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Wes Anderson

Netflix libera de uma só vez quatro curtas-metragens do icônico diretor e roteirista, todos inspirados em contos de Roald Dahl

A Incrível História de Henry Sugar

Texto por Tais Zago

Fotos: Netflix/Divulgação

Anderson ataca outra vez e agora em todos os fronts. Quatro curtas foram liberados ao mesmo tempo no canal de streaming Netflix, há alguns dias. O projeto, que supostamente chegara a 1 bilhão de dólares, é uma jogada ambiciosa da parceria entre a plataforma e o cineasta. Compõem a tetralogia de produção anglo-americana Veneno(Poison, 17 minutos), O Cisne (The Swan, 17 minutos), O Caçador de Ratos (The Ratcatcher, 17 minutos) e A Incrível História de Henry Sugar (The Wonderful Story of Henry Sugar, 39 minutos)

Nestes quatro curta-metragens inspirados na obra de Roald Dahl (que já inspirou Wes em outros projetos como O Fantástico Sr. Raposo, de 2009, e escreveu o livro que deu origem ao cultuado filme A Fantástica Fábrica de Chocolate), Anderson adapta e dirige com mão leve um roteiro teatral. Como vimos em Asteroid City, seu ultimo longa, lançado em agosto nos cinemas brasileiros (leia aqui a resenha do Mondo Bacana), Wes mergulhou fundo na dramaturgia e na representação teatral do seu próprio roteiro. Quebra constantemente a quarta parede e vai além dos limites até então conhecidos da metalinguagem. Temos uma história dentro de uma história e , às vezes, com outra história por trás. Uma matrioska technicolor, uma trama elaborada com palavras e cenários meticulosamente trabalhados, que trazem nos narradores, praticamente, uma leitura do roteiro acompanhando a ação.

O Caçador de Ratos

Wes é mundialmente famoso pelo seu estilo único de fazer cinema usando cenários minuciosos com um detalhismo que satisfaz até aos olhares mais exigentes. A riqueza dos detalhes, a simetria da fotografia, a perfeição da maquiagem e do figurino. Nunca vemos um único fio de cabelo (pelo menos não intencionalmente) fora do lugar. 

Agora Anderson traz para as telas e encena com atores histórias que funcionariam tanto no palco quanto em forma de stop-motion. Nenhum artifício de representação estética é deixado de lado – animação, CGIs, cenários elaborados feitos manualmente, filtros vintage e tons pastel. A beleza esmaecida da idiossincrasia de seus personagens se repete, mas nunca cansa o olhar. O comportamento extra-humano, robótico, típico de nerds, é o centro e o tom das interpretações no hiperdescritivo texto elaborado pelo diretor-roteirista. O comportamento pitoresco e fora do lugar-comum de seus personagens é perfeitamente alinhado a esses textos e aos figurinos. O homem comum em situações aparentemente mundanas abre a porta para o fantástico e o lúdico.

Nos quatro contos vemos personagens aparentemente comuns se envolvendo em situações pouco convencionais com desfechos fantásticos. A digital de Anderson está em cada olhar, na postura corporal dos atores, mas descrições e nas expressões faciais. Ao fim de cada um dos curtas, o cineasta presta uma homenagem a Roald Dahl em um pequeno parágrafo contando brevemente o contexto da criação de cada um dos contos do autor.

Veneno

O elenco não poderia ser mais estelar. Tem Ralph Fiennes (que entre outros papéis interpreta o próprio Dahl em todos os curtas), Benedict Cumberbatch, Rupert Friend, Dev Patel, Ben Kingsley e Richard Ayoade. Os atores se revezam em diferentes papéis nos quatro curtas. Todos executados primorosa e intensamente, em especial Cumberbatch e Kinsgley em Veneno e Henry Sugar.

Em seu estilo único e inconfundível, Wes Anderson cumpre de novo a tarefa de nos apresentar contos (não tão) modernos, sobre personalidades triviais que realizam feitos fantásticos. Existe a possibilidade de uma análise profunda, assim como a leveza de um humor quase inocente, o que faz dos filmes dele um deleite para todas as idades – um feito raro nos dias atuais. A tetralogia de curtas é essencial para os fãs e também uma agradável descoberta para os novatos que recém adentraram o mundo maravilhoso de Anderson.

O Cisne