Artista: Charme Chulo
Música: Nem a Saudade
Álbum: O Negócio é o Seguinte (2021)
Por que assistir: Lá se vão longos sete anos sem lançar um disco, mas a espera está para acabar em breve. Em meados de setembro, enfim, sai o quarto álbum da carreira do quarteto curitibano, puxado pela faixa de abertura, também eleita para ser o primeiro single disponibilizado em plataformas de streaming e ganhar o primeiro videoclipe deste trabalho nesta sexta-feira 13 de agosto. “Nem a Saudade” é uma faixa direta e objetiva, não apenas na duração (pouco mais de três minutos e uma letra estruturada com poucas estrofes e a repetição de um refrão que gruda no cérebro logo à primeira audição). A carta de intenções da dupla de compositores e vocalistas da banda, os primos Igor Filus e Leandro Delmonico (também responsável pelas violas e guitarras) é explícita: “este é o disco mais pop do Charme Chulo”, escancara o último em conversa com o Mondo Bacana. De uma certa forma, a faixa dá continuidade à nova fase da banda, inaugurada há três anos pelo single “Mais Além” (ouça, veja e leia sobre isso aqui), gravado em parceria com as conterrâneas irmãs do Tuyo – alias, a canção, agora regravada sem Lio e Lay, reaparecerá entre as dez faixas de O Negócio é o Seguinte. “São canções que lembram muito a essência do sertanejo”, explica Leandro. Mas é bom que o leitor não entenda o termo “sertanejo” com o universo massificado do sertanejo universitário, que na última década reinou soberano em popularidade na música brasileira. Este “sertanejo” do Charme Chulo é o caipira do interior e que, musicalmente, dialoga mais com o folk de sanfonas, violões e violas. A ideia central do disco, aliás, veio depois que os primos leram o livro Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira. (Nota do editor: Leandro entrou em contato com esta obra por meio do Mondo Bacana, que encomendou a ele uma resenha e uma entrevista com o autor, o biógrafo Gustavo Alonso, à época do lançamento, em 2015.) Igor diz que “Nem a Saudade” é, ao mesmo tempo, uma forte bandeira do lado mais de refrães pop e conceitual do grupo. “Os versos se encaixam muito bem no contexto atual, claro. Essa coisa de todo mundo ficar isolado e não se ver. É bastante adequada para o momento. Mas ela, além de ter sido começada a ser composta antes da pandemia parar o mundo, fala muito sobre o passado da banda”, entrega o vocalista. “Significa que quando a gente envelhece é obrigado a ter de aceitar as mudanças que vêm com o passar do tempo. Chegamos ou estamos para chegar na faixa dos 40 anos, tivemos filhos, o mundo mudou. Não era mais como antes, quando os sites de música eram legais”, completa Leandro, a respeito desta carta escrita pelos “novos quarentões” para aqueles jovens de vinte e poucos, cheios de arroubos de ousadia, que pavimentaram os primeiros tijolos na estrada de quase duas décadas de carreira do Charme Chulo. Carreira esta, aliás, que ressurge agora com vigor, brilhantismo e modificações que em breve chegarão aos ouvidos dos fãs mais antigos e também dos novos, arregimentados entre os millennials que estavam aprendendo a andar lá nos primórdios da banda. O segundo single de O Negócio é o Seguinte será com a faixa “Rabo de Foguete” e será disponibilizado no final de agosto. “Esse será o lado ‘festa’ que a gente também sempre teve. Fala sobre o amor brega e o amor carnal. É o retorno ao nosso eterno lado Dalton Trevisan. Mas dá uma boa atualizada na sonoridade também. Estamos mais próximos do brega eletrônico, dos elementos musicais do Pará, por exemplo. É o Charme Chulo flertando com gente como Duda Beat e Jaloo, que, de uma certa forma, acabaram levando o indie brasileiro para um lado bem brasileiro mesmo, completamente distante daquele indie rock com o qual a gente convivia lá no início da banda, cheio de referências vindas do exterior e letras em inglês”, adianta Leandro. Se O Negócio é o Seguinte, ele que leve pra longe não só a tristeza, a melancolia e a nostalgia do Jeca Tatu, mas também esses próprios Jeca Tatus. Porque agora, mais do que nunca, eles conseguem chegar perto do sotaque verdadeiramente popular da musica brasileira.
Texto por Antonio Carlos Florenzano