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Oscar 2018

Nonagésima edição dos Academy Awards é marcada pela tendência da previsibilidade, a limitação do improviso e a pulverização de prêmios

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Academy Awards/Divulgação

Os Academy Awards, já em sua edição de número 90, confirmaram uma tendência que vem se acentuando ao longo dos últimos anos: a cerimônia de entrega da maior premiação da indústria cinematográfica, se já era chata, agora está ficando cada vez mais chata.

Cinéfilos, críticos e estudiosos de cinema têm como acertar quase todos os vencedores da noite. Os discursos foram cada vez mais uniformizados em virtude não só desta previsibilidade (neste ano, os quatro vencedores nos quesitos de atuação foram repetidos em todas as premiações da temporada, por exemplo) como da limitação de tempo (cada vez que a orquestra começa a tocar uma musiquinha no fosso é sinal de que o laureado está se estendendo demais). Quem vence sobe ao palco com discursos prontos e o nome dos agradecimentos em um papel, sem dar aquele espetáculo de outrora, com choros, soluços e improvisos. As apresentações musicais ficaram também mais curtas e teatrais e, por isso, menos impactantes. As piadas do apresentador Jimmy Kimmel, bem menos viscerais. Até os vestidos, outrora surpreendentes desde a entrada no tapete vermelho, ficaram ais discretos e menos escandalosos. E o “momento surpresa” (em 2018, nomes como Guillermo Del Toro, Mark Hamill, Emily Blunt, Lupita Nyongo’o, Gal Gadot, Lin-Manuel Miranda e Margot Robbie foram convocados por Kimmel para sair do teatro, atravessar a rua, invadir uma sessão de cinema, paralisar o filme e surpreender a incauta plateia que estava lá e de nada sabia ao distribuir sanduíches, chocolates e outras guloseimas), pelo menos para quem assiste à transmissão mundo afora, via satélite, já não é mais tão surpresa assim. Tão como a presená (em mais uma temporada!) de Meryl Streep e Denzel Washington entre os indicados, mesmo que em trabalhos de menor expressão e ausentes em quase todas as outras categorias.

Poucas são as margens para que surja algo diferente do esperado. O tom sócio-político do momento apareceu, com a Academia pedindo (em vídeo e no anúncio dele, feito por três das atrizes que acusaram o executivo Harvey Weinstein de assédio sexual e estupro – Ashley Judd, Annabella Sciorra e Salma Hayek) mais respeito às diferenças e representatividade às mulheres, aos negros, à sigla LGBT. Mas foi Frances McDormand quem acabou roubando a cena, já no final da premiação, ao subir no palco do Dolby Theatre para receber a estatueta de melhor atriz. Ela mandou, na lata, sem apoio de qualquer papel, um recado reto à indústria cinematográfica, ressaltando a força de trabalho feminina e o devido respeito que todas as profissionais desejam no tratamento dispensado a elas nos bastidores.

Surpresa também ocorreu na “participação” do indie rock na festa da Academia. Eddie Vedder, empunhando uma guitarra, tocou sozinho uma canção do cantor e compositor Tom Petty (morto no final do ano passado) enquanto o telão anunciava e homenageava os falecidos mais importantes da indústria cinematográfica nesta última temporada. Sufjan Stevens subiu ao palco para apresentar “Mystery Of Love”, tocante balada composta para a trilha de Me Chame Pelo Seu Nome. Atrás dele quatro músicos de apoio, inclusive uma completamente incógnita e inesperada St Vincent, toda discreta, de preto, também na guitarra.

Dois vídeos “oficiais” de agradecimento também foram feitos pela Academia para a exibição durante a festa. No primeiro, era para agradecer a todo mundo que vai aos cinemas nestes últimos noventa anos de Oscar. Além de deixar transparecer a guerra que Hollywood anda empreendendo contra as novas tecnologias como a Netflix (que, segundo dizem, anda afastando o público das salas de projeção), a iniciativa também mostro cenas de três recentes filmes de super-heróis (Pantera Negra, Batman – O Cavaleiro das Trevas, Mulher Maravilha). Talvez seja um indicativo da aceitação definitiva deste filão para as indicações e prêmios dos próximos anos. No segundo, porém, a surpresa tornou-se negativa. Depois de mostrar cenas de vários longas de guerra produzidos ao longo das décadas, surgiu no telão um “muito obrigado” a todos os combatentes que lutaram pelo país também durante todo este tempo. Foi o lado republicano, armamentista e white trash da Academia se sobrepondo a democratas, pacifistas e não-políticos. Em tempos de Donald Trump na presidência significou uma forma de também puxar o saco da Casa Branca e do governo dos EUA.

