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Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes

Live action derivado do clássico RPG diverte e introduz um novo universo para o cinema baseado em jogos

Texto por Carolina Genez

Foto: Paramount/Divulgação 

Acaba de chegar aos cinemas Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes (Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves, EUA/Canadá/Reino Unido/Islândia/Austrália, 2023 – Paramount), trama que acompanha Edgin (Chris Pine) que, após a morte de sua esposa, decide roubar itens mágicos e preciosos juntamente com sua filha Kira (Chloe Coleman), a bárbara Holga (Michelle Rodriguez), o mago Simon (Justice Smith) e o também ladrão Forge FitzWilliam (Hugh Grant). No meio do caminho, porém, ao tentar ajudar a feiticeira Sofina (Daisy Head), Edgin e Holga são presos e precisam achar um meio de escapar e recuperar a confiança de Kira.

O filme é baseado no clássico jogo de RPG Dungeons & Dragons, que ficou muito popular durante os anos 1970 e 1980 e recentemente ressurgiu com força por conta da série Stranger Things, em que os personagens principais não só se divertem no tabuleiro mas também fazem referência ao game durante toda a série. Por trazer um universo tão cheio e completo para as telas do cinema, o longa funciona bastante como um introdutório para o que pode vir a ser mais uma franquia.

Adaptações de games são sempre algo complicado de se traduzir para a linguagem cinematográfica: ao mesmo tempo esses filmes precisam agradar os fãs ardorosos e não deixar aqueles que não sabem de nada sobre o universo de fora. Dungeons & Dragons, então, faz um trabalho maravilhoso neste sentido. Este Honra Entre Rebeldes é recheado de citações do jogo e, ao mesmo tempo, uma própria partida de RPG, com falas de personagens que relembram regras e, principalmente, nos ângulos e movimentos de câmera utilizados pelos diretores para garantir grande imersão na trama.

O roteiro traz uma história repleta de aventura, que consegue com facilidade instigar e prender a atenção dos espectadores. Parte disso acontece também porque conseguimos nos conectar com os personagens por suas histórias do passado, que são apresentadas de maneira breve mas também cumprindo seu propósito. A trama também traz bem cenas de comédia, funcionando muito bem ao utilizar diversos estereótipos e clichês de histórias de fantasia como piadas. A narrativa, apesar de simples, tem seus objetivos muito bem definidos, permitindo aproveitar a jornada, que é contada por diversos episódios, junto com os personagens passando e explorando diversos cenários muito diferentes entre si.

A direção de arte, nesse sentido, faz um trabalho impecável ao transportar os espectadores àquela terra de fantasia com criaturas, magos, elfos e humanos convivendo uns com os outros. Cada uma das terras exploradas pelos personagens tem algum fator que a diferencia da outra e torna a aventura ainda mais interessante. Aqui também existe uma breve pincelada de cada uma dessas “nações”, contando um pouco sobre as lendas, costumes e habitantes. Tal artimanha engaja muito a curiosidade para os próximos projetos.

Os personagens também ajudam a prender a atenção do público. Cada um deles tem objetivos, humores,  personalidades e poderes distintos, o que torna as interações entre eles extremamente divertida. A variação de forças e habilidades é um trunfo nas cenas de ação, muito criativas e bem conduzidas e coreografadas. Na galeria de personagens mais interessantes está Doric, druidesa que luta pelo seu povo e tem o poder de se transformar em qualquer animal e até mesmo fazer mesclas deles. Ela, entretanto, não é tão aproveitada quanto poderia, muito por conta do filme ter a função de ser introdutório. 

No terreno das atuações, todos os atores cumprem bem seus papéis, até por serem personagens que lembram muito trabalhos anteriores deles. Destacam-se Chris Pine e Michelle Rodriguez, já que acompanhamos ambos os personagens desde o início. Ambos são divertidos e rendem cenas engraçadas – e os dois atores têm muita química, o que ganha a empatia dos espectadores. Edgin, além de protagonista, acaba sendo outra peça fundamental para remeter ao jogo de tabuleiro já que ele é quem elabora os planos e consequentemente “cria” as histórias. Outro destaque fica com a Sofina de Daisy Head, que traz uma presença ameaçadora e performance bem sombria, contrastando com o elenco. Por fim, há Regé-Jean Page como Xenk. Apesar da pequena participação, acaba sendo outra ótima surpresa com uma criatura misteriosa e interessante.

