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Xuxa + Turma do Balão Mágico + Wham! + Menudo

Canais de streaming oferecem pot-pourri de documentários biográficos sobre estrelas da música pop nacional e internacional dos anos 1980

Texto por Taís Zago

Fotos: Netflix/Divulgação (Wham!), HBO Max/Divulgação (Menudo), Star+/Divulgação (Turma do Balão Mágico) e Globoplay/Divulgação (Xuxa)

Nos últimos meses os canais de streaming não economizaram na nostalgia para nos inundar com filmes e séries biográficas de artistas proeminentes que tinham uma imensa fanbase infanto-juvenil nos anos 1980 e 1990: Xuxa, Turma do Balão Mágico, Wham! e Menudo. Eles fizeram parte de nossas infâncias e habitam (assombram?) o nosso inconsciente coletivo até hoje. Vou além: desafio os leitores a ouvir o nome de alguns deles sem cantarolar mentalmente algum de seus hits radiofônicos.

Infelizmente nem tudo foi rosa-choque e glitter nas trajetórias desses artistas. Em sua quase totalidade, essas novas obras documentais escancaram situações gritantes de abusos físicos, emocionais e financeiros da parte de managers, amigos e até mesmo familiares próximos.

Wham! (Netflix, 2023)

No dia 5 de julho a Netflix disponilizou o documentário sobre a trajetória desse duo que marcou a recente história pop inglesa, europeia e mundial com seus grandes, brilhantes, positivos e afirmativos hits durante a primeira metade dos anos 1980.

Os amigos de infância George Michael e Andrew Ridgeley começaram cedo a compor juntos e a ligação entre eles perdurou durante o estrelato. O Wham! durou apenas 4 anos (entre 1982 e 1986) e desfrutou de um sucesso meteórico até Michael partir para a sua bem-sucedida carreira solo. Mas deixou hits como “Wake Me Up Before You Go-Go” ou “Last Christmas”, que virou hino de Natal e ainda hoje é tocada pelas rádios quase que diariamente no mês de dezembro por toda a Europa. 

Nesse documentário dirigido por Chris Smith vemos todo o colorido da vida fun da juventude de polaina e shortinho fosforescente e que cultuava a beleza estética, bronzeados e cabelos dourados e a vida de luxo e brilho dos popstars George e Andrew. Os excessos não foram poucos em sua jornada, porém o documentário se abstém de grandes aprofundamentos – ficando apenas na superfície, como era no geral a vibe do Wham!.

Baseado em memórias de Andrew e do livro de colagens de sua mãe, a obra documental conta apenas com a voz dos artistas como narração. No caso de George, por causa de seu falecimento prematuro no Natal de 2016, há apenas material de arquivo. Mesmo assim, um tantinho morna, essa biopic é parada obrigatória para os fãs e um eyecandy para todo mundo.

Menudo: Forever Young (HBO Max, 2022)

Estreou no dia 23 de junho no Brasil o documentário Menudo: Forever Young (HBO Max, 2022) em quatro episódios sobre a precursora das boy bands latino-americanas. Menudo não era necessariamente um grupo. Era uma brand criada pelo perverso produtor Edgardo Diaz que, em viagem à Espanha, descobriu o formato que resolveu desenvolver em seu país natal, Porto Rico.

Os diretores Angel Manuel Soto e Kristofer Rios conseguiram proporcionar um mergulho nostálgico nos anos “dourados” (no caso, de lycra) do primeiro fenômeno internacional latino a arrastar (pré) adolescentes aos milhares para estádios lotados e vigílias em frente a hotéis.

Foram entrevistados ex-membros sobreviventes das várias fases do grupo entre os anos 1970 e 1990. Alguns reconhecemos da nossa infância, outros nunca vimos antes.  

Fato é que os dois cantores mais famosos não fazem parte do documentário. São eles Ricky Martin e Robi Rosa. Os motivos podemos especular: boa parte de Menudo: Forever Young é dedicada à denúncia de abusos (inclusive sexuais), violência e exploração infantil por parte de Edgardo, que nunca fora levado a julgamento.

Como uma obra que é mais do que parece (assim como os próprios menudos), o documentário mostra as questões pouco tratadas do abuso do trabalho infantil comum no showbiz e em bandas arranjadas por meio de casting e competições. Assim como a interessante contextualização histórica cultural das comunidades hispânicas na américa latina e EUA durante a década de 1980. 

Esta obra é um retrato bittersweet do sonho de fama e fortuna de dezenas de rapazes que eram substituídos assim que passavam pela alteração de suas vozes na puberdade.

A Superfantástica História do Balão (Star+ /2023)

Um banho de nostalgia nos 40 and something. É isso que rola em boa parte dos três episódios desse documentário sobre o quarteto infantil mais famoso da história da dobradinha entre televisão e música brasileira, disponível no Star+ desde meados de julho.