Por fim, a divisão dos prêmios neste ano mostrou-se bastante pulverizada. Apenas dois títulos receberam mais do que duas estatuetas. A fantasia “de monstro” A Forma da Água ficou com a principal, batendo seu maior concorrente Três Anúncios Para um Crime. Com um total de treze indicações, acabou levando apenas outras três (diretor, trilha sonora e design de produção, todas já devidamente previstas). Dunkirk, por sua vez, abocanhou três das oito categorias às quais concorria, todas técnicas (montagem, edição de som, mixagem de som). O Destino de Uma Nação (cabelo & maquiagem, ator), Viva: A Vida é uma Festa (animação em longa-metragem, canção original) e Blade Runner 2049 (fotografia, efeitos especiais) ficaram com dois. Outros filmes de destaque na temporada se contentaram com apenas uma estatueta (Corra!, Trama Fantasma, Me Chame Pelo Seu Nome e Eu, Tonya). Já o vencedor na categoria não falada em inglês foi, mais uma vez um sul-americano, Uma Mulher Fantástica, sobre a luta de uma transexual chilena para ser respeitada pelas pessoas que gravitam ao seu redor no dia a dia).

Em tempos de luta contra incorreções sociais de qualquer tipo e a tentativa desenfreada de mostrar um cinema cada mais universalizado (embora a produção ainda se concentre nos todos-poderosos da indústria cinematográfica dos EUA), o Oscar joga suas fichas na seriedade, na fórmula e no mostrar anteriormente suas mais sérias e respeitosas intenções. Quem perde, contudo, é o público que fica três horas sentado no sofá esperando para ver algo que realmente o surpreenda.

 

VEJA OS GANHADORES DE CADA CATEGORIA

Filme

Me Chame Pelo Seu Nome

O Destino de uma Nação

Dunkirk

Corra!

Lady Bird – A Hora de Voar

A Trama Fantasma

The Post: A Guerra Secreta

A Forma da Água

Três Anúncios para um Crime

 

Diretor

Christopher Nolan (Dunkirk)

Jordan Peele (Corra!)

Greta Gerwig (Lady Bird – A Hora de Voar)

Paul Thomas Anderson (A Trama Fantasma)

Guillermo Del Toro (A Forma da Água)

 

Atriz

Sally Hawkins (A Forma da Água)

Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)

Margot Robbie (Eu, Tonya)

Saoirse Ronan (Lady Bird – A Hora de Voar)

Meryl Streep (The Post: A Guerra Secreta)

 

Ator

Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)

Daniel Day-Lewis (A Trama Fantasma)

Daniel Kaluuya (Corra!)

Gary Oldman (O Destino de Uma Nação)

Denzel Washington (Roman J. Isreal, Esq.)

 

Atriz coadjuvante

Mary J Blige (Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi)

Allison Jenney (IEu Tonya)

Lesley Manville (A Trama Fantasma)

Laurie Metcalf (Ladybird – A Hora de Voar)

Octavia Spencer (A Forma da Água)

 

Ator coadjuvante

Willem Dafoe (Projeto Flórida)

Woody Harrelson (Três Anúncios Para um Crime)

Richard Jenkins (A Forma da Água)

Christopher Plummer (Todo Dinheiro do Mundo)

Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)

 

Roteiro original

Doentes de Amor

Corra!

