (de ambos, a CBS) para NÃO TOCAR suas músicas. A queda repentina nas vendagens depois da ascensão meteórica mais alguns sérios problemas de relacionamento vividos nos bastidores podem ter afetado e muito a trajetória profissional de Ritchie lá atrás, a ponto dele mudar de carreira – abandonou os palcos e estúdios nos fim dos anos 1990 para trabalhar com o desenho, o desenvolvimento e a implantação de softwares de áudio em websites, chegando a trabalhar em parceria com o músico, produtor e inventor inglês Thomas Dolby (autor e cantor de “She Blinded Me With Science”, hit do synthpop mundial em 1982) para a sua empresa, a Beatnik Inc. Polêmicas, invenções e especulações à parte, não deixa de ser bastante interessante para um artista, aqui no Brasil, carregar para sempre esta história peculiar em sua biografia. Mesmo porque hoje o reconhecimento de sua obra musical, com o tempo, superou todos os perrengues.

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Metronomy

Oito motivos para não perder o show do quinteto inglês que, para muitos, tem a cara e a alegria do verão em seu synthpop

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Texto por Janaina Monteiro

Foto: Divulgação

Fundado há vinte anos, o Metronomy chega ao Brasil com seu synthpop alegre e irresistível e que, para alguns, é a cara do verão que está quase aí. Joseph Mount (voz, guitarra e teclados), Oscar Cash (teclados e saxofone), Gbenga Adelekan (baixo), Michael Lovett (teclados e violão) e Anna Prior (bateria) prometem agitar a noite de quatro capitais do nosso  país com seus sintetizadores, grooves, melodias grudentas e uma soma de estilo e irreverência na mise-en-scène. No Brasil, serão quatro apresentações dentro do projeto Popload Gig: São Paulo (dia 7 de dezembro, na Audio), Curitiba (dia 9, na Ópera de Arame), Rio de Janeiro (dia 11, no Sacadura 154) e Porto Alegre (dia 13, no Opinião). Mais informações sobre os estes concertos você encontra, respectivamente, aqui, aqui, aqui e aqui.

O quinteto traz para cá o show baseado em seu novíssimo disco, Metronomy Forever, lançado em setembro ultimo e que vem sendo apresentado pela Europa. No set list, claro, não faltarão sucessos dos álbuns anteriores. Como “The Look”, “Love Letters” e “The Bay”.

Abaixo, o Mondo Bacana lista oito motivos para você passar até a semana que vem dançando com os ingleses. Especialmente se você morar ou estiver na capital paranaense na próxima segunda, onde o grupo toca pela primeira vez.

Ligação com o Coldplay

A banda britânica lançou seis álbuns de estúdio (o primeiro é de 2006) e já se apresentou quatro vezes no Brasil. O Metronomy se formou em 1999 em Devon, região onde também nasceu o vocalista do Coldplay. Aliás, em passagem pelos Estados Unidos, os conterrâneos chegaram a excursionar com a banda de Chris Martin.

Nome de batismo

Joe Mount batizou a banda de Metronomy porque achou o nome interessante e que seguia na mesma linha de bandas como Autechre e Funkstorung. A palavra significa metrônomo, equipamento que músicos utilizam para marcar as batidas do compasso e é importante para aguçar a precisão rítmica dos mesmos.

Balada na segunda-feira

Quantas vezes você já saiu de casa na noite de uma segundona? Então, o show do Metronomy é uma ótima oportunidade para se divertir em pleno iniciozinho de semana. Além disso, a performance será na Ópera de Arame, cartão-postal de Curitiba que costuma deixar artistas gringos que ali se apresentam de queixo caído. E mais: depois do concerto, o baixista da banda mais a vocalista do CSS, Lovefoxxx, atacarão de DJs e transformarão o espaço num grande dancefloor.

Dança sem culpa

O mundo está em ruínas. Você liga a televisão, ouve rádio ou se conecta à internet e só vê tragédia sendo noticiada. Esse, então, é outro bom motivo para você ir ao show do Metronomy e se acabar de dançar ao som dos britânicos, famosos no mundo inteiro pelo hit “The Look” – cujo clipe já passa de 40 milhões de visualizações no YouTube. Bora curtir a sonzeira e esquecer as dores do mundo por quase duas horas?

Respeito na cena indie

Nos últimos treze anos, o Metronomy se estabeleceu como uma das mais interessantes e respeitadas bandas da cena indie mundial, tendo sido destaque em críticas e matérias de publicações como a NME, o Guardian e a DIY.  O quinteto ainda se apresentou na BBC Radio 1, no lendário programa Later With Jools Holland da BBC 2 e fez concertos de ingressos esgotados nos palcos da Brixton Academy, Somerset House e Royal Albert Hall. Espera que ainda tem mais: a banda foi headliner do Park Stage no mais cultuado festival musical europeu, o Glastonbury.

Parceria famosa

A banda teve o charmoso e fofíssimo clipe de “Love Letters” dirigido pelo cultuado Michel Gondry. O farncês é um dos nomes mais famosos do cinema pop dos anos 2000 e assinou logas-metragens como Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e Rebobine, Por Favor.

Lançando moda

O quinteto gosta de lançar moda e já trabalhou com o estilista alemão Karl Lagerfeld, diretor da Chanel falecido neste ano. Também criou uma garrafa de cerveja (!!!), em parceria com a Heineken.

New wave revival

O show é para os fãs de synthpop, subgênero da new wave e que, como o próprio nome diz, é marcado pelos sintetizadores em substituição às guitarras no comando dos arranjos. Um dos embriões deste estilo foram os discos e concertos da banda alemã Kraftwerk lançados nos anos 1970. No Reino Unido, berço da Metronomy, o synthpop surgiu na era pós-punk do final da mesma década e se estendeu como febre até meados dos 1980, quando despontaram bandas como New Order, Soft Cell e Depeche Mode. Se você curte nomes mais recentes como Hot Chip, Ladytron e Cut Copy, então vale (e muito!) a pena conhecer o trabalho de Mount e sua turma.