Movies, Music

Jonny Greenwood

Prestes a desembarcar no Brasil para dois shows com o Radiohead, músico britânico brinda os fãs com mais uma trilha sonora cinematográfica

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Texto por Abonico R. Smith (com colaboração de Edi Fortini)

Fotos: Divulgação

Muita gente pode até ter se surpreendido no início do ano, quando entre os indicados ao Oscar 2018 de melhor trilha sonora, estava o nome de Jonny Greenwood. Sim, o mesmo enfant terrible dos ruídos e distorções nas músicas esquisitas do Radiohead esteva entre os cinco finalistas, concorrendo pelo trabalho em Trama Fantasma, filme escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson. E mais: nada ali lembrava o seu “emprego oficial”. Nas telas, costurando a história centrada no personagem vivido pelo ator Daniel Day-Lewis na Londres dos anos 1950, compositores eruditos (Debussy, Schubert, Brahms, Berlioz), jazz orquestrado e também cantado (Oscar Peterson, Sarah Vaughan) e peças para piano e cordas originalmente compostas para a produção.

Prestes a desembarcar no Brasil para dois shows de sua banda (20 de abril no Rio de Janeiro e dois dias depois em São Paulo, em um evento chamado Soundhearts Festival e que contará ainda com o sempre indefinível Flying The Lotus, o grupo étnico indo-britânico Junun mais os brasileiros da Aldo The Band), Greenwood não é bem um iniciante neste ofício dos bastidores da sétima arte. Antes de Trama Fantasma, já havia trabalhado com Anderson em outros três longas: Sangue Negro (2007), O Mestre (2012) e Vício Inerente (2014). Também assinou a trilha sonora da perturbadora história de Precisamos Falar Sobre Kevin (2011), também assinado por uma pessoa cuidando ao mesmo tempo da direção e do roteiro, a escocesa Lynne Ramsay. E é justamente repetindo a parceria com Ramsay que ele apresenta em 2018 o próximo trabalho na área.

Lançado pela Amazon Studios e ainda sem previsão de chegada ao mercado brasileiro (ou mesmo nome em português), You Were Never Really Here está, aos poucos, entre os meses de março e maio, alcançando o mercado de diversos países depois de colecionar ótimas notas de destaque nas coberturas dos festivais internacionais também no eixo Europa-EUA-Oriente Médio. Joaquin Phoenix encabeça o elenco como um veterano da Guerra do Golfo que carrega um grande trauma para o resto de sua vida posterior à ida ao front. Responsável pelo rastreamento de adolescentes que desapareceram do cotidiano de suas famílias para ficarem presas como escravas sexuais, ele quase sempre coloca a sua vida em risco e ainda sofre seguidamente com pesadelos. Até que um deles acaba afetando-o em sua vida real. Durante uma missão mal sucedida em um bordel de Manhattan, ele se vê diante da contrariedade da opinião pública, já que o caso envolve um importante político de Nova York. Então a trama se transforma em um grande plotmovido pelo desejo de vingança. Críticas bastante positivas têm sido publicadas, chegando a comparar o longa de Ramsay a clássicos do gênero das áureas décadas de 1960 e 1970, como Taxi Driver, À Queima-Roupa e Hardcore – No Submundo do Sexo.

Enquanto quem tem a veia cinéfila aguarda ansiosamente pela posição da Amazon em relação à chegada de You Were Never Really Here ao Brasil – seja nas telonas dos cinemas, seja diretamente em streaming – resta aos fãs de Greenwood e sua banda contar os dias que ainda faltam para mais duas apresentações em solo brasileiro. Afinal, ele, solo ou ao lado de seus comparsas de longa data, é sempre sinônimo de qualidade musical. E que ainda se estende ao casamento com ótimas tramas cinematográficas.

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Movies

Em Pedaços

Trama que discute a intolerância racial e a recente ascensão do movimento neonazista na Alemanha provoca impacto

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Imovision/Divulgação

Ativismo é o que não falta nas histórias contadas pelo diretor e roteirista germânico de origem turca Fatih Akin. Volta e meia ele aparece com uma obra nova cheia de nuances e questionamentos sócio-políticos. Neste último ano, quando a questão de imigrantes e refugiados pareceu balançar de vez as estruturas do poder de seu país, um filme como Em Pedaços (Aus dem Nichts, Alemanha/França, 2017 – Imovision) é extremamente bem-vindo para cutucar ainda mais determinadas feridas.