Lady Bird – A Hora de Voar

A Forma da Água

Três Anúncios Para um Crime

 

Roteiro adaptado

Me Chame Pelo Seu Nome

O Artista do Desastre

Logan

A Grande Jogada

Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi

 

Filme estrangeiro (em língua não inglesa)

Uma Mulher Fantástica (Chile)

O Insulto (Líbano)

Loveless (Rússia)

Corpo e Alma (Hungria)

The Square – A Arte da Discórdia (Suécia)

 

Animação

O Poderoso Chefinho

The Breadwinner

Viva: A Vida é uma Festa

O Touro Ferdinando

Com Amor, Van Gogh

 

Documentário

Abacus: Small Enough To Jail

Faces Places

Icarus

Os Últimos Homens em Aleppo

Strong Island

 

Curta-metragem

DeKalb Elementary

The Eleven O’Clock

My Nephew Emmett

The Silent Child

Watu Wite/All Of Us

 

Animação em curta-metragem

Dear Basketball

Garden Party

Lou

Negative Space

Revolting Rhymes

 

Documentário em curta-metragem

Edith + Eddie

Heavy Is a Traffic Jam On The Road 405

Heroin(e)

Knife Skills

Traffic Stop

 

Direção de arte

A Bela e a Fera

Blade Runner 2049

O Destino de uma Nação

Dunkirk

A Forma da Água

 

Figurino

A Bela e a Fera

O Destino de uma Nação

A Trama Fantasma

A Forma da Água

Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha

 

Maquiagem e cabelo

O Destino de uma Nação

Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha

Extraordinário

 

Fotografia

Blade Runner 2049

O Destino de Uma Nação

Dunkirk

Mudbound – Lágrima Sobre o Mississipi

A Forma da Água

 

Montagem

Baby Driver – Em Ritmo de Fuga

Dunkirk

I, Tonya

A Forma da Água

Três Anúncios Para im Crime

 

Efeitos visuais

Blade Runner 2049

Os Guardiões da Galáxia, Vol.2

Kong: A Ilha da Caveira

Star Wars: Os Últimos Jedi

Planeta dos Macacos: A Guerra

 

Edição de som

Baby Driver – Em Ritmo de Fuga

Blade Runner 2049

Dunkirk

A Forma da Água

Star Wars: Os Últimos Jedi

 

Mixagem de som

Baby Driver – Em Ritmo de Fuga

Blade Runner 2049

Dunkirk

A Forma da Água

Star Wars: Os Últimos Jedi

 

Trilha Sonora

Dunkirk

A Trama Fantasma

A Forma da Água

Star Wars: Os Últimos Jedi

Três Anúncios Para um Crime

 

Canção original

“Might River” (Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi)

“Mystery Of Love” (Me Chame Pelo Seu Nome)

“Remember Me” (Viva: A Vida é uma Festa)

“Stand Up For Something” (Marshall)

“This Is Me”( O Rei do Show)

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Oscar 2018 – Indicações

Dezoito curiosidades sobre os concorrentes do ano em que A Forma da Água lidera a lista com presença em treze categorias

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Texto por Abonico R. Smith

Fotos: Divulgação

Às onze e meia (horário de Brasília) desta terça 23 de janeiro, os atores Andy Serkis e Tiffany Haddish apresentaram os indicados para a nonagésima edição dos Academy Awards. Em 2018, a cerimônia será realizada novamente no Teatro Dolby, em Los Angeles, na noite de 4 de março.

Aqui estão algumas das curiosidades sobre os indicados deste ano à estatueta mais cobiçada da temporada de prêmios do cinema norte-americano.

>> O recordista de indicações do ano é A Forma da Água. São no total treze indicações havendo um equilíbrio entre as principais categorias e as técnicas. A fantasia de Gullermo del Toro, que reafirma sua grande paixão por monstros e outras criaturas esquisitas, concorre a filme, direção, atriz, atriz coadjuvante, ator coadjuvante, roteiro adaptado, direção de arte, figurino, fotografia, edição, edição de som, mixagem de som e trilha sonora. Ficou a apenas uma indicação de igualar o recorde de 14, obtido por A Malvada, Titanic e La La Land. Depois de A Forma da Água, a lista com maior número de indicações segue com Dunkirk (oito), Três Anúncios Para um Crime (sete) e A Trama Fantasma (seis).

