União de James Cameron e Robert Rodriguez é bagunçada e desinteressante embora tenha futuro nas bilheterias para uma franquia
Texto por Leonardo Andreiko
Foto: Fox/Divulgação
James Cameron (Avatar) se une a Robert Rodriguez (Sin City). Christoph Waltz (Bastardos Inglórios) faz o mentor de Alita, Rosa Salazar (Maze Runner) e o premiadíssimo Mahershala Ali (Green Book e Moonlight) é o vilão. Um filme desses parece digno do ingresso, não é?
Na história, adaptada do mangá homônimo por Cameron, Rodriguez e Laeta Kalogridis (que tem experiência em roteiros cibernéticos, como O Exterminador do Futuro: Gênesis), Dyson Ido (Waltz) é um cirurgião que encontra a cabeça e o torso de Alita jogados num ferro-velho, descartes da cidade aérea Zalem, à qual os habitantes de Cidade de Ferro jamais poderão subir. Mais tarde, ambos descobrem que a garota é, na verdade, uma lutadora nata – que deve salvar o mundo do verdadeiro vilão, Nova (Edward Norton). Todo o roteiro do filme é pura convenção de gênero: a heroína com coração de ouro deve derrotar os “malvadões”, sempre descobrindo que o vilão da vez é controlado por outro “malvadão”, ainda mais forte! No meio dessas facilitações narrativas, diálogos óbvios e planos intercalam o espaço em tela com um esporte brutal e em alta velocidade, desenvolvido para cenas de ação.
Além da trama plana e desinteressante, nenhum dos atores está perto de seus melhores momentos em Alita: Anjo de Combate (Alita: Battle Angel, EUA/Argentina/Canadá, 2019 – Fox). Norton faz uma brevíssima ponta, enquanto os diálogos e a direção de atores transformam Christoph e Mahershala em profissionais medianos. Este, infelizmente, ainda oscila entre boas atuações e entregas medíocres como a do vilão Cottonmouth de Luke Cage, série da Netflix. Rosa fica ofuscada pela quantidade de efeitos especiais em sua face, além de soar artificial ao demonstrar emoções básicas, como indignação. Jennifer Connely (Réquiem Para um Sonho) faz uma personagem pouco aproveitada, cujo arco é atirado ao espectador sem mais nem menos. Keean Johnson (Nashville) faz Hugo, o interesse romântico de Alita, sem muita profundidade. O elenco ainda conta com Jackie Earle Haley (o icônico Freddy Krueger e o Rorschach, de Watchmen), que interpreta o vilão número um, Grewishka, que não poderia ser mais artificial.
A obra tem pontos satisfatórios, como o design de produção e os efeitos especiais, que materializam um riquíssimo universo juntos, ainda que este não escape do tradicional “mundo futurista com separação de classes”. As cenas de ação, mesmo com clichês sem tamanho (quem nunca se frustrou com closes longuíssimos na protagonista, que encara o vazio enquanto a sanguinária batalha parece pausar para ela?), não são mal dirigidas.
Ainda assim, o filme é constantemente ofuscado por sua mixagem de som desleixada, bombardeando o espectador com socos e chutes artificiais e altíssimos enquanto abusa na trilha sonora do holandês Junkie XL (o DJ produtor de música eletrônica que também fez a de Liga da Justiça), que insiste em convenções, clichês e uma mescla estranha de elementos, incapaz de alçar as cenas ao estrelato.
Alita: Anjo de Combate é um filme morno, com poucos pontos altos e também poucos pontos baixíssimos. Não é capaz de empolgar por si só, ainda que traga às telas um forte elenco. Revela apenas que a construção de mundo baseada no mangá de Yukito Kushiro tem fôlego para, em melhores mãos, tornar-se uma franquia frutífera.