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A Cinco Passos de Você

Novo romance adolescente a chegar às grandes telas traz o amor impossível provocado pelo tênue limite entre a vida e a morte

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Texto por Janaina Monteiro

Foto: Paris Filmes/Divulgação

Amor proibido é um tema bastante explorado pela sétima arte. A tragédia de Romeu e Julieta, personagens de Shakespeare que pertenciam a famílias rivais, sem dúvida é a história de amor impossível mais adaptada para a telona. Tem também o musical Amor, Sublime, Amor (West Side Story, 1961). Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time, 1980), com o saudoso e eterno superman Christopher Reeve, é outro exemplo de relação amorosa utópica e que ultrapassa a noção de tempo.

Apesar de todas as barreiras, os amantes, nesse caso, conseguem externar o desejo, a paixão por meio do contato físico, do toque, da carícia, do carinho. Antes de seu destino trágico, Romeu passa uma noite de amor com Julieta. Estar perto e não poder tocar a pessoa amada, aí sim vira uma das sensações mais devastadoras e angustiantes que alguém pode sentir. É como quase parar de respirar. E é assim que vivem os protagonistas de A cinco passos de você (Five Feet Apart, EUA, 2019 – Paris Filmes), que estreou nesta quinta-feira nos cinemas de todo o Brasil.

O casal de adolescentes Stella Grant (interpretada por Haley Lu Richardson, de Fragmentado) e Will Newman (Cole Sprouse, da série de TV Riverdale), tem fibrose cística, doença genética crônica (também conhecida como Doença do Beijo Salgado ou Mucoviscidose). Ela afeta principalmente os pulmões, pâncreas e o sistema digestivo e atinge 70 mil pessoas em todo o mundo (segundo dados do Instituto Unidos Pela Vida, de Curitiba). Os dois se apaixonam à primeira vista e, por conta do risco de um contaminar o outro com bactérias, precisam necessariamente ficar a seis passos de distância (no decorrer do filme, o espectador entenderá porque o título diz cinco passos).

Haley e Cole (que emagreceu dez quilos para viver Will) se doam ao papel como se tivessem nascido para interpretar as personagens e conseguem transmitir a sensação paradoxal de angústia e leveza ao encarar cada dia como se fosse o último. Na primeira cena do filme, em que Stella aparece cercada de amigas, o enquadramento do diretor Justin Baldoni (conhecido por seu papel na série Jane, a Virgem) é tão perspicaz que o espectador não percebe, num primeiro momento, que a garota está num quarto de hospital. Esse é, na verdade, a casa de Stella, Will e os demais pacientes prisioneiros da fibrose.

A garota tem quase 17 anos e está na lista de espera de um transplante de pulmão. Para passar o tempo no hospital, alimenta um canal no YouTube, onde relata sua rotina com a doença: “nós produzimos muco em excesso” e “respiramos ar emprestado”, explica ela sempre de modo positivo. Stella conhece o hospital como a palma da mão e lá fez amizade com todos. Até que se depara com um paciente novo: Will (“vontade”, em inglês) Newman (“novo homem”). Os dois se conectam instantaneamente.  Stella, toda metódica e organizada, começa a ajudar Will que se rebela contra o tratamento (ela mistura comprimidos ao iogurte, como se fossem flocos de milho).

É nítido como ambos enxergam a vida de maneira distinta. Stella tem como passatempo preencher uma to do list (como estudar a obra de Shakespeare ou aprender francês). Will só queria poder viajar o mundo e se entretém fazendo caricaturas. E quanto mais tempo os dois passam juntos, mais a química aumenta junto com o desejo de violar as restrições. Para diminuir essa distância de seis passos, que se transformam em cinco, Stella e Will se comunicam frequentemente pelo celular e laptop, fazendo vídeos fofos. Tão perto e tão longe.

Ao contrário de A Culpa é das Estrelas, baseado no best-seller de John Green, A cinco passos de Você fez o caminho inverso e originou o livro homônimo. Mesmo sendo um tema triste, pesado, que emociona e arranca lágrimas, o roteiro do casal Mikki Daughtry e Tobias Iocanis é leve e divertido – afinal são adolescentes descobrindo o mundo – assim como a trilha sonora repleta de canções indie – como “Medicine” (Daughter) e a música que embala o trailer, “Remind Me To Forget”, do produtor musical DJ Kygo e na voz do cantor Miguel. Uma das cenas mais poéticas e delicadas ocorre quando Stella e Will têm um encontro amoroso na beira da piscina e discutem sobre morte. Ele é cético: morrer é dormir um sono profundo. Stella acredita em vida após a morte.