>> É de praxe nas cerimônias do Oscar que o filme vencedor da noite tenha concorrido também na categoria de direção. Em 2018, Três Anúncios Para um Crime pode quebrar esta regra. O britânico Martin McDonagh, que também assina o roteiro, só concorre por esta função. Curiosamente ele não ficou entre os cinco diretores finalistas. Seu filme é o mais forte concorrente de A Forma da Água na corrida para a principal estatueta, tendo levado agora neste mês janeiro, inclusive, o Globo de Ouro e o conjunto de elenco no prêmio dado pelo sindicato dos produtores de Hollywood (por sinal, o mais forte termômetro para a eleiçãoo de melhor filme dos Academy Awards)

>> Na lista dos cinco longas de língua não–inglesa, a grande surpresa ficou para a ausência do alemão Em Pedaços, vencedor do Globo de Ouro deste ano e considerado até então o favorito para o Oscar. Desta maneira, o principal candidato ao prêmio passa a ser o sueco The Square – A Arte da Discórdia, que no ano passado já ficara com a Palma de Ouro do Festival de Cannes.

>> Quem andava reclamando nos últimos anos sobre a ausência de filmes de super-herói nas listas de concorrentes ao Oscar já pode parar com o mimimi. Logan, a obra de despedida do ator Hugh Jackman como o mutante Wolverine, abocanhou uma das vagas na disputa para roteiro adaptado e quebrou um tabu de 87 anos sem a presença de um filme vindo dos quadrinhos entre os concorrentes. E mais uma vez a Marvel vence a batalha particular com a eterna rival DC Comics, já que a badalada estreia de Mulher Maravilha nas grandes telas não levou qualquer indicação.

>> James Franco ficou de fora da festa. O ator e diretor de O Artista do Desastre há vários dias vem recebendo acusações de assedio sexual por parte de atrizes com quem já trabalhara e este pode ter sido o fator decisivo da ausência de seu nome na lista de atores concorrentes, antes dado como certo, assim como a inclusão na disputa por melhor filme. O longa, que já tinha sido um desastre de bilheteria nos EUA, acabou também sendo um desastre de total de indicações: recebeu apenas uma, para roteiro adaptado. Este é mais sinal de fracasso na carreira de Tommy Wiseau, misterioso ator/diretor/produtor a quem Franco interpreta na cinebiografia.

>> O papel da socialite e empresária da comunicação Kay Graham em The Post: A Guerra Secreta garantiu a vigésima primeira indicação ao Oscar de Meryl Streep, vencedora em três ocasiões. Recorde absoluto na indústria dos cinemas nas categorias de interpretação, aliás. Entre os representantes masculinois, Denzel Washington obteve a sua oitava inclusão entre os finalistas, por sua atuação como o advogado idealista cujo nome dá título ao filme Roman J. Israel, Esq. No ano passado ele também concorrera à estatueta de ator principal.

>> Lady Bird – A Hora de Voar deu a Greta Gerwig a quinta indicação feminina ao prêmio de direção em toda a História do Oscar. Bem pouco para noventa anos de cerimônia, aliás. Muito pouco. Além de ser o filme que recebeu mais críticas positivas em toda a História do cinema americano, Lady Bird abocanhou cinco indicações no total (filme, direção, atriz, atriz coadjuvante e roteiro)

>> Dois monstros do indie rock estão entre os indicados ao Oscar neste ano. Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead, assina a trilha sonora original de A Trama Fantasma. E uma das duas faixas inéditas compostas e gravadas por Sufjan Stevens colocou Me Chame Pelo Seu Nome para concorrer também na categoria de Canção Original.

>> Já faz vinte anos que um filme brasileiro não concorre ao Oscar mas em 2018 o país não ficou de fora da cerimônia. O produtor Rodrigo Teixeira pode ser um dos nomes a receber a estatueta se Me Chame Pelo Seu Nome levar o prêmio principal da noite. Carlos Saldanha, criador de obras como Rio e A Era do Gelo, voltou a ser indicado em animação de longa-metragem por O Touro Ferdinando.

>> Todos os dez atores e atrizes coadjuvantes indicados neste ano já passaram dos 40 anos de idade.

