Music

Radiohead – ao vivo

Thom Yorke brinda o Rio tocando hino cult ao violão; em São Paulo, o evangelho da tristeza mostra que ainda emociona mas poderia ser melhor

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Textos por Natasha Durski e Fábio Soares

Fotos de Natasha Durski

Sexta-feira :: 20 de abril :: Rio de Janeiro

Nove anos de espera. Esse foi o tempo que o Radiohead, uma das maiores bandas da atualidade (embora sempre ligeiramente fora do mainstream) demorou para voltar a se apresentar em terras brasileiras. Dois álbuns após a turnê do muito bem recebido In Rainbows, a banda inglesa mostrou, em show muito mais intimista que o de 2009 (no Rio foram apenas 10 mil pessoas), a elegância das suas composições impecáveis misturando canções de seu mais novo trabalho, A Moon Shaped Pool, com pérolas sonoras do aclamadíssimo divisor de águas OK Computer e In Rainbows. Durante o show, a banda ainda perpassou por outros clássicos de sua extensa trajetória, pincelando canções de Hail To The ThiefAmnesiacKid A, The Bends e The King Of Limbs (Pablo Honey e o grande hit da banda, “Creep”, ficando de fora).

Quem conhece bem a banda sabe que, apesar da coesão entre os set lists executados durante a turnê, sempre cabe espaço para uma surpresa. No Rio de Janeiro, ela foi mais que especial: a canção “True Love Waits”, executada solo por Thom Yorke e que previamente não se encontrava no set, emocionou os fãs que cantavam todas as músicas com paixão. Até o lançamento de A Moon Shaped Pool, a música não tinha versão de estúdio e mesmo assim se tornara uma espécie de hino especial aguardado por todos que já a conheciam desde muito antes do Radiohead resolver finalmente gravá-la.

Com um show durando por volta de 2h30 e 27 músicas executadas, a banda mostrou mais uma vez ao Brasil o seu extremo nível de competência sonora – o que certamente coloca o Radiohead como uma das maiores bandas dos últimos tempos. Suas apresentações são a prova de que é possível ser grandioso e ao mesmo tempo sair dos trilhos, sem ter necessariamente que se ater ao mercado da música pura e simplesmente. São canções elaboradas e desprendidas de rótulos, feitas sob medida para um público que almeja os pontos fora da curva e se entrega totalmente aos encantos de suas melodias.

De coros apaixonados a frenesi intenso e admiração, com certeza o clima da Jeunesse Arena após o fim do concerto era de um êxtase que só uma banda do calibre do quinteto pode proporcionar. O que pode ser comprovado na última música da apresentação, “Karma Police”, cujo coro dos fãs ainda ecoava pela casa de shows minutos após os músicos deixarem o palco.

Ainda no mesmo festival, os fãs tiveram o prazer de desfrutar de duas atrações de abertura: a banda Junun, projeto de Shye Ben Tzur com o guitarrista Jonny Greenwood e Rajasthan Express, mais o DJ e produtor Steven Ellison com o nome de Flying Lotus. (ND)

Set List: “Daydreaming”, “Ful Stop”, “15 Step”, “Myxomatosis”, “Lucky”, “Nude”, “Pyramid Song”, “Everything In Its Right Place”, “Let Down “, “Bloom”, “Reckoner”, “Identikit”, “I Might Be Wrong”, “No Surprises”, “Weird Fishes/Arpeggi”, “Feral”, “Bodysnatchers”. Bis 1: “Street Spirit (Fade Out)”, “All I Need”, “Desert Island Disk”, “Lotus Flower”, “The National Anthem”, “Idioteque”. Bis 2: “True Love Waits”, “Present Tense”, “Paranoid Android” e “Karma Police”.

