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Exorcismo Sagrado

Heresias e blasfêmias servem de muleta para tentar chocar o público nesta trama que apela para várias referências ao clássico O Exorcista

Texto por Ana Clara Braga

Foto: Imagem Filmes/Divulgação

O que ainda pode ser produzido sobre exorcismo que ainda não foi feito? Quase 50 anos após a estreia do magistral O Exorcista, as possessões demoníacas continuaram a figurar nas telas de cinema. Os corpos, em sua maioria femininos, contorcidos, com vozes alteradas e falando em línguas são vilões comuns e por vezes assustam. Exorcismo Sagrado (The Exorcism of God, México/Venezuela/EUA, 2021 – Imagem Filmes) é um misto de referências e críticas à Igreja Católica mais uma enxurrada de cenas usadas com o intuito de chocar.

Na história, Padre Williiams (Will Beinbrink) é um clérigo americano no México que durante um exorcismo comete um terrível pecado ao ser possuído pelo demônio que tentava expulsar. Dezoito anos após o episódio, as consequências do passado voltam para aterrorizá-lo. As referências a O Exorcista inundam a tela pela fotografia e efeitos especiais. O icônico filme de William Friedkin continua como a maior e mais forte presença na filmografia sobre possessões. 

Exorcismo Sagrado já oferece um clímax em sua cena inicial. Apelando para o imaginário cristão, o filme utiliza-se de heresias e blasfêmias para fazer o público sentir medo. Sexualização, xingamentos, ataques à Igreja e suas figuras principais, invocação de demônios não são novidade e foram mais eficientes na década de 1970. O esforço para chocar cai por terra quando a vontade de assustar é maior do que simplesmente contar uma boa história.

Os corpos femininos, independente da idade, são personagens principais de filmes de exorcismo em sua grande maioria. Isso não é mera coincidência. Os relatos de possessões ao longo da História (sem entrar no mérito da veracidade) em sua esmagadora maioria envolvem mulheres. A sexualidade feminina, a menstruação, a geração da vida eram e ainda são vistos com olhares de mistério e terror. Seja no poder sobrenatural de Carrie ou na levitação de Regan, o sexo feminino é visto pela história e pela cultura como um braço do ocultismo. 

Esse filme do diretor Alejandro Hidalgo explora a imagem feminina até a última gota. Da sexualização ao enfeiamento por conta da possessão, as mulheres da trama são o ponto principal de visita dos demônios. Padre Williams também é possuído, mas suas feições não mudam drasticamente como das personagens femininas. Pode-se argumentar que é pelo tempo, mas até mesmo as moças que acabaram de receber o demônio no corpo já ficam automaticamente feias, enquanto os homens sofrem mínimas alterações na aparência. 

O ato final de Exorcismo Sagrado é seu pior momento. A sequência na prisão gera grande expectativa, mas se perde ao apostar grande demais. O espaço macro cansa ao oferecer lutas, perseguições e grandes confrontos. A batalha não deveria ser espiritual? Os problemas pessoais do padre também se arrastam e só são resolvidos na última parte. O que era para ser um anti-herói torna-se um personagem impossível de gostar.

Enfim, Exorcismo Sagrado é uma miscelânea de coisas já vistas e feitas. Até mesmo a clássica cena da silhueta sombreada em frente à casa é refeita. A temática pode ser batida, mas isso não significa que nada de novo possa ser dito ou até mesmo coisas antigas abordadas de maneiras inovadoras. O filme se apoia nas muletas do choque para tentar vender sua história. O imagético católico é denso e fornece um campo rico para o terror. Contudo, os espectadores do gênero querem mais do que as tradicionais blasfêmias.