Music

Madonna

Oito motivos para não conter a ansiedade e ficar contando as horas até o início do megaespetáculo A Celebration Tour na praia de Copacabana

Texto por Abonico Smith

Fotos: Reprodução/Live Nation

O próximo sábado vai marcar uma data especial da música pop de todos os tempos: Madonna, enfim, subirá à megaestrutura de palco montada nas areias e Copacabana para fazer o maior show não só de toda a sua carreira como da história da música pop. A estimativa de público para a noite de 4 de maio pode chegar até dois milhões de pessoas naquela que é uma das praias mais conhecidas de todo o mundo.

Esta será a única escala do atual turnê de Madonna não apenas no Brasil mas como em toda a América do Sul. A Celebration Tour começou seu giro em Londres. Depois passou por outros países do centro-oeste europeu, Estados Unidos, Canadá e México. Entre 14 de outubro do ano passado e o último 26 de abril foram 80 apresentações realizadas. Cinco datas acabaram canceladas por motivos de logística e agenda. A princípio nosso país não estaria incluso na agenda, mas uma negociação com grandes atrativos de infra-estrutura e grana bancada por um banco gigante acabou colocando, meio que de última hora, o Rio de Janeiro no encerramento e todo o cronograma. Algo perfeito para um espetáculo que celebra a majestade adquirida pela cantora e compositora em quatro décadas de carreira. Desde seus primeiros videoclipes veiculados pela MTV até hoje, a soberania de seu reinado musical (e extramusical também) é incontestável.

O Mondo Bacana antecipa o concerto dando oito motivos para você não conter a ansiedade e ficar contando as horas até o início da apresentação neste próximo sábado. O objetivo aqui não é falar apenas da suprema importância da Madonna Louise Ciccone como artista e ícone pop, mas sim no que isso se cruza com os detalhes e particularidades as quase duas horas e meia deste concerto, que se estabeleceu como o maior e todos os megashows de um só artista em toda a História.

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O maior espetáculo de todos os tempos

Não é exagero, nem empolgação. Basta uma rápida olhada nos números para se convencer disso. Cachê de 9 milhões de dólares e produção orçada em 60 milhões de reais. Três aviões de carga trouxeram ao Rio de Janeiro a popstar, sua trupe e o equipamento de 270 toneladas 45 baús de figurinos e adereços. Fazem parte da equipe oficial de Madonna 200 pessoas e 90 quartos foram ocupados no Copacabana Palace, cabendo à estrela a suíte do último andar, com piscina privativa e mordomo à disposição 24 horas por dia. Três academias e cinco salões foram disponibilizados pelo hotel para treinos e ensaios. O palco montado na praia terá 812 m2, o dobro do tamanho daquele que foi normalmente utilizado durante a turnê mundial. Foram espalhados pela faixa de areia de Copacabana 16 torres de som e 15 telões de led. Para garantir a visão das pessoas, a altura do palco será de 2,4 metros do chão. A economia do Rio prevê 300 milhões de injeção por parte de 150 mil turistas, que ocupam quase 100% da rede hoteleira da cidade. Quatro mil pessoas estão envolvidas na produção nacional do espetáculo. A Polícia Militar contará com 3,2 mil agentes para garantir a segurança, mais 12 câmeras de reconhecimento facial, 64 viaturas, quatro drones e 65 torres de observação.

Transmissão simultânea ao vivo

Você tem pavor de multidão ou não pode, por algum motivo, estar no Rio neste sábado? Não tem problema. A Rede Globo vai transmitir ao vivo e na íntegra a passagem d’A Celebration Tour por Copacabana, a partir das 21h45. O antes e o depois do show em si também poderão ser acompanhados em tempo real pela Globoplay (com sinal aberto para não assinantes) e o canal Multishow. Três das quatro cotas de patrocínio,orçadas em 17 milhões de reais já haviam sido vendidas pela emissora até o começo desta semana. Claro que o banco que financiou tudo isso é uma delas.

Revisionismo da carreira

Claro que todos estes números superlativos não foram obtidos ao acaso. Madonna soube construir uma carreira fonográfica gloriosas a partir de 1983 e a turnê, iniciada em outubro de 2023, celebra justamente todas estas quatro décadas recheadas de hits nas paradas não só dos Estados Unidos como também dos quatro cantos do planeta. Entre as marcas alcançadas por ela estão a de nome feminino que mais vendeu álbuns e singles em todos os tempos (ficando atrás na colocação apenas de Elvis Presley, Beatles e Michael Jackson); a popstar com o segundo, o terceiro e o quarto videoclipes mais caros de todos tempos (“Die Another Day”, “Express Yourself” e “Bedtime Story”), o que significa uma trinca de apostas milionárias em um tempo em que grandes gravadoras jorravam muita grana para produzir estas peças musicais publicitárias); a artista internacional que mais vendeu no mercado fonográfico brasileiro (3,6 milhões de cópias, com certificado emitido em 2021 pela Pró-Musica Brasil (antiga Associação Brasileira de Produtores de Discos); e a cantora que mais emplacou músicas no Top 40 da Billboard norte-americana em todos os tempos (foram 44 no total). Por tudo isso, é mais do que merecido que a celebração destes 40 anos de sucesso tenha um repertório longo, que celebre boa parte das canções históricas escritas e gravadas por Madonna. Claro que não dá tempo de entrar todas elas, mas para isso armou-se uma solução criativa: várias da músicas que não são entoadas pela cantora no palco aparecem brevemente citadas nos arranjos de outras e alguns interlúdios entre os sete atos que dividem a programação d’A Celebration Tour. Por isso, espere ouvir de quase um tudo que você mais conhece de Madonna, nem que seja só um pequeno e quase irreconhecível trechinho remixado e emendado em outras coisas.

