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Tenet

Christopher Nolan provoca vai e vem no tempo e faz você não entender nada por mais de duas horas e chegar ao final estando de volta ao começo

Texto por Flavio Jayme (Pausa Dramática)

Foto: Warner/Divulgação

Você pode até estar acostumado com o “jeito Nolan” de fazer filmes: AmnésiaO Grande TruqueInterestelar, A OrigemDunkirk… quase todas as suas produções subvertem a forma de contar uma história e, com frequência, subvertem o tempo e o espaço para contá-la. Mas nada te preparou para Tenet (Reino Unido/EUA, 2020 – Warner).

O novo longa do diretor, que chega hoje aos cinemas brasileiros depois de muito adiamento por conta da pandemia de 2020, subverte o que Nolan já tinha subvertido e, literalmente, põe o tempo pra andar pra trás. Na trama, nos deparamos como o personagem de John David Washington (chamado apenas de “o protagonista”) e percebemos que ele é uma espécie de espião internacional. E nosso conhecimento do filme meio que acaba por aí.

Deste momento em diante não entendemos muito mais: quem são estas pessoas? O que elas querem? Para quem trabalham? Qual o objetivo da missão?

Não bastasse toda a teoria de volta no tempo já ser complicada o bastante, a própria narrativa do filme (ainda que fosse tratada de forma linear) não é simples. Temos um filme de espionagem internacional/filme de ação de grife acima da média, com certeza. Mas sua trama é confusa e uma das únicas informações que conseguimos processar é que o mundo pode acabar se eles não forem bem sucedidos.

Como se não fosse imbróglio suficiente, Nolan mexe nas linhas e quem vai acaba voltando. Quem estava lá agora está aqui. Cenas são mostradas em diversos tempos com personagens que antes estavam indo e agora, voltando. Tudo é muito visual, tudo é muito bonito, suas cenas de ação são de tirar o fôlego. Mas nada é muito claro. É como se o cineasta tivesse mostrado cinco roteiros diferentes ao estúdio e os executivos tivessem resolvido juntar todos em um filme só.

No fim, a sensação é de que passamos duas horas e vinte minutos tentando entender que diabos estamos vendo numa trama confusa, que vai e volta, e admirando a beleza da atriz Elizabeth Debicki. E que passamos os dez minutos finais torcendo para que consigamos entender pelo menos um pouco do que vimos na tela.

Com Tenet, Nolan mira na ação com cérebro e acaba exagerando no segundo, entregando um filme quase impossível de ser entendido sem que você pare pra fazer anotações de quinze em quinze minutos. Até mesmo o que parecia ser um dos grandes segredos do filme é bastante óbvio.

Talvez a melhor definição para esta obra seja mesmo a de que “no início você não entende nada e no final você está de volta no começo”.