Music

Thirty Seconds To Mars

Oito motivos para você não deixar de ver Jared Leto cantando ao vivo com sua banda em nova passagem pelo país

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Divulgação

Primeira turnê pelo Brasil

O Thirty Seconds to Mars já tocou no país, duas vezes antes e para muito mais gente no Rock In Rio. Só que este é o primeiro giro que eles farão por outras cidades e, o melhor, tocando bem mais pertinho do espectador, deixando de ser um pontinho lá longe em cima do palco. Na última semana de setembro eles – cuja formação atual está reduzida a uma dupla, formada pelos irmãos Jared (guitarra baixo, teclados e voz) e Shannon Leto (bateria), mais músicos contratados para as viagens –  tocarão em três cidades brasileiras: São Pualo (26), Porto Alegre (29) e Curitiba (30). Veja aqui, aqui e aqui (respectivamente) mais informações sobre estes shows  em cada uma dessas cidades por onde passará a Monolith Tour.

Sonoridade interessante

Se está longe de reinventar a roda do rock e propor algo de inovador, o Thirty Seconds To Mars também passa longe dessas bandinhas genéricas que costumam xerocar fórmulas, empastichar suas músicas e encher a grade das programações anuais do Lollapalooza brasileiro. No caldeirão de referências sonoras do Thirty Seconds To Mars entram indie, pop, grunge e o pós-punk britânico mais sintonizado nos tons sombrios do gótico. Elementos que, de certa forma, são compatíveis e formam uma boa mistura no comando da voz de Leto.

Jared boa-praça

Diferente de muito rockstar que usa o palco somente como utensílio teatral para manter-se afastado fisicamente dos seus fãs, Jared procura fazer dos shows de sua banda uma grande comunhão. Conversa sem parar entre as canções, arrisca-se na língua nativa, chama gente para subir ao palco só para anunciar a próxima música, veste literalmente a banda do país onde está. No Rock In Rio, em 2013, chegou ao ponto de manter os outros companheiros de grupo tocando e se mandar para a tirolesa, cantar pendurado nela para descer por ela e ainda correr ao palco para terminar a música. Portanto, estando bem mais próximo da plateia, é bem provável que ele possa passar ao seu lado e esbarrar em você.

Críticas afiadas aos EUA

Em 2018, o Thirty Seconds To Mars completa vinte anos de banda. Entretanto, nega-se a olhar para o passado, revisitando o que já foi feito. Pelo contrário. Jared Leto segue em frente, procurando novos trabalhos, muito provavelmente influenciado pelo modus operandi de ator. Por isso, no final de 2015, quando a banda se desligou da gravadora à qual pertencia, preferiu seguir pelos próprios trilhos, montando selo próprio e compondo um repertório muito mais politizado do que o de outros discos já gravados. O álbum America, lançado no último mês de abril e base de metade do repertório da atual Monoltih Tour, é uma pedrada atrás da outra no telhado de vidro do governo Donald Trump. O primeiro single, “Walk On Water”, por exemplo trata da questão da vergonhosa política de imigração que o presidente norte-americano quer impor em seu país. A crítica não engoliu muito bem o disco, sobretudo o maior flerte com um pop de cara mais eletrônica. Entretanto, não deixou de dar destaque à verve irônica e politizada das letras escritas por Jared.

