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Pato Fu – ao vivo

Celebração de 30 anos de carreira mostra a arte do grupo de se multiplicar em diversas e absurdas identidades de si mesmo

Texto e fotos por Abonico Smith

Existe um desenho de Hanna-Barbera, lançado em 1966, chamado Impossíveis. Nele, três músicos de uma banda de rock que faz muito sucesso, de vez em quando, transformam-se em super-heróis para salvar as pessoas de terríveis ameaças vilanescas. Todos possuem um alter ego: Homem-Mola, Homem-Fluido e Multi-Homem. Este último tem como superpoder a capacidade de se multiplicar em várias cópias de si mesmo para confundir o inimigo, que pode até destruir uma ou outra criatura nunca consegue pegar a original. Dos três também é ele quem mais se assemelhava a um instrumentista de banda dos anos 1960, por ser o mais desligado e desgrenhadamente cabeludo dos três.

No mundo do rock mas fora do universo cartunesco, há dois bons exemplos de quem também toca instrumentos e prima pelo poder da multiplicação. Um deles é limitado, reduzido a um único videoclipe. Em “The Hardest Button To Button”, o White Stripes se reproduz em vários a cada tempo da batida da música, utilizando ainda a tridimensionalidade de um cenário externo para realçar o psicodelismo do audiovisual. Já o outro nome não faz isso apenas para osnossos olhos, mas sim na questão da estética sonora. E com duração de diversos videoclipes, mais do que uma dezena de álbuns e três décadas ininterruptas de carreira.

Este nome é o Pato Fu, umas das bandas que cravou a cidade de Belo Horizonte no mapa do mainstream do rock nacional durante os anos 1990. E desde então foi construindo uma trajetória sólida, sempre seguindo uma máxima interna: sempre procurar por novos caminhos no disco subsequente. Assim não só se evitou o comodismo, a rotina e a repetição que têm grande risco de surgir durante a estadia na zona de conforto. Assumir riscos, procurar outras sonoridades e se transformar em um Pato Fu diferente a cada trabalho foi justamente o que garantiu a sobrevivência do incialmente trio, por um bom tempo quarteto e hoje quinteto. Longe de significar uma esquizofrenia relacionada a distintas identidades que não dialogam entre si, este constante desafio transformou o grupo em uma bela instituição de repertório, capaz de criar ao longo dos anos diferentes opções de espetáculos (trilhas sonoras, a banda que flutua entre o pop e o alternativo, o Música de Brinquedo) e garantir um séquito fiel de fãs capaz não só de comprar a proposta da variedade como também embarcar junto com os integrantes em viagens no melhor estilo quanto mais absurdo melhor.

Na noite de 30 de setembro, foi a vez do Teatro Guaíra, em Curitiba, receber o espetáculo que celebra as três décadas de Fernanda Takai (voz, guitarra e violão), John Ulhoa (guitarras e vocais), Ricardo Koctus (baixo e voz) e Xande Tamietti (bateria) e Richard Neves (teclados). A turnê passeia pelo Brasil como um dos atrativos elaborados para este momento especial. Dois discos (um álbum de inéditas e um EP ao vivo no estúdio) já estão devidamente disponibilizados em streaming e ainda vêm mais novidades por aí. Enquanto isso o grupo gira por aí pinçando um pouco de cada disco (uns com mais faixas incluídas no set list, outros com menos) e levando a novos e velhos fãs um pouco do que de melhor fez de 1992 para cá. A sonoridade é a de banda. Muitas canções, portanto, aparecem ligeiramente modificadas, já que os álbuns iniciais ainda tinham uma boa carga de programações e batidas eletrônicas, fornecidas outrora pelos 128 japoneses que acionados por meio das traquitanas comandadas por John.