>> Daniel Day-Lewis anunciou que Trama Fantasma será seu filme de despedida da indústria cinematográfica. Por este filme ele recebeu a sua sexta indicação, tendo vencido em duas ocasiões.

>> A aversão do diretor Christopher Nolan a imagens criadas por computador impulsionou a grandiloquência de Dunkirk, considerado por muitos críticos o melhor filme de 2017. Para contar a história da evacuação dos militares francesas da praia de Dunquerque durante a Segunda Guerra Mundial, ele contou com cerca de seis mil extras no set de filmagem. O filme também foi rodado no antigo formato de 70mm para dar mais amplidão às cenas em terra, no mar e no ar.

>> Submerso em uma tonelada de próteses e maquiagens, Gary Oldman fica irreconhecível como o primeiro-ministro Winston Churchill em O Destino de uma Nação. Sua atuação impecável em gestos e interpetação o colocam como favorito disparato para o prêmio de melhor ator da noite. O filme – que também deve levar a segunda estatueta no quesito “maquiagem e cabelo” – também retrata a retirada estratégia das tropas militares do Reino Unido da praia francesa de Dunkirk. Contudo, o foco fica nos bastidores do poder no parlamento britânico.

>> Azarão da noite, Corra! obteve o feito de ser um filme de terror indicado à principal categoria. A obra também concorre a outros três prêmios (direção, ator e roteiro original). Bastante badalado pela imprensa mundial à época de seu lançamento, a produção custou apenas cinco mil dólares (baixíssimo orçamento para os padrões normais de filmes oscarizáveis) e arrebatou mais de 250 milhões nas bilheterias.

>> Curiosamente, as categorias edição de som e mixagem de som apresentam os mesmos cinco finalistas. A primeira categoria cuida da captação – através de microfones – dos sons em uma cena, como as falas dos atores envolvidos como a captação do ambiente. Entretanto, pode haver a melhoria deste trabalho na pós-produção, desde que não derrube a verossimilhança do filme. Já a segunda indica todo o trabalho de design feito para dar a identidade sonora a uma obra, incluindo músicas e efeitos.

>> Sempre que um desenho da Disney ou da Pixar está entre os indicados de melhor longa-metragem de animação ele automaticamente se torna o franco favorito da categoria. Neste ano quem ocupa o cargo é Viva: A Vida é Uma Festa, que tem como tema central a morte e celebra a cultura mexicana do Dia de Los Muertos. Entretanto, na mesma categoria, um outro título chama muito a atenção. Produção divida entre a Polônia e o Reino Unido, Com Amor, Van Gogh remonta os últimos dias do pintor holandês através da investigação da possibilidade dele ter sido assassinado. Para homenagear o artista, cada um dos frames rodados com atores reais ganhou um meticuloso processo de pintura à mão feita por pinceladas de aquarela. Isto dá a impressão de eterno movimento às cenas filmadas com atores em estúdio (Saoirse Ronan, protagonista e indicada por Lady Bird, participa do elenco).

>> Às vésperas de completar 90 anos de idade, a cineasta belga Agnes Varda recebe a indicação ao Oscar por seu trabalho no documentário Faces Places. Ao lado do amigo e fotógrafo JR, ela viaja por várias cidades rurais francesas com um caminhão e o objetivo de capturar imagens da forma mais mágica possível.

>> Às vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno de 1994, a jovem patinadora Tonya Harding viu seu talento ficar para segundo plano nas manchetes da imprensa mundial. Ela tornou-se mais conhecida pelo ataque covarde feito à rival Nancy Kerrigan, como fruto de um misto de insegurança, inveja e medo de perder a disputa na competição para a qual estava se preparando. Kerrigan teve a perna direita quebrada pelo marido de Tonya e o segurança do casal. Na cinebiografia Eu, Tonya, Allison Jenney interpreta a mãe que impõe a Harding desde criança uma obsessiva rotina de maus-tratos e humilhações. Por esta performance, Jenney vem ganhando todos os prêmios de atriz coadjuvante da temporada.