Documentários da banda

Regularmente, o Thirty Seconds To Mars produz um documentário mostrando os bastidores de um disco, turnê ou gravação de videoclipe. Sempre com o próprio Jared assumindo a direção dos projetos e assinando com o pseudônimo de Bartholomew Cubbins. O mais recente deles chama-se A Day In The Life Of America e mostra, segundo Leto, “a América na sua mais imperfeita glória”. Ele pediu para que as pessoas gravassem no celular e enviassem à banda as suas histórias pessoais, contando fatos que as inspiram, transformam e desafiam, de preferencia ocorridos naquele momento ou horas antes. Tudo gravado no Dia da Independência dos EUA, 4 de julho. Outras excelentes opções de documentários da banda são Artifact (2012) e Edge Of The Earth (2014). O primeiro escancarou algumas das facetas mais obscuras e chocantes do mercado fonográfico, contando inclusive com a participação de figurões doe altos escalões do meio. Já o segundo acompanha as dificuldades sofridas pela banda para ser a primeira de toda a História a gravar um videoclipe (no caso, para a faixa “A Beautiful Lie”) no continente Ártico. Eles foram até uma pequena e remota vila no norte da Groenlândia para fazer todas as cenas. O objetivo era chamar a atenção de todo o planeta para os efeitos promovidos pelo aquecimento global.

Ambivalência de qualidade

Afinal, Jared Leto é um ator que virou cantor ou um cantor que virou ator? Depende do ponto de vista que você olhar as duas carreiras paralelas dele. Seu primeiro trabalho relativamente conhecido foi como Jordan Catalano na série de TV My So-Called Life(exibida entre 1994 e 1995 e que aqui no Brasil recebeu o nome de Minha Vida de Cão), na qual contracenava com a então adolescente Claire Danes. Até o fim dos anos 1990 fez alguns trabalhos sem muita repercussão no cinema, até emplacar uma série de filmes cultuados como Clube da Lutae Garota, Interrompida em 1999 e, no ano seguinte, Psicopata Americanoe Réquiem Para Um Sonho. Quando o Thirty Seconds To Mars finalmente lançou seu primeiro álbum já era 2002 e o nome de Leto já havia sido relacionado com o mundo de Hollywood.

Clube de Compras Dallas

Desde que lançou o primeiro álbum, Jared manteve a carreira de ator em segundo plano, priorizando os compromissos de shows e gravações de áudio e vídeo com a banda. Mas em 2013 não teve jeito: ao fazer o papel da transgênero Rayon em Clube de Compras Dallas, dominou o destaque como ator coadjuvante da temporada e fez o rapa nas premiações da categoria nos dois primeiros meses. A série de troféus culminou com Leto batendo adversários como Bradley Cooper (em Trapaça), Jonah Hill (em O Lobo de Wall Street) e Michael Fassbender  (em 12 Anos de Escravidão, longa vencedor do principal prêmio da noite). Sua performance foi tão intensa que mesmo já tendo passado duas décadas fica difícil esquecer de sua atuação ao lado do cowboy soropositivo Ron Woodroof, interpretado por Matthew McConaughey (que também ganhou o Oscar de ator principal pelo mesmo filme).

O Coringa do Esquadrão Suicida

Se existe um vilão megacultuado no universo de super-heróis da DC este é Coringa. Histriônica, enigmática, colorida, muitas vezes cruel, sua personalidade tem garantido ao personagem performances memoráveis de grandes atores no cinema. Jack Nicholson fez o trabalho no primeiro filme do Batman nos anos 1980/1990, sob a direção de Tim Burton. Depois, quando Christopher Nolan assinou a trilogia que adaptava a saga dos quadrinhos O Cavaleiro das trevas, foi a vez de Heath Ledger encarná-lo – o que, inclusive, teria contribuído para a overdose não acidental de remédios que matou o ator logo após as gravações. Quando a Warner anunciou que levaria aos cinemas o time de antagonistas chamado Esquadrão Suicida, Ledger assumiu a vez de Coringa, agora como o par romântico da espevitada Harley Quinn de Margot Robbie. A galeria de grandes atores ganhou recentemente um novo integrante, Joaquin Phoenix, já anunciado como o Coringa de seu filme solo, que chegará às telas em outubro de 2019. Enquanto isso, especula-se o retorno de Leto como o mesmo personagem no segundo longa do Esquadrão Suicida, ainda sem previsão de data de lançamento.