A angústia, porém, aumenta à medida que o filme se aproxima do final. Os clichês também começam a surgir. Mas a vida e a morte são assim, como clichês. O que não deveria ser lugar comum é o uso da tecnologia para substituir o contato físico entre pessoas saudáveis e que estão a poucos metros de distância. A vida é frágil, curta demais, e ninguém tem controle sobre a morte, estando ou não doente.

Music

Rosie Mankato – ao vivo

Ex-vocalista do Rosie & Me retoma a carreira, lança disco solo sob novo nome e apresenta novidades sonoras

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Texto e foto por André Mantra

Rosanne Machado aka Rosie Mankato viveu seus os últimos quase seis anos anos (desde o final de 2012 após encerrar a banda Rosie & Me, um projeto que durou por seis temporadas) quão intensamente enquanto era a vocalista da sua ex-banda. Uma história que se mistura a outras bandas da cena indie curitibana, embora com propostas distintas: usar todo o seu inglês e haver pelo menos uma mulher à frente (o curioso é que todas já acabaram ou, no mínimo, sem qualquer perspectiva de lançar algo novo, infelizmente). Então a quebra deste “silêncio” serve de alento, um estímulo, uma esperança de retomada.

Na verdade, a Rosie produziu trilhas sonoras, spotscomerciais, faixas para sua própria carreira solo (singles) e também de outros artistas, tudo através do seu Colina Recording Studio. Teve aulas de luthieria, mudou de endereço e estado civil. E quase mudou de país. As apresentações até ocorreram – por mais de uma vez esteve entre as convidadas do projeto Sofar Sounds em Curitiba, fez job para desfile de grife… Sim, até aquela noite fria de outono curitibano em 25 de maio de 2018, para o lançamento do EP Palomino no Teatro do Paiol, a paranaense pode enfim, num formato “banda”, ser reconhecida como artista-operária da música independente novamente. Convencida pelo modus operandos do mercado da música e sobrevivido ao luto de ter uma banda encerrada ao mesmo tempo em que não se reconhecia em grande parte do seu próprio meio, ela agora retoma a carreira madura, menos acanhada e mais empreendedora.

Rosie entrou às 20h15 no palco do Teatro Paiol, diante dos seus familiares, ex-integrantes do Rosie and Me, atuais parceiros musicais e fãs mais antigos que desafiaram a falta de combustível nos automóveis e em postos de gasolinas para uma apresentação de 45 minutos e muitas lágrimas contidas. A abertura foi com “Treehouse”, canção do projeto anterior mas que era perfeita para ocasião. Daí já era perceptível que não era apenas a presença de novos músicos – Gabriel Eubank (bateria, simples e beats), Fabrício Rossini (baixo) e Felix Cecílio (guitarra). Havia nos arranjos apesar da manutenção de alguns dos timbres – pois aquela guitarra melancólica e country presente no disco Arrow Of My Ways ainda é bem executada nos palcos da vida.

As seis novas canções de Palomino foram todas bem recebidas, destaque para “Holler”, “Curly” e “Boat”. As canções novas têm elementos de música eletrônica, além de camadas de guitarra. Ao mesmo tempo não soam como indie rock. É muito bom também constar que o seu canto se adapta muito bem aos arranjos que se propôs apresentar e registrar. Ao longo da apresentação, a cantautora e por vezes intérprete fixou-se em olhar para a sua direita, pois do lado oposto havia muita gente do coração (seus familiares e ex-integrantes de R&M). Apesar de continuar a falar pouco junto ao público, era nítida a mudança da timidez para o intimismo. E quando o set list foi tocado por completo, ainda teve a manha de improvisar um bis com “Come Back”, ao lado do guitarrista Thomas Kossar.

Além de Kossar, Felipe Ayres e outros integrantes ou colaboradores do Rosie & Me continuaram a conversar com a Rosanne após o show no backstage. E não se espante da possibilidade deles tocarem com ela novamente, ainda que esporadicamente, porque esta foi uma separação pra lá de amigável. Fãs também perguntaram a respeito da inserção de mais canções daquela época nas próximas datas. Mankato não só confirmou como falou que deve regravá-las. Ou seja, o legado da ex-banda o legado segue.

É bom sempre lembrar que apesar da presença dos aplicativos e também da ausência de players de CDs nos automóveis da vida, foram vendidas cópias físicas do EP Palomino, praticamente todas devidamente autografados. Arrisco em dizer que se houvesse também do Rosie & Me estas venderiam bem também. Passada por tantas emoções e devidamente reinserida no meio e no mercado, Rosie Mankato só faz a gente aguardaremos por mais (boas) novidades dela mundo da música.

Set List: “Treehouse”, “The Big Fight”, “Boat”, “Old Folks”, “Chino”, “Shotgun To The Heart”, “Don’t Be Mad”, “Holler”, “Daughter, Daughter”, “Curly”. Bis: “Come Back”.