Diretora viaja por várias cidades do Brasil e dos EUA para contar a história do show que transforma uma mulher em gorila
Texto por Leonardo Andreiko
Foto: Divulgação
A mulher gorila, Monga, é um grande sucesso nos parques de diversão em todo o Brasil. Ao mesmo tempo, os shows girl-to-gorilha tiveram seu auge em solo estadunidense, tendo sobrado apenas um, itinerante, em funcionamento. É sobre isso que se propõe a dialogar a diretora Cris Siqueira, que assina Monga (Brasil, 2019), um documentário com dupla cidadania em suas imagens, tanto quanto sua protagonista.
Nele, Siqueira monta um conjunto de relatos de circenses e proprietários da atração, intercalados com demais figuras da área, para construir uma narrativa explicativa em torno do fenômeno Monga. A rotina de trabalho, os vários motivos para o sucesso da atração e seu futuro são temas pincelados nos cinquenta e cinco minutos do longa-metragem. Um tema curioso, de fato, que se sustenta na maioria da duração do filme, mas problematicamente.
Dois são os malefícios de ritmo de Monga. O filme estende-se desnecessariamente em histórias indiferentes ao seu tema enquanto minimiza o tempo de reflexão de pontos que poderiam ser abordados com maior afinco. Ele também é repetitivo em seu formato, sendo formado inteiramente por entrevistas – grande parte não passa de cabeças falantes. Não suficiente, a montagem quebra o ritmo interno destas ao repetir muitas informações e cortar o quadro constantemente com letreiros, quando estes poderiam ser adicionados em meio à fotografia existente.
Desta forma, o documentário não estimula a reflexão do espectador quando retrata Nancy, que trabalha como mulher-gorila nos Estados Unidos, se questionando se seu emprego não seria um exemplo de perpetuação de estereótipos e, de modo geral, de uma cultura racista. Pelo contrário, ele reafirma o fenômeno da atração nos parques de diversão América afora.
Sua estética é, no entanto, um bom exemplo de cinema point-and-shoot, soando simples na maioria das vezes, mas cujo conjunto ordenado é conciso, unitário. Ou seja, enquanto o ritmo de montagem oscila, a coesão estética se mantém ao longo de toda a projeção. Sendo assim, Monga se faz interessante. Embora construa-se em torno de um tema de nicho, não mergulha em uma ótica narrativa particular e, portanto, acaba moroso. Deixa o sentimento de que, se montado com uma perspectiva temática diferente, acabaria se tornando um filme muito mais instigante do que aquele que vemos.
No entanto, isso não faz de Monga uma obra ruim. A obra merece as premiações que recebeu em sua passagem pelo circuito e deveria, por princípio e qualidade, receber maior holofote na mídia brasileira. Não sou um grande fã da história circense e de parques de diversão, mas aposto que um entusiasta desse universo gostaria mais da narrativa, por mais repetitiva que seja, do que eu.