Desta vez Akin vai fundo na questão da intolerância racial e do crescimento do neonazismo entre a juventude alemã. E, de quebra, ainda defende a bandeira da diversidade ressaltando a importância presença de turcos e curdos – sendo ele mesmo descendente – em um país constantemente assombrado por um passado recente de horrores e que, aos olhos do resto mundo, ainda teima em isolar-se socialmente fomentando pequenos e mesquinhos preconceitos em sua sociedade.

Em Pedaços joga todo o foco na jornada do herói vivida pela sua protagonista Katja Sekerci (Diane Kruger, em sua primeira atuação em um filme todo falado em alemão). É uma ópera em três atos muito bem delimitados por Akin e costurado por pequenos detalhes que exigem boa dose de atenção e perspicácia do espectador. No primeiro, um drama, denominado “A Família”, apresenta-se a origem de todo empenho e sofrimento dela. Ela se casa na prisão com um cara ainda cumprindo pena por tráfico de drogas, constrói um sólido núcleo familiar com a vinda do primogênito e tudo parece ir de vento e popa quando um inesperado acontecimento muda tudo: o marido Nuri (Numan Acar) e o pequeno Rocco são as duas vítimas de um terrível atentado provocado por uma “bicicleta-bomba” deixada em frente ao local de trabalho dele, em um escritório na cidade de Hamburgo. Nisso, ela revela toda a sua fragilidade, chegando a resvalar na necessidade do consumo de cocaína para aguentar a barra (justamente quando a “regeneração” de Nuri é posta em xeque) e tentar se matar cortando os dois pulsos na banheira de casa.

O segundo ato (“Justiça”) mergulha fundo no formato “filme de tribunal”. Mostra os vários dias de julgamento de um jovem casal neonazista, acusado de terem provocado o atentado. Embora tudo basicamente se arraste na monotonia de uma base essencialmente verborrágica (quando provas são discutidas e os atores que interpretam os advogados de defesa e ataque tomam a proeminência das cenas), Akin procura dar a diferença em pequenos truques de profundidade de campo até passar ao espectador toda a vertigem sentida por Katja na hora de ouvir o veredito. Todo este trecho representa o período de crise do percurso do herói, quando ele se vê falho e inseguro diante de suas maiores provações até então.

Já “O Mar”, o terço final, acontece na Grécia, sob o sol e o calor do Mediterrâneo. É basicamente uma historieta de ação movida pela obsessão cega da protagonista em consertar, à sua maneira, tudo aquilo que escapou do tribunal e vem deixando-a emocionalmente em pedaços até então. Nele, Katja quer a redenção e faz isso procurando pelos supostos assassinos de seu marido e filho. Nem que, para isso, certas coisas sejam levadas às últimas consequências – o que se estende ainda a Akin, que busca fazer suspense para prender o espectador até os últimos momentos de seu filme.

Diane Kruger carrega todo o filme nas costas, o que lhe fez abocanhar o prêmio de melhor atriz do último Festival de Cannes. Este fato, aliado ao tema atualíssimo e bastante provocativo proposto por Akin (e o seu destrinchamento durante a obra), comoveu os correspondentes estrangeiros que trabalham em Hollywood e deu o Globo de Ouro de produção em língua não–inglesa a Em Pedaços. Curiosamente, o longa ficou de fora da lista dos cinco indicados à mesma categoria aos Academy Awards – o que provocou o adiamento de estreia no Brasil para dois meses depois, agora, logo depois do Oscar.

Valeu a pena esperar. Porque Em Pedaços, mesmo estando aquém de outros filmes previamente indicados pela Alemanha à estatueta, emociona, impacta e leva à reflexão. Tal qual sempre quis, desde o início do projeto, o sempre irrequieto Fatih Akin.

Movies, News

Oscar 2018

Nonagésima edição dos Academy Awards é marcada pela tendência da previsibilidade, a limitação do improviso e a pulverização de prêmios

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Academy Awards/Divulgação

Os Academy Awards, já em sua edição de número 90, confirmaram uma tendência que vem se acentuando ao longo dos últimos anos: a cerimônia de entrega da maior premiação da indústria cinematográfica, se já era chata, agora está ficando cada vez mais chata.