Books

Lourenço Mutarelli

Novo romance une ficção científica, uma garota supostamente reptiliana, nomes iguais, o mal e um grande desprezo por Nova York

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Texto e fotos de Abonico R. Smith (Lourenço) + Divulgação (capa do livro)

Curitiba está tão intrinsicamente ligada à alma de Lourenço Mutarelli que não tem mais jeito: ele já perdeu as contas de quantas vezes esteve na cidade. Uma coisa, porém, é certa: a cada novidade sua que chega às prateleiras das livrarias e lojas especializadas em quadrinhos a capital paranaense é sempre brindada com sua presença, algumas vezes, antes mesmo que a São Paulo onde ele mora. “Amo muito Curitiba e até passei férias por aqui. É a única cidade de fora do estado paulista que sempre faço questão de vir para lançar algo”, atesta.

E nesta sábado, 21 de julho de 2018, Lourenço se prepara para bater ponto no cartão fidelidade de convidado especial da Itiban Comic Shop Às 16h ele participa de um bate-papo seguido de sessão de autógrafos de O Filho Mais Velho de Deus e/ou Livro IV (Companhia das Letras, 336 páginas). Mais informações sobre este evento você encontra aqui.

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Oitavo romance de sua carreira, o livro faz parte da coleção Amores Expressos. A Companhia das Letras teve a ideia de mandar 17 escritores para 17 cidades diferentes ao redor do planeta, com o compromisso de que fosse escrito, no retorno, um romance que tivesse conexões e inspirações com o que foi visto e vivido pelos autores durante as semanas em solo estrangeiro. Mutarelli foi enviado a Nova York em 2007 por um único: ele era o único desta turma que ainda não conhecia a cidade. “Se eu pudesse ter escolhido, preferia ter ido ao Alentejo, em Portugal, onde já havia estado antes e tivesse uma experiência enriquecedora naquela região.”

Só que Lourenço odiou a experiência em Nova York. “Para começar eu peguei um outono quente, seco, de quase trinta graus diários. E também o meu inglês é o meu inglês. Entendo pouco, não falo nada. Eu até que me virei bem por conta disso, afinal, no desespero, você sempre acha um jeito de se virar. Chegou uma hora lá que eu estava em local e solicitaram gentilmente que o segurança acompanhasse ‘aquele senhor ali com problemas mentais’”, relata, rindo da própria experiência. Ainda me colocaram no Brooklyn, em um lugar onde o taxista parava dez quadras antes e me mandava completar o percurso andando. Você olhava os moradores e via todos eles iguais ao pessoal do GTA [sigla que virou a referência ao videogame Grand Theft Audio, considerado um dos mais violentos de todos os tempos]. Na rua só tinha latinos e negros com cara de maus e aquelas bandanas na cabeça”. Ao voltar ao Brasil, Lourenço passou a nutrir um profundo desprezo pela maior metrópole mundial. “Tudo o que me irrita profundamente estava ali. Os hipsters, o politicamente correto, essa geração saudável, o hábito de não fumar”, exclama.

Do período malfadado passado em Nova York ao lançamento do livro passaram-se onze longos anos. Primeiro o autor foi acometido de um longo período sem inspiração para desenvolver uma história, que foi sendo deixada de lado gradativamente. Quatro anos atrás entregou aos editores uma obra pronta. Recusada, ela acabou sendo tão remexida por ele na sequência que acabou sendo considerada desfigurada e acarretou em uma nova postergação do projeto. Até que chegou outra nova ideia, que resultou na obra que está sendo mostrada ao seus leitores.

“Para começar eu fiz questão que quase tudo acontecesse em Nova York e houvesse um protagonista oriundo do próprio Estados Unidos mas que não suportasse viver em Nova York. Quis que ele fosse alguém bem mediano, do tipo que se orgulha de ter estudado junto com o ator mais medíocre que eu conheço. A pessoa em questão é Richard Dean Anderson, o cara que faz o MacGyver da série de TV. Então um monte de referências tem a ver com a vida do ator, que é do Minnesota assim como o personagem.”