LISTA COMPLETA DAS INDICAÇÕES

Filme

Me Chame Pelo Seu Nome

O Destino de uma Nação

Dunkirk

Corra!

Lady Bird – A Hora de Voar

Trama Fantasma

The Post: A Guerra Secreta

A Forma da Água

Três Anúncios para um Crime

Diretor

Christopher Nolan (Dunkirk)

Jordan Peele (Corra!)

Greta Gerwig (Lady Bird – A Hora de Voar)

Paul Thomas Anderson (Trama Fantasma)

Guillermo Del Toro (A Forma da Água)

Atriz

Sally Hawkins (A Forma da Água)

Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)

Margot Robbie (Eu, Tonya)

Saoirse Ronan (Lady Bird – A Hora de Voar)

Meryl Streep (The Post: A Guerra Secreta)

Ator

Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)

Daniel Day-Lewis (Trama Fantasma)

Daniel Kaluuya (Corra!)

Gary Oldman (O Destino de uma Nação)

Denzel Washington (Roman J. Isreal, Esq.)

Atriz coadjuvante

Mary J Blige (Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi)

Allison Jenney (Eu, Tonya)

Lesley Manville (Trama Fantasma)

Laurie Metcalf (Ladybird – A Hora de Voar)

Octavia Spencer (A Forma da Água)

Ator coadjuvante

Willem Dafoe (Projeto Flórida)

Woody Harrelson (Três Anúncios Para um Crime)

Richard Jenkins (A Forma da Água)

Christopher Plummer (Todo Dinheiro do Mundo)

Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)

Roteiro original

Doentes de Amor

Corra!

Lady Bird – A Hora de Voar

A Forma da Água

Três Anúncios Para um Crime

Roteiro adaptado

Me Chame Pelo Seu Nome

O Artista do Desastre

Logan

A Grande Jogada

Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi

Filme estrangeiro (em língua não inglesa)

Uma Mulher Fantástica (Chile)

O Insulto (Líbano)

Loveless (Rússia)

Corpo e Alma (Hungria)

The Square – A Arte da Discórdia (Suécia)

Animação

O Poderoso Chefinho

The Breadwinner

Viva: A Vida é uma Festa

O Touro Ferdinando

Com Amor, Van Gogh

Documentário

Abacus: Small Enough To Jail

Faces Places

Icarus

Os Últimos Homens em Aleppo

Strong Island

Curta-metragem

DeKalb Elementary

The Eleven O’Clock

My Nephew Emmett

The Silent Child

Watu Wite/All Of Us

Animação em curta-metragem

Dear Basketball

Garden Party

Lou

Negative Space

Revolting Rhymes

Documentário em curta-metragem

Edith + Eddie

Heavy Is a Traffic Jam On The Road 405

Heroin(e)

Knife Skills

Traffic Stop

Direção de arte

A Bela e a Fera

Blade Runner 2049

O Destino de uma Nação

Dunkirk

A Forma da Água

Figurino

A Bela e a Fera

O Destino de uma Nação

A Trama Fantasma

A Forma da Água

Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha

Maquiagem e cabelo

O Destino de uma Nação

Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha

Extraordinário

Fotografia

Blade Runner 2049

O Destino de Uma Nação

Dunkirk

Mudbound – Lágrima Sobre o Mississipi

A Forma da Água 

Edição

Baby Driver – Em Ritmo de Fuga

Dunkirk

I, Tonya

A Forma da Água

Três Anúncios Para im Crime

Efeitos visuais

Blade Runner 2049

Os Guardiões da Galáxia, Vol.2

Kong: A Ilha da Caveira

Star Wars: Os Últimos Jedi

Planeta dos Macacos: A Guerra

Edição de som

Baby Driver – Em Ritmo de Fuga

Blade Runner 2049

Dunkirk

A Forma da Água

Star Wars: Os Últimos Jedi

Mixagem de som

Baby Driver – Em Ritmo de Fuga

Blade Runner 2049

Dunkirk

A Forma da Água

Star Wars: Os Últimos Jedi

Trilha Sonora

Dunkirk

A Trama Fantasma

A Forma da Água

Star Wars: Os Últimos Jedi

Três Anúncios Para um Crime

Canção original

“Might River” (Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi)

