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No Ritmo da Vida

Jovem enfrenta os dilemas da vida adulta enquanto alterna os cuidados com a avó e o passatempo de ser uma drag queen no interior canadense

Texto por Flavio Jayme (Pausa Dramática)

Foto: A2 Filmes/Divulgação

Existem alguns filmes que parecem feitos para os pequenos circuitos. Que dificilmente chegam aos grandes cinemas ou se tornam muito conhecidos.

Longe de ser um defeito, isso é uma qualidade que lhes dá uma liberdade e uma independência que filmes de grandes estúdios não têm. Longas como VivaSoloPrideTodas as Cores do Amor ou Hedwig, que conquistam o espectador mais pelo singelo que pelo megalomaníaco.

No Ritmo da Vida (Jump, Darling, Canadá, 2020 – A2 Filmes) é um destes filmes. Seu grande trunfo não é um elenco de famosos, um diretor conhecido ou efeitos especiais mirabolantes. Mas, sim, sua história. Aqui, Thomas Duplessie é um jovem que após terminar com o namorado preconceituoso decide partir para o interior do Canadá e passar um tempo na casa da avó. O grande dilema de Russell, no entanto, é que Russell não sabe bem o que quer da vida. E como quando a gente não sabe para onde vai qualquer caminho serve, ele acaba ainda mais perdido ao se ver em uma cidade minúscula sem poucas oportunidades de trabalhar como ator.

Enquanto cuida da avó doente, percebe que outras oportunidades podem se abrir e que seu passatempo como drag queen pode ser mais do que isso. Mas Russell está perdido. Entre um sermão da mãe e um sentimento de culpa por querer abandonar a avó, ele tenta se encontrar na bebida e no relacionamento com outros homens.

O pouco período que o rapaz passa com a avó lhe mostra como em alguns momentos precisamos nos afastar da situação para vê-la de outro ângulo e encontrar uma resposta que poderia estar bem à nossa frente. Russell amadurece e percebe que existe muito mais do que ele imaginava na vida. E que terá um longo (e às vezes doloroso) caminho pela frente na vida adulta. Mas… ser adulto é justamente isso!

No Ritmo da Vida levou prêmios em diversos festivais de cinema LGBT e é o primeiro filme dirigido por Phil Connell, além de ser um dos últimos trabalhos de Cloris Leachman, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por A Última Sessão de Cinema, de 1971. Sincero e honesto, o longa mostra como, às vezes, é mais difícil saber o que queremos realmente do que saber como atingir um objetivo.

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Tom & Jerry: O Filme

Clássicos personagens criados por Hanna-Barbera voltam aos cinemas e ganham um divertido longa-metragem para crianças de todas as idades

Texto por Ana Clara Braga

Foto: Warner/Divulgação

As produções com a assinatura Hanna-Barbera são responsáveis pela alegria de crianças de diversas gerações. Os desenhos produzidos pela dupla atravessam o tempo e não perdem o encanto até hoje. Tom & Jerry – feito em curtas-metragens para exibição nos cinemas entre 1940 e 1958, quando William Hanna e Joseph Barbera deixaram o estúdio de animação da Mtero-Goldwyn-Mayer para abrirem o seu próprio – é uma das criações mais famosas dos animadores. A clássica história de gato e rato já ganhou outras versões para a TV, foi readaptada para a telona nos anos 1990 e agora acaba de ganhar uma nova obra. Em longa-metragem. Para os cinemas, novamente. Por isso, Tom & Jerry: O Filme (Tom and Jerry, Reino Unido/França/Alemanha/EUA, 2021 – Warner) é divertido e nostálgico. O tipo de filme que consegue conquistar as crianças e os adultos e faz isso sem ideias mirabolantes. 

Chloë Grace Moretz estrela o longa como a inteligente Kayla, que consegue um emprego em um hotel de luxo mentindo sobre seu currículo. Tal hotel é o ponto central da história: é lá que Jerry, recém-chegado em Nova York, decide instalar sua nova casa. Quando o ratinho é descoberto, a moça fica responsável por se livrar do intruso. Como solução, ela contrata Tom para caçar e se livrar de Jerry. O gato de crachá e chapéu de uniforme, inclusive, rende um visual divertido.

Todos os animais do filme são de CGI. Quase todos também falam, com exceção dos principais. O buldogue Spike, presença cativa nos antigos desenhos da dupla, também está na história. Mais musculoso do que nunca, o cão adiciona bastante força à clássica nuvem de poeira durante as brigas. Os clássicos ingredientes que fizeram do desenho uma unanimidade entre crianças dos anos 1940 para cá aparecem na telona: ratoeiras, portinhas no rodapé, as engenhocas caseiras do Tom, perseguições, quebra-quebra, galos gigantes, choque e aquela surrealidade deliciosa das brigas. Quem gosta de animação vintage vai vibrar com a pequena ponta que outro ser canino, Droopy, faz neste longa. Apesar de minúscula, ela é capaz de arrancar risadas. 

O enredo é simples. Não precisava ser diferente. O divertido, o que entretém, muitas vezes não precisa de um caminhão de mudanças. A reinvenção é importante, sim, mas existem clássicos que são atemporais. O diretor Tim Story soube aproveitar os pontos positivos do desenho e trazer a dupla para o século 21. A tecnologia entra aqui para somar na vida do gato e do rato. E a contemporaneidade lhes cai bem.

O longa não prima pela excelência, nem será algo que marcará profundamente o ano no cinema. Contudo, existe a ciência disso. Tom & Jerry: O Filme não procura ser o novo Uma Cilada para Roger Rabbit, que há pouco mais de trinta anos revolucionou a linguagem cinematográfica para adultos misturando animação e live action. O gato e o rato protagonizam um filme para eternas crianças. Não se leva a sério e diverte o público de todas as idades sem muito compromisso.