Cinéfilos, críticos e estudiosos de cinema têm como acertar quase todos os vencedores da noite. Os discursos foram cada vez mais uniformizados em virtude não só desta previsibilidade (neste ano, os quatro vencedores nos quesitos de atuação foram repetidos em todas as premiações da temporada, por exemplo) como da limitação de tempo (cada vez que a orquestra começa a tocar uma musiquinha no fosso é sinal de que o laureado está se estendendo demais). Quem vence sobe ao palco com discursos prontos e o nome dos agradecimentos em um papel, sem dar aquele espetáculo de outrora, com choros, soluços e improvisos. As apresentações musicais ficaram também mais curtas e teatrais e, por isso, menos impactantes. As piadas do apresentador Jimmy Kimmel, bem menos viscerais. Até os vestidos, outrora surpreendentes desde a entrada no tapete vermelho, ficaram ais discretos e menos escandalosos. E o “momento surpresa” (em 2018, nomes como Guillermo Del Toro, Mark Hamill, Emily Blunt, Lupita Nyongo’o, Gal Gadot, Lin-Manuel Miranda e Margot Robbie foram convocados por Kimmel para sair do teatro, atravessar a rua, invadir uma sessão de cinema, paralisar o filme e surpreender a incauta plateia que estava lá e de nada sabia ao distribuir sanduíches, chocolates e outras guloseimas), pelo menos para quem assiste à transmissão mundo afora, via satélite, já não é mais tão surpresa assim. Tão como a presená (em mais uma temporada!) de Meryl Streep e Denzel Washington entre os indicados, mesmo que em trabalhos de menor expressão e ausentes em quase todas as outras categorias.

Poucas são as margens para que surja algo diferente do esperado. O tom sócio-político do momento apareceu, com a Academia pedindo (em vídeo e no anúncio dele, feito por três das atrizes que acusaram o executivo Harvey Weinstein de assédio sexual e estupro – Ashley Judd, Annabella Sciorra e Salma Hayek) mais respeito às diferenças e representatividade às mulheres, aos negros, à sigla LGBT. Mas foi Frances McDormand quem acabou roubando a cena, já no final da premiação, ao subir no palco do Dolby Theatre para receber a estatueta de melhor atriz. Ela mandou, na lata, sem apoio de qualquer papel, um recado reto à indústria cinematográfica, ressaltando a força de trabalho feminina e o devido respeito que todas as profissionais desejam no tratamento dispensado a elas nos bastidores.

Surpresa também ocorreu na “participação” do indie rock na festa da Academia. Eddie Vedder, empunhando uma guitarra, tocou sozinho uma canção do cantor e compositor Tom Petty (morto no final do ano passado) enquanto o telão anunciava e homenageava os falecidos mais importantes da indústria cinematográfica nesta última temporada. Sufjan Stevens subiu ao palco para apresentar “Mystery Of Love”, tocante balada composta para a trilha de Me Chame Pelo Seu Nome. Atrás dele quatro músicos de apoio, inclusive uma completamente incógnita e inesperada St Vincent, toda discreta, de preto, também na guitarra.

Dois vídeos “oficiais” de agradecimento também foram feitos pela Academia para a exibição durante a festa. No primeiro, era para agradecer a todo mundo que vai aos cinemas nestes últimos noventa anos de Oscar. Além de deixar transparecer a guerra que Hollywood anda empreendendo contra as novas tecnologias como a Netflix (que, segundo dizem, anda afastando o público das salas de projeção), a iniciativa também mostro cenas de três recentes filmes de super-heróis (Pantera Negra, Batman – O Cavaleiro das Trevas, Mulher Maravilha). Talvez seja um indicativo da aceitação definitiva deste filão para as indicações e prêmios dos próximos anos. No segundo, porém, a surpresa tornou-se negativa. Depois de mostrar cenas de vários longas de guerra produzidos ao longo das décadas, surgiu no telão um “muito obrigado” a todos os combatentes que lutaram pelo país também durante todo este tempo. Foi o lado republicano, armamentista e white trash da Academia se sobrepondo a democratas, pacifistas e não-políticos. Em tempos de Donald Trump na presidência significou uma forma de também puxar o saco da Casa Branca e do governo dos EUA.

