Documentário procura colocar os pingos nos is ao revelar a intimidade e o amadurecimento pessoal da megaestrela da música pop
Texto por Ana Clara Braga
Foto: Netflix/Divulgação
Ela apareceu para os holofotes em 2006 como uma romântica cantora country. Aos poucos foi se consolidando como a mais nova princesinha da América (branca, loira, alta e de olhos azuis). Em meio a músicas de sucesso, prêmios, namoros públicos e polêmicas muito especulou-se sobre sua verdadeira personalidade. E agora, em Miss Americana (EUA, 2020 – Netflix), Taylor Swift coloca os pingos nos is.
O documentário dirigido por Lana Wilson é o mergulho mais profundo já feito na vida e na mente de uma das personalidades mais famosas no mundo. Embora em suas canções Taylor nunca tenha tido medo de expressar seus sentimentos, pouco se sabia o que acontecia quando as cortinas se fechavam. Conhecida por ser bastante cuidadosa com sua imagem, a popstar passou anos tentando controlar a própria reputação ao se encaixar nos moldes do que os outros queriam que ela fosse.
Logo no início do documentário, a artista afirma que sempre sentiu a necessidade da aprovação de terceiros e isso influenciou para tornar-se a eterna “garota boazinha”. Não reclamar, não se revoltar, ser sempre agradável e jamais falar sobre política. Influenciada pela execração sofrida pela grupo country Dixie Chicks, que viu sua carreira ruir ao posicionar-se contra a Guerra do Iraque, Swift decidiu ainda no início de sua carreira que nunca iria abordar o tema. Mal sabia ela que nesse caso ser uma “garota boazinha” também lhe renderia muito hate.
Uma das missões do filme é abordar o renascimento da popstar para, agora, uma mulher com posicionamentos políticos definidos. Se em 2016 foi criticada por não ter falado sobre as eleições, inclusive foi acusada de ser eleitora de Donald Trump, Taylor deixa claro que agora será diferente. Miss Americana mostra os bastidores da decisão da cantora de quebrar seu silêncio em relação à política. Em um debate acalorado com seu pai e sua equipe, Swift defende que desta vez precisa estar do lado certo da História.
Já repassada milhões de vezes, a briga com Kanye West também tem seu tempo de tela. É admirável vê-la falando de forma tão crua sobre um episódio que poderia ter destruído sua carreira. A mulher que antes sempre procurava evitar o assunto – ou falar apenas por partes – abre-se sobre o que sentiu e o que viveu nos meses em que foi “cancelada” pelo público. Muitos podem achar uma oportunidade para inserir drama (afinal, todo filme precisa de um pouco de drama!), mas a abordagem do assunto no documentário é essencial. Miss Americana provavelmente não existiria sem esse episódio, Swift nunca precisaria se reinventar em 180 graus se não tivesse visto o fim de tudo tão perto.
O melhor e mais surpreendente momento é quando Taylor fala sobre seu transtorno alimentar. Em um carro em movimento, vemos o lado mais vulnerável da megaestrela que, assim como milhões de mulheres do mundo, também sofre para amar seu próprio corpo. A exposição de um assunto delicado como esse mostra um esforço de Swift em dividir mais de quem ela é com seu público, incluindo os lados do qual não se orgulha.
Miss Americana é um documentário sobre o despertar político e o retrato da intimidade de uma personalidade mundialmente famosa. Porém, acima de tudo, revela o amadurecimento de uma garota que queria ser o que os outros pediam para a mulher que a cada dia adquire mais voz.