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Maestro(s)

Os ressentimentos e desgastes da relação entre pai e filho quanto ao reconhecimento da atuação de ambos à frente de uma orquestra

Texto por Abonico Smith

Foto: Bonfilm/Divulgação

Filho de peixe peixinho é, já dizia o antigo provérbio. O que de fato aconteceu na família Dumar. François é um veteraníssimo maestro reconhecido pelo mundo da música erudita europeu. O filho, Denis, seguiu pelo mesmo caminho. Entretanto, por não seguir o tradicionalismo do pai e adicionar toques de ousadia e personalidade em suas regências, acabou ganhando bem mais destaque no métier. A ponto de ganhar importantes premiações e ser sondado para dirigir a orquestra do Teatro ala Scala, da cidade italiana de Milão, o sonho de dez entre dez profissionais das batutas. Entretanto, sofre de uma certa síndrome de vira-lata e se acha sempre menor que François em seus trabalhos.

Este pequeno impasse familiar, que acaba gerando ressentimentos, picuinhas e desgastes constantes entre os Dumar é o mote principal de Maestro(s) (França/Bélgica, 2023 – Bonfilm), mais um filme que integrou a mostra do Festival Varilux de cinema francês do ano passado que agora retorna em sessões nas salas de projeção de várias cidades brasileiras. A competição particular que envolve François (Pierre Arditi) e Denis (Yvan Attal) ganha um contorno ainda mais dramático quando este descobre um grande erro da secretaria do diretor do Scala, que acabou se atrapalhando com o mesmo sobrenome e ligou para o pai na hora de fazer o convite.

A turbulência acirra o drama das pessoas ao redor dos dois rivais. A mãe Hélène (Miou-Miou) passa a se dividir entre o marido e o filho e passa a pisar em ovos ao falar com ambos. A namorada violinista Virginie (Caroline Anglade) precisa lidar com a frustração de não ir para a sonhada orquestra italiana e começa a perder foco e concentração nos seus afazeres profissionais em Paris. Já Jeanne (Pascale Arbillot), empresária e ex-mulher de Denis, não sabe o que fazer com a resignação dele de não contar ao pai sobre o engano e frustrar completamente sua alegria pela proposta. O filho do filho, Matthieu (Nils Othenin-Girard), parece ser o mais indiferente às pressões do ambiente e continua só pensando naquilo que atrai a maioria dos adolescentes europeus de classe média alta: em vez de tomar partido para um dos lado, ele só quer é continuar a falar no celular com os amigos e ganhar entradas para ver no estádio os jogos de grandes times de futebol do continente seja em que cidade for.

Com direção de Bruno Chiche (que também assina como um dos três roteiristas do longa), Maestro(s) é mais uma história sobre regentes de orquestra a aterrissar nas grandes telas. Não é biográfico como a obra de Bradley Cooper sobre Leonard Bernstein, nem embarca na neurose como a Lydia Tár de Cate Blanchett. Em determinados momentos, chega até a ser um tanto previsível. Nos rumos da trama e na montagem que privilegia em demasia a mise-en-scène à frente dos músicos orquestrais reunidos nos palcos e estúdios de ensaio. É um drama francês correto para o intuito de entretenimento, marcado pela abordagem de assuntos como a possibilidade de haver reconciliações e reparações pessoais e ainda a maior dificuldade masculina para lidar com orgulho e repaginada de vida.

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