Por fim, a divisão dos prêmios neste ano mostrou-se bastante pulverizada. Apenas dois títulos receberam mais do que duas estatuetas. A fantasia “de monstro” A Forma da Água ficou com a principal, batendo seu maior concorrente Três Anúncios Para um Crime. Com um total de treze indicações, acabou levando apenas outras três (diretor, trilha sonora e design de produção, todas já devidamente previstas). Dunkirk, por sua vez, abocanhou três das oito categorias às quais concorria, todas técnicas (montagem, edição de som, mixagem de som). O Destino de Uma Nação (cabelo & maquiagem, ator), Viva: A Vida é uma Festa (animação em longa-metragem, canção original) e Blade Runner 2049 (fotografia, efeitos especiais) ficaram com dois. Outros filmes de destaque na temporada se contentaram com apenas uma estatueta (Corra!, Trama Fantasma, Me Chame Pelo Seu Nome e Eu, Tonya). Já o vencedor na categoria não falada em inglês foi, mais uma vez um sul-americano, Uma Mulher Fantástica, sobre a luta de uma transexual chilena para ser respeitada pelas pessoas que gravitam ao seu redor no dia a dia).

Em tempos de luta contra incorreções sociais de qualquer tipo e a tentativa desenfreada de mostrar um cinema cada mais universalizado (embora a produção ainda se concentre nos todos-poderosos da indústria cinematográfica dos EUA), o Oscar joga suas fichas na seriedade, na fórmula e no mostrar anteriormente suas mais sérias e respeitosas intenções. Quem perde, contudo, é o público que fica três horas sentado no sofá esperando para ver algo que realmente o surpreenda.

 

VEJA OS GANHADORES DE CADA CATEGORIA

Filme

Me Chame Pelo Seu Nome

O Destino de uma Nação

Dunkirk

Corra!

Lady Bird – A Hora de Voar

A Trama Fantasma

The Post: A Guerra Secreta

A Forma da Água

Três Anúncios para um Crime

 

Diretor

Christopher Nolan (Dunkirk)

Jordan Peele (Corra!)

Greta Gerwig (Lady Bird – A Hora de Voar)

Paul Thomas Anderson (A Trama Fantasma)

Guillermo Del Toro (A Forma da Água)

 

Atriz

Sally Hawkins (A Forma da Água)

Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)

Margot Robbie (Eu, Tonya)

Saoirse Ronan (Lady Bird – A Hora de Voar)

Meryl Streep (The Post: A Guerra Secreta)

 

Ator

Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)

Daniel Day-Lewis (A Trama Fantasma)

Daniel Kaluuya (Corra!)

Gary Oldman (O Destino de Uma Nação)

Denzel Washington (Roman J. Isreal, Esq.)

 

Atriz coadjuvante

Mary J Blige (Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi)

Allison Jenney (IEu Tonya)

Lesley Manville (A Trama Fantasma)

Laurie Metcalf (Ladybird – A Hora de Voar)

Octavia Spencer (A Forma da Água)

 

Ator coadjuvante

Willem Dafoe (Projeto Flórida)

Woody Harrelson (Três Anúncios Para um Crime)

Richard Jenkins (A Forma da Água)

Christopher Plummer (Todo Dinheiro do Mundo)

Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)

 

Roteiro original

Doentes de Amor

Corra!

Lady Bird – A Hora de Voar

A Forma da Água

Três Anúncios Para um Crime

 

Roteiro adaptado

Me Chame Pelo Seu Nome

O Artista do Desastre

Logan

A Grande Jogada

Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi

 

Filme estrangeiro (em língua não inglesa)

Uma Mulher Fantástica (Chile)

O Insulto (Líbano)

Loveless (Rússia)

Corpo e Alma (Hungria)

The Square – A Arte da Discórdia (Suécia)

 

Animação

O Poderoso Chefinho

The Breadwinner

Viva: A Vida é uma Festa

O Touro Ferdinando

Com Amor, Van Gogh

 

Documentário

Abacus: Small Enough To Jail

Faces Places

Icarus

Os Últimos Homens em Aleppo

Strong Island

 

Curta-metragem

DeKalb Elementary

The Eleven O’Clock

My Nephew Emmett

The Silent Child

Watu Wite/All Of Us

 

Animação em curta-metragem

Dear Basketball

Garden Party

Lou

Negative Space

Revolting Rhymes

 