Durante o passeio de uma hora e meia e 25 canções, ficou mais do que claro que do Pato Fu você pode esperar tudo. Mas tudo mesmo. Parte de um set que abandona alguns hits radiofônicos/emetevísticos em prol de b-sidescultuados. Aparacem também alguns covers (Mutantes, Graforreia Xilarmônica, Legião Urbana) que, com maestria e personalidade, ganham um novo revestimento que se metamorfoseia em identidade de Fu e se encaixa no multiverso sonoro do grupo. Dá para esperar também que os mineiros sejam capaz de tirar da manga uma carta (ou melhor, uma música) pela qual ninguém, absolutamente ninguém da plateia espera que seja tocada.

set list começou com ótimos exemplares daquele Pato Fu lá do início, antes mesmo do primeiro contrato para lançar um disco. “Spoc” estava presente na primeira demo tape do então trio e já escancarava as esquisitices de Fernanda, John e Ricardo: pérola pop em compasso ternário, citando os protagonistas de um dos seriados mais cultde todos os tempos (Star Trek, mais precisamente um episódio em que a ética no trabalho era abordada) e tendo uma só uma estrofe, longa e cantada em francês e português, mais refrão minimalista em que cabe até o cacarejo de galináceos. Desde o início, com arroubos ousadia e perfeição, provava-se que tudo, de fato, cabia no Pato Fu.

Na sequência veio “O Processo de Criação Vai de 10 a 100 Mil”, o primeiro videoclipe, faixa gravada no primeiro álbum. Groove irresistivelmente dançante, refrão pegajoso (que falava em ficar pulando alguns anos antes de Sandy & Junior!) e o início do diálogo entre som e imagem, algo no qual viria a ser uma especialidade da banda ao longo de sua trajetória. Enquanto os instrumentistas tocavam em cima de uma base eletrônica no palco, o telão começava a desfilar, simultaneamente, os clássicos clipes produzidos pelos Fus, lembrando o tempo em que o mercado fonográfico nacional ainda procurava aliar qualidade criativa à estética rock’n’roll no audiovisual televisivo.

“Sobre o Tempo”, a primeira faixa emplacada em playlists radiofônicas, completou a trilogia “raiz” que abriu a noite servindo como um espécie de passagem filosófica para o que viria depois: a alternância entre os lados A e B do Pato Fu, o diálogo entre boas faixas “escondidas” no meio dos discos lançados e ouvidos de cabo a rabo pelo fãs e um punhado de sucessos de um grupo mineiro que soube conviver pacificamente entre o underground e o mainstreamdo rock nacional. Nestas três décadas, como uma espécie de profecia de parte do que estava ali na letra daquele primeiro grande hit, o tempo mostrou que correu macio, zunindo como um novo sedã, bem amigo e ainda longe de um final para derrubar a banda.

Na segunda categoria, foram desfiladas canções como “Antes Que Seja Tarde” (início de parcerias bem sucedidas do grupo com o estilista Ronaldo Fraga e o diretor Hugo Prata, com videoclipe fofo misturando ares góticos com a comédia dell’arte), “Depois” (letra fofinha de interpretação aberta – que inclui a possibilidade de abertura de relacionamento ou a chegada de um filho para o casal – casada com um divertido vídeo de terror trash, com direito a neve fake e urso bípede sanguinário), “Ando Meio Desligado” (gravada para a abertura de uma novela das sete da Globo), “Eu” (clássico subterrâneo do rock gaúcho popularizado pelos mineiros por meio de um divertido clipe premiado no VMB), “Canção Pra Você Viver Mais” (presente composto por John como uma espécie de homenagem ao pai de Fernanda), “Anormal” (versos pop de puro romantismo cujas imagens foram pioneiras no uso do equipamento de motion caption aqui no Brasil), “Perdendo Dentes” (reflexões filosóficas em formato de música pop suave), “Made In Japan” (irresistível blend de Muppets Show, versos escritos em japonês, seriados nipônicos com robôs, letra absurdamente sci-fi e vídeo 100% digital) e “Eu Sei” (homenagem groovy aos ídolos da Legião Urbana, que acabaram virando fãs dos Fus).