A turma do Balão Mágico foi uma presença constante na minha vida na primeira metade dos anos 1980. Eu tinha todos os discos, assistia a todos os maravilhosos especiais e não perdia um único dia do programa exibido  nas manhãs da Globo entre 1983 e 1986, até a Xuxa tomar seu lugar. Simony, uma criança circense. Tob, um garoto sensível e tímido. Mike, uma bomba de energia, filho do famoso assaltante do trem pagador Ronald Biggs. Jairzinho, talentoso filho de Jair Rodrigues. Os quatro fizeram parte da infância de toda criança da geração X brazuca. E isso pelo simples fato de não existir nenhuma concorrência à altura (em alcance de mídia) para o produto que ofereciam. 

Quase quarenta anos depois do fim do grupo os quatro integrantes da formação clássica se reuniram e deram seus depoimentos pessoais sobre fama, dinheiro, abusos e traumas. A sensação que fica é a de que a exploração infantil era absurda, escancarada e ocorria em pleno acordo e incentivo dos pais. Hoje em dia, com os avanços que tivemos na área de direitos humanos e das crianças, muita coisa que a turminha passou lá trás é encarada como uma verdadeira aberração. A minissérie dirigida por Tatiana Issa costura momentos do grupo por meio de muito material de arquivo com entrevistas atuais com atores, produtores, diretores e músicos que participaram da história do Balão. Alguns dos personagens trazem boas lembranças, outros nos deixam na boca o retrogosto amargo do abuso.

Programa obrigatório. Pelo menos para quem até hoje sabe cantar de cor “Ursinho Pimpão”.

Xuxa, o Documentário (Globoplay, 2023)

Série feita em cinco episódios semanais e dirigida por Pedro Bial para o canal de streaming da Globo. Na verdade, essa frase já bastaria para resumir o conteúdo, mas vou elaborar mais. 

Xuxa foi um fenômeno dos anos 1980 e 1990 no Brasil e na América Latina, uma mulher a frente de um formato diário de entretenimento televisivo infantil que foi acompanhado anos a fio pela grande maioria das crianças brasileiras. Ainda arrastou legiões de fãs para seus shows e filmes e vendeu milhões de discos. Isso tudo sem saber cantar, compor ou atuar. Ela se sustentava apenas na força do enorme carisma e contava com Marlene Mattos, seu braço-direito (e de ferro!) para garantir que nenhuma mídia ou merchandising ficasse imune ao seu charme. A presença dela era onipresente nas vidas de quase todas as crianças brasileiras que tinham ficado órfãs de uma babá eletrônica diária após a dissolução da Turma do Balão Mágico. 

As crianças brasileiras ganharam sua Barbie de carne, osso e voz aguda, na forma do ideal de beleza eurocêntrica vinda do sul do Brasil. Rodeada por paquitas e paquitos que seguiam o seu padrão estético, a Rainha dos Baixinhos construiu uma enorme fortuna e fama internacional. 

Material para uma obra documental envolvente e intrigante não faltou. Mas faltou vontade, uma melhor edição e uma direção que saísse dos padrões sensacionalistas e noveleiros que são marca registrada da produtora Globo. Com um vastíssimo arquivo audiovisual, os episódios são recheados de nostalgia celebrando a loira. Contudo, falha na hora de apresentar fatos que ainda não fossem amplamente conhecidos até por quem nem é seu fã. As entrevistas são rasas, apelativas. No caso do face-off  Xuxa versus Marlene, adquire tom apelativo e até constrangedor.

Claro que vale a pena ser visto para recuperar algumas memórias afetivas, imagens e letras de músicas que marcaram a infância de milhões. O documentário, entretanto, não preenche as lacunas e nem dá respostas satisfatórias para muitas das polêmicas envolvendo o nome de Maria da Graça Meneghel.

TV

Gugu Liberato

Oito motivos para nunca se esquecer do apresentador que fez fama nas noites de sábado e tardes de domingo do SBT e, mais tarde, da Record

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Texto por Janaina Monteiro

Foto: Record/Divulgação

A televisão brasileira perdeu, na semana passada, um de seus nomes mais importantes. O apresentador Gugu Liberato morreu no último dia 22 de novembro, aos 60 anos, após sofrer um acidente doméstico em sua residência em Orlando. Ele deixou esposa e três filhos.

Com quase quatro décadas à frente das câmeras, animando os finais de semana dos brasileiros numa época em que não havia televisão a cabo e plataformas on demand, Antônio Augusto Moraes Liberato fez história no SBT. O paulistano do bairro da Lapa tinha apenas 23 anos quando ficou famoso nos anos 1980 com o programa Viva a Noite, de onde saíram quadros como o icônico “Sonho Maluco”, quando uma fã era sorteada para realizar um desejo ao lado do ídolo, ou o “Sonho de Última Hora”, no qual uma garota do auditório bolava na hora uma peripécia com um dos artistas presentes ali no palco.