Documentário em curta-metragem

Edith + Eddie

Heavy Is a Traffic Jam On The Road 405

Heroin(e)

Knife Skills

Traffic Stop

 

Direção de arte

A Bela e a Fera

Blade Runner 2049

O Destino de uma Nação

Dunkirk

A Forma da Água

 

Figurino

A Bela e a Fera

O Destino de uma Nação

A Trama Fantasma

A Forma da Água

Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha

 

Maquiagem e cabelo

O Destino de uma Nação

Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha

Extraordinário

 

Fotografia

Blade Runner 2049

O Destino de Uma Nação

Dunkirk

Mudbound – Lágrima Sobre o Mississipi

A Forma da Água

 

Montagem

Baby Driver – Em Ritmo de Fuga

Dunkirk

I, Tonya

A Forma da Água

Três Anúncios Para im Crime

 

Efeitos visuais

Blade Runner 2049

Os Guardiões da Galáxia, Vol.2

Kong: A Ilha da Caveira

Star Wars: Os Últimos Jedi

Planeta dos Macacos: A Guerra

 

Edição de som

Baby Driver – Em Ritmo de Fuga

Blade Runner 2049

Dunkirk

A Forma da Água

Star Wars: Os Últimos Jedi

 

Mixagem de som

Baby Driver – Em Ritmo de Fuga

Blade Runner 2049

Dunkirk

A Forma da Água

Star Wars: Os Últimos Jedi

 

Trilha Sonora

Dunkirk

A Trama Fantasma

A Forma da Água

Star Wars: Os Últimos Jedi

Três Anúncios Para um Crime

 

Canção original

“Might River” (Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi)

“Mystery Of Love” (Me Chame Pelo Seu Nome)

“Remember Me” (Viva: A Vida é uma Festa)

“Stand Up For Something” (Marshall)

“This Is Me”( O Rei do Show)

Movies

Doentes de Amor

Comédia romântica autobiográfica retoma a doce ingenuidade de clássicos recentes do gênero mesmo mostrando personagens “reais demais”

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Texto por Flavio St Jayme (Pausa Dramática)

Foto: California Filmes/Divulgação

É interessante pensar como as comédias românticas amadureceram. Os filmes que tanto amamos que “fazem parte do movimento”, como Harry & Sally, Mensagem Para Você, O Casamento do Meu Melhor Amigo ou Um Lugar Chamado Notting Hill parecem obras distantes e ingênuas no mundo de hoje.

Ok, existem uns bons vinte anos no meio… Mas será que estes filmes ficaram mais adultos porque as plateias de hoje simplesmente não engolem mais suas histórias água com açúcar? Ou será que simplesmente seguiram seu curso e amadureceram junto com seu público como ocorre normalmente?

Sim, eram longas ingênuos, eram puro escapismo. Que aparentemente deixaram de ter lugar no mundo moderno. O que não é necessariamente ruim. Um filme pode ser menos tolo e ainda assim ser um bom escapismo.

O fato é que a ingenuidade foi substituída por histórias mais realistas e dramas mais modernos. Em Ela, por exemplo, o protagonista solitário mergulhado na tecnologia se apaixona por uma mulher virtual. Em Ruby Sparks, o personagem tenta criar a mulher perfeita e o tiro sai pela culatra. Envoltos em solidão e tecnologia, estes protagonistas têm muito em comum com nós mesmos. E com Kumail, o personagem principal de Doentes de Amor (The Big Sick, EUA, 2017 – California filmes).

Carregado de choques culturais e de emoções fortes, o longa autobiográfico do ator Kumail Nanjiani é uma comédia romântica. Mas das modernas, sem ingenuidade, sem príncipe encantado e sem galã. Seus protagonistas são pessoas normais, comuns, que não têm músculos definidos ou cabelos perfeitos, mas que, como nós, apaixonam-se e vivem essa paixão quando dá tempo, em meio ao trabalho, compromissos e exigências familiares. Claro que toda a questão da cultura paquistanesa é o mote principal do longa, só que o romance e mesmo o drama estão ali. No tapa na cara de realidade, tudo não é tão lindo assim e o contratempo não é uma doida querendo roubar o noivo ou uma chefe querendo casar pelo green card. É muito mais sério.