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A história de Charles (ou George ou Albert, porque o cara tem três nomes ao longo dos dez anos em que tudo se passa) possui altas doses de brincadeira com o universo da ficção científica – não à tôa um dos agradecimentos vai ao escritor americano Kurt Vonnegut, forte inspiração deste livro por ter feitos obras de tom semelhante. O disco-voador, que aparece na colagem fotográfica que compõe capa e contracapa, indica ainda uma possível vinda de seres de outro planeta. “É a garota por quem o protagonista é apaixonado. Ela também tem mais de um nome: chama-se Trudi e Sarah. Ele tem uma forte suspeita de que ela seja reptiliana mas quem for ler só saberá se é ou não no final do livro.”

Outro detalhe marcante na trama tem a ver com o seu primeiro título. O filho mais velho de Deus, no caso, segundo as escrituras, é Lucifer. “Falo sobre o mal enquanto essência. A gente precisa entender o mal. O personagem, assim como eu, acha que o bem não tem nada a ver a gente”. Em sua teoria sobre a maldade estar bem mais próxima da humanidade, Mutarelli vai mais além. “Faço uma analogia com o big bang. No começo a gente vivia tudo juntinho. Era tudo muito quente, muito bom. Mas o atrito de estar junto foi tão grande que isso explodiu. A partícula do bem foi jogada para muito longe, é indiferente e não vai mais olhar para trás. Já a do mal veio mais abaixo da gente, mais perto. E o mal também precisa bastante da gente para subir mais pouquinho”. E ele revela também uma curiosidade: os nomes de quase todos os personagens foram retirados da Murderpedia (isto é, uma Wikipedia dedicada somente a serial killers).

Toda esta questão a respeito do mal e de Lucifer remete a outra obra inspiradora do livro: a música do grupo britânico Current 93, considerado por muitos como “portador de mensagens satanistas”. O que, para Lourenço, não passa de uma grande besteira. “Às vezes até minha mulher reclama e pede para eu parar de ouvir. Mas o vocalista e criador do grupo já se declarou até cristão”, reflete, a respeito de David Tibet, na ativa desde o início dos anos 1980, seja explorando formas experimentais do folkno Current 93, fazendo parcerias com outros artistas alternativos (Björk, Anohni, Andrew WK, Will Oldham, Nick Cave) ou ainda apostando em coisas ainda mais doidas ao acompanhar a lenda do rock industrial Genesis P-Orridge em sua banda Psychic TV. “Mas o que eu posso fazer? Gosto de coisa minimalista, de música do capeta”, brinca.

Para finalizar, Mutarelli esclarece uma das dúvidas centrais de todo o seu novo livro: o porquê do título – e também cada capítulo – ter a possibilidade de ter dois nomes. Todo mundo no mundo tem um homônimo, até eu tenho. Os personagens têm mais de um nome também. Os capítulos também. O livro também”. A respeito do batismo do romance, aliás, ele entrega uma história curiosa. “Meu título original era Livro IV e/ou O Filho Mais Velho de Deus. Meu editor não gostou a primeira opção e propôs cortar. Eu bati o pé e acabamos chegamos à decisão de colocar na ordem inversa”. Mas, afinal, o que seria o tal Livro IV, já que este é o oitavo romance do autor? “Esta é uma forte questão mítica que eu tenho. De cara, noto que o número IV já está incluído na própria palavra “livro”. Gosto muito disso.

Mas eu também tenho outras crenças. Como, por exemplo, manter em um caderno a Igreja de um Homem Só, da qual só eu faço parte. Mas também isso não me rende dinheiro nenhum porque ninguém pode se juntar a ela para pagar o dízimo”. E o romance anterior, O Grifo de Abdera, já conta um pouco da história de como uma moeda antiga comprada em uma feira de antiguidades acabou se tornando um grande amuleto, transformado em anel e que nunca sai do dedo dele.

>> Leia aqui a matéria sobre o lançamento do romance O Grifo de Abdera, publicada em 2015

>> Leia aqui a matéria sobre o lançamento do romance A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, publicada em 2008