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Domingo :: 22 de abril :: São Paulo

Uma verdadeira “Disneylândia da tranquilidade” foram os arredores do Allianz Parque na noite do último domingo para quem (como eu) tem idade demasiada avançada para aturar um mercado de pulgas de Istambul em dias de grandes espetáculos. As ruas e bares estavam praticamente vazias nos arredores e o ambiente era tão tranquilo que adentrei o estádio somente 15 minutos antes do início da apresentação do Radiohead. Os problemas na pista comum, porém, eram evidentes: horrendos andaimes laterais atrapalhavam a visão do público e o palco estava baixo demais para quem estava na pista comum. Mas nada que abalasse a expectativa pela banda que acompanha minha geração desde a adolescência. Os tempos, porém, são outros. Se em 2009 os ingressos para o festival Just a Fest (que pela primeira vez trouxe os britânicos para cá) foram disputados a tapa, em 2018 as entradas para o SoundHearts encalharam. A organização declarou que 30 mil pessoas estavam presentes mas, sinceramente, duvido muito destes números. Pista comum cheia mas arquibancadas laterais e pista premiumcom muitos clarões era o que se via.

Com dez minutos de atraso, a banda pisou no palco do Allianz Parque com “Daydreaming”, faixa de A Moon Shaped Pool, disco de 2016 que teve fria recepção da crítica. A faixa (nada espetacular) é compensada pela emoção do público. Imagino que muitos ali presentes não estavam no show de nove anos atrás na horrenda Chácara do Jockey e encararam o show do último domingo como o “show da vida”. Neste quesito, a banda oferece o que tem de melhor: Jonny Greenwood (no alto de seus 46 anos) impressiona com sua performance no palco. Veste a capa de guitar heropara nunca mais a despir, sobretudo no refrão de “My Iron Lung”. Já Thom Yorke ainda sustenta a figura de buda midiático de uma geração depressiva e com visíveis problemas emocionais.

O set list (que jamais se repetiu nesta turnê de quase 60 shows) excluiu por completo o primogênito Pablo Honeymas transitou com coesão pelos outros oito álbuns de estúdio do grupo. “All I Need”, “Let Down”, “Weird Fishes”, “2+2=5” e, como esperado, “No Surprises” foram os pontos altos da primeira parte da apresentação. No primeiro bis, “Exit Music (For a Film)” emocionou com Yorke ao violão, sem a banda mas acompanhado por 30 mil vozes. O ponto alto, porém, foi “There There”. Minha relação com esta canção beira o amor profundo com sua indefectível batida marcial. Cantada em uníssono pela plateia foi, para mim, o ponto alto da noite. A grande decepção, para mim, foi o segundo bis: “Present Tense” poderia muito bem ser substituída por “Karma Police” que, inexplicavelmente, ficou de fora. “Paranoid Android” foi prejudicada pela má equalização do som, soando fraca e sem punch. Já a derradeira “Fake Plastic Trees”, cantada a plenos pulmões pela audiência, compensou a irregularidade pelo simples fato de sua existência. Um hino, símbolo de uma geração e que jamais perderá sua força.

Após duas horas e quinze de show, a sensação de saldo positivo era evidente mas que poderia ser melhor, também. O Radiohead 2018 soa melancólico como nunca mas o sinal de desgaste é evidente. Resta saber para qual direção o futuro da banda apontará. A única certeza que fica é que seu público continuará a segui-la como uma religião. O evangelho se perpetuará. Triste, talvez, mas continuará. (FS)

Set List: “Daydreaming”, “Ful Stop”, “15 Step”, “Myxomatosis”, “You And Whose Army?”, “All I Need”, “Pyramid Song”, “Everything In Its Right Place”, “Let Down “, “Bloom”, “The Numbers”, “My Iron Lung”, “The Gloaming”, “No Surprises”, “Weird Fishes/Arpeggi”, “2+2=5”, “Idioteque”. Bis 1: “Exit Music (For a Film)”, “Nude”, “Identikit”, “There There”, “Lotus Flower”, “Bodysnatchers”. Bis 2: “Present Tense”, “Paranoid Android” e “Fake Plastic Trees”.