Com o resto do repertório nem deu para sentir falta de pérolas que ficaram de fora da noite, como “Por Que Te Vas”, “A Necrofilia da Arte”, “Sítio do Picapau Amarelo”, “Qualquer Bobagem”, “Pinga”, “Mamãe Ama é o Meu Revólver” ou “Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié”. Clássicos gravados (sejam autorais ou as releituras bem particulares) são o que não faltam para os Fus, afinal. “Água”, “Simplicidade” e “Licitação”, por exemplo. Todos com letras primorosas. A primeira é um belo exemplar de uma época em que novas bandas brasileiras buscavam renovar o rock cantado em português misturando sotaques, ritmos e tonalidades regionais desse extenso país (“Nóis mora aqui no poeirão/ E existe todo dia uma hora da noite/ Em que um trem no meu peito me diz/ A água um dia vai cair/ Lá do céu azulzim/ E com certeza vai estar/ Molhadinha/ E aqui vai virar um lamão/ E nessa hora eu não quero nem saber”). Para completar, o som rolava enquanto o telão mostra as imagens da banda virando desenho animado em 2D, caindo pelos precipícios e correndo por estradas dos cânions feito um papaléguas. A segunda, um pouco mais recente, vai além no olhar para dentro do país: é uma canção sertaneja de raiz que, ao vivo, despida dos vocais mecanicamente robotizados da gravação do disco, ganhou ainda mais charme e beleza (“Vai diminuindo a cidade/ Vai aumentando a simpatia/ Quanto menor a casinha/ Mais sincero o bom dia/ Mais mole a cama em que durmo/ Mais duro o chão que eu piso/ Tem água limpa na pia/ Tem dente a mais no sorriso/ Busquei felicidade/ Encontrei foi Maria/ Ela, pinga e farinha/ E eu sentindo alegria/ Café tá quente no fogo/ Barriga não tá vazia/ Quanto mais simplicidade/ Melhor o nascer do dia”). Já a terceira escancarava lá atrás a veia crítica e politizada de uma banda que, mais recentemente, nunca teve medo de se posicionar publicamente de demonstrar sua insatisfação com o desgoverno que tomou conta do Brasil (“Vamos errar português/ Vamos eleger um bundão/ Vamos votar em quem roubou mas fez/ Pena de morte para os linchadores, ou não?/ Já que a polícia não faz nada/ O menininho da calçada/ De dia dou moedinha/ De noite eu dou porrada”).

Ainda tinha mais delícias reservadas para o set list. “Vida Imbecil”, também de letra sertaneja, já pregava quase a mesma simplicidade dez anos antes de “Simplicidade”, desta vez com um quê de electronica. “Menti Pra Você Mas Foi Sem Querer”, funk a la Jovem Guarda, foi a cota do set list para as músicas feitas por Rubs Troll (ex-colega de John no Sexo Explícito, banda do guitarrista antes do Pato Fu). “Gol de Quem?” (punk rock tradicional de versos nonsense) e “Cego Para as Cores” (agora sobre uma coisa bem séria: como sair do “buraco mental”). Como se vê, várias cópias distintas de uma mesma essência.

Como ali no palco do Guaíra estavam pessoas que gostam de celebrar o passado sem deixar de continuar olhando para o futuro, era claro que o grupo não deixaria de tocar obras de sua safra mais nova – as quatro primeiras faixas incluídas no novíssimo álbum 30. Três delas (“Fique Onde eu Possa Te Ver”, “No Silêncio”, “Diga Sim”)  representam uma faceta mais calma, macia do Pato Fu. Foram feitas durante a pandemia, servem como um respiro para tempos pesados aos quais fomos submetidos recentemente. Tratam sobre isolamento, saudade, tentativa de escape da depressão. Coisa séria e bem sentimental. A outra, no entanto, é uma pedrada. Representa o lado temático mais pesado do novo disco: o politizado. “Silenciador” é curta e rápida como um tiro certeiro. Aborda a questão das novas religiões pentecostais, que se incluem no espectro do cristianismo, mas pregam a intolerância, o preconceito e a violência contra o próximo que não se encaixa dentro de certas normas falsamente validadas por Deus – que, no caso da letra de “Silenciador”, fala pelo cano do revólver. Sombria, assustadoramente arrepiante, caiu como uma luva escalada para a volta da banda para o bis. Começa sem qualquer aviso, termina como uma bala.

Por fim não tem como não deixar de falar sobre duas faixas que nunca deixam de estar presentes em qualquer showdos mineiros. Ambas bastante queridas e cultuadas pelos fãs e que só poderiam ter sido criadas e lançadas por eles – não cabe a qualquer outro artista tentar regravá-las, seja respeitando os arranjos originais ou subvertendo-os. Não dá. “Capetão 66.6 FM” e “Rotomusic de Liquidificapum” são 100% Pato Fu e tão apenas Pato Fu. Ponto final.