“Mystery Of Love” (Me Chame Pelo Seu Nome)

“Remember Me” (Viva: A Vida é uma Festa)

“Stand Up For Something” (Marshall)

“This Is Me” (O Rei do Show)

Movies

Me Chame Pelo Seu Nome

Tente não se emocionar com a história da descoberta do novo mundo adulto por um adolescente americano morando na Itália no ano de 1983

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Sony Pictures/Divulgação

Existe uma bela expressão em inglês chamada “come of age”. Traduzindo literalmente para o português fica “chegada da idade”, embora a palavra maturidade caiba melhor. Seu significado é o que todo mundo vivencia quando chega a etapa adulta da vida. Ficam para trás todas as despreocupações da infâncias e as atitudes sem muitas consequências da adolescência. Crescimento pessoal, um novo entendimento da sociedade e a noção de responsabilidade emocional são alguns dos elementos muito importantes que passam a ser percebidos neste período.

Aos dezessete anos de idade Elio Perlman começa a perceber que sua vida já mudou em Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name, França/Itália/EUA/Brasil – Sony Pictures), que chega agora aos cinemas brasileiros sob a perspectiva de várias indicações para o Oscar e na esteira de outras premiações da temporada. Filho único de uma família de intelectuais judeus americanos que moram em uma pequena cidade italiana (o pai, que comanda o trabalho em um importante sítio arqueológico na região; a mãe, tradutora), ele passa todo o tempo do mundo dividido entre vários idiomas (italiano, francês, inglês, alemão), o gosto pela leitura constante de romances literários, o talento de tocar e criar música ao piano, os headphones ligados a um walkman, um ou outro cigarro aceso na boca, bicicletas, uma piscina no quintal e a mesma turma de amigos – da qual faz parte Marzia, garota apaixonada por ele mas para quem Elio não dá muita bola.

O turbilhão de emoções que passa a afetar a calmaria da vida do rapaz chama-se Oliver, um estudante enviado pela sua universidade para ser os assistente temporário das pesquisas de seu pai. Aos poucos vai brotando em Elio uma louca paixão pelo visitante, desde a típica rejeição inicial até as primeiras descobertas sexuais, incluindo os desejos, a iniciação de fato (realizada em um velho colchão no empoeirado sótão de casa com a mesma Marzia) e as experiências “nada secretas” com Oliver.

Adaptado de um romance literário homônimo e ambientado no verão de 1983, o filme merece muito mais atenção do que simplesmente seu principal chamariz para a mídia – a relação homoafetiva entre um adolescente e um rapaz dez ano mais velho. É uma sensível obra dirigida pelo italiano Luca Guadagnino (que em 2005 levara às telas 100 Escovadas Antes de Dormir, outra produção de erotismo teenager vinda dos livros) ajudada pela estética da fotografia sempre solar do indiano Sayombhu Mukdeeprom – que explora os raios sol refletidos em belas localidades em vilarejos e microcidades italianas – mais o roteiro do experiente americano James Ivory (diretor de Vestígios do Dia e Retorno a Howards End e com três indicações ao Oscar nesta categoria) e a deliciosa trilha sonora que mistura pérolas pop da época (o hit do filme Flashdance “Lady Lady Lady”, Loredana Berté, Ryuichi Sakamoto, Psychedelic Furs) e três faixas do ícone indie Sufjan Stevens, sendo duas delas escritas especialmente para o longa.

Contando com uma excelente performance do jovem e promissor ator Timothée Chalamet, nome certo entre os indicados de todas as premiações da temporada, o protagonista ao pouco vai descobrindo um novo mundo e não apenas com e por causa de Oliver (Armie Hammer com aquela chance de mostrar ser mais do que um ator de rostinho – e um corpinho – bonito). É esta a dramática “jornada do herói” que realmente conta para emocionar o telespectador até o último momento. Aliás, a conversa franca entre pai e filho sobre a relação com Oliver somada à derradeira cena que invade a exibição dos créditos finais são de dilacerar o coração, mesmo que levem o filme para um caminho diferente do livro.