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Jurassic World: Domínio

Despedida da trilogia que trouxe os dinossauros de volta aos cinemas traz de volta antigos personagens do filme de 1993

Texto por Carolina Genez

Foto: Universal Pictures/Divulgação

Mais de vinte anos depois do lançamento do primeiro Jurassic Park (1993), a trilogia iniciada em 2015 veio para trazer o mundo mágico do parque dos dinossauros para gerações mais recentes. Jurassic World: Domínio (Jurassic World Dominion, EUA/Malta, 2022 – Universal Pictures), que agora chega aos cinemas, é a continuação do segundo filme (Reino Ameaçado, de 2018), no qual, após a destruição do parque, os bichanos ficam soltos na natureza e vivendo entre os humanos. Uma das consequências disso é que muitos deles são apreendidos e vendidos em mercados clandestinos. Para tentar controlar a situação, surge a empresa bilionária Biosyn. Contudo, mesmo criando um reservatório/santuário para abrigar tais criaturas, seu dono tem outras intenções para lucrar em cima dos animais. 

Um dos principais temas abordados por este novo longa-metragem é a falta de uma decisão definitiva para os dinossauros. Para contextualizar o espectador, tudo começa com uma reportagem televisiva que traz não só dados sobre a interação homens/animais, mas também diversos “vídeos” mostrando o relacionamento entre as duas espécies e a vivência das criaturas jurássicas em uma sociedade civilizada. Assim, desde o início reina a dúvida: quem dominará a Terra? 

Nesse contexto, voltamos a acompanhar Claire (Bryce Dallas Howard) e Owen (Chris Pratt), que vivem isolados, resgatando o máximo de dinossauros possíveis. Eles também protegem Maise Lockwood (Isabella Sermon), a menina-clone neta de Benjamin Lockwood, ex-parceiro de John Hammond, o  fundador do Jurassic Park original. Maise, porém, é sequestrada pela Biosyn, que pretende analisar seus genes para assim conduzir estudos sobre edição genética. Claire e Owen então passam a realizar uma investigação para encontrar e resgatar a garota.

Além de finalizar a trilogia, Domínio ainda encerra toda a saga do Jurassic Park. Para o gran finale, o atrativo do filme é a volta de alguns rostos conhecidos lá de 1993. Ao mesmo tempo que acompanhamos Claire e Owen, reencontramo-nos com Ellie Sattler (Laura Dern), Alan Grant (Sam Neill) e  Ian Malcolm (Jeff Goldblum). Sattler passa a investigar uma nova praga presente nas plantações: um gafanhoto gigante geneticamente modificado. Após perceber que esses insetos não atacam as plantações de sementes Biosyn, pede ajuda para Grant para desmascarar a empresa. Os dois, então, partem para o reservatório para tentar expor os experimentos, recebendo apoio de Malcolm, que agora trabalha no santuário.

Ao contrário do filme de 1993, que tem um roteiro simples que funciona perfeitamente, Domínio conta com diversas linhas, muitos personagens e poucos dinossauros. A história aqui acaba se perdendo com toda a trama de edição genética. A própria narrativa de Sattler, Grant e Malcolm acaba ficando de lado, servindo apenas para um encontro entre todos os personagens e uma “homenagem” à saga. Além disso, o encontro em si traz, infelizmente, um decepcionante resultado já que os personagens pouco interagem.

Mas a falta de desenvolvimento da narrativa e de aproveitamento do trio original não afeta seus personagens, já que Dern, Neil e Goldblum entregam performances satisfatórias e nostálgicas que com certeza conquistarão os fãs da saga. Os atores são extremamente carismáticos, mantêm com uma ótima química entre si e parecem nunca ter deixado o universo jurássico, garantindo os melhores momentos deste longa.

O mesmo não pode ser dito dos personagens novos. Agora conhecemos a piloto Kayla Watts (DeWanda Wise), que a princípio trabalha com os vilões da história mas que, em um passe de mágica e sem qualquer explicação (mesmo quando indagada por Owen), passa para o lado dos mocinhos, colocando sua vida em risco. O vilão do filme também decepciona ao ser genérico e pouco explorado, com motivação e plano extremamente confusos e sem nexo.

Apesar disso, voltamos aos dois personagens queridos da trilogia. Dallas Howard traz uma boa performance e realiza uma das melhores cenas do longa quando sua Claire foge de um dinossauro. Já Pratt tem um Owen pouco real, já que ele vive feito Tom Cruise em Missão: Impossível, conseguindo escapar de várias quase mortes sem arranhões. Mas, apesar do irrealismo em momentos, as cenas de ação são muito bem dirigidas e de fato conseguem segurar a atenção do espectador ao trazer um certo suspense e tensão.

Já os efeitos especiais são impressionantes e muito realísticos. Porém são mal aproveitados, já que os dinossauros, o carro-chefe da saga, ficam de lado, fazendo breves aparições ao longo deste filme – já que a trama foca mais na clonagem de Maise. Ainda assim, quando os dinossauros surgem, graças aos impecáveis truques visuais, eles conseguem gerar uma sensação de admiração das maravilhosas criaturas. Além disso, o CGI também se destaca ao colocar os animais entre a civilização, conseguindo alcançar um resultado que gera um estranhamento proposital mas se torna harmônico e condizente com o contexto da narrativa do filme. O longa também conta com uma fotografia maravilhosa, que “apenas” ajuda a inserção dos dinossauros na civilização.