“Capetão” é a mais sincera homenagem dos Fus à Cogumelo, selo belo-horizontino especializado em bandas de metal e que lançou discos e nomes cultuados como Sarcófago, Overdose e Sepultura e, assim, colocou a cidade no mapa-múndi dos sons pesados. A música imita uma pessoa que vira o dial à procura de música boa e acaba parando em uma emissora tomada pelo capeta, o bichinho de estimação alimentado pela pessoa que protagoniza os versos. Ao vivo, faz a plateia liberar seus demônios e gritar guturalmente junto com Fernanda, que faz o contraponto entre a fofurice e a possessão. Curiosidade: ela e Ricardo cantam as partes que no disco ganharam as vozes de John e André Abujamra – coautor dessa loucura toda que, não por acaso, encerra a parte do set list antes do bis, chegando coladinha a “Made In Japan”.

A Cogumelo, aliás, bancou o primeiro álbum do Pato Fu, que ganhou o nome da faixa que encerra em definitivo as performances desta turnê. “Rotomusic de Liquidifcapum” virou tão significativa e tão sinônimo de que tudo pode (e se encaixa perfeitamente) dentro da proposta sonora da banda que acabou por batizar o selo próprio criados por eles no meio do percurso, o Rotomusic. Colagem de ritmos que muda algumas vezes do hard rock cantofalado a laAerosmith à polca e vice-versa, acelera e desacelera o andamento e depois acaba por derivar para canção natalina, citação do Kiss, tema dos Flintstones e… musiquinha infantil falando em morte, assassinato e psicose.

Depois disso tudo não tem como continuar mais nada. É e sempre representará os Fus chegando a seu ápice de criatividade, maluquice e identidade múltipla. Daí só fazendo como o Multi-Homem dos Impossíveis depois de se multiplicar, lutar e vencer o vilão. Ele tira o uniforme rubro-negro de super-herói impossível e volta à sua identidade de gente normal, o ruivo Multy do dia a dia. Tal qual Fernanda, John, Ricardo, Xande e Richard o fazem quando se dirigem ao camarim para não mais retornar ao palco.

Set list: “Spoc”, “O Processo de Criação Vai de 10 a 100 Mil”, “Sobre o Tempo”, “Água”, “Antes Que Seja Tarde”, “Licitação”, “Depois”, “Menti Pra Você Mas Foi Sem Querer”, “Ando Meio Desligado”, “Diga Sim”, “Vida Imbecil”, “Eu”, “Fique Onde Eu Possa Te Ver”, “Gol de Quem?”, “Canção Pra Você Viver Mais”, “No Silêncio”, “Simplicidade”, “Cego Para as Cores”, “Anormal”, “Perdendo Dentes”, “Made In Japan” e “Capetão 66.6 FM”. Bis: “Silenciador”, “Eu Sei” e “Rotomusic de Liquidificapum”.

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Built To Spill – ao vivo

Em Belo Horizonte, Doug Martsch leva os fãs ao delírio tanto em show solo acústico quanto acompanhado por sua banda na noite seguinte

bult to spill 2018 minas

Texto e foto por Douglas Dickel

Com 26 anos de carreira, o Built To Spill, banda americana do estado de Idaho, veio ao Brasil pela primeira vez, com passagem por Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo neste começo do mês de novembro. Na capital mineira, o show teve dois atos. O primeiro foi na quarta-feira, dia 7. Foi uma apresentação acústica de Doug Martsch, que é compositor, vocalista, guitarrista e “dono” do BTS. O cenário? Do Ar, um bar novo que fica em uma casa antiga de dois andares, com vários cômodos e um belo pátio com uma piscina vazia coberta por uma rede com almofadas. Como abertura, a banda Valv também tocou músicas suas com voz e violão.

O segundo ato, no dia seguinte, foi com o Built To Spill propriamente dito, no Automóvel Clube de Minas Gerais. O clube é um dos mais tradicionais da cidade, com estilo de teatro clássico, incluindo lustres luxuosos e uma placa registrando a presença, em 1931, do pai da rainha Elizabeth II, o Príncipe George. O evento era o festival Música Quente – promovido pelo coletivo belorizontino Quente, que atua como selo e produtora. Nesta noite também se apresentaram as brasileiras Young Lights, Câmera, Metá Metá e Rakta – sendo que as únicas (incluindo o Valv) com músicas cantadas em português foram as duas últimas.