Em 1988, depois de passar alguns meses contratado pela Globo e voltar à casa anterior, o animador de auditório recebeu a missão de substituir Silvio Santos no comando de programas dominicais e disputar com a Vênus Platinada no Ibope. O dono do SBT havia passado por uma cirurgia delicada nas cordas vocais e acreditava que não voltaria a se apresentar. Gugu, porém, foi mais que um nome para a sucessão de Silvio. Foi uma espécie de filho que ele nunca teve. Tanto é que, quando Liberato assinou com a Record em 2009, os dois continuaram amigos.

Gugu fez parte de uma era romântica da televisão, com atrações e quadros que hoje não caberiam nas teles digitais politicamente corretas, como a clássica “Banheira do Gugu”, do programa Domingo Legal, transmitido ao vivo nos domingos de tarde. Foi ainda um empresário de visão, sempre revelando artistas musicais que viriam então a fazer sucesso estrondoso.

O Mondo Bacana lista oito motivos para lembrar da trajetória desse veterano apresentador. Viva a Gugu! Viva, viva, viva!

Passarinho quer dançar

Sábado à noite, em meados da década de 1980, era o momento de sentar no sofá e assistir ao Viva a Noite com a família. O programa, que tinha quadros divertidos e trazia artistas famosos na época, encerrava, em 1983, com o clássico “Baile dos Passarinhos”, versão de uma música alemã que fora lançada um ano antes – e sem fazer qualquer sucesso – pela Turma do Balão Mágico

Parada de sucessos sertanejos

No começo dos anos 1990, o Viva a Noite deu lugar ao Sabadão Sertanejo. Era o auge de vendagem de discos de duplas como Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo e Zezé di Camargo e Luciano. Detalhe: bandas de pagode também viviam se apresentando por lá.

Tardes de domingo

Ao lado de Silvio Santos, Gugu era o rosto e a voz das tardes dominicais, comandando na mesma emissora programas como Cidade Contra Cidade, Passa ou Repassa, Corrida Maluca e TV Animal.

Compactos de grande sucesso

Durante o período de Viva a Noite, outros clássicos na voz do apresentador foram “Pintinho Amarelinho”, “Bugaloo Da-Da” e “Docinho Docinho”. Clássicos de forte apelo infantil, lançados apenas em compactos de sete polegadas em vinil, que permanecem até hoje no inconsciente coletivo daqueles anos 1980.

Veia dramatúrgica

Além de apresentador, Gugu era um ator de mão cheia, tendo participado de longas-metragens cinematográficos ao lado de Xuxa e dos Trapalhões. No Domingo Legal, ele soltou a veia artística no quadro “Táxi do Gugu”, no qual se disfarçava e assumia o posto de taxista sem que, em princípio, o passageiro soubesse de tudo o que estaria armado. Havia ainda todo um processo meticuloso de maquiagem para torná-lo irreconhecível. Recetemente, o humorista Marcelo Adnet homenageou Gugu na Globo, fazendo o quadro satírico “Domingo Pesado” no programa Tá no Ar – A TV na TV.

Boy & girl bands

Primeiro foi o Menudo, boy band portorriquenha que Gugu lançou no Brasil, fazendo sucesso estrondoso e alavancando a popularidade e audiência do Viva a Noite. Logo depois, ele foi o responsável por lançar famosas boy bands nos anos 1980 e 1990 através da Promoart, empresa de entretenimento dirigida pelo apresentador. Entre estas criações estavam o Dominó (com Afonso Nigro, Nill, Marcos Quintela e Marcelo Rodrigues na primeira formação; o futuro ator e apresentador Rodrigo Faro na última) e o Polegar (com Rafael Ilha como um dos membros originais). Gugu aindaapostou nas meninas, lançando o grupo Meia Soquete, da qual Adriane Galisteu era integrante, e o Banana Split, que contava com a sua futura colega apresentadora Eliana.

Ícones do pop dos anos 1990

Quem não se lembra da original Shakira, morena e com um quilinhos a mais, cantando no Domingo Legal os seus primeiros sucessos em espanhol? E os domingos em que os também saudosos Mamonas Assassinas passavam a tarde inteira na televisão cantando o CD de cabo a rabo e fazendo estripulias ao lado de Gugu e batendo a audiência do rival Fausto Silva na Globo?

Amor incondicional à TV

Gugu era um apaixonado pelo seu ofício. Ele começou a carreira como assistente de Silvio Santos aos 13 anos de odade, depois de tatas cartas cheias de ideias que escrevia para o apresentador, então pertencente ao elenco da Globo nos anos 1970. Aos 22 anos de idade, começou a carreira à frente das câmeras, apresentando sorteios nos intervalos de filmes exibidos à noite pelo SBT. Nas duas últimas décadas, comprou estúdios na região do Alphaville, em São Paulo. Lá, por exemplo, foi rodada a biografia de Hebe Camargo que estreou neste ano nos cinemas brasileiras.