Presente x passado

Desde 1983 você se acostumou a ver várias Madonnas em ação. Diferentes no figurino, nos cabelos, nas letras da músicas, nos videoclipes. Nada mais normal do que a celebração revisionista deste extenso e diversificado passado a colocasse ali, no palco, frente a frente com um certo toque de ficção científica. Algumas vezes a Madonna de hoje se conecta e encontra com aquela de ontem. Não apenas em imagens e vídeos projetados telões e nas roupas utilizadas no decorrer da apresentação, mas também “pessoalmente”. Chama muito a atenção o momento em que a popstar é beijada e sexualmente tocada por uma bailarina fantasiada de Madonna da virada dos anos 1990, aquela de aplique de grande rabo de cavalo loiríssimo e sutiã de cone assinado pelo estilista Jean Paul Gaultier. Mas também tem a transgressiva jovem das roupas justas e rendadas do início de carreira, a fase country do início dos anos 1990, a pegação geral dos tempos de Erotica e do livro Sex

“Live To Tell”

Na hora desta balada, um dos grandes hits radiofônicos de True Blue (1986), o terceiro álbum da cantora, Madonna se prende a uma barra de ferro e, dentro de uma cabine sem vidros, faz um grande voo panorâmica por sobre as cabeças de seus fãs. Ela sai do palco justamente para que o grande momento ocorra nele, com os telões gigantescos mostrando retratos em preto e branco de personalidades e amigos pessoais que faleceram em decorrência da aids. No primeiro grupo estão os cantores Freddie Mercury e Sylvester. No segundo, o fotografo Herb Ritts, o professor de dança Christopher Flynn, o designer Martin Burgoyne e o grafiteiro Keith Haring. Para a apresentação em Copacabana, a produção brasileira sugeriu ao estafe da cantora a inclusão de ícones nacionais como Betinho, Renato Russo e Cazuza. Madonna sempre foi uma incansável batalhadora pela propagação de informações a respeito da prevenção da doença e tudo mais que a cercava. No encarte do álbum Like a Prayer (1989), fez questão de publicar uma enorme cartilha a respeito do vírus HIV. Na subsequente turnê mundial Blond Ambition (1990), três dos seus sete bailarinos haviam sido diagnosticados com aids. Os grandiosos painéis somados à letra de “Live To Tell” emocionam até os corações mais empedrados. Afinal, a canção trata justamente da terrível experiência de passar por uma situação bastante difícil e sobreviver para poder conta-la depois. As pessoas mostradas neste momento de A Celebration Tour não tiveram esta chance.

“Vogue”

Na virada dos anos 1990, Madonna lançava em single uma de suas faixas mais famosas. Inspirada por uma dança famosa no underground gay de Nova York, em que os movimentos sugeriam poses fotográficas (daí o nome, retirado da famosa revista sobre moda e estilo e vida), a música tornou-se sucesso mundial por causa da alta rotação nas MTVs espalhadas pelos quatro cantos do planeta e seu estiloso videoclipe em preto e branco. A direção da obra era celebrado fotógrafo fashion David Fincher, que anos depois migraria para o cinema e acabaria se tornando um dos nomes mais cultuados de Hollywood neste século 21. No palco da atual turnê, Madonna recria o clima de improviso e diversão das pistas de dança de onde nasceu a vogue dance. É a deixa para criar um suposto concurso entre seus bailarinos e chamar celebridades para participar da encenação como jurados. No México, a atriz Salma Hayek participou caracterizada como Frida Kahlo. Em Nova York, Ricky Martin estava lá no palco distribuindo nota dez. No Rio, será vez de Pabllo Vittar.

Presença de Anitta

O mais recente álbum de estúdio de Madonna, Madame X (2019), concebido já com a popstar morando em Lisboa, trazia a participação especial da brasileira em uma faixa de nome em português (“Faz Gostoso”). Agora as duas estarão reunidas em um mesmo palco. Não se sabe ainda se haverá algum dueto, se Anitta cantará, dançará ou fará outra coisa. Isso ainda está sendo mantido em segredo, embora especule-se que também ocorra durante o “concurso” da música “Vogue”. Só vazou até agora uma condição imposta pela anfitriã: a aprovação prévia do figurino da convidada, algo bem normal por causa da conhecida rigidez da norte-americana em relação a todos os figurinos de seus concertos, clipes e fotografias desde sempre.

