Premiada em Cannes, obra da diretora Nadine Labaki é profunda, tocante e uma belíssima experiência cinematográfica
Texto por Leonardo Andreiko
Foto: Sony Pictures/Divulgação
Nadine Labaki, diretora deste filme, é um dos grandes nomes do cinema árabe. Seu último longa metragem, E Agora Para Onde Vamos, foi igualmente agraciado em Cannes e em festivais mundo afora. Desta vez, Labaki conta a história de Zain, uma criança que, depois de preso, processa seus pais por “terem o colocado no mundo”.
Muito além disso, Cafarnaum (Capharnaüm, Líbano/França, 2018 – Sony Pictures) é um filme que disserta sobre uma gama diversa de temas, todos tratados com a devida sutileza. Não existem obviedades no roteiro, também escrito pela atriz-diretora, em conjunto com seu parceiro Jihad Hojeily e a estreante Michelle Keserwany. Este, em destaque, conta com uma belíssima construção de personagens, alçada pelas atuações de Zain Al Rafeea e de Yordanos Shiferaw, que interpreta Rahil, uma dedicada mãe em busca de um visto.
Em uma mescla de cenas sutis e tensas, a cinematografia constrói uma visão suja, feroz, das cidades pelas quais Zain passa. O equilíbrio da direção traz planos estáticos e, ao mesmo tempo, uma das utilizações mais poéticas de câmera na mão (o popular handheld) que o cinema nos proporcionou nos últimos anos. A montagem e o desenho de som adicionam camadas à representação tumultuosa de grande parte dos eventos da história.
Ao tratar do desafio da infância na classe baixa dos países do Oriente Médio, dialogar com o espectador a respeito de maternidade, bem como da relação pais e filhos e da dificuldade em entender o mundo quando crianças, Cafarnaum monta uma trama tocante, que nunca deixa o espectador descansar de seus baques, mantendo o bom tom na direção e no roteiro para que, ao final do filme, todos saiam devidamente impactados. Roma, favorito ao Oscar, encontra uma fortíssima concorrência na categoria de Melhor Filme Estrangeiro deste ano.