A atual obra foca, apesar de não fortemente quanto nos outros filmes, nos avanços tecnológicos, questões éticas e a ganância do ser humano. Apesar de ser possível trazer os dinossauros de volta à vida, isso deveria ser feito? Mais importante, como ficará a convivência entre humanos e dinossauros? Infelizmente, Domínio não responde a essas questões. Perde-se no próprio roteiro e traz desfechos pouco convincentes para todas as narrativas que cria, deixando de lado a simplicidade e os dinossauros. Apresenta uma conclusão genérica e pouco satisfatória para quem acompanha a saga. Deixando tudo em aberto e se resume a ficar na mesma conclusão de todos os títulos da franquia. A de que o passado se repete.

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Um Lugar SIlencioso: Parte II

Segundo capítulo da trilogia parte do fim do filme anterior para um misto de cenas de tensão com roteiro repleto de conveniências

Texto por Leonardo Andreiko

Foto: Paramount/Divulgação

Um Lugar Silencioso atraiu o olhar do público com uma proposta refrescante no cenário do horror. Como todo o movimento que muitos entendem como pós-horror, o primeiro capítulo dessa trilogia anunciada é tematicamente adensado e entrega sequências agoniantes. A expectativa para Um Lugar Silencioso: Parte II (A Quiet Place Part II, EUA, 2020 – Paramount), portanto, não poderia ser maior.

O ponto de partida do longa, dirigido e roteirizado por John Krasinski, é exatamente após o fechamento de seu antecessor, quando parte para um thriller com sequências pontualmente enervantes enquanto a família Abbott se refugia após os eventos anteriores. Eles encontram abrigo em uma fábrica onde se esconde Emmett (Cillian Murphy), que passa a acompanhá-los.

Aqui, Krasinski passa a integrar a fala com mais recorrência, valendo-se de diversos artifícios narrativos ao longo do filme para validar decisões, conveniências e ações de seus personagens. Embora não haja qualquer novidade surpreendente no andamento e na trama desta segunda parte, a decisão de separar os acontecimentos em duas linhas narrativas oferece um dinamismo extremamente necessário ao ritmo do longa.

Isso porque ele enfrenta um desafio complicado, pois, ao revelar a fraqueza de seus alienígenas, é forçado a abandonar o medo que ofereceriam aos personagens. Há claras indicações e possibilidades de matá-los, o que os torna, quando muito, conflitos genéricos numa trama que pretenderia abordar outros temas. Contudo, por já explorar a dinâmica familiar e suas implicações no primeiro longa, Krasinski não tem material suficiente, em última análise, para oferecer uma perspectiva engajante em algum conflito de ordem psicológica. Se começamos esperando um suspense conectado às tendências do horror contemporâneo, encontramos uma trama de ação com a interessante e eletrizante abordagem sonora da mise-en-scène.

O quadro de um filme outrora esquecível expande-se, aqui, para além da tela, uma construção tridimensional do espaço ao redor que efetivamente constrói a tensão e o drama. Justamente por isso, os ocasionais jumpscares são uma das melhores utilizações da técnica no horror moderno. Há, de fato, uma quebra de ritmo e não a construção de tensão que os torna previsíveis em muitos filmes. E, claro, nossa atenção à esfera sonora do longa nos torna propensos ao susto da crescente sonora.

Embora seja uma experiência engajante de início, com sequências de tensão primorosamente conduzidas, o roteiro repleto de conveniências faz de Um Lugar Silencioso: Parte II um longa morno. Ele não chega a ser ruim, mas também não é memorável.

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Verão de 84

Apesar de parecer somente mais uma obra revivalista dos anos 1980, trama de suspense se revela melhor do que o esperado

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Texto por Flávio St Jayme (Pausa Dramática)

Foto: Divulgação

Como alguém que cresceu na década de 1980, é  impossível não ver com certa desconfiança essa onda de revival que tomou conta do cinema e da TV. Stranger Things, It, Pose… são inúmeros os exemplos. Então, não foi com outra atitude senão com um pé atrás que comecei a assistir a Verão de 84 (ainda sem distribuidor e data de lançamento no Brasil). A aventura de suspense juvenil deixa claro sua proposta já no título. Mas será que este era somente mais um revival genérico? Tive minha dose de pochetes, ombreiras, New Kids on The Block, O Clube dos Cinco e Goonies. Então pra que revisitar tudo isso? Vale a pena?

Quatro amigos num subúrbio às voltas com um mistério e problemas da adolescência. Já vimos isso em todos os exemplos citados acima. E Verão de 84 (Summer Of 84, no título original) começa exatamente assim, sem muita originalidade. Mas o que parecia só mais um filme, de repente, vai crescendo e se mostrando melhor que o esperado.

Davey, Eats, Curtis e Woody estão entediados nas férias de verão. Sem muito o que fazer, vão de brincadeiras ainda infantis à revistas pornográficas escondidas pra matar o tempo. Até que a TV noticia o aparecimento de um serial killer na região e os garotos se põem a investigar, desconfiando de todos à sua volta. Pode parecer que a história não é das mais originais. No entanto, seu desenrolar vai ficando cada vez melhor e quando chega em seu ápice é impossível não ficar de boca aberta com o desfecho.

Enquanto fazem suas buscas, os meninos conversam sobre coisas que pra nós, hoje, são clássicas, como Star Wars, Gremlis e Comandos em Ação (hoje conhecidos como GI Joe). Nisos, vão criando em nós uma relação de cumplicidade. Acabamos por nos ver nos quatro amigos.

Verão de 84 tinha tudo para ser só mais um título a aproveitar uma moda, como de costume. Mas seus atores (quase todos desconhecidos), sua edição com cara de filme velho, sua trilha sonora característica e seu final fazem com que ele seja um dos melhores representantes deste revival. E claro, como cria da mesma década, fui tomado pela nostalgia dele também.