Music

Robbie Robertson

Líder da Band, grupo que acompanhava Bob Dylan nos anos 1960 e 1970, tem como último trabalho a trilha do novo filme de Martin Scorsese

Texto por Carlos Eduardo Lima (Célula Pop)

Foto: Reprodução

Eu conheci a música de Robbie Robertson antes de conhecer a obra do grupo que ele ajudou a fundar e que se tornou um dos mais importantes da história do rock, Band. Uma distorção temporal, por certo, mas aconteceu assim. Quando Robbie lançou seu primeiro álbum solo em 1987, a canção “Fallen Angel” se tornou uma das minhas mais queridas assim que a ouvi. Lembro de ler uma resenha na antiga revista Bizz e, a partir dela, comprar o disco e colocar Band como uma das prioridades para o meu plano de expansão sonora, que envolvia comprar um aparelho tocador de CDs. Era 1988/1989.

Por mais que o álbum de 1987, homônimo, fosse sensacional, com participações de Bono e Peter Gabriel além da produção de Daniel Lanois, a grande contribuição de Robbie foi, de fato, com a Band. Assim como a maioria do grupo, ele era canadense, mas o tempo faria da BANDA o conjunto de músicos mais capazes de traduzir o espírito da música estadunidense por excelência, vinculada ao folk, calcada no blues, descobrindo e mesclando uma carga de significados no novo membro desta família de ritmos, o rock. Foram esses caras, além de Robbie, Garth Hudson, Levon Helm, Richard Manuel e Rick Danko, que acompanharam Bob Dylan quando este resolveu eletrificar seu som. Estavam com ele no palco quando algum idiota o chamou de Judas por conta disso. Começaram como Hawks e, por conta da importância de quem acompanhavam, se tornaram a BANDA. Ou BAND.

Mas não se restringiram a músicos coadjuvantes. Em 1968 lançavam um dos álbuns mais importantes da história da música pop, Music From The Big Pink, cuja primeira faixa é a antológica “The Weight”. No ano seguinte vieram com o que considero seu melhor álbum, The Band, com a capa trazendo uma foto da banda que poderia ser de 1869. Em seu interior, canções que sintetizavam esta visão da América como melting pot musical e, a partir disso, cultural. Encerraram sua carreira cedo, em 1976, com um show de despedida que trazia convidados como Van Morrison, Joni Mitchell, Staple Singers e, claro, o próprio Bob Dylan. O concerto virou disco que virou filme, The Last Waltz, servindo como porta de entrada de um jovem cineasta na linguagem dos filmes biográficos sobre música. Seu nome? Martin Scorsese.

Por conta de tantas contribuições e tantas participações, Robbie Robertson, meio que a “cara” da Band, era seu integrante mais conhecido. Agora, dentre os cinco originais, apenas o organista Garth Hudson permanece por aqui. Na verdade, isso nem tanto importa, o legado desses sujeitos já está assegurado em todo lugar em que a música seja levada a sério.  Robbie, que faleceu aos 80 anos em 9 de agosto último, permaneceu ativo até os últimos dias. Seu último trabalho é a trilha sonora de Assassinos da Lua das Flores, o novo filme de Martin Scorsese que estreia nesta semana nos cinemas (leia aqui a resenha do Mondo Bacana para este longa-metragem). Que descanse em paz. Obrigado, Robbie.