A primeira apresentação, no Do Ar, permitiu ver de perto o já quase cinquentão Martsch pintando no ar as doces melodias de sua voz aguda, com uma suave rouquidão de quem está cantando calmo, para um público intimista. Ele é tímido para aplausos. Mesmo sentado, mexe-se com intensidade e maciez para tocar seu violão, com ênfase em dançantes cabeça, boca e pernas. As pessoas presentes observaram a performance em silêncio de deleite e respeito. Podemos dizer que a noite foi de um show gracioso, com direito a cover de “Ashes To Ashes”, de David Bowie; “Harborcoat”, do REM; e “Civilian”, do Wye Oak – esta com a voz de uma sortuda convidada, Isabela Georgetti.

No Automóvel Clube, a formação que subiu ao palco foi um trio, mas a solidão da guitarra de Martsch foi um problema para o ouvido dos fãs. Faltou a guitarra que dedilhava ou que fazia uma base para os solos do líder. A formação variou, desde a criação do grupo, inclusive quanto ao número de integrantes, sendo que o mais comum foram quatro músicos – com dois guitarristas (Doug e mais um). Outro ponto negativo foi a acústica do local. Havia eco e o som estava abafado, talvez como consequência de o palco ser baixo, o que também dificultou a visualização do show pelo público. Mas esses dois problemas, claro, foram perdoados. Afinal, ali estava o Built To Spill, e Doug Martsch parece ser uma pessoa amável e apaixonada pela música.

O grande sucesso “The Plan” aqueceu a plateia. Mas a primeira música que realmente enlouqueceu os fãs foi “Carry The Zero”, fazendo o público cantar em coro e fazendo uma horda de braços empunhar celulares para gravar a canção em vídeos. Já para a minha memória emocional, o primeiro arrepio veio em “I Would Hurt a Fly”, do trabalho de 1997, Perfect From Now On, o primeiro lançado por uma grande gravadora, a Warner, que possibilitou a produção necessária para que os discos fossem “perfeitos dali para diante”. Também desse impecável álbum, primeira faixa, a banda tocou, no bis, “Randy Described Eternity”, uma ventania de energia em forma de ondas sonoras, voz e guitarra formando juntas um grande sopro mágico.

“Liar” também foi bastante celebrada quando apareceu no set list. Um magrinho cabeludo, talvez o mais enfático admirador da banda presente nos dois dias, saiu correndo e gritando em direção ao palco nesse momento. Eu havia trocado algumas palavras com ele na noite anterior. O amigo, que disse estar numa pior por causa do fim de um relacionamento, queria muito ouvir “Liar”. Então, quando o trio começou a tocá-la, ele foi à forra.

“Goin’ Against Your Mind”, música de 2006, foi unânime nos pedidos da plateia, mas não chegou a entrar no repertório da banda em Minas, talvez pela questão do número de guitarras. “You Are” é um hit que eu achei que ouviria, só que também não apareceu.

Built To Spill talvez tenha sido, entre as minhas bandas de predileção afetiva, uma daquelas que eu pude ver mais de perto, fora de eventos gigantescos. Outro presente que 2018 me trouxe foi o show solo do Lee Ranaldo que presenciei no Teatro da Unisinos (Porto Alegre), em agosto. Curiosamente, houve dois atos também, sendo que o primeiro foi uma sessão de autógrafos e uma pequena conversa no Agulha, que funciona como bar e casa de eventos, num antigo galpão industrial. Este foi um bom ano musical, apesar da política.

Set list 07.11: “Window”, “Gone”, “Dream”, “Offer”, “When Not Being Stupid Is Not Enough”, “Planned Obsolescence”, “Fling”, “Rock Steady”, “Ashes To Ashes”, “Tomorrow”, “Alright”, “Else”, “Until Tomorrow Then”, “Good Enough”, “Understood”, “Fool’s Gold,”, “Harborcoat”, “True Love Will Find You In The End”, “The Weather”, “Civilian” e “Liar “.

Set list 08.11: “Three Years Ago Today”, “In The Morning”, “The Plan”, “Hindsight”, “Living Zoo”, “Time Trap”, “So”, “Reasons”, “I Would Hurt A Fly”, “Some Other Song”, “Strange”, “Kicked It In The Sun”, “Carry The Zero”. Bis: “Liar”, “Randy Described Eternity” e “Car”.