Claro que há alguns erros ao longo das de duas horas de duração. Só que Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes cunmpre o que promete: ser uma aventura muito imersiva e divertida, que ainda termina com um gostinho de quero mais. Em tempo: se você gosta de Caverna do Dragão – desenho animado dos anos 1980 também oriundo de D&D – não deixe de ir às salas do cinema.

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Bowie: Moonage Daydream

Película com acesso a muito material inédito da trajetória de David Bowie é um bilhete de loteria transformado em ode à arte

Texto por Fabio Soares

Foto: Universal Pictures/Divulgação

Brett Morgen é uma sujeito de sorte. Às vésperas de completar 54 anos, o diretor californiano (que esteve à frente de Cobain: Montage of Heck, filme de 2015 sobre a vida do líder do Nirvana) obteve acesso a milhares de arquivos de imagens, manuscritos e registros sonoros de David Bowie, tudo disponibilizado pela família do cantor. Aliás, o termo “cantor” transforma-se em definição diminutiva e errônea diante da mastodôntica importância do britânico, morto em janeiro de 2016 e que hoje faria 76 anos de idade.

A película Bowie: Moonage Daydream (EUA, 2022 – Universal Pictures) foi exibida em cinemas no Brasil por somente uma semana durante a segunda quinzena do último mês de setembro. Ela não é um documentário. Também não é um filme. Muito menos um videoclipe com exacerbada extensão. É um bilhete de loteria transformado em ode à arte.

Com narração do próprio Bowie, este acontecimento multissensorial convida o espectador a mergulhar (sem tanque de oxigênio) por águas tortuosas. O jogo de imagens incomoda, instiga, provoca. Morgen sabia que o acesso a registros nunca antes divulgados era um bilhete de loteria valioso demais para ser desperdiçado. A marcial trilha sonora ainda é um personagem à parte. Há Bowie para todos os gostos. Do lirismo de “Rock and Roll With Me” à urgência de “Cracked Actor”, passando pela fase dançante da monumental retorno da carreira após breve hiato no início dos 1980, tudo impressiona, é grandioso e magistral.

A montagem do longa também merece destaque. A sobreposição de camadas visuais, misturadas a imagens de apresentações ao vivo, elevam a experiência audiovisual a outro patamar. Tente não se emocionar com Bowie cantando “Space Oddity” simultaneamente em 1972 e 1997. Perceba, nesta hora, a discreta diminuição de uma oitava na execução noventista.

Os mais esotéricos se surpreenderão com o ascendente em aquário do popstar sobrepor-se ao seu lado capricorniano, fazendo com que ele não criasse raízes em lugar algum, mudasse de país quando lhe desse na telha e carregasse consigo apego ZERO a lugares e pessoas. Desapego este que desabou por completo ao conhecer Iman Mohamed Abdulmajid, a modelo somali por quem se apaixonou em 1992. Mas daí é outra história.

Após a sessão, a vontade de possuir Bowie: Moonage Daydream no modal físico é mais que justificável! Saí da sala de cinema querendo adquirir o DVD, a camiseta, o CD, o vinil, o shampoo ou seja lá qual for o produto oriundo desta obra de arte que extrapole o conceito de documentário.

Só que no streaming (disponível para locação via Amazon Prime no Brasil) podemos consumir a películas uma, duas, quinze, cento e cinquenta vezes! Documento vivo de nosso tempo. Um tempo que é só nosso e que podemos fazer dele o que quisermos.

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Fervo Saravá

Evento retorna a Florianópolis neste sábado trazendo uma escalação mais enxuta mas sem deixar de lado a nata da música brasileira atual

Jovem Dionísio

Texto por Frederico Di Lullo e Luciano Vitor

Fotos: Divulgação (Jovem Dionísio) e Divulgação/Fabio Setti/Tamara dos Santos (Mulamba)

Passados três meses de uma edição com shows históricos, o Festival Saravá, um dos melhores de Florianópolis, retorna com cinco atrações da cena independente nacional. O número até pode parecer pouco, mas justifica-se pela nova dinâmica: após trabalhar com muitas bandas em junho, o line-up fica mais enxuto (por isso, o novo apelido de Fervo Saravá!) sem perder a essência, deixar de proporcionar boa música, ter preço justo de ingressos e ser uma noite antenada ao mesclar artistas emergentes e consagrados.