Movies, Music

Jonny Greenwood

Prestes a desembarcar no Brasil para dois shows com o Radiohead, músico britânico brinda os fãs com mais uma trilha sonora cinematográfica

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Texto por Abonico R. Smith (com colaboração de Edi Fortini)

Fotos: Divulgação

Muita gente pode até ter se surpreendido no início do ano, quando entre os indicados ao Oscar 2018 de melhor trilha sonora, estava o nome de Jonny Greenwood. Sim, o mesmo enfant terrible dos ruídos e distorções nas músicas esquisitas do Radiohead esteva entre os cinco finalistas, concorrendo pelo trabalho em Trama Fantasma, filme escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson. E mais: nada ali lembrava o seu “emprego oficial”. Nas telas, costurando a história centrada no personagem vivido pelo ator Daniel Day-Lewis na Londres dos anos 1950, compositores eruditos (Debussy, Schubert, Brahms, Berlioz), jazz orquestrado e também cantado (Oscar Peterson, Sarah Vaughan) e peças para piano e cordas originalmente compostas para a produção.

Prestes a desembarcar no Brasil para dois shows de sua banda (20 de abril no Rio de Janeiro e dois dias depois em São Paulo, em um evento chamado Soundhearts Festival e que contará ainda com o sempre indefinível Flying The Lotus, o grupo étnico indo-britânico Junun mais os brasileiros da Aldo The Band), Greenwood não é bem um iniciante neste ofício dos bastidores da sétima arte. Antes de Trama Fantasma, já havia trabalhado com Anderson em outros três longas: Sangue Negro (2007), O Mestre (2012) e Vício Inerente (2014). Também assinou a trilha sonora da perturbadora história de Precisamos Falar Sobre Kevin (2011), também assinado por uma pessoa cuidando ao mesmo tempo da direção e do roteiro, a escocesa Lynne Ramsay. E é justamente repetindo a parceria com Ramsay que ele apresenta em 2018 o próximo trabalho na área.

Lançado pela Amazon Studios e ainda sem previsão de chegada ao mercado brasileiro (ou mesmo nome em português), You Were Never Really Here está, aos poucos, entre os meses de março e maio, alcançando o mercado de diversos países depois de colecionar ótimas notas de destaque nas coberturas dos festivais internacionais também no eixo Europa-EUA-Oriente Médio. Joaquin Phoenix encabeça o elenco como um veterano da Guerra do Golfo que carrega um grande trauma para o resto de sua vida posterior à ida ao front. Responsável pelo rastreamento de adolescentes que desapareceram do cotidiano de suas famílias para ficarem presas como escravas sexuais, ele quase sempre coloca a sua vida em risco e ainda sofre seguidamente com pesadelos. Até que um deles acaba afetando-o em sua vida real. Durante uma missão mal sucedida em um bordel de Manhattan, ele se vê diante da contrariedade da opinião pública, já que o caso envolve um importante político de Nova York. Então a trama se transforma em um grande plotmovido pelo desejo de vingança. Críticas bastante positivas têm sido publicadas, chegando a comparar o longa de Ramsay a clássicos do gênero das áureas décadas de 1960 e 1970, como Taxi Driver, À Queima-Roupa e Hardcore – No Submundo do Sexo.

Enquanto quem tem a veia cinéfila aguarda ansiosamente pela posição da Amazon em relação à chegada de You Were Never Really Here ao Brasil – seja nas telonas dos cinemas, seja diretamente em streaming – resta aos fãs de Greenwood e sua banda contar os dias que ainda faltam para mais duas apresentações em solo brasileiro. Afinal, ele, solo ou ao lado de seus comparsas de longa data, é sempre sinônimo de qualidade musical. E que ainda se estende ao casamento com ótimas tramas cinematográficas.

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