Embora “real demais”, Doentes de Amor é esperançoso e delicado. Mostra que, mesmo em meio ao conturbado mundo moderno, às brigas familiares e “na saúde e na doença”, o amor, pode sim, prevalecer. Parece que, no fim das contas, estamos mais céticos sim, mas ainda não abrimos mão da esperança de encontrar um grande amor. Ainda bem!

Movies

Eu, Tonya

Como foi construída a personalidade egocêntrica e obsessiva da patinadora envolvida em um dos maiores escândalos dos esportes olímpicos

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Califórnia Filmes/Divulgação

O título desta cinebiografia não poderia ser mais preciso. Começa com o pronome que indica a primeira pessoa, aquela que fala ou escreve, que é o sujeito da oração. Depois, no aposto (aquilo que explica melhor ainda o termo pronominal anterior), vem o nome da pessoa. Esta não é qualquer pessoa. É Tonya. E Tonya sou “eu”.

Tonya Harding ficou famosa por uma das passagens mais vexaminosas do esporte olímpico em todos os tempos. No dia 6 de janeiro de 1994, pouco mais de um mês antes da Olimpíadas de Inverno na cidade norueguesa de Lillehammer, a patinadora Nancy Kerrigan sofreu um covarde e violento ataque logo após uma sessão de treinamento, ainda no ginásio. Alguém, munido com u cassetete de polícia, deu-lhe uma pancada forte na coxa direita, para que ficasse de fora do torneio. O responsável por isso foi o ex-marido de Tonya, principal concorrente de Nancy dentro da própria equipe norte-americana. Kerrigan recuperou-se em tempo recorde e ainda conseguiu ganhar a medalha de prata. Harding sempre sustentou que nada tinha ver com a história e sequer sabia dos planos de seu ex. Mas acabou, logo depois, banida do esporte ao qual se dedicara desde criança.

Eu, Tonya (I, Tonya, EUA, 2017 – Califórnia Filmes) conta toda a história da construção do “mito às avessas” Tonya Harding. Desde a sua mais tenra infância, quando foi levada obrigada pela mãe para começar a treinar nos patins – LaVona não forçara apenas a filha; também, praticamente, obrigou a treinadora a aceitar a pequena Tonya como sua discípula. Aos poucos, a jovem vai sentando em cima de uma personalidade extremamente narcisística, obsessiva e egocêntrica. A ponto de desenhar e fabricar as suas próprias roupas para as competições. A ponto de dar chilique na frente dos jurados, cobrando-os por não ter dado notas mais altas em sua exibição. Ela precisa ser o centro das atenções sempre.

Em muito contribuiu para tudo isso a desgraçada vida particular de Tonya. Primeiro ela nunca deixou de ser um fantoche nas mãos da abusadora LaVona, que nunca hesitava em humilhar e bater em sua filha desde pequena, inclusive em público. Depois, sofreu o pão que o diabo amassou nas mãos do não menos violento marido Jeff, que lhe batia frequentemente e o cara sem qualquer pudor que armou o ataque que desgraçou a sua carreira quando já estavam separados.

Com performances marcantes de Margot Robbie (a protagonista) e Allison Janney (a mãe da protagonista, papel pelo qual faturou o Oscar de atriz coadjuvante e todos os outros principais prêmios da temporada), a cinebio consegue driblar com inteligência a chatice comum ao gênero quando a pessoa enfocada é um profissional dos esportes olímpicos. Primeiro porque o diretor Craig Gillespie coloca a câmera para bailar junto com a patinadora nas cenas gravadas no rinque de patinação no gelo. Assim, convida o espectador a ir junto com Tonya e ter a sua visão de dentro do próprio espetáculo, como se fosse uma parceria sobre rodinhas. Depois, espertamente, a edição transforma tudo em um falso docudrama, com depoimentos posteriores dos personagens entrecortados pela ação da história ocorrida lá atrás – chegando ao primor de dividir a tela e colocar Harding e o marido falando ao mesmo tempo sobre um determinado momento.

O único senão de Eu, Tonya é a sua longa duração. Duas horas cheias acaba sendo um pouco demais e o filme começa perder o pique e cansar após o ataque sofrido por Nancy Kerrigan. Mesmo porque sua melhor parte (isto é, Allison Janney) praticamente some a partir da metade da trama, voltando apenas para uma “pequena participação” mais do que fulgurosa para reforçar o caráter mais do que dubio de LaVona.