Abaixo, o Mondo Bacana lista oito motivos para não perder o evento marcado para este sábado, 24 de setembro. Bora?

Life Club

Relativamente próximo ao centro de Florianópolis, o local é de fácil acesso, com recuo para estacionamento, comportando facilmente mais de cinco mil pessoas. Com uma estrutura de arena de shows e palco com visão de praticamente todo o complexo, a Life abriga os mais diversos estilos musicais. E tornou-se a casa do festival em junho, com direito a concertos memoráveis (leia sobre a escalação aqui). Bebidas ainda serão a preços módicos.

Manifestações artísticas

Além das apresentações musicais, o Saravá é conhecido por abrir espaço para outras manifestações artísticas, como grafite, pintura facial ritualística e exposição visual, além de danças urbanas e performance com fogo. Para esta edição, as intervenções também farão parte da programação.

Mulamba

Metá Metá

O nome é oriundo do iorubá: metá que significa três, em português. Por isso, o Metá Metá é formado por três musicistas (e dos bons!): Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França. Eles fundem de maneira ímpar jazz, MPB, afrobeat, ritmos de matriz africana, rock e experimentalismo e cantam letras de beleza e impacto impares. Formada por três álbuns mais singles, EPs e trabalhos paralelos dos integrantes, a discografia comprova o porquê da banda paulista  ser considerada um dos maiores expoentes da música brasileira recente.

Bike

Dona de show acachapante, a Bike é uma das bandas mais representativas da psicodelia brasileira dos últimos anos. Com um novo trabalho, Força Bruta, saindo do forno e programado para ser lançado em 2023, os também paulistanos – que já fizeram algumas turnês fora do Brasil – vêm matar as saudades do público de Floripa, tocando em mais uma edição do Saravá.

Maglore

O quarteto baiano de rock alternativo e fortes influências de MPB está na ativa desde 2009. Agora volta para a Ilha da Magia com V embaixo do braço. Sim, tem show de lançamento desta pérola que, além de rock, passeia por estilos que vão da bossa nova ao reggae. Aclamado pela crítica, o repertório do quinto álbum de estúdio (daí o título V) promete colocar todo mundo pra dançar na noite do Saravá, misturado a clássicos que marcam o já longo tempo de carreira e 15 milhões de plays mensais no Spotify.

Mulamba

Nome emergente da nova MPB, a banda formada em Curitiba habita diferentes territórios em sua criação. Cantando críticas ácidas até letras poéticas, a trupe reúne a sensibilidade e a potência de suas seis integrantes como se fosse um coro uníssono. Agora, amplia seus horizontes com o lançamento de Será Só Aos Ares, um trabalho diferenciado que apresenta diversas facetas musicais. Sim, é isso mesmo que você leu: a Mulamba vem com concerto de novas músicas e novo álbum, já disponível nas plataformas de streaming.

Jovem Dionísio

Versatilidade, irreverência, peculiaridade e hits. Desta maneira, a também curitibana Jovem Dionísio vem conquistando cada canto do país (e Portugal!) com uma linguagem moderna e sonoridade que passeia entre o pop, o eletrônico e o rap. Uma verdadeira banda de amigos de colégio e de boteco de sinuca, com uma música que bate na alma de um público fiel e cada vez maior.

Acorda, Pedrinho!

É por isso que que neste sábado, todos os caminhos levam ao Fervo Saravá 2022. Serão, ao todo, dez horas de evento, cinco bandas maravilhosas e três lançamentos de discos recentes na ilha. Alguém quer ficar de fora disso? Mais informações oficiais sobre o evento (localização, acesso PCD, transporte, preços, horários, outras atrações artísticas, comprovante de vacinação) você tem ao clicar aqui.