Prince e Michael Jackson

Tudo culpa da MTV. Se não fosse a emissora especializada em veicular videoclipes lá nos meados dos anos 1980, Madonna, Michael Jackson e Prince não teriam se tornado a santa trindade da música pop de todos os tempos. Os três foram os primeiros artistas a personificação a equidade da importância entre som e imagem para construir uma carreira sólida perante jovens e adolescentes. Quatro décadas se passaram, o consumo do videoclipe mudou bastante por causa da internet 2.0, a Music Television persiste até hoje mas trocando a música pelos reality shows e os dois “amigos” de Madonna morreram de forma precoce e inesperada. Nada mais justo do que a cantora, no show que celebra os 40 anos de sua carreira fonográfica, renda as devidas homenagens a ambos. A deidade púrpura é citada durante um solo de guitarra enquanto o eterno menino dançarino aparece em um belo duelo de sombras ao som de “Billie Jean” e “Like a Virgin”.

Movies

Rocketman

Musical surrealista aborda os intensos conflitos por trás da persona que tornou-se astro do rock sob o nome de Elton John

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Texto por Leonardo Andreiko

Foto: Paramount/Divulgação

O nicho das cinebiografias sofreu um baque recentemente, pro bem ou pro mal, com Bohemian Rhapsody. Dexter Fletcher, o diretor chamado para apagar o incêndio de Bryan Singer no “filme do Queen”, também é responsável pela realização de Rocketman (Reino Unido/EUA, 2019 – Paramount), a ficção em torno da história do cantor e compositor Elton John. Talvez por isso os filmes compartilhem muitas similaridades.

A estrutura narrativa é, de certa forma, muito parecida. Elton conta sua história para um grupo de reabilitação, rememorando situações boas e ruins de sua trajetória. A infância difícil, o estrelato meteórico e o abuso de drogas e sexo são grandes temas da trama, todos tratados com maior densidade do que em Bohemian Rhapsody. Ainda assim, as comparações desta resenha não passam daqui – Rocketman é uma obra completamente independente de Bohemian Rhapsody e deve ser tratada como tal.

O surrealismo com o qual Fletcher trata a construção de camadas do filme é uma surpresa ótima. Artista e plateia flutuando; extensas e bem coreografadas cenas musicais; devaneios em tela, quase como alucinações. Estes são meros exemplos, dos quais o mais divertido é, por sua metalinguagem, Elton John transformando-se num foguete. Desta forma, o longa se propõe a adentrar a história do astro tornando clara sua capacidade ficcional – a inspiração na vida dele não faz deste um filme puramente factual. Assim, o roteiro de Lee Hall tem maior abertura para seu dinamismo. Hall trafega por diversos momentos da história de Elton, explorando principalmente a relação entre astro e mero humano (Reginald Dwight, seu eu anterior à fama), com fluidez. Ainda assim, o filme parece por vezes ter pressa em alcançar seu ponto de maior conflito, o fundo do poço do artista, ainda que funcione.

O principal vetor, no entanto, que conecta os episódios temporais do longa com eficiência é seu elenco, com atuações de tirar o chapéu. Matthew Illesley e Kit Connor interpretam Reggie em sua infância e pré-adolescência, ambos satisfazendo o personagem, mesmo com pouco tempo em tela. Resta a Taron Egerton transmitir os traços mais desafiadores de Reginald/Elton. E ele o faz com maestria. Sua ótima atuação torna-se ainda melhor quando contracena com Jamie Bell (que interpreta brilhantemente o parceiro letrista Bernie Taupin injetando camadas de maneira muito verossímil) ou com Richard Madden (que performa o subaproveitado empresário/namorado John Reid, extraindo do personagem um vilão satisfatório). Bryce Dallas Howard e Gemma Jones, o núcleo familiar do filme (fazem a mãe e avó de Reggie, respectivamente), também entregam majestosamente suas personagens.

Porém, por conta da já mencionada inquietação do roteiro, o longa-metragem é musical demais e, evitando comparações, torna-se cansativo ao apresentar montagens “inventivas” somente para avançar a trama temporalmente. Ou seja, existem poucos momentos de diálogos entre uma peça musical e outra – todas as montagens citadas são mescladas nelas. Claro, a música é de Elton John, o que torna o ritmo repetitivo menos entediante.

Rocketman insiste em apresentar o lado humano de Elton John (ou o Reginald Dwight por trás da persona criada pelo astro), transparecendo todas as facetas do personagem em suas duas horas de duração. Seu protagonista borra a linha cinza entre o certo e o errado, fato que o filme entrega sem moralismo algum. Dessa forma, a excelente trilha sonora embala a apressada história, que por sua vez se sustenta pela majestosa atuação de todo seu elenco, acompanhada de uma boa dose de surrealismo, para desprender o filme de seu inspirador. Ficção é ficção. A “história como de fato aconteceu” não protagoniza nem documentários, quem dirá este Rocketman.