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Um Lugar SIlencioso: Parte II

Segundo capítulo da trilogia parte do fim do filme anterior para um misto de cenas de tensão com roteiro repleto de conveniências

Texto por Leonardo Andreiko

Foto: Paramount/Divulgação

Um Lugar Silencioso atraiu o olhar do público com uma proposta refrescante no cenário do horror. Como todo o movimento que muitos entendem como pós-horror, o primeiro capítulo dessa trilogia anunciada é tematicamente adensado e entrega sequências agoniantes. A expectativa para Um Lugar Silencioso: Parte II (A Quiet Place Part II, EUA, 2020 – Paramount), portanto, não poderia ser maior.

O ponto de partida do longa, dirigido e roteirizado por John Krasinski, é exatamente após o fechamento de seu antecessor, quando parte para um thriller com sequências pontualmente enervantes enquanto a família Abbott se refugia após os eventos anteriores. Eles encontram abrigo em uma fábrica onde se esconde Emmett (Cillian Murphy), que passa a acompanhá-los.

Aqui, Krasinski passa a integrar a fala com mais recorrência, valendo-se de diversos artifícios narrativos ao longo do filme para validar decisões, conveniências e ações de seus personagens. Embora não haja qualquer novidade surpreendente no andamento e na trama desta segunda parte, a decisão de separar os acontecimentos em duas linhas narrativas oferece um dinamismo extremamente necessário ao ritmo do longa.

Isso porque ele enfrenta um desafio complicado, pois, ao revelar a fraqueza de seus alienígenas, é forçado a abandonar o medo que ofereceriam aos personagens. Há claras indicações e possibilidades de matá-los, o que os torna, quando muito, conflitos genéricos numa trama que pretenderia abordar outros temas. Contudo, por já explorar a dinâmica familiar e suas implicações no primeiro longa, Krasinski não tem material suficiente, em última análise, para oferecer uma perspectiva engajante em algum conflito de ordem psicológica. Se começamos esperando um suspense conectado às tendências do horror contemporâneo, encontramos uma trama de ação com a interessante e eletrizante abordagem sonora da mise-en-scène.

O quadro de um filme outrora esquecível expande-se, aqui, para além da tela, uma construção tridimensional do espaço ao redor que efetivamente constrói a tensão e o drama. Justamente por isso, os ocasionais jumpscares são uma das melhores utilizações da técnica no horror moderno. Há, de fato, uma quebra de ritmo e não a construção de tensão que os torna previsíveis em muitos filmes. E, claro, nossa atenção à esfera sonora do longa nos torna propensos ao susto da crescente sonora.

Embora seja uma experiência engajante de início, com sequências de tensão primorosamente conduzidas, o roteiro repleto de conveniências faz de Um Lugar Silencioso: Parte II um longa morno. Ele não chega a ser ruim, mas também não é memorável.

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Um Lugar Silencioso

Casal e seus dois filhos tentam sobreviver em um mundo apocalíptico onde fazer barulhos e ruídos pode significar a morte

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Paramount/Divulgação

Nos últimos anos a criatividade e a ousadia tem mudado o panorama dos filmes de terror e suspense. Graças à limitação impostas por baixos orçamentos e o sopro de vida vindo de produções de fora do grande eixo cinematográfico (como o oriente asiático e os países ibero-americanos), estes gêneros vem arrancando críticas estupefatas da imprensa, conseguindo bilheterias surpreendentes mundo afora e até mesmo abocanhando indicações e premiações importantes, até mesmo o Oscar.

Agora chegou a vez de Um Lugar Silencioso(A Quiet Place, EUA, 2018 – Paramount) ganhar as telas dos cinemas sob aplausos dos críticos que já se renderam ao filme durante sua exibição em festivais e mais uma tonelada holofotes de boas expectativas. A premissa é bastante simples. A cidade de Nova York e seus arredores estão sendo dizimados por uma voraz criatura alienígena que se guia apenas pela audição. Portanto, resta aos poucos sobreviventes a alternativa de fazer o mínimo de barulho possível para não atrair a atenção dos forasteiros e morrer virando presa fácil.

Uma família com os pais e três crianças tenta seguir à risca sua nova condição social. Como trunfo, o fato da primogênita ser surda – por isso todos podem se comunicar através da linguagem de libras. Ao chegar a três meses vivendo desta maneira, porém, vem a tragédia: o caçula, atraído por uma nave espacial de brinquedo tirada de uma loja abandonada que serviu de refúgio a eles durante um tempo, coloca o troço para funcionar e é capturado pelo ser antagonista.

Um bom tempo depois, porém, as dificuldades do núcleo familiar aumentam: abrigados em uma casa ao lado de uma imensa plantação de milho, a esposa ostenta aquele barrigão de gravidez e o novo filho pode vir ao mundo a qualquer momento.

Nesta angústia de não fazer barulho que decorre a história inteira de pai, mãe, filha e filho. Ora juntos, ora afastados ou sozinhos. E á justamente para contar esta história que o filme dirigido por John Krasinki (que também dá uma mão no roteiro e encabeça o elenco ao lado de sua esposa na vida real Emily Blunt) ganha pontos positivos e salta aos olhos. Há intervalos grandes de silêncio, somente interrompidos pelo mínimo de barulho (aliás, o trabalho de captação de som nas cenas torna-se um atrativo à parte durante a projeção). O movimento de câmera, ora frenético, ora lento e monótono, também ajuda a acentuar o ritmo necessário das cenas.

Além de Krasinki, os outros três nomes do elenco também estão muito bem nas cenas. As caras de pavor e sofrimento Emily Blunt – sobretudo na hora de dar à luz, dentro de uma banheira – são de dar medo a todo e qualquer espectador. Os filhos (Noah Jupe e Millicent Simmonds, surda como sua personagem e ainda em seu segundo trabalho no cinema) parecem veteranos tamanha é a naturalidade e a segurança em cena. Sobretudo no que se refere à garota, que tem pontos chaves no desenrolar da trama.

E se as cenas finais são desconcertantes, mais ainda é ver os créditos finais e perceber que entre os nomes dos coprodutores deste longa está o de Micahel Bay. Sim, ele mesmo. O diretor da série Transformers e de alguns outros filmes  considerados tão pavorosos quanto. O mesmo Michael Bay que adora um espetáculo com efeitos especiais e chega a repetir a mesma cena em mais de um de filme. Mas esta talvez seja a informação necessária para se entender o porquê de, em certo momento, Um Lugar Silenciosoameaça descambar para uma fórmula mais convencional. Pode ajudar a entender também os caminhos escolhidos para o desfecho.